TEMPOS DE VIOLÊNCIA

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O delegado solicitou, o promotor público Antônio de Moraes Barros concordou, e o juiz Rodrigo Romeiro expediu o mandado de prisão preventiva no dia 15 de maio. Lotherio, que não tinha antecedentes criminais, foi recolhido à cadeia pública de Bauru. O início de seu julgamento ficou marcado para o dia 25 de maio de 1918, no fórum da cidade. Seu advogado era Beraldo de Toledo Arruda Júnior. Tudo parecia perdido para Lotherio, mas no julgamento o caso tomou outro rumo. Eliseu, o camarada, disse que, semanas antes, o patrão esteve doente, de cama, dizendo que tinha dôr de cabeça, tontura e estomago enjoado. Outra testemunha, Ignácio Pereira Pinto, que passara alguns dias em casa de Lotherio construindo um paiol, questionado pelo advogado do réu, disse que tempos atrás tinha encontrado Lotherio, que lhe disse andar adoentado. Ignácio aconselhou-o a tomar um purgante. Disse mais a testemunha, que nunca ouviu falar em tentativa de envenenamento a Eleuterio. Havia algo de novo no ar. Eugênio Sellani, terceira testemunha, que morava na estação de Nogueira, disse que algumas vezes ia à casa de

Lotherio, onde via Gertrudes, que lhe parecia boa menina cuidando do terreiro da casa e com muito recato. Disse ainda que conhecia Lotherio havia bastante tempo, pois havia sido seu caseiro em Cosmópolis, e dele fazia o melhor juizo. João Chrysóstomo Ribeiro, vizinho a distancia de vista do réu, também o tinha em boa conta, dizendo que era um homem de bons costumes. Disse ter sido ele mesmo quem prescrevera o medicamento para Lotherio ao saber que estava doente. E ouvira dizer que o motivo da moléstia teria sido uma dose de tártaro que Gertrudes lhe dera no café a mando de Brasília. Disse ainda que Eliseu viera tomar parecer com elle depoente sobre eliminar Lotherio por causa das ações contra a afilhada. João teria aconselhado a não proceder dessa forma, devendo procurar a Justiça caso o indiciado devesse tal crime. E, nova informação: que Elizeu Ferreira vive em casa do indiciado como se fôra marido dormindo na casa; que não sabe se Elizeu vive amasiado de dona Brazilia sabendo que o mesmo está tomando conta dos negocios da casa. As testemunhas Antônio Modesto de Camargo e sua esposa, Leonor Bueno de Godoy, residentes em um vilarejo chamado Coqueirão, não foram en119


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