Maurício - A História que Não Está no Gibi

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Os cinco anos como repórter foram muito valiosos. Aprendi coisas que se mostrariam inestimáveis para quem queria viver de quadrinhos. Aprendi, por exemplo, a escrever histórias (pois reportagens não passam de histórias) em espaços pequenos. A escrever e reescrever até o texto ficar o mais claro possível. A cortar o supérfluo e deixar apenas o essencial. Em resumo, a transmitir o máximo com o mínimo. Também perdi boa parte da timidez. Na redação havia um mural. Os jornalistas afixavam ali pequenos informes ou anúncios. Um queria vender o carro, outro procurava apartamento para alugar perto do jornal, esse tipo de coisa. Estava ali um bom lugar para começar a mostrar ao pessoal que eu sabia desenhar. De tempos em tempos fazia um retrato de algum colega datilografando na máquina de escrever, lendo jornal ou tomando café e o exibia ali. Todo mundo aprovava. Um dia tomei coragem e pedi para me deixarem ilustrar alguma matéria. Seguindo o caminho que Mário Cartaxo tinha apontado anos antes, eu agora estava pedindo uma chance a amigos, não a estranhos. Fiz então meus primeiros desenhos para o caderno cultural, depois para reportagens sobre assuntos cotidianos. Em pouco tempo tinha de fazer duas ilustrações por dia. Quando saía do Deic, lá pelas seis e meia, ia caminhando até o jornal. No cruzamento das avenidas Ipiranga e São João parava na lanchonete Salada Paulista e jantava de pé o prato do dia, geralmente com acompanhamento de salsicha e salada de batata, uma delícia. Depois ia apressado para o jornal. Tinha que chegar até sete e meia, o horário em que a chefia decidia quais seriam as duas reportagens que eu precisaria ilustrar. Eu tinha minutos para fazê-las. Se não conseguisse, perdia-se o prazo da gráfica. Os temas eram variados, não dava para repetir ideia ou truque. Não havia tempo de fazer rascunho. Eu tinha de ler as reportagens para captar a essência do assunto, criar as ilustrações na hora, desenhar com nanquim, fazer a arte final e deixar prontas para não atrasar o processo industrial. Foi um excelente exercício que me ajudou a criar e desenhar cada vez mais rápido. Aos poucos fui ganhando mais espaço. Começaram a me encomendar desenhos maiores e mais elaborados, com mais tempo para serem executados. Passei também a ilustrar matérias policiais, minhas e de colegas, desenhando reconstituições de crimes, transformando as informações do texto em historietas. Nunca me pagaram um centavo a mais por esses trabalhos. Minha remuneração foi


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