Texto Joanita Ramos
Ilustração Márcia Széliga
1ª Edição
Curitiba - PR 2022
FICHA TÉCNICA Texto - Joanita Ramos Ilustração - Márcia Széliga Revisão - Cristiane G. Bachmann Coordenação editorial - Joanita Ramos Projeto gráfico e diagramação - Axel Giller Todas as informações constantes nesta obra são de responsabilidade exclusiva da autora .
AGRADECIMENTOS A TODOS QUE LEVAREM ESTE LIVRO ATÉ UMA CRIANÇA.
5 SOFIA LEU E AMOU UM LIVRO DO PERERÊ. MAS, CURIOSA, CISMOU: “A OUTRA PERNA, CADÊ?”
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DE TANTO OUVIR SUA AVÓ, JÁ SABIA OUTRA LENDA DE UM GAROTO MUITO SÓ, VISTO NUMA FAZENDA.
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NEGRINHO DO PASTOREIO, NO TEMPO DA ESCRAVIDÃO, FOI POSTO NO FORMIGUEIRO POR ORDEM DO SEU PATRÃO,
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SÓ PORQUE NÃO PÔDE ACHAR UM CERTO POTRO PERDIDO... “NÃO ACHOU? VAI APANHAR. NÃO ACHOU. VAI PRO CASTIGO!”
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MAS NEGRINHO HOJE É QUERIDO, CAVALGA LIVRE E SEM SELA. ACHA TUDO QUE TEM SUMIDO, CASO SE ACENDA UMA VELA.
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VELAS, SOFIA ACENDEU. REZA DAQUI E... OLHA ALI! A CHAMA FEZ A LUZ CHEGAR AOS OLHOS DO GURI.
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SEM ARREIO, SAIU ELE, CORTANDO VENTO A CAVALO. CORRENDO CANTO POR CANTO, SEM NUNCA PERDER O EMBALO.
12 UMA PERNA EXTRAVIADA, PROCUROU DIA APÓS DIA. SEM PRESSA, AO SOM DE ASSOBIOS, SEMPRE A OLHAR POR SOFIA.
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SOBE MORRO, DESCE MORRO... DE CANSAÇO, ADORMECEU. SONHOU COM A PERNA PERDIDA E QUASE QUE SE PERDEU.
14 UPA! CAMPO, CIDADE, FLORESTA FLORIDA. E LÁ NO OUTRO LADO DO MUNDO, O QUE TINHA? TINHA PRÓTESE ATÉ COLORIDA! ELE ESCOLHEU NUM SEGUNDO.
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FOI ESPANTO PRA SOFIA, QUANDO ABRIU DE NOVO O LIVRO. VIU O QUE ELA QUERIA E NÃO ESCONDEU O ALÍVIO.
16 RIU, FESTEJANDO, ENCANTADA: “VEJA SÓ, ATÉ QUE ENFIM! DEMOROU, MAS ENCONTREI UM SACI IGUAL A MIM.”
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QUEM É? Saci Pererê: personagem inventado ninguém sabe por quem. É conhecido por viver na mata, usar uma carapuça vermelha, ter uma perna só e fazer muitas travessuras, como espantar cavalos e assustar pessoas. Mas assusta especialmente quem entra na mata para destruí-la. O Saci foi ganhando muitas histórias com o tempo. Uns dizem que nasceu num bambuzal; outros, que, como escravo, foi preso pela perna, e ele próprio a cortou para se libertar. E há quem diga que a perdeu jogando capoeira. Negrinho do Pastoreio: assim como o Saci, também é um personagem do folclore brasileiro, da imaginação do povo. Conta-se que era escravo e, certa vez, foi mandado em busca de um potro que havia se perdido. Como não o achou, foi chicoteado até não resistir mais e colocado, depois, num formigueiro. Diz-se que, quando perdemos algum objeto, basta acender uma vela para o Negrinho do Pastoreio, que ele nos ajuda a encontrar o que perdemos. O QUE É? Arreio: uma parafernália de tiras de couro e peças de metal que se coloca na boca, na cabeça e no corpo do cavalo, para controlar o animal. Compadre e comadre: é como os pais de uma criança se referem ao padrinho e à madrinha dela, e como estes se dirigem aos pais da criança. Extraviada: perdida. Guri: menino, garoto. Tempo da escravidão: época em que era comum pessoas inocentes serem presas, compradas e vendidas como se fossem coisas. Quem as comprava, fazia com elas o que quisesse. Geralmente, eram obrigadas a trabalhar demais sem pagamento e castigadas conforme a maldade do dono. Felizmente, hoje a escravidão é proibida no brasil. Patrão: chefe, dono de fazenda e, antigamente, de escravos. Potro: cavalo novinho, que ainda não se tornou adulto. Prótese:
aparelho feito para substituir qualquer parte do corpo que esteja faltando.
próteses de dente, de braço, de perna etc.
Sela:
Existem
equipamento formado de diversas partes que precisam ser confortáveis para quem monta e
também para o cavalo.
Entre elas, o estribo, para a pessoa colocar os pés; a barrigueira, com que se prende a sela ao cavalo; e o assento, para evitar que os ossos do cavalo machuquem a bunda do cavaleiro ou da cavaleira e que os ossos do cavaleiro ou da cavaleira machuquem o lombo do cavalo.
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Sou Joanita R amos e escrevi esta história lembrando as que ouvia , quando menina , contadas por minha mãe e outras pessoas do povo – algumas que nem sabiam ler , mas sabiam tudo sobre saci, negrinho do pastoreio , mula-sem-cabeça , boitatá , lobisomem e outros mitos do folclore brasileiro. Sofia gosta muito do saci. O meu preferido é o boitatá , que , na língua tupi, significa “cobra-de-fogo”. Em alguns lugares , é descrito como um touro que solta fogo pelo nariz , queimando quem prejudica a vegetação. Dizem também, nos matos por onde andei, que quem namora compadre ou comadre vira boitatá . Quando ouço isso , me divirto e digo “se é assim, já tem um boitatá em mim ”. O que é a autora aos 7 anos chamado pelos indígenas de cobra-de-fogo acontece de verdade , quando um corpo está apodrecendo na mata ou nos cemitérios e se forma o gás metano , provocando o fogo -fátuo. Se alguém passa , deslocando o ar , esse “fogo -e-luz ” se movimenta e pode assustar . M as não incendeia a floresta . Quando eu virar boitatá , quero que minha luz queime coisas “podres ”, como preconceito , bullying, a vergonha de ser o que a gente é , e outras bobagens que já passaram da hora de ir embora .
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Esta
é
M árcia Széliga ,
ilustradora deste livro .
Ela
diz que não tem personagem lendário preferido , mas
gosta de natureza e , em especial , dos chamados
“quatro elementos ”, que são o fogo , a terra , o ar e a água . Se eu fosse escrever uma história em que a M árcia aparecesse como uma personagem folclórica , ela seria a mãe de ouro , originada entre os índios tupi , da amazônia . Essa personagem se relaciona com água , fogo , ar e terra . Na água , é capaz de tomar a forma de um barco . E também pode virar bola de fogo e voar , rompendo o ar , para proteger a terra de ser estragada pelos homens que desejam ficar
s a ilustradora ao
5 anos
ricos sem se preocupar com a natureza . A habilidade maior da mãe de ouro é encontrar tesouros , não
para tirá-los de onde estão , mas para proteger as minas e jazidas .
Conheço a M árcia há muitos anos e sei que ela costuma navegar e voar pelos territórios das histórias , procurando os tesouros escondidos . Ela também tem a mágica de criar barcos , animais e outras formas , quando começa a desenhar . Ilustrar é encontrar o “ouro ” das histórias . R epare como toda história , quando ilustrada , brilha mais .
Apoio:
Incentivo:
PROJETO REALIZADO COM RECURSOS DO PROGRAMA DE APOIO E INCENTIVO À CULTURA – FUNDAÇÃO CULTURAL DE CURITIBA E DA PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA