Perspectiva Contábil: Informação, Ciência e Diálogo

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2 ENTREVISTA

Pesquisa e Ciência em foco: com Prof. Dr. Carlos Renato Theóphilo

3 ANÁLISE

Tratamento dos instrumentos financeiros no Brasil: uma questão de tempo e oportunidade

3 OPINIÃO

Gestão estratégica de custos: “a união faz a força”

3 PENSAMENTO CONTÁBIL

Nos trilhos da história da contabilidade

Perspectiva Contábil Informação, Ciência e Diálogo

4 PESQUISA EM DESTAQUE

Estilos de aprendizagem dos discentes de Ciências Contábeis

4 CRÔNICA DE SALA DE AULA

Quem ensina a ser professor?

4 CONTABILIDADE E GESTÃO

2ª Edição | Fevereiro 2017 DESTAQUE

A contabilidade e o diálogo com outras áreas do conhecimento

Os índices financeiros e a tomada de decisão no ambiente de negócios INFORMAÇÕES INSTITUCIONAIS UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA FACULDADE DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CONTÁBEIS

Valder Steffen Júnior Reitor da UFU

por Dra. Marli Auxiliadora da Silva

As Ciências Sociais investigam as relações do homem com o seu meio estudando-o na condição de criador de cultura, em aspectos diversos que envolvem conhecimentos de variadas áreas, tais como: Antropologia, Direito, Economia, Psicologia Social e da Sociologia1.

Sobre esse diálogo transdisciplinar, Edgar Morin assegura que o pensamento complexo, ou seja, aquilo que é tecido em conjunto’, permite a superação e o desmoronamento de toda e qualquer fronteira que inibe ou reprime o saber, reduz, fragmenta e isola o conhecimento em territórios delimitados.5

É por isso que a pesquisa em Contabilidade tem percorrido caminhos diversos e ampliado suas discussões e diálogos com outras áreas, buscando inclusive sustentação teórica em outros campos do conhecimento, por meio de teorias econômicas, psicológicas, sociológicas, entre outras. Nesse sentido, ela tem lançado olhares sobre outros objetos de “a Pesquisa em Contabilidade investigação e ampliado as linhas de pesquisa. tem percorrido caminhos

A contabilidade, classificada como uma ciência social, pois é a ação humana que gera e modifica o fenômeno patrimonial e, ainda de natureza utilitária2, frequentemente, se sujeita a significativos e revitalizadores diálogos inter e transdisciplinares com outras áreas do conhecimento3.

Ora, se a Contabilidade é uma ciência social e de natureza utilitária, podese inferir que a evolução diversos e ampliado suas O foco das pesquisas, das sociedades fará com discussões e diálogos com para além da que ela responda por outras áreas” contabilidade financeira mecanismos próprios1, e contabilidade gerencial, relacionados aos estímulos busca a discussão de recebidos do meio social, questões relativas à educação contábil, às tornando-a interlocutora com outras áreas do questões de gênero e ações afirmativas conhecimento. Essa interlocução permite-lhe como as cotas sociais, por exemplo, e seus sistematizar dados, não só das organizações 4 reflexos na própria contabilidade; afinal, o formais, mas também das ações humanas. contador, como ser social, é criador de cultura O diálogo transdisciplinar com a Psicologia, e, portanto, influenciador e capaz de provocar por exemplo, pode oferecer à Contabilidade, mudanças na sociedade. o suporte para se entender possíveis resistências às mudanças; da Sociologia terREFERÊNCIAS [1] MEGALE, J. F. Classificações das ciências. 2. ed. São Paulo: Atlas, 1990. se-ia a compreensão das relações sociais; [2] IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2009 da Filosofia a colaboração para “o contínuo [3] CABRAL, I.; SIQUEIRA, J. R. M.; SIQUEIRA-BATISTA, R. O diálogo das ciências contábeis com as ciências humanas e demais ciências sociais. REPeC repensar dos princípios que norteiam a área” – Revista de Educação e Pesquisa em Contabilidade, Brasília, v. 5, Edição Especial, p. 100-125, set./dez., 2011. e, por consequência, a prática contábil; já [4] BARBI, R. C.; PALOTTA, V. F. As raízes históricas da contabilidade sob uma Antropologia possibilita, ao estudioso da abordagem social: uma discussão sobre os reais objetivos do balanço social. LaSalle – Revista de Educação, Ciência e Cultura, v. 7, n. 2, p. 71-83, 2002. contabilidade, conhecer as diversidades [5] MORIN, E. Educação e complexidade: os sete saberes e outros ensaios. 5. culturais.3 ed. São Paulo: Cortez, 2009.

Nilton Cesar Lima Diretor da FACIC

Edvalda Araújo Leal

Coordenadora do PPGCC Av. João Naves de Ávila, 2121 - Bloco 1F - Sala 248 Campus Santa Mônica - Uberlândia/MG - CEP 38.400-902 Telefone: +55 (38) 3291-5904 E-mail: ppgcc@facic.ufu.br

Site: www.ppgcc.facic.ufu.br

EQUIPE EDITORIAL ORGANIZAÇÃO E EDIÇÃO PROFESSORA - Dra. Marli Auxiliadora da Silva PÓS- GRADUANDOS - Izael Santos e Taís Duarte COLABORAÇÃO REVISÃO TÉCNICA - Dr. Gilberto José Miranda - Dra. Edvalda Araújo Leal REVISÃO LINGUÍSTICA - Dra.Lúcia Helena F. Lopes

Caro leitor, Apresentamos a você a segunda edição do “Perspectiva Contábil: informação, ciência e diálogo”; o boletim informativo PPGCC/ UFU. Esta edição aborda temas ligados à pesquisa e ao ensino em contabilidade, à informação contábil e gestão, e a questões atuais acerca da contabilidade societária, perseguindo o objetivo de ser um canal de diálogo e para exposição de ideias e reflexões acerca das Ciências Contábeis. Esperamos que aproveitem os textos e que eles sejam vetores para o desenvolvimento da nossa ciência. Boa leitura! Equipe Editorial


ENTREVISTA

Pesquisa e Ciência em foco: com Dr. Carlos Renato Theóphilo*

Entrevista concedida em 20/12/2016.

Autor de estudos seminais no campo da epistemologia da pesquisa em contabilidade, Dr. Carlos Renato Theóphilo é professorpesquisador no curso de graduação em Ciências Contábeis e nos programas de pósgraduação em Desenvolvimento Social e em Desenvolvimento Econômico e Estratégia Empresarial na Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) e professor na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI/USP). É membro das academias mineira e brasileira de contabilidade, de equipes editoriais de diversos periódicos científicos da área contábil e de grupos de pesquisas certificados pelo CNPQ e atua como palestrante em eventos com temáticas relacionadas à pesquisa e à produção científica em Ciências Contábeis. É coautor dos livros “Metodologia da Investigação Científica para Ciências Sociais Aplicadas” e “Pesquisa Operacional para Decisão em Contabilidade e Administração”.

Nesta entrevista, Professor THEÓPHILO (C.R.T) apresenta percepções e reflexões acerca dos desafios do desenvolvimento da pesquisa científica no campo das Ciências Contábeis a partir de uma perspectiva epistemológica. B.P.C: Professor, tanto na dissertação quanto na tese de doutorado, você traz uma discussão sobre as abordagens epistemológicas envolvendo a pesquisa em contabilidade. A partir desses estudos, você considera que as pesquisas publicadas e socializadas apresentam preocupação maior com a base epistemológica e que se tornaram mais críticas? C.R.T: Nos estudos que desenvolvi, foi utilizado um paradigma epistemológico que concebe as diferentes maneiras de abordar a realidade a partir de um modelo quadripolar, formado pelos pólos epistemológico, teórico, metodológico e técnico. Na minha dissertação, defendida em 2000, na qual foi analisada uma amostra de teses e dissertações produzidas de 1984 a 1998, houve grande dificuldade de identificar a estrutura epistemológica de um elevado percentual de trabalhos. Isso porque elementos fundamentais não eram enunciados nos estudos ou mesmo, muitas vezes, não era possível deduzi-los. Desde lá, houve grande evolução na estrutura epistemológica das pesquisas em Contabilidade no Brasil. Na tese, defendida em 2004, a amostra de trabalhos científicos analisados, produzidos de 1994 a 2003, apresentou importante evolução nesse sentido, particularmente, os defendidos a partir do ano de 2000. E o que tenho percebido é que essa evolução tem se consolidado.

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B.P.C: A Profa. Dra. Iracema Aragão, da UEFS, afirmou, no artigo intitulado “Pesquisa científica em Contabilidade: caminhos a percorrer”, que “a pesquisa contábil precisa percorrer campos interdisciplinares para responder a anseios sociais que abrangem outras áreas do saber” (2013, p. 5). Considerando essa afirmativa e a utilização de teorias de outras áreas do conhecimento (Administração, Economia, Educação, Psicologia, Sociologia, etc.), é possível afirmar que as pesquisas mais contemporâneas buscam esta interdisciplinaridade?

sas empíricas também se situam no campo da compreensão. Outras têm caráter mais intervencionista. Mas, no meu entendimento, todas somente se justificam se, direta ou indiretamente, tiverem o potencial de transformarem a realidade. O sociólogo e metodólogo Pedro Demo afirma que somente se justifica um estudo sobre pobreza se essa pesquisa levar à diminuição da pobreza. Concordando com isso, penso que somente se justificam, na nossa área, as pesquisas que tenham em seu âmago a capacidade de, em relação aos fenômenos que são objeto de estudo da Contabilidade, buscar sua transformação, sua aplica“há uma carência de estudos ção, a melhoria da realidade.

C.R.T: Penso que a área de Contabilidade, no Brasil, tem em profundidade, desenvolvi- B.P.C: Professor, com relação ao apresentado evoludos por pesquisadores experi- futuro da pesquisa em contabilidação no número de entes. Esse tipo de investigação de no Brasil, quais seriam as nepesquisas, fruto de é fundamental , pois visa a investigações intercessidades emergentes? proposição de ideias, a partir disciplinares. Isso C.R.T: Há uma taxonomia que ocorre, a meu ver, de novas visões e perspectivas.” classifica as pesquisas em normapor duas razões tiva e positiva. Simplificando: na principais. Uma é pesquisa normativa, estuda-se ‘como deve ser’ pelo fato de os programas de pós-graduação a realidade e na pesquisa positiva, ‘o que é’ a stricto sensu serem receptivos à participação realidade. Outra classificação epistemológica de alunos com diferentes formações; esse fato considera que há pesquisas em superfície, as possibilita que os trabalhos neles produzidos se quais se baseiam em teorias tradicionalmenbeneficiem de diferentes percepções e olhares te aceitas numa área do conhecimento, e as sobre os nossos objetos de estudo. A segunda pesquisas em profundidade, que se guiam pela razão é que pesquisadores em Contabilidade proposição de novas ideias, a partir de novas vitêm buscado sustentação teórica em outros sões e perspectivas. Na minha tese de doutoracampos do conhecimento para embasarem do, empreguei um paradigma que sugere o crusuas investigações, dada inclusive à especifizamento dessas duas tipologias, formando um cidade do arcabouço teórico da nossa área; tal quadrante. A constatação foi de uma proporção fato faz com que tenhamos uma maior depenelevada de trabalhos em superfície, com oriendência de teorias de outras ciências. Embora tação positiva. A predominância desse tipo de considerando que têm sido mais frequentes as estudo é compreensível e foi consequência de pesquisas que se favorecem de conhecimentos um movimento iniciado, no final dos anos 90, na interdisciplinares, concordo com o entendimento pesquisa contábil no Brasil, quando se passou a de que esse caminho deve ser ainda mais expriorizar as investigações empíricas, baseadas plorado. em teorias já existentes. Ocorre que, embora eu B.P.C: Professor, existe uma discussão, inclu- concorde que esse deva ser o tipo de pesquisa sive em falas do Prof. Dr. Eliseu Martins (FEA/ predominante, notadamente nas dissertações USP) sobre a necessidade de desenvolvimento de mestrado, em que estão sendo formados os de pesquisas acadêmicas cujos resultados se- pesquisadores, há uma carência de estudos em jam aplicáveis ao mercado. Qual seu posiciona- profundidade desenvolvidos por pesquisadores mento sobre essa discussão? experientes. Esse tipo de investigação é fundamental para evolução do conhecimento na área C.R.T: Entendo que o propósito da pesquisa das Ciências Contábeis, pois visa a proposição científica é buscar conhecimento sobre a realide ideias, a partir de novas visões e perspecdade e, por meio desse conhecimento, tenciotivas. Outra percepção é a de pesquisas que nar transformá-la. O fato é que, pela sua naturese orientem por abordagens metodológicas za, determinados tipos de pesquisas têm maior não-convencionais, como a fenomenologia e a proximidade dos objetos de estudo e os modifidialética. Os estudos com base nas abordagens cam mais diretamente, enquanto outras o fazem positivista e empirista já estão consolidados na de forma indireta, mas nem por isso com menos área contábil, seguindo uma tradição da pesrelevância. Os diferentes tipos de investigações quisa positiva americana. Novas abordagens, têm em comum a busca de conhecimento sobre especialmente a fenomenologia, trariam novas os fenômenos. As de natureza teórica enfatizam visões, desvelando aspectos da realidade não a compreensão do fenômeno, sua explicação. possíveis de serem alcançados pelas abordaSão, muitas vezes, base para outras pesquisas, gens convencionais. particularmente as empíricas. Algumas pesqui-


ANÁLISE

PENSAMENTO CONTÁBIL

Tratamento dos instrumentos financeiros no Brasil:

Nos trilhos da história da Contabilidade

Pronunciamento Técnico CPC 38 e aprovou o CPC 48, que apresenta princípios para a contabilização de ativos e passivos financeiros,. Tais alterações devem entrar em vigor a partir do ano de 2018. Diante desse contexto, algumas questões poderão ser analisadas em pesquisas futuras, tais como: Quais são as implicações da complexidade dos temas tratados pelas normas emitidas pela IASB? Qual o potencial efeito de uma discussão internacional prévia à adoção local das normas internacionais no Brasil? Essas e diversas outras questões evidenciam desafios e dúvidas quanto ao tratamento dos instrumentos financeiros, ressaltando a necessidade de se pesquisar e debater o tema no âmbito acadêmico, especialmente no Brasil, onde a vigência das normas internacionais está condicionada a discussões e a aprovação de Pronunciamentos Técnicos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis e homologação desses pelos demais órgãos reguladores.

por Ms. Vivian D. C. Fernandes Doutoranda do PPGCC

uma questão de tempo e oportunidade A volatilidade do mercado financeiro e os fatores contingentes que podem afetar esse mercado tornam a gestão financeira das firmas um assunto cada vez mais complexo.1 Diante disso, os instrumentos financeiros derivativos mostram-se como uma opção para fortalecer estratégias de proteção para as empresas, especialmente para aquelas com receitas, dívidas ou recebimentos vinculados ao câmbio ou a commodities.2-3 As normas contábeis, emitidas pelo International Accounting Standards Board (IASB), têm passado por algumas mudanças no que se refere ao tratamento dos derivativos. As normas vêm acrescentando requerimentos relacionados ao reconhecimento das perdas de crédito esperados; classificações e reclassificações dos instrumentos; e contabilidade de cobertura, conforme pode ser visto na versão 2015 da IFRS 9 - Financial Instruments.4 Assim, algumas pesquisas já apresentam discussões sobre as diferentes implicações dessas mudanças. Enquanto isso, no cenário brasileiro, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) emite normas contábeis que convergem para as normas emitidas pelo IASB. Referente ao tratamento dos instrumentos financeiros, tinha-se, até então, os Pronunciamentos Técnicos: CPC 38, Reconhecimento e Mensuração; CPC 39, Apresentação; e CPC 40 Evidenciação.5 No final do ano de 2016, o Comitê revogou o

por Pablo Zambra e Dr. Rodrigo F. Malaquias

REFERÊNCIAS

[1] MOLINARI, S. K. R.; GUERREIRO, R. Teoria da contingência e contabilidade gerencial: um estudo de caso sobre o processo de mudança na controladoria do Banco do Brasil. In: Congresso USP de Controladoria e Contabilidade, 4, 2004. Anais…, São Paulo, 2004. [2] BIRT, J.; RANKIN, M.; SONG, C. L. Derivatives use and financial instrument disclosure in the extractives industry. Accounting and Finance, v.53, n.1, p.55-83, 2013 [3] PROROKOWSKI, L. Lessons from financial crisis contagion simulation in Europe. Studies in Economics and Finance, v.30, n.2, p.159-188. 2013. [4] IASB. International Accounting Standards Board. Disponível em: <http:// www.ifrs.org/Pages/default.aspx>. Acesso em: 08 jan. 2017 [5] CPC. Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Disponível em: <http:// www.cpc.org.br/CPC>. Acesso em: 10 jan. 2017.

OPINIÃO

Gestão estratégica de custos: “a união faz a força”

por Geovane C. Santos e Alexandre Pedroza - Mestrandos do PPGCC

A Gestão de Custos Inteorganizacionais (GCI) é um instrumento da gestão de custos que associa a informação contábil à estratégia empresarial com o objetivo de desenvolver vantagem competitiva para um conjunto de organizações que estejam dentro de uma mesma cadeia de valor. Ela representa bem o ditado popular “a união faz a força”.

A GCI está estruturada sobre quatro princípios: interdependência (uma entidade depende da outra); confiança mútua (as entidades precisam compartilhar as suas informações); estabilidade (as partes precisam estar comprometidas) e cooperação (os integrantes da rede precisam se apoiar mutuamente).1 Dentro da análise da cadeia de valor, uma empresa deve identificar e explorar as ligações internas e externas que sua atividade estabelece, inclusive com outras organizações. 2 Partindo dessa concepção, a GCI instrumentaliza a cooperação entre os elos de uma cadeia de valor, criando uma vantagem competitiva coletiva que alcança todas as empresas participantes, tendo como reflexos: a redução dos custos, o aumento dos ganhos com o trabalho integrado e a

otimização da estrutura de gestão.1 No contexto de um mercado globalizado e cada vez mais competitivo, todas as organizações, independentemente do tamanho ou ramo de atividade, devem adotar estratégias para manterem suas operações sustentáveis. Considerando que, no Brasil, uma fatia expressiva do mercado empresarial é composta pelas micro e pequenas empresas (MPE), é importante tratar a aplicabilidade da GCI nessas empresas. Pois, ainda que os benefícios práticos da GCI sejam amplamente noticiados pela literatura especializada, sua aplicação efetiva se restringe a um pequeno grupo de grandes organizações. Isso porque nas MPE’s faltam elementos de aperfeiçoamento dos sistemas de gestão e é, especialmente, difícil implementar a cultura da confiança mútua, perdurando a percepção de que informações do negócio não podem ser compartilhadas. REFERÊNCIAS

[1] COOPER, R.; SLAGMULDER, R. Interorganizational costing: Part 1. Cost Management, p. 14-21, Sept./Oct. 2003. [2] SOUSA, M. A.; HEINEN, A. C. Práticas de gestão sstratégica de custos: uma análise de estudos empíricos internacionais. Contabilidade, Gestão e Governança, Brasília, v. 15, n. 2, p. 23 – 40, maio/ago. 2012.

A história da contabilidade é tão antiga quanto a história da humanidade, seus fundamentos remontam a mais de 4.000 anos a.C., com os povos sumérios, mesopotâmios e antigos egípcios.¹ Embora não se possa dizer que esses povos desenvolviam as práticas contábeis atuais, a sua principal manifestação: a conta, é tão antiga quanto as civilizações construídas pelos homens.² A evolução da sociedade foi criando as condições necessárias para que, entre os séculos XIII e XIV, com o desenvolvimento do comércio renascentista italiano, o sistema de partidas dobradas marcasse o início da contabilidade no mundo, tal qual a conhecemos hoje.3 Nesse contexto, sete criações permitiram o desenvolvimento da escrituração por partidas dobradas: (1) a propriedade privada, porque a escrituração está preocupada com o registro dos fatos sobre propriedade e os direitos sobre ela; (2) o capital, como riqueza produtivamente empregada; (3) o comércio, dada a troca de mercadorias em um nível generalizado, porque a negociação puramente local, em pequeno volume, não criaria o tipo de pressão nos negócios necessária para estimular a criação de um sistema organizado; (4) o crédito, que permite o uso atual dos bens futuros; (5) a escrita, como um mecanismo para fazer registro permanente em linguagem comum; (6) o dinheiro, que é o “denominador comum” para o comércio; e (7) a aritmética, como uma maneira de computar os detalhes monetários do negócio.4 Pode-se dizer que a contabilidade moderna teve início na década de 1970. Nesse período, existiam três correntes contábeis predominantes: os países latinos voltaram-se para o fisco; os germânicos para a valorização das demonstrações contábeis com propósito de atender aos credores; os anglo-saxões voltaram-se para os investidores.5 No Brasil, até 1976 predominou o modelo contábil do tipo “aziendalista”, preocupado com a propriedade. O avanço do comércio trouxe a necessidade de alteração da contabilidade praticada no país, baseada na escola europeia. Com o fortalecimento da escola de Contabilidade da Universidade de São Paulo (USP), um forte movimento nacional se instalou e a Lei das Sociedades Anônimas foi introduzida na legislação pátria. A partir de então, a contabilidade brasileira passou a seguir o modelo norte-americano, considerado o mais moderno da época.5 Em 2005, após anos de esforços e discussão, foi criado o Comitê de Pronunciamento Contábil no Brasil, e o país “avançou a passos largos no processo de harmonização com as práticas contábeis internacionais” (p.57).5 Observa-se que existem diferenças na filosofia contábil entre e dentro das culturas de cada país e elas fazem com que a harmonização das normas seja um movimento bastante difícil. Um exemplo disso, no caso do Brasil, é a dificuldade de empresas e contadores manterem o princípio da essência sobre a forma. Portanto, muitos são os desafios a serem superados pela contabilidade, afim de que o processo de internacionalização e harmonização das normas contábeis alcance seu principal objetivo: a universalização da linguagem contábil. REFERÊNCIAS

[1] RIBEIRO FILHO, J. F.; LOPES, J. PEDERNEIRAS, M. Estudando teoria da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2009. [2] PELEIAS, I. R.; SILVA, G.P; SEGRETI, J.B; CHIROTO, A. R. Evolução do ensino da contabilidade no Brasil: Uma análise histórica. Revista Contabilidade Financeira, USP, p.19-32, São Paulo, jun. 2004. [3] ROOVER, R. New perspectives on the history of accounting, The Accounting Review, v. 30, n. 3, p. 405-420, 1955. [4] ALEXANDER, J.R. History of accounting. Association of Chartered Accountants in the United States: New York, 2002. [5] MARTINS, E.; DINIZ, J. A.; MIRANDA, G. J. Análise avançada das demonstrações contábeis: uma abordagem crítica. São Paulo: Atlas, 2012.

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PESQUISA EM DESTAQUE

Estilos de aprendizagem dos discentes de Ciências Contábeis

por Ms. Lara Fabiana Morais Borges e Dra. Edvalda Araújo Leal

Ensinar em meio à diversidade! Talvez esse possa ser considerado um dos maiores desafios para atuação docente em uma sala de aula. Afinal, se maneiras diferentes de aprender podem influenciar o aprendizado e consequentemente o desempenho dos alunos, o que o docente deve fazer? O rendimento acadêmico dos estudantes do curso de Ciências Contábeis em exames externos (ENADE e Exame de Suficiência do CFC) tem ficado abaixo do esperado. Tal fato tem instigado pesquisas na área de educação contábil, por apontar deficiências no processo de ensino aprendizagem. Uma vertente dessas pesquisas aborda as características individuais dos discentes em aprender, conhecida como os estilos de aprendizagem. Para Felder e Silverman (1988), tais estilos revelam como as pessoas aprendem por meio da recepção e do processamento das informações que são captadas pelos sentidos, armazenadas e depois utilizadas com determinadas finalidades.

CRÔNICA DE SALA DE AULA

Quem ensina a ser professor? por Dr. Gilberto José Miranda Era semana do “saco cheio” nas escolas de Ensino Fundamental. As crianças, sem aula, ficavam em casa. Eu estava na sala de professores da universidade que compartilho com minha colega Ed, quando chegaram ela e um casal de sobrinhos, uma menina de uns 7 anos, a Rafinha, e um menino de uns 9, o Tavinho. Logo em seguida chegou Dara, a estagiária que acompanhava Ed nas aulas. Cumprimentei todos e fiquei observando...

— Dinda, quem é esta moça? Perguntou Rafinha. — Esta é a Dara, ela me acompanha nas aulas, pois está aprendendo a ser professora comigo. Disse Ed de forma bem clara e pausada. Rafinha retrucou imediatamente. — Mas Dinda, você ensina ser contador! Para ela aprender a ser professora, ela deveria estudar com quem ensina ser professor... Ed ficou em silêncio, pensativa... sem responder à observação da sobrinha, que já estava envolvida com os brinquedos novamente. Parecia complicado explicar que não há formação específica para o exercício da docência no ensino superior.

Os autores propõem um instrumento composto por quatro dimensões, sendo elas: i) Percepção: revela como o indivíduo percebe o ambiente que o cerca, sendo identificados os estilos sensorial ou intuitivo; ii) Retenção: demonstra quais os canais sensoriais são mais utilizados para recepção das informações, sendo identificados os estilos visual ou verbal; iii) Processamento: revela como o individuo prefere processar as informações recebidas, sendo identificados os estilos ativo ou reflexivo; iv) Compreensão: demonstra como o discente organiza os seus pensamentos para melhorar a compreensão do conteúdo, sendo identificados os estilos sequencial ou global. Com o objetivo de identificar e analisar os estilos de aprendizagem, investigou-se 1.147 discentes do curso de Ciências Contábeis, matriculados nas Instituições de Ensino Superior, localizada em Uberlândia-MG, no ano de 2015. Identificou-se que os estilos predominantes, seguidos de suas características foram: ativos (preferem formas diferenciadas para aprender – estudos em grupo, aulas dinâmicas), sensorial (preferem resolver os casos de forma mais metódica, utilizando

dados e fatos), visual (tendem a apreciar mais as representações visuais para aglutinar os conhecimentos) e sequencial (necessitam de uma sequência lógica do conteúdo trabalhado), sendo similar aos achados de outros autores na área contábil. O estudo identificou diferenças, estatisticamente significativas, na análise das proporções dos estilos, ao serem observados quanto ao fator demográfico (gênero, faixa etária e experiência profissional dos estudantes). Diante de tais resultados, propõe-se que os docentes apliquem métodos de ensino diversificados como: Ensino Baseado em Problemas (PBL); Debates de Filmes, Dramatização, Estudos de Caso, dentre outras. Tais métodos poderão fomentar a aprendizagem dos discentes a partir das características preferenciais, tornando o aprendizado cada vez mais atraente e significativo. REFERÊNCIA [1] FELDER, R. M.; SILVERMAN, L. K. Learning and teaching styles in engineering education. Journal of Engineering Education, v. 78, n. 7, p. 674-681, 1988.

CONTABILIDADE & GESTÃO

Os índices financeiros e a tomada de decisão no ambiente por Izael Santos - Mestrando do PPGCC de negócios Qual a utilidade da análise das demonstrações contábeis? Os índices financeiros baseados nos números contábeis dão subsídios adequadosparaorientaratomadadedecisão? O que dizem as demonstrações contábeis? A análise das demonstrações contábeis, realizada por meio dos índices financeiros, é tradicionalmente empregada pelas empresas para identificar a relação entre contas ou grupo de contas dentro da estrutura patrimonial, a evolução e a tendência entre períodos e para realizar comparações entre empresas etc., ou seja, para auxiliar a gestão a tomar as melhores decisões e fomentar o desempenho do negócio1. São dois os objetivos principais da análise das demonstrações contábeis: identificar se a empresa é rentável ou não e confirmar se ela apresenta liquidez. Esses dois objetivos visam avaliar, respectivamente, o mecanismo de remuneração da empresa para os capitais nela investidos e a capacidade financeira de pagamento junto àqueles que fornecem os recursos para sua operação, usualmente por meio de índices.2 Matarazzo (p. 147)1 esclarece que “um índice é como uma vela acesa em um quarto escuro”; serve para dar uma visão ampla e geral da situação econômicofinanceira da empresa, mas está longe de ser o meio exclusivo de análise. A utilidade dos índices financeiros está ligada ao reconhecimento das limitações dos números contábeis.3 As demonstrações contábeis dizem muita coisa, mas nem tudo que dizem é confiável ou refere-se à realidade corrente da empresa. Os problemas relacionados a elementos da análise das demonstrações contábeis são: [1] aqueles relacionados aos dados contábeis que compõem os índices, e [2] aqueles relacionados a deficiências da composição matemática dos índices.2 No primeiro grupo, estão práticas adotadas para “embelezar” as demonstrações contábeis, p. ex: erros nas

classificações dos elementos que formam o ativo e o passivo; o gerenciamento dos itens do circulante e as fraudes contábeis. No segundo grupo, os problemas estão relacionados à estruturação das demonstrações contábeis (p.ex: a situação apresentada é estática, há diferença de temporalidade dos elementos patrimoniais etc.) e a incapacidade dos indicadores captarem a sazonalidade e, por consequência, a realidade da empresa ao longo do ano. Os índices financeiros servirão, adequadamente, ao processo de análise do desempenho de uma organização quando for atribuído maior peso à compreensão e interpretação dos próprios demonstrativos, em detrimento do mero cálculo. As grandes conclusões do processo de análise serão resultado de uma leitura atenta das demonstrações contábeis.2 Alguns obstáculos que restringem o poder da análise podem ser superados com adoção de melhores práticas de contabilidade (reconhecimento e evidenciação correta dos elementos patrimoniais, combate à fraude etc.), outros são inerentes ao próprio processo contábil e poderão ser apenas mitigados ou anunciados (adoção de processos contábeis alternativos, valor do dinheiro no tempo, diferença do lucro contábil e o lucro econômico etc.).2-3 A interpretação dos índices deve ser feita com cautela e de forma sistêmica. É importante que a análise contemple índices de referências, seja a média do setor ou os índices de empresa líder de mercado.1-2 Por fim, é a expertise do analista e sua capacidade interpretativa que garantirão a qualidade e a eficiência da análise das demonstrações contábeis para a tomada de decisão.2 REFERÊNCIAS

[1] MATARAZZO, D. C. Análise financeira de balanços: abordagem básica e gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010. [2] MARTINS, E.; DINIZ, J.; MIRANDA, G. Análise avançada das demonstrações contábeis. São Paulo: Atlas, 2012. [3] RAPPAPORT, A. Gerando valor para o acionista: um guia para administradores e investidores. São Paulo: Atlas, 2001. [4] ASSAF NETO, A. Estrutura e análise de balanços: um enfoque econômicofinanceiro. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2010.


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