Jornal Memai - Edição 04

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ocorre na etapa de pré-produção de cada filme, até a finalização. No processo, ele desempenha também as funções de câmera, repórter, narrador e editor. Funções da área de produção, tais como os contatos e o agendamento da(s) viagens e entrevistas; a hospedagem e o transporte, a alimentação e outros detalhes também são decididas por ele. Apenas a tradução das falas e a legendagem – tanto de falas em português traduzidas para o japonês e de falas em japonês traduzidas para o português – podem necessitar, em alguns momentos, da assistência de outro profissional, devido a questões estritamente linguísticas. Esta forma de trabalho é muito diferente da imagem que se faz do cinema como uma atividade coletiva, que envolve muitos profissionais com diferentes atribuições, dentro e fora do set de filmagem. Okamura afirma que não planeja suas entrevistas com os imigrantes, preferindo o contato direto a pautas rígidas- o inesperado é um dos elementos com os quais conta para produzir seus filmes. Ele prefere não projetar ou imaginar o que acontecerá em cada entrevista, mas registrar o momento

Seu processo de trabalho é uma câmera na mão e um sonho na cabeça. Ele é o único responsável por todas as etapas da produção cinematográfica. Ele é câmera, repórter, narrador e editor. em sua totalidade. Além disso, o tempo de produção de cada título é longo, sendo constituído de vários anos de viagens para a coleta das raras histórias de vida dos imigrantes. Este é o caso do documentário Humanitas: 25 anos de atividades – companheiros da terra roxa (Akai daichi no chyūgentachi – Humanitas nijyūgonen no ayumi), o 11º documentário da fase do diretor no Brasil, que levou entre 7 e 8 anos para ser finalizado. Em 2002, foi editada a versão japonesa do filme, em 2005, uma versão com legendas em português foi preparada e em 2006, uma versão bilíngue foi disponibillizada. Este documentário retrata parte da vida do padre japonês e Haruo Sasaki, que, emigrou para o Brasil em 1957 e, mesmo sem conhecimento prévio sobre a hanseníase, empreendeu uma tarefa que ele mesmo define como “louca”, ao fundar, em 1977 um centro de tratamento para os portadores da enfermidade – a Sociedade Filantrópica Humanitas, São Jerônimo da Serra PR – ao perceber o isolamento em que estes portadores se encontravam. Este, também segundo o pároco, é o maior projeto de sua vida. Hoje, o centro ampliou as suas atividades, oferecendo, igualmente, atividades educacionais e profissionais para crianças e jovens carentes e meninos de rua da região, além de apoio a agricultores sem-terra. Acompanho o trabalho dele desde 1994 e acabei de editar o documentário em comemoração aos 25 anos do Humanitas, diz o diretor. OBRA O primeiro longa-metragem de Jun Okamura, Nos sonhos, a saudade (Kyōshū wa yume no naka de), foi finalizado em

1998 e reeditado em 2001, com reapresentações no Japão, em mostras individuais. Assim como em Humanitas, também neste filme, o diretor apresenta a vida de um único imigrante, Saichi Nishi. Durante uma de suas viagens por todo o território brasileiro em busca de idéias para seus filmes, Okamura ouviu falar de um velho imigrante japonês excêntrico que vivia em uma cidade do estado de Mato Grosso. Ao entrar em contato com este eremita, Okamura manifestou o desejo de registrar a história de Saichi Nishi, um japonês que imigrou para o Brasil antes da segunda guerra e que acabou criando uma teoria própria sobre o mundo. Isto porque Nishi havia abdicado do convívio com a sociedade e vivia, segundo a sua filosofia de vida O cineasta solitário Jun Okamura pessoal, em uma modesta cabana construída por ele mesmo. Estes e outros documentários do diretor somente podem ser vistos pelos Outro documentário Vídeo cartas do 40º espectadores brasileiros em mostras e ano – fase Amazonas (yonjyūnenme no festivais ligados à imigração japonesa video letter Amazon hen), de 2002, mostra ou relacionados, como a que ocorreu 14 passageiros do navio Argentina Maru no festival Imagem dos Povos - IV na atualidade. No total, o navio tinha 31 Mostra Internacional Audiovisual – que passageiros. Descobrimos que 10 deles aconteceu no ano 2008, que contou já morreram e outros não quiseram com filmes japoneses e amazônicos participar, revela o diretor. Segundo a em suas edições em Ouro Preto e Belo sinopse do filme, este navio trouxe 700 Horizonte. Este festival privilegia, a cada imigrantes japoneses para quatro países ano, uma diferente região do país e um da América do Sul em 1962, um momento país diferente do globo. É preciso ficar em que a imigração japonesa para este atento aos festivais e mostras de cinema continente estava em franco declínio. no país. Em Curitiba, o Centro de Estudos Quarenta anos depois, como estariam da Língua Japonesa do Sul do Paraná os passageiros do navio, que partilharam – em parceria com Consulado Geral do os mesmos sonhos e apreensões sobre Japão em Curitiba – trouxe o diretor para uma nova terra? As exibições do filme no a capital, em dois anos consecutivos, Japão trouxeram ainda uma oportunidade em 2008 e 2009. Quem sabe, haja uma de novas entrevistas, diz ele, estou terceira edição do Encontro com Jun aproveitando minha estada no Japão Okamura na cidade organizado por estas para visitar alguns dos passageiros do instituições também este ano. navio que acabaram voltando e hoje vivem aqui. Este filme, que se concentra Suzana Tamae Inokuchi apenas nos depoimentos das famílias (haikaisepoemas@hotmail.com)é graduada que permaneceram na Amazônia, é em Relações Públicas e Letras e mestranda apenas o primeiro do projeto Vídeo Letter: em Estudos Literários na Universidade O próximo passo é entrevistar a única Federal do Paraná, além de poeta e contista. família que ainda está em Guatapara e produz agáricos.

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