Histórias do viver

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Amanheceu. Um pouco de serração esfumaçava o vale. Todos se levantaram antes do costume. No silêncio da cozinha todos pareciam esperar o inesperado. E eis que a porta da frente se abre. Todos se voltaram em sobressalto... Era Angelina que entrava, olhos inchados e vermelhos, parecendo tremer de frio... Todos se atiraram para ela. O alarido foi geral: o que houve? Onde estavas? O que aconteceu? Mariota abraçou-a,... abraçou-a e chorou... Até seu João enxugava as lágrimas na manga da camisa. E Angelina então falou quase gemendo: - Foi o sanguanel! Foi o sanguanel! Enquanto vocês estavam se preparando para voltar para casa, ele me pegou pela mão, me levou para as canas e me fez subir naquela bergamoteira que está bem no meio. Quando vocês chamavam, eu ouvia, mas não podia responder. Ele tapava a minha boca com as mãos, umas mãos pretas e fedidas. Vocês passaram em baixo da bergamoteira e eu não podia responder. Quando vocês vieram embora ele me deixou descer, mas me obrigou a dormir ali no chão. Ele sempre perto de mim. Tinha olhos de fogo, dois chifres de cabrito,

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