Companheira Solidão

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Companheira Solidão

a organização do evento. Na avenida, a primeira escola estava em plena ação. O público vibrava, estavam empolgados, com o gás total, afinal a noite só estava começando. Natan discretamente, não querendo demonstrar nenhuma emoção, vai até abertura que possibilita assistir o desfile de forma privilegiada. Fixa o olhar em um dos passistas, observa todos os seus movimentos, mais a frente um integrante brinca com o pandeiro, girando em uma das mãos, parece um verdadeiro malabarista. Mais um bloco passa e Natan observa que além da luz que ilumina a avenida, outra mais intensa brilha nos olhos de cada um que está lá embaixo. É notória a felicidade estampada no rosto deles. Como ficar imune, como não se emocionar ao ver um senhor, perto dos sessentas anos, rodopiando e sambando como criança. A impressão de Natan era que cada passista ou integrante da escola ao passar em frente ao camarote desfilava exclusivamente para ele. Parecia que queriam esnobar a sua felicidade, mostrando que não precisam de nada mais para serem felizes. Que aquele enredo, misturado com a fantasia e tendo o público como moldura desse imenso quadro, era a mistura necessária para exalar alegria e emoção a quem permitisse sentir. Natan lembra a sensação de euforia que o preencheu, no momento que estava no seu quarto, em frente ao espelho, vestido de Deus do fogo. Sérgio, retornando da sala, percebe a transformação no semblante de Natan. Para provocá-lo o questiona: — E aí Natan vai encarar. Disfarça, dando uma de desentendido. — Encarar o quê? — Encarar a avenida. Veja só a alegria desse povo. É ou não é um espetáculo à parte? — Bacana. Responde sem maiores adjetivos. — Bacana Natan? Imagina só, quando a nossa escola apontar na avenida e for anunciada. Você vai tremer inteiro. Só de pensar que todos aqueles projetos saíram do papel e se transformaram em realidade. É de mais Natan. Para mim não interessa a posição que ela vai ficar só de saber que participei desse trabalho já é o bastante. — Você tá louco Sérgio, você é um romântico, eu sou racio60


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