Vamos falar sobre quadrinhos? Retratos teóricos a partir do Sul

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REBLIN; MACHADO; WESCHENFELDER (ORGS).

a guerra, sem medo do ferimento –, as ilustrações de batalha pintadas na arte são mais interessantes. Eu fiz os gregos parecerem com os daqueles pratos, eu não os desenhei como pessoas carregando metade do seu peso com saias de couro, armaduras e tudo mais. Eu queria que tivesse o vigor que a história na verdade tem.22

Frank Miller não busca o verdadeiro, mas o verossímil; ele quer o “vigor que a história na verdade tem”, ou seja, produzir um efeito no leitor no qual emerge um paradoxo: o estabelecimento não de uma verdade no sentido da possibilidade do que de fato teria ocorrido, mas uma verdade ficcional. Já o tratamento visual dado aos persas é convencional – ao menos em se tratando das tropas ordinárias. Eles são retratados com os mesmos elementos colhidos dos vestígios que nos restaram da arte antiga. Note-se o modelo dos escudos e o padrão das vestes nos murais em comparação ao desenho do quadrinho. A verdade-verossimilhança a respeito deles está claro no vestígio: tecidos e armamentos pouco úteis num combate com a temível falange hoplita. Não vamos nos delongar nas táticas de batalha dos persas demonstrada na arte dos quadrinhos; o visual já revela conhecimento das fontes por parte do autor.

Frank Miller, historiador de ethos antigo Para produzir uma obra de ficção baseada em um fato histórico, o ficcionista realizou uma pesquisa. Consultou Heródoto e Plutarco, analisou fontes arqueológicas. Fez uma pesquisa que resultou nos quadrinhos, produto de sua manipulação e análise. Na historiografia, o resultado da pesquisa é também produto de manipulação e análise – o passado é ficção 22

Extras. Quem eram os 300? In: 300. Direção: Zack Snyder. Los Angeles: Warner Bros Pictures, 2007. (2 DVDs). 0:20.

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