Gestao da inovação paulo tigre

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Os clássicos acreditavam que por meio do uso de máquinas seria possível aumentar simultaneamente a produtividade do trabalho, a produção e a oferta de mercadorias. De acordo com a lei de Say, deveriam também aumentar a demanda, tornando o desemprego de trabalhadores um efeito temporário. Com o aumento da produção, a força de trabalho seria novamente empregada, seja na mesma ou em outras fábricas, de forma que o progresso técnico beneficiaria toda a sociedade. Essa opinião, segundo Moreno (1999), dominou a teoria econômica do século XVIII ao XIX e era uma resposta ao antagonismo com que se acolheu a difusão do uso da maquinaria. Ricardo abandonou a visão teórica da lei de Say, entendendo que os empresários poderiam efetivamente aumentar seus lucros através da automação, mas que isso não beneficiaria necessariamente os trabalhadores. Recorrendo a uma demonstração aritmética, Ricardo mostra que o produto líquido1 (PL) poderia aumentar sem um aumento proporcional no produto bruto (PB), ou seja, os lucros poderiam aumentar independentemente do crescimento da massa salarial. Como a sustentação do emprego da população depende do PB, haveria uma diminuição na demanda pela força de trabalho, resultando em desemprego, pobreza e mal-estar. Mais tarde, no capítulo sobre a maquinaria da terceira edição de Princípios, Ricardo aperfeiçoa sua tese propondo que “a introdução das máquinas comporta a transformação em capital fixo de uma parte do capital circulante empregado no pagamento dos salários “. Assim, a formação de um capital circulante adicional seria uma condição necessária para a reintegração dos desocupados. Ele também ameniza seu entendimento sobre os impactos sociais negativos da automação esclarecendo que o aumento do PL “levaria forçosamente a uma maior facilidade de transferir recursos para o capital”. A reinversão de lucros e a necessidade de amortizar o capital investido em máquinas levariam o benefício do aumento da produtividade para toda a sociedade por meio da redução de preços. Na medida em que o aumento do consumo alimenta o investimento produtivo, surge a necessidade de empregar mais trabalhadores. Dessa forma, parte das pessoas deslocadas na primeira etapa da automação poderia ser empregada depois. As conclusões de Ricardo acabam por corroborar a visão de Smith de que os frutos do progresso técnico são distribuídos para a sociedade essencialmente pelo processo de queda dos preços em relação aos rendimentos nominais. A transferência dos ganhos de produtividade para os preços pressupõe a existência de concorrência, uma condição de mercado que constitui um dos pilares das teorias clássicas.


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