Observatório Potiguar 2016 (ET)

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relações cujas faltas ou enfraquecimentos criam o espaço da violência. Isto posto, a violência contemporânea pode ser compreendida como um amplo conjunto de experiências que, cada uma à sua maneira, transladam o risco de implosão pósmoderna, e mesmo seu esboço (WIEVIORKA, 1997). A violência expressaria uma certa defasagem entre as demandas subjetivas de pessoas ou grupos, e a oferta política, econômica, institucional ou simbólica, traria a marca de uma dada subjetividade negada e frustrada, a voz do sujeito não reconhecido, rejeitado e prisioneiro da massa desenhada pela exclusão social. Segundo, apresenta-se também como a negação da alteridade, “a expressão desumanizada do ódio, destruição do Outro, tende à barbárie dos purificadores étnicos ou dos erradicadores” (WIEVIORKA, 1997, p. 37). Como já chamado a atenção, com o incremento de idosos na população, começa a ser observada a violência crescente, nas suas várias formas, também com esse grupo populacional. Hoje, o crescimento vertiginoso da população idosa mundial e a violência, em suas múltiplas formas, indicam a importância que deve ser dada a esses dois fenômenos contemporâneos, configurando-se como desafio analítico a relação velhice/violência. Nessa perspectiva, entende-se que a violência contra o idoso tem se tornado um tema relevante hoje aos estudos das ciências humanas, sociais e da saúde, sendo esta uma questão que influencia e desagua no âmbito da saúde, nas relações interpessoais e na qualidade de vida do sujeito que é violentado, e a sua rede social, por conseguinte. A partir de então, recorre-se ao conceito definido pela Organização Mundial de Saúde, a qual indica que os maus-tratos contra os idosos podem ser classificados enquanto violência física, verbal, psicológica ou emocional, sexual, econômica ou financeira, negligência e autonegligência (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2013). Salienta-se, no entanto, que a violência contra os idosos não ocorre só no Brasil: faz parte da violência social em geral e constitui um fenômeno universal. Em muitas sociedades, diversas expressões dessa violência frequentemente são tratadas como uma forma de agir “normal” e “naturalizada” ficando ocultas nos usos, nos costumes e nas relações entre as pessoas. Tanto no Brasil como no mundo, a violência contra os mais velhos se expressa nas formas de relações entre os ricos e os pobres, entre os gêneros, as raças e os grupos de idade nas várias esferas de poder político, institucional e familiar. Acerca dos dados oficiais dessa violência, as tentativas de sistematização, realizadas nos últimos anos, permitem apenas apontar algumas tendências, assim mesmo nos casos de morte, das lesões e dos traumas que exigiram internações, por isso foram registrados. A condição de subnotificação e a ausência de estudos mais aprofundados Pág. 65


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