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clarim pela qual eu tinha me apaixonado. ‚Deixe uma mensagem.‛ E o bipe. O silêncio na linha era muito horripilante. Eu só queria voltar com ele para aquela terceira dimensão secreta e pós-terrestre que visitávamos quando falávamos ao telefone. Esperei por aquele sentimento, mas não veio: o silêncio na linha não me trouxe nenhum conforto, e, por fim, desliguei. Peguei meu laptop, que estava debaixo da cama, apertei o botão de ligar e fui direto no perfil dele, onde as mensagens de pêsames já inundavam o mural. A mais recente dizia:

Eu te amo, irmão. Te vejo do outro lado. …Escrita por alguém de quem eu nunca tinha ouvido falar. Na verdade, quase todos os posts no mural dele, que chegavam quase na mesma velocidade que eu levava para acabar de ler cada um, foram escritos por pessoas que não conheci e das quais ele nunca tinha falado, pessoas que estavam exaltando as diversas virtudes dele agora, depois de morto, mesmo eu tendo certeza de que não viam o Gus havia vários meses e nem tinham feito qualquer esforço para visitá-lo. Fiquei tentando imaginar se meu mural ficaria assim quando eu morresse, ou se eu já tinha ficado longe da escola e da vida tempo suficiente para escapar da memorialização generalizada. Continuei lendo.

Já sinto saudade de você, irmão. Eu te amo, Augustus. Deus te abençoe e te guarde. Você vai viver para sempre em nossos corações, grande. (Essa, em particular, me irritou, porque implicava a imortalidade daqueles que ficaram para trás: você vai viver para sempre na minha memória, porque eu vou viver para sempre! EU SOU SEU DEUS AGORA, GAROTO MORTO! EU POSSUO VOCÊ! Achar que você não vai morrer é, também, mais um efeito colateral de se estar morrendo.)


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