Feita de Fumaça e Osso

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se vestir e ir embora deu lugar a uma relutância tão forte que doía. Havia temor também do que seu desaparecimento poderia ter provocado lá em Loramendi. Uma imagem de Thiago, furioso, se intrometeu em sua felicidade e ela afastou o pensamento, mas não havia como afastar o nascer do sol. Com a voz desolada, ela disse: — Preciso ir. — Eu sei — disse Akiva. E Madrigal levantou a cabeça do ombro dele e viu que a infelicidade dele era igual à dela. Ele não perguntou: O que nós vamos fazer?, e ela também não. Eles falariam sobre essas coisas mais tarde; naquela primeira noite, estavam acanhados com relação ao futuro e, por tudo que tinham se amado e descoberto durante a noite, ainda acanhados um com o outro. Em vez disso, Madrigal levou a mão ao amuleto que usava pendurado no pescoço. — Você sabe o que é isso? — perguntou ela, soltando o cordão. — Um osso? — Bem, sim. É um osso da sorte. Você segura uma das pontas, assim, e cada um de nós faz um pedido e puxa. Quem ficar com a parte maior tem seu desejo realizado. — Mágica? — perguntou Akiva, sentando-se. — De que ave vêm esses ossos, que fazem mágica? — Ah, não é mágica. Os desejos não se realizam de verdade. — Então por que fazer isso? Ela deu de ombros. — Esperança? A esperança pode ser uma força poderosa. Talvez não haja magia real nele, mas quando você sabe o que mais deseja e mantém isso aceso como uma chama dentro de si, pode fazer as coisas acontecerem, quase como mágica. — E o que você mais deseja? — Não se deve dizer. Vamos, faça um pedido comigo. Ela estendeu o osso da sorte.


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