A garota dos pes de vidro - ali shaw

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muito poder ajudá-la." Ela deu de ombros desanimada. "Não é minha culpa. Não posso senti-los, Henry, mas algumas vezes posso sentir os cantos mortos nos meus tornozelos. Se você... se no final não... não houver cura ou qualquer coisa, o que vou sentir ainda?" "Não sei." "Vai doer?" Ele mexeu nos caranguejos. "Não sei." "Então, o que você acha que devo fazer nesse meio tempo? Vim até aqui atrás de você." "Vai soar idiota." "Pode dizer." "Siga em frente. Viva a sua vida. Não acredite em baboseiras." Ela pareceu furiosa por um segundo, mas se segurou. "Eu tive noites selvagens. Festejei. Fiz todo esse troço de buscar emoções. Isso é idiotice. Achei que essas experiências mudariam minha vida. Ficavam apenas na cabeça. Aqui estou eu pulando de bungee jump. Aqui estou eu saltando sem paraquedas. Por trás de toda essa adrenalina há o mesmo sentimento de autoconsciência." "Não estou falando para saltar de paraquedas. Não quis dizer nada disso." Ele suspirou. "Nunca fiz essas coisas, Ida, então só posso supor. Mas me empolguei do meu próprio jeito. Fui levado pelo gado de asas de borboleta. Quando os encontrei, eles se juntaram ao meu redor, com suas asas zumbindo tão forte que pensei por um momento que seria levantado do chão. Lembro-me do almíscar quente do rebanho com mais nitidez do que do sorriso de minha mãe, mas veja... A única vez em que realmente me senti vivo por dentro... isso quer dizer...", bateu no peito, "no coração... foi o tempo que passei com Evaline Crook." "Recentemente...", ela começou a dizer, mas os caranguejos cozidos gritavam na panela. "Recentemente, com Midas..." Henry não estava prestando atenção nos caranguejos. Uma garra havia se partido e flutuava em círculos. "Recentemente, com Midas, eu senti... não sei o que senti, mas... é diferente...", ela continuou. "Exatamente."


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