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Depoimentos

Rituais de família

Adriana Matta de Castro

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Adriana Matta de Castro é filha de Célio de Castro, jornalista formada pela PUC-Minas. Atualmente trabalha na Secretaria Geral da Presidência.

Afalta que meu pai faz é imensa. Sinto saudades das coisas prosaicas como os nossos almoços de domingo, regados à vinho tinto e boa comida mineira, apelidado de “rituais do Baco”, espaço pra comer e beber.

Contar casos fazia parte da festa. As tiradas eram sensacionais – como o “eu estou rouco de tanto ouvir”, típica declaração pós-convenção partidária... Algumas vezes os casos eram trágicos, como pacientes que morriam apesar de todos os esforços, detalhes da investigação da comissão parlamentar de inquérito que investigava mortalidade de crianças e adolescentes. Outros eram trágicos e cômicos ao mesmo tempo.

Um dia meu pai num almoço no domingo – na época ele era deputado federal – reclamou de coceira e placas vermelhas no corpo todo. Num exame mais detalhado chegamos a uma conclusão – “carrapatos!” Dezenas de carrapatos estavam escondidos nas pernas, minúsculos e quase invisíveis. Na semana anterior ele tinha ido à região amazônica conhecer de perto a demarcação da terra dos yanomanis e trouxe de volta verdadeira comunidade de carrapatos. Só houve uma saída – raspar todos os pelos da perna e ir capturando os bichos um a um com a pinça. Este episódio virou um caso antológico junto com tantos outros.

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Em uma semana pesada de votações na constituinte, por exemplo, com muitas derrotas e algumas conquistas, o relato era triste mas nunca sem esperanças. Me lembro das descrições que ele fazia dos bastidores, das coisas inusitadas – como o caso que da bancada gaúcha situada na ultima fila do plenário da Câmara, de bombacha e tomando chimarrão, dos amigos que ele fazia, sem importar se eram do “centrão” ou totalmente malucos, da fila de “clientes” que se formava em frente ao gabinete dele na Câmara dos Deputados que virou um consultório, com atendimento gratuito.

Não me espanta nada que funcionários da Prefeitura façam novena e peçam consolo e cura à sua alma como se ele fosse uma espécie de santo. Dr Célio ia achar graça nesta estória, típico caso de um almoço de domingo dos velhos tempos.

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Ícone da Política Mineira

Aécio Neves

Aécio Neves é Senador da República por Minas Gerais eleito em 2011, ex-Governador de Minas Gerais entre os anos de 2003/2006 e 2007/2010; ex-Deputado Federal por Minas Gerais por quatro mandatos.

Célio de Castro é um dos orgulhos de seus contemporâneos, como eu, e referência para as novíssimas gerações de brasileiros pelo exemplo de vida que nos legou.

Homem de fortes princípios humanistas, viveu intensamente duas de suas paixões: a medicina, como profissional de grande reputação, e a política, na qualidade de deputado e de prefeito da capital de Minas Gerais, onde deixou uma obra marcante. Havia muito mais, entretanto, naquela figura de voz serena, cortesia no trato e intransigência na defesa dos excluídos.

Exemplo disso é o fato de estar associado a um dos principais avanços trazidos pela Assembléia Nacional Constituinte, em 1988, em cujas atividades fomos colegas, eleitos por Minas Gerais. Estou me referindo à criação do Sistema Único da Saúde, o SUS, que teve suas bases fincadas na nova Carta.

Mesmo ainda longe de ter resolvido as mazelas da saúde pública, o SUS representa uma mudança crucial na maneira de se encarar a questão da saúde no Brasil. “A saúde é direito de todos e dever do Estado”, escreveu-se na Constituição. Uma formidável síntese do que vinham propondo médicos sanitaristas desde pelo menos os anos 70, sob a ditadura militar. Entre os líderes do movimento, que propunha descentralização dos serviços e ênfase na prevenção, já naquela época, destacava-se Célio de Castro.

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Ícone incontestável da política mineira, ele sobressaiu-se como militante pela redemocratização do país, na defesa dos direitos humanos, como líder do municipalismo e sindicalista atuante. Na administração pública, sempre procurou o melhor para a população, sem se deixar levar pelo sectarismo das divisões ideológicas. Sua conduta pessoal e seu respeito pelo próximo ganham cada vez mais significado como modelo a ser adotado pelos que militam na política e pelos que almejam atuar na vida pública.

A coragem demonstrada pelo Dr. Célio nas posições que tomou ao longo da vida o credenciam para integrar a primeira linha dos mineiros com uma biografia inatacável.

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Médico que cuida

Agostinho Patrus Filho

Agostinho Patrus Filho é Deputado Estadual e Secretário de Turismo de Minas Gerais - 2012.

Célio de Castro foi um homem multifacetado. Médico, professor e político. E, sobretudo, incrivelmente bom nas diversas áreas às quais se dedicou, pois foi movido por profundo humanismo em toda a sua trajetória. Como médico, teve exemplar atuação em Clínica Médica e Medicina de Urgência. Era reconhecido pela sua competência e pela forma atenciosa com que tratava seus pacientes.

Nunca se esqueceu do Juramento de Hipócrates, reconhecido como o pai da medicina, feito no ato da sua formatura. Médico é aquele que cuida. E o Dr. Célio de Castro, no exercício da medicina, foi abnegado, dedicado à profissão, zeloso para com os pacientes.

Teve o cuidado como a força motriz em toda a sua vida. Foi cuidadoso também com seus pares e alunos. Contribuiu com colegas de profissão com muitos ensinamentos dada a sua trajetória e experiência. Para jovens que cursavam medicina e profissionais da área, deixou importante legado com a intensa vivência no serviço de emergência do Hospital de Pronto Socorro.

Esse cuidado também guiou sua vida política como deputado federal, vice-prefeito de Belo Horizonte e prefeito da capital mineira. Com anos dedicados à medicina e os conhecimentos adquiridos, pautou essa sua outra carreira exitosa pela renúncia e compaixão pelo outro, sobretudo, aquele mais vulnerável, com atuação destacada nos campos da saúde e social.

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Como vice-prefeito, era o responsável também pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, área para a qual tinha enorme vocação. Como prefeito de Belo Horizonte, foi responsável por inegáveis avanços sociais e também por inúmeros benefícios na área de infraestrutura na capital.

Foi um homem público por excelência. Buscava sempre abrir espaços para a participação popular e trabalhava em prol da inclusão social dos segmentos menos favorecidos da sociedade.

Cortês e elegante no trato com seus pares, era equilibrado nos debates dos quais participava, ainda que defendesse de modo intransigente um posicionamento, sempre amparado pelos mais sublimes valores éticos.

Mesmo com as conseqüências do Acidente Vascular Cerebral ocorrido em 2001, fazendo com que se licenciasse da prefeitura, mantinha zelo com a causa pública e amor à política. Constantemente, aconselhava outros políticos sobre que decisão tomar ou que rumo seguir na trajetória pública.

Foi além de tudo isso um amigo, uma pessoa próxima à minha família. Da convivência com meu pai, Agostinho Patrus, colega de profissão e também na política, passei a conhecê-lo e a admirá-lo assim como todos.

Por tudo isso, Célio de Castro não foi só um filho ilustre de Carmópolis de Minas, aprazível cidade onde nasceu, mas também uma personalidade de destaque em Minas Gerais e no Brasil.

O dramaturgo, tradutor e poeta inglês George Chapman já dizia que “só são verdadeiramente grandes aqueles que são verdadeiramente bons”. E Célio de Castro, o conhecido “Doutor BH”, era genuinamente bom.

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Todos temos a obrigação de lutar

Ana Paula Matta de Castro Pinheiro

Ana Paula Matta de Castro Pinheiro é a filha caçula de Célio de Castro, formada em relações públicas.

Nasci em plena ditadura, meu pai havia sido preso e estava sendo julgado por crimes contra a nação. Era muito pequena e não entendia muito o que acontecia. Ouvia minha mãe e meus irmãos mais velhos falarem de grampo no telefone, de delatores e via como todos ficavam com medo quando algumas pessoas se reuniam na sala da minha casa para discutir assuntos que achava estranhos.

Era uma época muito angustiante, quando saia da escola alguns pais de colegas me chamavam de “filha de comunista” com a intenção de me constranger, e isso me fazia ficar confusa. Como poderiam me xingar de “filha de comunista”, se eu aprendi que socialismo e comunismo eram coisas boas?

E sempre perguntava ao meu pai o porquê disto, ele com toda sua doçura me explicava que algumas pessoas não aceitavam que os direitos dos cidadãos fossem respeitados, e que o nosso país fosse livre. E que todos nós tínhamos que lutar pra isso acabar. Eu ouvia e não entendia muito.

Hoje, eu entendo e ensino pra minha filha o que meu pai me ensinou - que todos nós temos obrigação de lutar por um país livre e mais justo!

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Compaixão pelos que sofrem

Ananias José de Freitas

Ananias José de Freitas (Zeca) foi Assessor de Comunicação da Prefeitura de Belo Horizonte de 2001 a 2004.

“Conheci Célio de Castro no início dos anos 80. Ele, veterano lutador contra a ditadura, médico renomado, sindicalista e eu, jovem estudante na UFMG onde militava no Movimento Estudantil. Desde então, a vida foi nos conduzindo por caminhos paralelos, com contatos esporádicos em ocasiões especiais, como suas campanhas para deputado federal e para a Prefeitura de Belo Horizonte, já na segunda metade dos anos 90.

Reeleito em 2000, Célio me convidou para ser seu Assessor de Comunicação, pois já havíamos trocado muitas idéias sobre esta área e sua importância no processo político. Assim, trabalhei diretamente com ele durante seu curto segundo mandato na PBH, pois já doente, passou por várias licenças e internações a partir da segunda metade de 2001, até seu afastamento, por motivo de doença, em outubro de 2002.

De Célio guardo boas lembranças, boas histórias e uma admiração que foi construída por suas muitas virtudes, sendo a principal delas, a meu ver, sua enorme compaixão pelos que sofrem. Esta virtude, a maior e mais importante, moldou toda sua trajetória de médico, de homem, de intelectual e de político.

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Pensador interdisciplinar, homem de fala mansa e ponderada, leitor incansável da boa literatura, Célio soube, como poucos, agir na vida pública com tenacidade e coerência, antecipando estratégias e pensando futuros. Soube, como poucos, agir sob o signo maior do projeto político democrático (sem ceder à demagogia), acima e prioritário sobre interesses menores, grupais ou individuais. Soube, como poucos, conciliar prudência e tolerância com firmeza e capacidade de decisão.

Solidário com todos, importava-se com a vida dos que o cercavam, médico humanista que via longe e sabia muito das dores do corpo e da alma; sempre tendo uma palavra de apoio ou um conselho sensato. Dele ficaram muitas histórias, mas registro apenas duas que sintetizam bem a imagem que me ficou na memória.

A primeira, durante um dos vários cercos realizados perueiros (transporte clandestino) ao prédio da prefeitura no final do primeiro semestre de 2001 quando ele, questionado sobre o barulho que os manifestantes faziam lá fora, respondeu com aquela calma peculiar: “é melhor o barulho da democracia que o silêncio da ditadura”.

A segunda, contada a mim recentemente por um médico que trabalhou com ele no Pronto Socorro João XXIII na década de 70. Uma senhora que acompanhava o filho que estava sendo atendido, estava sentada no chão, chorando e, os médicos, enfermeiros e técnicos passavam por ela sem parar, premidos pela pressa e endurecidos pela exposição constante ao sofrimento alheio.Para a surpresa de todos, o Dr. Célio Castro, médico importante, chefe no Hospital, sentou-se ao lado dela, no chão, ouvindo pacientemente suas queixas e oferecendo palavras de consolo. Este médico me disse que esta foi uma grande lição que Célio lhe deu ali nos corredores do HPS.

Lições que ficaram e que fazem de Célio de Castro uma referência para todos que querem e tentam contribuir na construção de uma sociedade mais justa.”

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Uma ponte para a esperança

Angelo Oswaldo de Araújo Santos

Angelo Oswaldo de Araújo Santos é jornalista, escritor e prefeito de Ouro Preto (1993-96, 2005-12). Foi presidente do IPHAN e secretário de Estado da Cultura de Minas Gerais.

Na rodovia que leva ao aeroporto internacional de Lagoa Santa, a evocar a Vila dos Confins do romance de Mário Palmério – longe, longe, longe –, vejo o Viaduto Célio de Castro. Fica na região de Angicos, perto do sítio em que se travou embate crucial na revolução dos luzias liberais de 1842, e talvez poucos tenham hoje tal lembrança, derrubada a fazenda que, ainda na infância, vi sobrevivente naquelas paragens, ouvindo velhas histórias a seu respeito.

Estamos quase em Vespasiano – nome de imperador romano ou de engenheiro da antiga Central do Brasil? – e é nessa fronteira norte de BH que se desfralda a legenda do menino do antigo Japão de Minas, hoje Carmópolis, alçado à Prefeitura de Belo Horizonte com a admiração e a esperança da cidade inteira.

Pergunto-me por que essa homenagem tão distante do epicentro das ações que marcaram a vida e a obra de um homem extraordinário, chamado Doutor BH. Célio de Castro não é um viaduto no meio do caminho, mas uma ponte onipresente, por ter sido pontífice, construtor de pontes que nos conduzem a lugares seguros.

É preciso lembrar Célio de Castro no coração dos belo-horizontinos; ele o merece. É bom trazê-lo de volta ao centro dos acontecimentos que permanecem vivos na memória cidadã dos mineiros.

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Observador atento das realidades de Mariana, tão logo me matriculei na vida de Ouro Preto, impressionava-me então, naqueles anos já distanciados, o inusitado compromisso social dos profissionais médicos atuantes na primeira cidade de Minas. O prefeito de Ouro Preto, Alberto Caram, singular figura humana, sabia conjugar as tarefas de alcaide (mandato 1977-83) com a prática diuturna do ofício de médico em favor do concidadão necessitado. Explicou-me ele que o corte social que incidia sobre a medicina então oferecida aos marianenses procedia da contundente orientação ditada por Célio de Castro na UFMG. Tinha o Dr. Célio o dom de enredar os jovens profissionais sob sua responsabilidade nas diretrizes de saúde pública que o SUS viria depois consagrar como modelo.

Sem ainda conhecê-lo, admirei o médico que alterava usos e costumes enraizados no clientelismo político para incentivar nos colegas principiantes o lúcido engajamento no desafio social da missão a que se entregavam. Dr. Caram, tampouco populista, dizia que Célio de Castro tinha a consciência social da medicina.

Depois, tornamo-nos amigos. Prefeito de Ouro Preto pela primeira vez, entre 1993 e 96, tive o prazer da surpresa de frequentes visitas do vice-prefeito de Belo Horizonte, que vinha à velha capital mineira para romper a rotina, espairecer e trocar ideias. Chegava de repente ao meu gabinete, conversávamos por um momento e depois ele voltava à capital. Contávamos casos, e eu, particularmente, ia buscar fragmentos de histórias ouvidas de meu avô, José Oswaldo de Araújo, prefeito de Belo Horizonte na década de 1930, para escutar o riso descontraído do Doutor BH. Em diferentes ocasiões, repetia-me: se você explicitar com franqueza sua posição, não tenha medo de coisa alguma. Explicitar era verbo para ele fundamental.

Participei do movimento por sua eleição, em 1996 e 2000, e ao seu lado compartilhei o entusiasmo pelas campanhas do governador Itamar Franco, em 1998, e do presidente Lula, em 2002. Era lúcido, direto, objetivo e afável, ameno e amigo. Teve sensibilidade exemplar ao compreender os desafios de Belo Horizonte e oferecer-lhes propostas inovadoras. Atingido pelo raio que os deuses gregos deixaram solto nos céus, foi apartado da missão de servir à sociedade no momento em que se encaminhava para tarefas ainda maiores. Hélas, diria o poeta Murilo Mendes, pensando no sentido trágico da existência. Obrigado, digo aqui, conformado com a finitude, mas partícipe da alegria infinita pelo bem que Célio de Castro semeou na nossa caminhada rumo a um novo Brasil. É ele ponte que continuará sempre a nos garantir a travessia.

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O médico e o político

Antônio de Faria Lopes

Antônio de Faria Lopes, amigo do Dr. Célio de Castro, ex-Deputado Estadual. Foi um dos coordenadores da primeira campanha do Dr. Célio.

Muito difícil distinguir o médico do político. Célio de Castro era os dois ao mesmo tempo. Dizia que os verbos cuidar e curar tinham a mesma raiz. Portanto o político cuidava e o médico curava. E ele permanecia íntegro, isto é, inteiro, sem se dividir. Fomos companheiros na luta contra a ditadura militar. Militamos juntos no MDB e depois no PMDB, cada um guardando fidelidade às suas origens ideológicas, unidos pela conquista da liberdade que era o primeiro objetivo. Ocupei a secretaria adjunta de governo, na administração Patrus Ananias que teve o Dr. Célio como seu vice-prefeito e secretário do desenvolvimento social.

Dedicado e leal, abandonara o mandato de deputado federal para se dedicar a Belo Horizonte. Ainda não tinha sido instituída a reeleição e, aproximando-se o final do mandato, ele parecia o candidato natural a prefeito nas eleições de 1.996. O PSDB, do governador Eduardo Azeredo, escolheu Amilcar Martins como candidato. O PT, desprezando a coligação com o PSB (o partido de Célio), lançou Virgílio Guimarães. Dois candidatos fortes, um apoiado pelo governador e outro pelo prefeito. Dr. Célio ficou sozinho. A senadora Junia Marise, o ex-ministro Paulino Cícero e outros candidatos de partidos menores completaram o conjunto de postulantes ao lugar de prefeito de BH. Dr. Célio buscou uma coligação com o PMDB que garantiu um acréscimo no tempo do programa de televisão, um candidato a vice- prefeito respeitado nos meios empresariais além de alguns apoios importantes.

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As primeiras pesquisas de opinião foram decepcionantes. O candidato do PSB ocupava uma das últimas posições. Alguns dias depois já se podia sentir alguma mudança. O jingle da campanha começou por unir o médico e o político e caiu no gosto do povo. Célio passou a ser o “Doutor BH”, aquele que “sabe de tudo e conhece a cidade”. Os cientistas políticos, os publicitários e, sobretudo os adversários não compreendiam o lento, mas seguro, crescimento do Dr. BH nas pesquisas. A simplicidade e objetividade do programa eleitoral gratuito conquistava adesões e fazia o candidato ainda mais conhecido. As caminhadas pelo centro e pelos bairros o aproximavam da população. Daí a pouco já se comentava que ele era o melhor candidato, mas que não ia vencer as eleiçõesTalvez a peça publicitária que, em poucos dias, levou o Dr. Célio à liderança tenha sido um out-door com a foto dele e uma frase: “é o melhor e vai ganhar”.

O segundo turno, contra o candidato do governo estadual foi uma “barbada”. Todos os candidatos derrotados juntaram-se ao vencedor do primeiro turno. A eleição estava decidida. Um dia alguém vai fazer um relatório completo dessa campanha eleitoral exemplar.Com a modificação da Constituição permitindo uma reeleição, ao final do mandato, Dr Célio foi reeleito já numa aliança com o PT que já tinha maioria na sua administração. Não terminou o mandato por problemas de saúde. Findou-se aí o lado político e ficou só o médico. Tinha consciência das suas limitações e sabia o próprio futuro.

Sobre este lado da sua existência quero relatar um episódio que é esclarecedor da sua sabedoria e da sua dedicação. Uma noite, voltando de uma reunião, eu estava preocupado com a saúde de minha mãe. Dava carona ao Dr. Célio que era meu vizinho. Notando o meu semblante e a minha tristeza ele quis saber o que estava acontecendo.

Contei-lhe que minha mãe, com perto de 90 anos, tinha tido uma queda e estava passando mal. Ele se ofereceu, apesar de já passar das 23 horas, para examiná-la. Levei-o à casa de meu irmão. Ele foi cuidadoso, inteirou-se dos detalhes, disse palavras de tranqüilidade. Ela passava bem e o com o tempo iria melhorar. Quando deixei-o em sua casa ele me disse:

- Nem você, nem ninguém pode acrescentar um segundo ao tempo de vida de sua mãe. Qualidade de vida você pode, sempre. Foi o que tentei fazer até seu último dia.

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Tranquilidade e segurança

Armando Costa

Armando Costa é Médico, ex-presidente do PMDB mineiro, ex-Deputado Estadual.

Um dia, meses antes das eleições municipais de 1986, Paulo Lott me procura no PMDB. Alguns partidos da base de sustentação do Patrus Ananias, não queriam votar no Virgilio Guimarães e, lançaram Célio de Castro e me procuraram em nome do Célio, do PSB E PPS.

Os recebi dias após e acertamos o apoio ao Célio de Castro. Para nós, tinham várias importâncias: era o melhor, nos introduzia em Belo Horizonte e diminuía nossa rejeição numa cidade como Belo Horizonte. Apoiamos e ajudamos Célio de Castro, viabilizamos os recursos para a campanha, do PMDB saía as carreatas, caminhadas e encontros. Demos o tempo de televisão que ele usou magistralmente. O doutor BH pegou, Célio de Castro era o queridinho das crianças e também dos pais; Célio dominava os debates na televisão e as entidades de classe, com tranqüilidade e segurança sem nunca exaltar. Era preparado, tinha bom senso, tranqüilo, ótimo médico e, sobretudo, referência entre os universitários e médicos, foi um excelente prefeito.

Minhas audiências com ele, sempre após o expediente, lá pelas 20 horas, sua secretaria Rita Margareth me avisava e eu descia para a prefeitura, nós conversávamos no salão nobre, em uma daquelas mesas brancas de butiquim com cadeiras brancas.

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Um dia estava acabando a conversa quando a Rita Margareth anuncia a presença da deputada Maria Elvira. Eu peço para mandá-la entrar, pois estava de saída. Ela entrou e falou comigo: - Fica aí, não tenho nada particular para falar com o Célio. Em um momento da conversa ela pergunta ao Célio: - O que você faz para ter essa cara de guru indiano? Ele respondeu: - Doze anos de terapia, Maria Elvira. Então, ela fala que tem 19 anos de terapia e não melhorou nada. Eu entro na conversa e falo: - Eu também quero fazer. Célio pega um daqueles papeizinhos de rascunho e escreve três nomes de médicos com telefone e me entrega. Mês após, localizo o papel na gaveta do meu gabinete em Brasília e ligo para o primeiro da lista, era o doutor Francisco Paes Barreto, me identifico e falo para ele que foi recomendado por Célio de Castro. Na primeira consulta ele me pergunta: - O que o traz aqui? Eu disse: - As pessoas fazem as coisas erradas, principalmente os políticos e eu que sofro. Então, ele responde: - Se eles é que fazem as coisas erradas eles é que devem sofrer, e não você. Fiz 10 anos de terapia, com o tempo aprendi não ficar agitado, não guardar mágoas, aceitar a derrota, mas me indignar com algumas injustiças. Estou sereno, o doutor Francisco Paes Barreto tornou-se um amigo, me deu alta e fiz um acordo com ele de ir lá toda primeira quarta-feira do mês. Às vezes, brinco com ele que estou melhorando, acentuando as brincadeiras, estou bem, faço caminhada todo dia, leio meus jornais, escuto músicas, viajo muito e são os meus hobbies favoritos. Faço Pilates todo dia, aliás mantenho o dia ocupado. Se a Maria Elvira não entrasse naquela audiência, eu talvez não tivesse a psicoterapia e melhorado tanto, devo isto a ela. Não cheguei ainda ao nível de tranqüilidade do Doutor BH; mas estou muito satisfeito com a minha.

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Célio, o bom amigo

Carlos Mosconi

Carlos Eduardo Venturelli Mosconi é médico formado pela UnB, especialista em Urologia. Deputado Federal por quatro mandatos. Foi presidente do PSDB/MG de 1988 a 1991 e de 1998 a 2000. Atualmente é Deputado do PSBD.

Célio de Castro é um desses seres humanos que não se esquece. Bom caráter, fala mansa e agradável, amigo, desprovido de vaidade e sentimentos menores, acabava se destacando pela sobriedade e sabedoria. Tivemos uma boa convivência em Brasília e chegamos até a dividir um apartamento funcional.

Médico humanitário, culto, amante dos livros, exerceu a atividade política sem deixar a medicina, onde atuava como clínico geral de grande conceito. Além de gostar da profissão, havia a necessidade material para o exercício, complementando, na época, o insuficiente salário político.

Algumas pessoas tem o condão de levar a vida com tanta serenidade e equilíbrio, que se considera que são pessoas que encontraram “sua verdade”. O Célio era uma dessas.

Nada o abalava. Enfrentava qualquer dificuldade. Falava pouco, ouvia muito. Seus comentários eram sempre positivos e jamais se referia a alguém de maneira depreciativa.

Nas questões políticas era sempre cauteloso, mas assumia posições com coragem e coerência, respaldado em sua cultura e nos conceitos de ideologia e ética que professava com absoluta firmeza.

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A convivência com ele era extremamente agradável e ficou marcante em momento intenso de nossa atividade politica com a Constituinte em andamento, as sessões se estendendo e os temas exigindo discussões sem fim nas Comissões e no Plenário, madrugadas a dentro.

As conversas tinham extensão em sua casa, em Belo Horizonte, com a hospitalidade de sua esposa Maria, muito querida e muito saudosa, e de seus filhos Adriana, Rodrigo, Marcelo e Ana Paula.

A doença foi impiedosa com ele: tirou-o da Prefeitura de Belo Horizonte, onde exercia o segundo mandato com enorme aceitação popular, e jogou-o na cama, sem andar e sem falar.

Nessa fase, depois do choque inicial, tivemos inúmeros contatos. Mantínhamos um diálogo monocórdico. Eu falava com a boca e ele respondia com os olhos. Assim, nos entendíamos. Fazíamos, nestas ocasiões, algumas projeções e até alguns planos para o futuro e se ele viesse, haveria espaço para uma taça de vinho com os amigos, como nos velhos tempos.

O vinho, que pena, ficou para depois.

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A terceira margem do rio

Déa Januzzi

Déa Lúcia Januzzi é jornalista amiga do Dr. Célio de Castro, formada em Comunicação Social pela UFMG.

Demorei. Antes, tive que voltar a ler Primeiras histórias, e me fixar no conto A terceira margem do rio. Tive que debulhar O grande sertão Veredas e vigiar os traços, riscos e apontamentos do escritor Roberto Drummond, no conto Soroco, sua mãe e sua filha, para só depois encontrar o doutor Célio de Castro, um devorador da obra de Guimarães Rosa. Nunca me esqueci da última vez em que vi o doutor Célio de Castro, em sua casa no Bairro São Pedro. A mente ávida, alerta, conhecedora da visitante e de sua história pessoal e clínica, mas a fala difícil, aprisionada depois de um acidente vascular cerebral (AVC). Mas a alguns passos da poltrona onde ele estava sentado, bem no centro da mesa, a coleção de livros do Guimarães Rosa, a dizer de uma paixão imortal, a traduzir todas as palavras do mundo.

Jamais vou me esquecer do momento em que ele descobriu as pernas imóveis para revelar a sua dor. Nunca vou me esquecer do meu médico, sem remédio para a própria cura. O médico que tantas vezes fez uma verdadeira profilaxia em minha vida, ensinando sobre ética e dignidade; que todas as vezes sabia o que a paciente tinha com um simples olhar; que receitava mais do que medicamentos. Ele sempre tinha um livro para indicar, um sorvete para curar a ressaca, um poema para espantar a tristeza da paciente.

Nunca vou me esquecer do médico que virou político sem deixar de exercer a medicina com uma precisão cirúrgica. Nunca vou me esquecer da doce Maria, a mulher dele, e de toda uma plateia diante da televisão no dia da votação do impeachment do ex-presidente Collor de Melo.

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Maria estava preocupada com a gravata torta do doutor Célio quando ele se aproximou solenemente do microfone para votar. Mas todos sabiam que doutor Célio era mais do que uma gravata arrumada num terno. Ele era a própria emoção que as pessoas ainda tinham pela política e que se infectou, se contaminou com bactérias incuráveis, depois da sua partida.

No mês de julho de 2012, em que completaria 80 anos, gostaria de soprar aos ouvidos dos anjos que o melhor presente fui eu que recebi: ter encontrado e convivido com doutor Célio de Castro nesta vida.

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Célio de Castro: uma existência exemplar

Edson Razuk

Edson Razuk, formado em medicina pela UFMG em 1960, foi diretor da Sociedade Mineira de Cardiologia, atualmente dedica-se às artes plásticas.

Aimagem que guardo de Célio de Castro é a de um homem bom. Bom como amigo, médico, cidadão e político. Tal impressão teve o seu início na Faculdade de Medicina, onde estudamos contemporaneamente, e se concretizou ao longo de extenso período de convivência como íntimos amigos e colegas de profissão. Baseado nessa experiência, tenho condições de fornecer depoimento que julgo importante. Em termos de atividade política, da qual sempre me mantive divorciado, não poderia dizer muito, ainda mais sabendo que não existe unanimidade nesse setor, as divergências são naturais e intrínsecas. Contudo, tenho plena convicção de que ele exerceu com dignidade, proficiência e grandeza os mandatos que o povo mineiro lhe confiou, ou seja, deputado federal por duas legislaturas e prefeito de Belo Horizonte, eleito em duas votações.

Célio era homem simples, ameno, de trato cordial , incapaz de uma pose ou de qualquer ímpeto demagógico. Dessa maneira os belo-horizontinos o acolheram carinhosamente. Passou a ser conhecido como o “Doutor BH”. Homem reflexivo, mas dinâmico e ativo, não abria mão de suas convicções sociais, sempre com serenidade e voltadas para o bem-estar igualitário da comunidade, tudo dentro de um padrão dialético indesviavelmente democrático. Na prática profissional era impressionante observar a evolução do seu raciocínio diagnóstico, além da conduta humana e solidária com que envolvia todos os pacientes, quaisquer fossem os seus patamares sociais. Neste sentido, acabou por se tornar um cânone da atividade médica de sua época em Belo Horizonte.

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Fui seu amigo ao longo de todos os anos desde que se tornou médico, e tive mesmo o privilégio de tê-lo como cliente certa época em que ele contraiu difteria com manifestações cardíacas, doença que não progrediu. Nas condições de paciente Célio era aquele homem que eu já conhecia. Mantinha o mesmo humor, a docilidade de trato, a humildade, a resignação, atributos nada comuns que o acompanharam até o fim de seus dias.

Não ousarei traçar uma análise pormenorizada da personalidade humana, médica e política de Célio de Castro. Direi apenas que a sua amizade engrandeceu a minha trajetória e, com ela, muito aprendi como proceder e como praticar a medicina numa dimensão de grandeza e desprendimento. Afinal, não foi outra coisa o que ele fez, na profissão e na vida comum, durante uma existência exemplar.

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Paciência essencial

Ercio Sena

Ercio Sena é formado em História, Jornalismo e Relações Públicas, Mestre em Comunicação Social e Doutor em Letras. Foi Assessor de Relações Públicas da Prefeitura de Belo Horizonte no primeiro ano do segundo mandato do prefeito Célio de Castro.

Célio de Castro, referência pessoal e política das gerações que militaram contra a ditadura em favor da democracia. Conheci o médico Célio de Castro nos anos 80, antes de eu completar duas décadas de vida. Logo me impressionou a densidadede suas ideias e o modo sereno de expressa-las. Com Célio, aprendi que a paciência era essencial para lidar com os complicados caminhos da política. Meu entusiasmo e celeridade juvenil foram acolhidos por ele e pedagogicamente incentivados para eu enfrentar os desafios daquele tempo.

Eleito deputado constituinte em 1986, o mandato do deputado Célio de Castro foi essencial para articular o movimento e a campanha pelo voto aos 16 anos em Minas Gerais. Na oportunidade tive a honra de coordenar o movimento no estado e participar também da coordenação nacional. O mandato abriu canais importantes no Congresso Nacional. Lá estive algumas vezes em reunião com deputados de Minas e outros estados, sensibilizando-os para defender o voto aos 16 anos na nova constituição. Os anos de mandato de Célio de Castro, como deputado constituinte, foram marcados pela defesa das políticas sociais, dos direitos humanos, da democratização do Brasil e da ampliação das conquistas dos trabalhadores.

Em 2001, no primeiro ano do segundo mandato do prefeito Célio de Castro, fui nomeado Assessor de Relações Públicas na Prefeitura. No curto espaço desse mandato, até o afastamento do prefeito, tive o privilégio de conviver

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diariamente com ele e tomar parte de suas reflexões ao longo daqueles dias. Transigência, compreensão e firmeza, associadas a uma privilegiada visão estratégica da política, alicerçaram suas atitudes e nossos caminhos orientados por sua liderança.

Homem simples, porém incomum, principalmente no meio em que viveu. Célio não tinha medo de incentivar o crescimento de pessoas, não via colaboradores e militantes, ávidos por profundas transformações sociais, como concorrentes. Seguro de suas convicções e competências não temia que pessoas crescessem ao seu lado. Incentivou e trabalhou para ver brotar gente em condições de lutar pela democracia e agir contra desigualdades e injustiças sociais. Célio via a vida como um direito sagrado e sua obstinação foi tonar a existência de todos uma experiência plena. Vida longa à memória e ao legado deixado pelo Dr. BH.

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Exemplo na formação de médicos

Evilásio Teubner Ferreira

Evilazio Teubner Ferreira é médico e ex- residente do Dr. Célio.

Sentimos muito a falta do Célio de Castro. No entanto, se a sua ausência nos traz tristeza e saudade, temos muito a comemorar com sua existência. Com sua coragem humilde e lúcida sempre se empenhou no limite de suas energias, para tornar o mundo mais justo e mais fraterno. Seu exemplo ficará marcado para sempre na vida de seus contemporâneos e na vida das futuras gerações.

Na década de 60, cirurgião em início de carreira, tive o privilégio de ser convidado pelo Célio para fazer parte no Hospital de Pronto Socorro, da equipe que coordenava. Posso dizer, sem sombra de dúvida, que o convívio, na equipe, com o Célio foi o fato mais importante na minha formação humana e profissional. Durante mais de 25 anos, compartilhei com o Célio do trabalho em equipe. Posso testemunhar que o seu exemplo foi da maior importância na formação de muitos estudantes e médicos, que com ele convivemos. Aprendemos, na prática, que a medicina tem que ser exercida com competência e afetividade. Cada paciente deve ser tratado como gostaríamos que fossem cuidados nossos pais ou nossos irmãos.

Por outro lado, em vista das dificuldades para o exercício pleno da profissão era necessário haver uma preocupação e uma ação para transformar a sociedade. A participação nos movimentos médicos e num sentido mais amplo, na política, foi uma conseqüência natural.

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Alguns fatos, dos muitos que presenciamos, ilustram o que foi o médico Célio de Castro:

- Em Juiz de Fora, década de 70, em julgamento de Inquérito Policial Militar, em que éramos réus, juntamente com vários companheiros que lutavam pela democracia e contra a ditadura, o promotor apresentou intenso mal estar. Esse promotor, pela maneira facciosa com que se postava, era figura ideologicamente detestada por todos nós. Solicitou os cuidados do Célio que prontamente o atendeu e medicou com cuidadosa atenção e respeito.

- Certa vez, no Pronto Socorro, a polícia levou para atendimento um preso considerado de alta periculosidade. O Célio exigiu, apesar da resistência da escolta, que fossem retiradas as algemas para que pudesse atendê-lo com o respeito que merece todo ser humano.

- O atendimento de urgência expõe os profissionais a risco de contágio e o Célio contraiu difteria, que ainda por cima, produziu uma miocardite diftérica. Apresentou uma insuficiência cardíaca grave. Ficou 6 meses em repouso absoluto, com dispnéia aos mínimos esforços. Quando o cardiologista que o tratava já desanimava de sua recuperação, esta começou a se dar e Célio pôde depois de algum tempo, voltar ao trabalho. Apesar das sequelas, retornou aos plantões com o mesmo empenho anterior. Nunca se queixou. Considerava o que tinha acontecido como um fato inerente á profissão.

Apesar do seu apego à medicina, o Célio compreendeu que, na política, poderia dar maior contribuição e usar o poder para melhor servir as pessoas e à sociedade. Manteve os mesmos ideais que sempre nortearam sua vida. Pena que durou pouco. A gente queria mais. O mundo merecia.

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Saber ouvir

Fernando Pimentel

Fernando Damata Pimentel, amigo e Secretário Municipal na primeira gestão do mandato do Dr. Célio de Castro. Vice-prefeito na segunda gestão. Atualmente é Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Sobre Célio de Castro mestre, companheiro e amigo, com quem tive o privilégio e a honra de compartilhar, mais do que a administração de Belo Horizonte, projetos, sonhos e esperanças, muito já terá sido dito e escrito.

Creio que é mais relevante (e certamente agradaria mais ao Célio) contar aqui uma história da nossa convivência do que tentar ressaltar as inegáveis qualidades de alguém que, quando em vida, com modéstia dispensava gentilmente os elogios.

Em 2000, estávamos em campanha na mesma chapa. Ele prefeito e eu, o vice. Preocupado com os múltiplos eventos da agenda de campanha, minha atitude era sempre de apressá-lo nas atividades, no afã de tentar cumprir roteiros e horários. Mas, Célio parava a cada chamado ou abordagem, quase sempre de desconhecidos, e escutava pacientemente os mais variados assuntos. E eu, ao lado, tentava em vão abreviar as conversas.

Até que um dia, no carro, ele me disse algo que para mim foi uma das maiores lições de vida e política que já aprendi:” Fernando, não se preocupe com os horários e a agenda. Na campanha, o mais importante é ouvir as pessoas. Escutar com atenção o que o eleitor diz é a chave de um bom governo. Porque agora, em campanha, o cidadão se sente livre para dizer o que pensa ao candidato que vem pedir o seu voto. O poder constrange as pessoas. Quando estamos em um cargo, o povo nos vê como autoridades e, por temor ou respeito, se distancia de quem foi eleito para representá-lo. A virtude da democracia é quebrar esta barreira a cada eleição. É preciso aproveitar este momento”.

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Política e Psicanálise

Francisco Paes Barreto

Francisco Paes Barreto é psiquiatra e psicanalista, amigo do Doutor Célio de Castro.

Conheci Célio de Castro no início de 1964. Ele era Chefe de Equipe do Hospital de Pronto Socorro, quando ali ingressei como estagiário acadêmico. O aprendizado na sua equipe era muito disputado e, de fato, vivi uma experiência inestimável. Não me esqueço de uma madrugada em que, todos exaustos, dormiam na sala de plantão o sono dos justos. Abriu-se a porta e um auxiliar de enfermagem convocou:

- Doutores, mais um atendimento.

Todos relutaram em acordar, menos um: o Chefe de Equipe, que prontamente se levantou para o trabalho. Tal era o estilo de um dos maiores líderes que conheci.

Acompanhei com todo o interesse os seus plantões e, posteriormente, em várias ocasiões reconheci: com Célio de Castro, vi despertar minha paixão pela clínica. Durante dois anos, frequentei o Pronto Socorro. Depois disso, meu mestre tornou-se meu amigo. Amizade forte e decidida, que incluiu projetos políticos, cooperações profissionais, laços familiares, momentos de lazer e apoio pessoal.

Estivemos juntos na fundação do Centro de Estudos Médico-Profissionais, em outubro de 1968, momento político particularmente difícil. Participei, em 1980, da chapa Renovação Médica, liderada pelo Célio, e que assumiu o Sindicato dos Médicos. Contribuí para sua eleição como deputado federal constituinte em 1986. Em 1996, contra todas

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as expectativas, trabalhamos para elegê-lo prefeito de Belo Horizonte. Reeleito em 2000, teve que se afastar do cargo em novembro de 2001, por problemas de saúde que culminaram num AVC.

Nossa afinidade em matéria política era espontânea, embora presente em tantas e diferentes ocasiões. Eu nunca pertenci a um partido político. Célio, por sua vez, peregrinou do PC do B para o PMDB, depois para o PSDB, em seguida para o PSB, e finalmente para o PT. Costumava brincar com ele: a diferença entre nós, em matéria política, é que nunca pertenci a um partido, e você pertenceu a todos.

Se por seu intermédio, vi despertar minha paixão pela Clínica, ele, por meu intermédio, viu despertar sua paixão pela Psicanálise. Indiquei-lhe o seu primeiro psicanalista. E com ele discutia, às vezes longamente, sobre o tema. Política e Psicanálise foi um de seus últimos artigos escritos.

Depois que Célio retirou-se da vida pública, fui um dos poucos a continuar a visitá-lo com certa regularidade, tendo, inclusive, participado da equipe médica que cuidou dele. A longa amizade só terminou quando veio a falecer, em julho de 2008.

Hoje, quando olho para trás, reencontro o professor... o amigo... o médico... o político... mas nada disso expressa bem o que ele representou para mim. Dele guardo uma lembrança que tem a marca de uma inesquecível singularidade, ou seja, alguém que ocupou um lugar que é único, e que nunca mais será preenchido. O que se aproxima do que gostaria de dizer é a nossa enigmática palavra-pérola: saudade. Presença que aponta para uma ausência. Parafraseando o cancioneiro, poderia então acrescentar: a saudade que eu gosto de ter.

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A amizade e o tempo

Gabriel Guimarães

Mineiro de Governador Valadares, Gabriel Guimarães é formado em Direito pela Universidade de Brasília. Atua em duas importantes comissões: de Minas e Energia e de Constituição, Justiça e Cidadania. É Deputado Federal pelo PT.

Antes do Dr.Célio, o Célio, depois do Dr. Célio, o outro, o Rodrigo do Célio. Explico: convivi de maneira descontinuada com nosso herói, Dr. Célio. Primeiro, ainda criança, na constituinte, o Célio. Para mim, nada mais do que amigo do Lula, do meu pai, aquela pessoa que bem me tratava, que bem atenção inesperada me dava. Esse era o Célio, que eu na minha infância suspeitava que fosse o deputado Célio de Castro.

O tempo passou, encontrei o Célio à distância quando Dr. Célio candidato a prefeito, e, na proximidade, na prefeitura de BH. Muito mais: o reencontrei. Na continuidade, eu tive amigo, o Rodrigo, o Rodrigo do Célio. Tal distância, tal continuidade.

Na vida foi um só, naquilo que viveu, naquilo que produziu. Dr. Célio produziu esse exemplo, na obra, nos amigos, nos companheiros e na família. O reencontro com o Dr. Célio, com Rodrigo e, sobretudo, com o projeto, que cada vez se afirma mais.

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Tive o reencontro daquilo que nunca perdi de vista, porque hoje sou co-responsável na função pública da representação popular daquilo que o parlamentar Célio de Castro e que o sonhador Célio de Castro representou. Sinto-me, portanto, tão herdeiro dessas tarefas quanto o Rodrigo Célio Castro e tantos milhares de outros, pois o sonho não acabou. Mais do que isso: as vitórias redobram os desafios.

A vida depois da morte é uma vida multiplicada, porque aquela que cada um teve, porque aquela que cada um produziu. Faço parte, portanto, dessa nova vida. Alvíssaras Célio, pelo companheiro Rodrigo! A ele, meu “amplexo”.

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O valor da amizade

Heleno Vander Gomes da Silva

Heleno foi um dos enfermeiros que acompanharam toda a vida pós AVC do Dr. Célio de Castro, atualmente trabalha no Hospital Mater Dei.

Durante o meu convívio com o Dr. Célio de Castro, escutei muitas historias sobre sua vida. Todas elas repletas de amor ao ser humano. Dr. Célio não media esforços para atender as pessoas e continuou assim durante a sua doença apesar das limitações.

Ele sentia dores principalmente nas mãos, até o contato do cobertor o incomodava, ás vezes não saia da cama nem para almoçar, mas a sua fragilidade física não tirou a sua força interior. Principalmente se era para ajudar um amigo. O valor que ele dava a suas amizades era tamanha, que era só receber um telefonema de um amigo querendo visitá-lo que ele se aprontava e os recebia de braços abertos. Não sei de onde tirava tanta força e foi por amor aos amigos que ele retornou a aparecer na mídia.

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O homem e os livros

Heloisa Maria Gurgel Starling

Heloisa Maria Gurgel Starling é professora de História na Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, foi vice-reitora presidente da UFMG.

Conheci o Dr. Célio de Castro numa circunstância muito própria. Eu era Diretora da Editora UFMG, e um dia recebi um telefonema dizendo que o Prefeito de Belo Horizonte gostaria de saber sobre livros que tinham sido lançados. Ele perguntava particularmente sobre livros de História. Achei meio estranho, o Prefeito me perguntando sobre livros. Lembro-me que indiquei o livro de Carla Anastasia que tinha acabado de sair, sobre os bandidos do século XVIII. Logo depois enviei a ele alguns livros. Quinze dias depois ele me retornou querendo conversar sobre eles.

A partir daí fui ao seu gabinete e conheci, pessoalmente, o Dr. Célio de Castro. Ele me contou que sofria de insônia, e o jeito que ele enfrentava a insônia era lendo. Ele lia e discutia. Foi uma coisa muito interessante, porque a partir daí, de tempos em tempos, nos encontrávamos para falar sobre os livros. Nos encontrávamos no final do expediente, em seu gabinete na Prefeitura, e conversávamos por cerca de uma hora, ficávamos falando um pouco sobre livros: o que eu estava lendo, o que ele estava lendo. Foi uma relação muito legal, e a partir dessas conversas, acabei construindo uma proximidade com o Prefeito.

São três coisas que eu notava nessa proximidade que tive com ele na Prefeitura. A primeira, era que havia uma absoluta frugalidade, em seu gabinete, nas atitudes do Prefeito, na maneira como ele se portava, que era muito austera, muito republicana. Não havia excesso, ele tinha um comportamento rigorosamente republicano nesse sentido.

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A outra coisa é que foi a primeira vez que notei que era muito forte para ele a questão do bem público, e fico pensando que isso tem a ver com a profissão dele de médico, com o tempo em que trabalhou no pronto socorro. Ou seja, como é que se revertiam determinadas ações para a população, e ele falava muito de determinadas ações que ele queria reverter tendo como ponto de vista a população.

Sempre nessa perspectiva do bem público, o conhecimento que ele tinha do que era o bem público, e como é que se podia pensar essa questão, era uma discussão que ele fazia muito. Por exemplo, como é que a Editora da UFMG podia transformar o tipo de conhecimento que era produzido lá em algo que fosse acessível, nesse sentido. Eu fico pensando que ele deve ter aprendido isso na área de saúde, no pronto socorro. Essa era uma coisa muito marcante no olhar dele, sempre essa cobrança de como a Universidade poderia transformar o conhecimento em um bem público.

E a terceira característica que vi nele, era uma preocupação muito grande em discutir idéias, de colocar as idéias em circulação, e ele realmente criou vários mecanismos para tornar isso possível. É uma coisa muito parecida com o pensamento do Patrus Ananias, outro homem público que conheço mais de perto e que também tem essa preocupação. Essa noção de trazer gente de fora para provocar a cidade, para falar sobre coisas para a cidade. A idéia não era fazer isso internamente na prefeitura, mas essa coisa de colocar idéias em circulação, colocar o debate, fazer as pessoas pensarem, fazer as pessoas discutirem, fazer as pessoas terem acesso ao que estava sendo pensado.

Essa coisa das idéias se movimentarem, transitarem dentro da cidade, foi uma preocupação muito intensa do Dr. Célio de Castro. Acho que ele tinha esse traço republicano, e essa característica tão diferente, de ser um homem publico que tem insônia e gasta esse tempo de insônia lendo. E eu acho isso muito bonito.

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Liderança a serviço da generosidade

José Celso Garcia

José Celso Garcia ,amigo do Dr. Célio de Castro, é médico cardiologista e ex-prefeito da ciade de São Lourenço.

As duas turmas mais adiantadas de ambas as escolas de medicina de BH em 1966 foram submetidas a uma seleção para estágio no Pronto Socorro. Talvez por um equívoco insondável, fiquei na primeira colocação e tive o privilégio de escolher qual plantão desejaria trabalhar. Escolhi o chefiado pelo Dr. Célio de Castro. Aí começou meu aprendizado e admiração por esta pessoa extraordinária.

Nossa ligação permaneceu firme durante todo o período da ditadura militar e contribuímos para o retorno à democracia.

Tive a honra de convidá-lo para ingressar no PSB, partido pelo qual se elegeu deputado federal e liderou na câmara. Um período que lhe deixou saudades, pela interlocução com políticos de todo o país, segredou-me. Ajudou a construir a Constituição de 88. Na ocasião distribuiu entre os constituintes um texto de minha autoria que defendia maior autonomia para os municípios e o Sistema Único de Saúde.

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Na vice-prefeitura de Belo Horizonte e Secretário de Desenvolvimento Social, me fez seu secretário adjunto e posteriormente seu sucessor no cargo, durante a administração e com a aquiescência do prefeito Patrus Ananias de Souza. Do Célio ouvi confidências. Que me fizeram compreender mais o pensamento deste ser insubstituível.

Colocou sua inteligência e suas capacidades de síntese e de liderança sempre a serviço do outro, da comunidade, de Belo Horizonte e do Brasil. De extrema bondade e generosidade.

Na medicina foi um doutor com todos os predicados e na política um caráter exemplar de dedicação incansável, de ética a toda prova e de opção preferencial pelos mais necessitados.

E dele a frase: “Para os mais necessitados, os mais capacitados”. Foi com esta inspiração que montou a equipe da Secretaria de Desenvolvimento Social e, posteriormente, a Prefeitura de Belo Horizonte, criando programas que foram estendidos nacionalmente pelo governo do Lula.

Choramos juntos quando o visitei quinze dias antes de seu falecimento por ver uma mente privilegiada aprisionada em um corpo que não mais respondia.

Do Célio posso dizer, repetindo o cubano José Martí, que “não fez o que lhe era exigido e esperado, fez muito mais”.

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O papel do médico

Jefferson Torres Moreira Penna Ivan Cunha Melo

Jefferson Torres Moreira Penna e Ivan Cunha Melo são médicos e colegas de trabalho do Dr. Célio de Castro.

Figura humana dotada de qualidades raramente reunidas em uma só pessoa. Focalizar aspecto específico de sua trajetória nessa vida é certamente difícil. A dimensão do Dr. Célio transcende a sua atividade profissional, pois não foi apenas na Medicina, uma de suas grandes paixões, que se destacou.

Clínico por todos reconhecido em grau de excelência, desde cedo revelava o prazer de transmitir a futuros colegas, estagiários do Pronto Socorro, os conceitos fundamentais de um correto atendimento médico, aliando técnica e ética ao humanismo, marcas indissociáveis da sua atuação profissional.

Célio de Castro sentiu, precocemente, a importância do trabalho em Equipe, pois considerava que era nesse espaço que o exercício dinâmico da prática clínica integralizada se afirmava, e a avaliação crítica do trabalho médico era sistematizada, priorizando-se mais o resguardo dos direitos do paciente que o interesse utilitarista de seus membros.

Há 43 anos, Célio organizou a Equipe de Clínica Médica, e, juntamente com os Drs. Amair Gomide (precocemente falecido) e Ivan Cunha Melo, iniciava seus trabalhos no Hospital Santa Mônica, hoje Hospital Belo Horizonte.

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Jovens estagiários e Médicos Residentes tinham participação na Equipe. De 1974 a 1982, atuaram no Hospital Semper e, a partir de julho daquele ano, no Hospital Mater Dei. Mais de uma centena de clínicos gabaritados, espalhados por todas as Minas Gerais e outros estados, tiveram sua formação lapidada pelo Dr. Célio.

Da Equipe, que permanece atuando no Hospital Mater Dei, fazem parte alguns de seus ex-residentes, incluindo seus atuais coordenadores, Ivan Cunha Melo e Jefferson Torres M. Penna, que procuram preservar a mesma linha de trabalho do seu idealizador.

Por infeliz coincidência, a Equipe de Clínica Médica que ele criou, comemora, em julho, 30 anos de atuação no Mater Dei e Célio, que hoje completaria 80 anos, certamente estaria abordando, em palestra, o tema “Papel do Clínico na Medicina Atual” e concentraria, em seu discurso, a importância do clínico perseguir a totalidade do ser humano na saúde e na doença, fazendo com que diagnóstico, tratamento e cura constituam unidade particular centrada na categoria do SER e na percepção abrangente do paciente.

O Dr. Célio de Castro será sempre lembrado e não apenas como médico completo. Suas brilhantes atuações em vários setores servirão de norte para aqueles que o conheceram.

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Exemplo de dignidade

José Salvador Silva

José Salvador Silva, amigo do Dr. Célio e castro, é médico e empresário, fundador do hospital Mater Dei.

Na vida, sempre estive próximo de Célio de Castro, como profissional da Medicina e como Amigo.

Nosso primeiro relacionamento foi em 1953 quando o conheci na Faculdade de Medicina da UFMG. Eu era monitor da cadeira de Histologia e tive como alunos alguns estudantes que no futuro marcariam época na Medicina Mineira, entre eles Célio de Castro, Hermes Pardini e muitos outros.

Os professores Catedráticos eram os professores Geninho e, posteriormente, o Professor Nélio de Moura Rangel.

Mais tarde teríamos uma convivência fraterna e próxima no antigo Hospital Santa Mônica, hoje Hospital Belo Horizonte. Como o Santa Mônica entrou em falência, decidimos construir o Mater Dei, inaugurado em Primeiro de Junho de 1980.

Célio de Castro foi o nosso primeiro chefe e coordenador da Equipe de Clinica Medica, que até hoje, e há 30 anos, permanece prestando excelentes serviços.

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Exata convivência próxima foi importante para nos conhecermos mais ainda e para nos aproximar cada vez mais.

Célio de Castro, em toda sua vida, foi exemplo de dignidade, ética, idealismo e competência profissional. Como médico apaixonado pela Medicina, Célio foi também, um grande professor formador de varias gerações de profissionais.

Como político, Célio de Castro também foi exemplo de honestidade, lealdade, competência, visão ampla, sensibilidade social e grande capacidade para trabalhar e motivar equipes. Como Deputado Federal e como Prefeito Municipal eleito e reeleito, era um autentico líder. Na eleição de 2002 Lula o escolheu para ser seu vice-presidente, mas doença grave impediu que tal escolha se concretizasse.

A escolha do nome de Célio de Castro para o novo Grande Hospital do Barreiro, em elogiável iniciativa do Prefeito Marcio Lacerda, representa justa homenagem a quem deu a vida para atender as necessidades sociais e humanas de toda a população Belo-horizontina.

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Legado de idéias e realizações

Luiz Inácio Lula da Silva

Luiz Inácio Lula da Silva, amigo e companheiro de lutas do Dr. Célio de Castro, foi presidente da república por dois mandatos consecutivos, entre os anos de 2002-2006 e 2007-2010.

Célio de Castro foi um ser humano e um líder político excepcional. Considero um privilégio ter sido seu amigo e companheiro de lutas em defesa da democracia e da igualdade social. Penso que seu legado de ideias e realizações precisa ser melhor conhecido e pode ser muito útil ao presente e ao futuro do país.

Em tudo o que fez, Célio imprimiu a marca da seriedade pessoal e do compromisso com a dignidade coletiva.

Foi médico notável, desses que conferem carisma e grandeza à profissão. Na Faculdade de Medicina, inspirou e qualificou várias gerações de abnegados defensores da saúde pública. Participou com destaque na construção do novo sindicalismo e da Central Única dos Trabalhadores. Na Constituinte, deu contribuição decisiva para a conquista do SUS e de importantes direitos sociais.

E foi, como todos sabemos, um extraordinário prefeito de Belo Horizonte, do qual a cidade jamais se esquecerá.

Sim, Célio foi um grande militante e dirigente político. Mas foi, sobretudo, um ser humano singular, lúcido, arguto, dotado de grande discernimento e profundidade intelectual e, ao mesmo tempo, simples, afetuoso, fraterno. Quando penso em Célio, sinto antes de mais nada saudades do companheiro, do amigo, do irmão.

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Um socialista convicto

Luiz Leal

Luiz Leal é médico, amigo do Dr. Célio de Castro.

ODoutor Célio de Castro ocupou um lugar importante em minha formação profissional. Quando eu cursava o quarto ano da faculdade de Medicina, consegui um lugar de estudante na sua equipe do Hospital de Pronto Socorro. Sempre quis ser clínico geral e o aprendizado das urgências era muito importante. Durante três anos recebi dele belas lições de Medicina e de Humanismo e aprendi a admirá-lo. Foi ele que socorreu meus avós em suas aflições, desde aquela época, e ganhou de minha família eterna gratidão.

Depois da formatura, passei ainda alguns meses a frequentar o Pronto Socorro. Foi quando o Dr. Célio adoeceu e teve de ficar de repouso por alguns meses. Indicou-me para substitui-lo na Cooperativa do DER, onde trabalhava. Fui recebido pelo Sr. Armando Gatti, que então era o Gerente Social, com todo carinho que lhe era peculiar. Como me entrosei bem no trabalho, quando o Dr. Célio, recuperado, reassumiu o cargo, fui contratado para integrar a equipe unida e eficiente que funcionava na sede da Rua da Bahia, esquina com Rua dos Tupinambás.

Por vários anos trabalhamos juntos no ambulatório. Ele, unido aos brilhantes colegas Celso Affonso de Oliveira, Newton Figueiredo, Francisco Prates, Paulo Sizenando de Barros, Hélio Silva, Ataul de Barros, Airton de Castro, Francisco Reis e Athos de Carvalho, criou o Centro de Estudos da Cooperativa, que se reunia mensalmente para ouvir palestras e discutir temas importantes da Medicina. Lembro-me bem das aulas do Dr. Caio Benjamim Dias, ilustre pesquisador da esquistossomose e mestre de Clínica Médica, e das palestras proferidas pelo Dr. José Feldman, professor de Pneumologia e autoridade no tratamento da tuberculose. Os debates eram proveitosos e contribuíam para a ampliação de nossa cultura médica.

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Seu trabalho no ambulatório foi profícuo e sua fama ficou para sempre na boca dos clientes. Hoje ainda, decorridos mais de quarenta anos, ouço um e outro paciente contar que ele curou uma pneumonia, diagnosticou uma apendicite, logo operada pelo inesquecível Dr. Airton de Castro, ou salvou quem estava desidatrado com oportuna internação. Passou, depois, a atender os clientes da Cooperativa no Hospital Semper, fazendo dupla com o Dr. Ivan Cunha Melo, outro ilustre colega. Neste período, imagino que foi de grande valia para os nossos cooperados, pois é no hospital, onde se internam os casos graves, que se faz a verdadeira Medicina.

Admirador incondicional de nosso mestre Célio, sempre estive convencido de que ele me tratava de modo diferenciado. Passado o tempo e amadurecido o espírito vi que estava enganado. Ele era um socialista convicto, voltado para o povo e suas necessidades. Devia me considerar um alienado, preocupado apenas com meus livros e meu próprio umbigo, incapaz de descortinar a política salvadora. Não me deu nenhuma atenção especial. Tratava a todos com tanto carinho e devoção que cada um de nós de sentia único na sua amizade...

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Pai, Médico, Político...

Marcelo Matta de Castro

Marcelo Matta de Castro é filho do Célio, psicólogo trabalha na FHEMIG (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais).

Como era Célio nessas três esferas? Nelas parecia ele imerso numa imisção completa, para em outros momentos separar-se delas. Entretanto, qual seria o fio condutor do Célio pai, médico e político? Creio que era sua atenta capacidade de escuta. A escuta atravessava sua ação como pai, como médico e como político. Isto dito num mundo hoje no qual os médicos pouco escutam os seus pacientes, os políticos escutam cada vez menos a população e os pais dizem não ter tempo para escutar os seus filhos.

Foi como pai que Célio escutou atentamente os seus filhos, foi como político que ele lutou como nunca para que as pessoas comuns tivessem voz na política e a partir daí fossem escutadas e foi como médico que ele dispunha a ficar duas horas com seus pacientes escutando-os. Foi assim que Célio de Castro inscreveu definitivamente seu nome como pai, como médico e como político.

Aliás, o nome Célio de Castro foi lembrado de forma mágica pelo professor Edgard da Mata Machado. Foi num evento no sindicato dos jornalistas, ao final dos anos 80, um ato de desagravo ao atentado covarde sofrido por meu pai por grupos fascistas de direita. Numa palestra na Utramig em Belo Horizonte, o então deputado constituinte Célio de

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Castro teve seu carro completamente destruído e riscado na lataria do carro, podia –se ler a sigla CCC, Comando de Caça aos Comunistas.Como grande artífice da palavra o Professor Edgard disse no seu discurso; “onde lemos CCC, podemos dizer Coragem Célio de Castro”.

Posso dizer ao nosso caro Professor Edgard e a tantos outros que passados estes anos e ainda hoje ecoando forte a perda de meu pai sobre mim, que Célio de Castro, foi , é, e sempre será, Coragem.

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Célio de Castro: uma trajetória exemplar

Marcio Lacerda

Márcio Lacerda é prefeito de Belo Horizonte.

Éum orgulho participar desta homenagem ao ex-prefeito de Belo Horizonte, o nosso estimado Doutor Célio de Castro, por ocasião das comemorações de seus 80 anos.

Célio de Castro foi certamente um homem à frente do seu tempo. Um humanista, que soube como poucos entender os conflitos impostos pela complexidade dos tempos modernos, especialmente no Brasil, marcado historicamente por contrastes sociais inaceitáveis. Por isso, dedicou-se à luta por uma sociedade mais democrática e mais igualitária e fez desse compromisso um ato de coragem e dedicação.

Dr. Célio foi um homem comum, um homem do povo, com uma trajetória incomum.

Médico formado e em pleno exercício da profissão e da docência, foi se realizar integralmente na vida pública e política, onde traçou uma biografia íntegra, austera e compromissada com o bem-estar social e com as lutas pelos Direitos dos que mais precisam e quase nunca tinham voz e vez.

Exímio mediador, administrou momentos delicados na gestão do município, como o fim do transporte clandestino, e ainda avançou para além das montanhas de Minas e participou da construção de uma chapa inédita e vitoriosa: Lula, sindicalista – presidente; e José Alencar, empresário – vice.

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Deu vida ao que parecia improvável, lançando-se sempre na busca do alargamento do possível, imaginando um novo futuro.

Na nossa cidade, em um momento de escassez de recursos e de dificuldades econômicas e sociais, gestou, implantou e consolidou programas importantes nas áreas de assistência e saúde.

Dr. Célio foi filiado ao meu partido – o PSB, de 1990 a 2001. Seus ideais de justiça e liberdade inspiram minha atuação como homem público e são um legado para todos nós que participamos da vida política de forma republicana e democrática.

A sua trajetória na administração municipal coincide com a sua história pessoal, marcada pela simplicidade, honradez e seriedade na condução da máquina pública. Numa época em que gestos e exemplos valem mais que mil palavras, Doutor Célio é modelo de biografia ilibada e compromisso com a vida pública.

Dr. Célio de Castro era destas pessoas raras, que orgulham e emocionam a todos que prezam os valores da ética e da democracia.

Na sua trajetória, sempre soube aliar a firmeza na defesa dos ideais com a defesa da tolerância, da diversidade de opiniões e da busca pelo consenso, trabalhando sempre pelo avanço democrático e social de nossa cidade, do estado e do país.

Um exemplo que ficará em nossa história.

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Exemplo de cidadão

Marcos Villela de Santana

Marcos Villela de Santana. Engenheiro, empresário, amigo e vice-prefeito do Dr. Célio durante o primeiro mandato.

“Eu sou eu e minhas circunstâncias”, sentença de Ortega y Gasset aplica-se a quase todos, inclusive àqueles que não a conheceram ou entenderam. Excetuam-se, contudo, dois grupos de pessoas.

O primeiro envolve aqueles que, cientes do seu ego, tiveram a oportunidade e ousaram criar muitas circunstâncias. Mas acabaram dominados pela arrogância e passaram a se julgar os provedores de todas elas, tanto as suas como a de seus congêneres. Neste grupo encontram-se, em grande número, os políticos, para quem as circunstâncias são apenas o produto de sua vontade e de seu poder.

O segundo é o daqueles que não se conscientizaram de sua individualidade, da sua capacidade e do direito de ser o ator principal da própria na vida. Assim, acostumaram-se a viver na dependência das circunstâncias, quaisquer que fossem elas, geradas por quem quer que fosse, especialmente os mais poderosos. Aqui se enquadra expressiva parcela da sociedade humana, reduzida à condição de vítima e nunca de agente das mesmas circunstâncias.

Felizmente existiram e existem aqueles que tiveram a oportunidade, mas principalmente a coragem de transitar no meio do primeiro grupo, sem contudo se deixar contaminar pelas suas características menos desejáveis, ainda que se tornando, freqüentemente. vítima delas. Mas souberam e se dedicaram também a conviver com aqueles do segundo grupo, procurando entendê-los e ajudando-os em seu papel na vida.

Algumas destas exceções foram notáveis. É oportuno ressaltar aqui o exemplo do cidadão, médico e político Célio Castro, ex-prefeito de Belo Horizonte. Foi político de grande destaque, sem se submeter aos métodos condenáveis de muitos de seus pares e até correligionários. Nem por isso deixou de se dedicar à mais humana e nobre das profissões, voltada para todos os que dela mais precisavam. E ainda, conviveu sempre e intensamente com a parcela mais sofrida da cidadania, com ela aprendendo continuamente e esforçando-se por ensiná-la a perceber e utilizar seus próprios valores e compartilhá-los com toda a sociedade.

No seio da família, na rua, no consultório, no Pronto Socorro, assim como nos gabinetes do poder político, foi sempre o “doutor bh” que quase todos de nossa cidade conheceram e jamais deixaram de admirar.

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Busca incessante pela ética

Maria Ines Lodi

Maria Inês Lodi é psicóloga, amiga do Dr. Célio de Castro com quem trabalhou nas questões sociais.

Célio de Castro surpreendia com seus atos. Alguns eram atos inusitados que extrapolavam o costumeiro e revelavam um modo diferente de pensar decantado de uma experiência vigorosa. O primeiro que me colheu de surpresa foi um telefonema, no qual ele me perguntou: “como é possível alguém governar sem a psicanálise”? Essa estranha pergunta funcionou como uma provocação e venceu minha relutância em aceitar o convite para ser sua assessora no governo, como psicanalista. Foram dez anos de condições propícias para fazer avançar a psicanálise. Ele próprio não se furtou ao desafio e reservou, como seu último ato, a escrita de um texto belíssimo, intitulado “Psicanálise e Política”, para a Jornada do Aleph-Escola de Psicanálise. A apresentação não se realizou, porque coincidiu com o dia do acidente vascular que retirou Célio do nosso convívio, mas ele ainda levou o texto para o hospital, na esperança de poder apurá-lo mais, tamanho era o seu desejo e o seu compromisso.

Cada um põe sua marca no mundo e a dele era forte. Não era um tipo comum, nem mesmo foi um prefeito comum. Por trás do jeito manso, havia uma inquietação permanente, uma honestidade consigo mesmo, uma fidelidade aos acontecimentos e uma sofisticação advinda de sua formação na Ciência (a Medicina), na Arte (a literatura) e na Política, esses lugares da verdade. Mantinha uma busca constante pela ética e fez disso um rigor na sua vida, permeado por um modo amoroso para com as pessoas. De si exigia tudo e não se poupava. Atento interlocutor, escutava mais do que falava. Leitor voraz, dormia pouco e lia muito durante as madrugadas, avidamente, de uma só vez, livros ou teses da universidade. Mas também interessava-se pelas conversas com as crianças em situação difícil e pela fala da gente das ruas, tal e qual um Guimarães Rosa, esse outro médico que era seu mentor literário. Um pensador, na trilha da evolução de si e de todo um povo. Buscava um ato que rompesse com o sofrimento das pessoas, um modo de funcionamento mais eficaz na saúde pública e um projeto político emancipatório.

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Deu especial atenção aos temas sociais para fazer deles prioridade. Assim, como vice-prefeito, quis acumular o cargo espinhoso de Secretário de Desenvolvimento Social, para retirar essa secretaria do descaso e dar a ela dignidade de tratamento. Transpunha para a política os seus métodos clínicos. Fazia tratamento da cidade. Buscava os pontos de dor onde era preciso aliviar o sofrimento de crianças em creches ainda desarticuladas, de idosos e deficientes sem assistência, de meninos abandonados nas ruas, esses aos quais a psicanálise pôde dar, talvez, a maior contribuição, em um trabalho inédito no Brasil. Ali, psicanalistas inauguraram a escuta dos educadores sociais e esse dispositivo mostrou ser um recurso de grande valia.

Em outro momento, na Secretaria de Administração, tendo Fernando Alves como secretário, a escuta psicanalítica dos gerentes dos postos de saúde foi uma experiência extremamente bem sucedida e seus resultados interessaram de perto a Célio, sempre conectado às questões da saúde.

Todo esse processo era impactante e transformador, mas ainda houve um segundo ato de Célio a me surpreender e isso aconteceu quando ele me disse: “observei as pichações nos muros. O que será que esses meninos estão querendo dizer”? Eu estava diante de um modo diferente de interpretar a função do governante, numa política do ponto de vista das pessoas. E foi daí que nasceu o Projeto Guernica, onde formamos uma equipe com Marcelo de Castro e José Marcius Carvalho Vale. Célio vinculou o projeto ao seu gabinete de prefeito, porque fazia uma aposta no surgimento de uma linha de ação para a cidade. Assim, pôde acompanhar de perto as idéias e fatos. Aconteceu com o Guernica a abertura de uma janela, algo nem sempre possível de acontecer nas políticas públicas. A aposta na Psicanálise mais uma vez nos valeu. Por causa dessas condições especiais, pudemos formalizar um saber extraído da escuta de pichadores, grafiteiros, líderes sociais, engenheiros, professores, historiadores, policiais, urbanistas, sociólogos, antropólogos e tantos outros ligados ao tema. Juntos, desenvolvemos as possibilidades de uma política para a juventude. Pudemos deixar por escrito essas diretrizes e as bases que levaram a elas. É algo que não existia antes, uma solução local para um problema globalizado. Tão evidente isso, que o Projeto Guernica foi e ainda é objeto de estudo de inúmeras teses e tornou-se fonte de orientação para a elaboração de políticas de outras cidades.

Esses atos do Célio são alguns dentre tantos outros que alavancaram mudanças. A cidade ficou marcada para sempre pelo desejo desse prefeito, que trouxe para o governo executivo as suas concepções teóricas, a sua clínica e seu conhecimento sobre a política no Brasil.

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O governador que Minas não teve

Mauricio Lara

Mauricio Lara. Amigo e assessor de imprensa do Dr. Célio de Castro.

Um dos primeiros contatos que tive com Célio de Castro foi quando jogaram uma bomba na garagem da casa dele, no bairro Barroca, lá pelos anos oitenta. A razão: Célio prezava uma tal de democracia, isso desagradava muita gente e ainda havia resquícios da ditadura. Eu era repórter do Jornal do Brasil e vi os estragos que a bomba fez por baixo de um automóvel Voyage.

Voltei a ter notícia desse mesmo Voyage muitos anos depois, em 2000, durante a campanha de reeleição para a prefeitura de Belo Horizonte. Eu era, então, assessor direto do Dr. Célio. O carro estava na lista do patrimônio que ele registrara no Tribunal Regional Eleitoral e que os repórteres queriam conhecer. O Voyage e a casa da bomba eram as posses. Ele riu. “Isso não é mérito”. Do mesmo tanto que prezava a democracia, desprezava o patrimônio. Político diferente, esse.

Deve ser por isso que ele dizia: “Na política, o desafio é enfiar a mão na massa e sair com ela limpa”. Célio de Castro sabia que não precisava sujar as mãos para interferir na realidade. Sabia também, como ninguém, que era preciso conviver com os contrários, tanto os bem quanto os mal intencionados, tanto os de situação quanto os de oposição. No texto que escrevi para o jornal Estado de Minas por ocasião de sua morte, usei uma passagem de Guimarães Rosa,

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em Grande Sertão: Veredas, para ilustrar essa capacidade: “ser chefe, às vezes, é carregar cobras na sacola, sem concessão de se matar”. Como ele carregou cobras, sem temê-las e sem deixar que isso abalasse a autoridade, que exercia com voz mansa.

Célio carregava também uma pasta de couro. Lá dentro, uns papéis para despachar, um livro de Guimarães Rosa (sempre havia um) e algum outro livro muito novo, que ele encontrava na sua peregrinação por livrarias. Lia vorazmente. Gostava de falar do que lera, do que aprendera. Logo ele, que tinha tanto para ensinar. E deixava atônito o interlocutor que, muitas vezes, sequer tinha ouvido falar do lançamento daquela obra. Isso acontecia comigo nos livros sobre Jornalismo. Eu que era da área, ele que me dava notícia. Do mesmo tanto que desprezava o patrimônio, ele prezava o conhecimento.

Com a mesma leveza e naturalidade com que conduzia reuniões com temas críticos e que tinham tudo para ser tensas, tirava os sapatos por baixo da mesa. Não gostava de se sentir apertado, nem acuado. Esperava com paciência a hora que considerava ideal para tomar as decisões. E tomava, com firmeza. Como quando os vereadores votaram uma lei permissiva sobre a verticalização da Pampulha. Ele reagiu: “Não enquanto eu for prefeito desta cidade”. E vetou, para desespero de auxiliares próximos, que temiam retaliações da Câmara Municipal.

A reação dele podia ser imprevisível, mas nunca era intempestiva. Agia com a razão, sem abrir mão do sentimento. Deve ser por isso que era tão sedutor. Isso não quer dizer que agradava a gregos e troianos, mas duvido que alguém conseguisse nutrir ódio por Célio de Castro. A convivência com ele era sempre um privilégio.

Carrego marcas da minha convivência com o Dr. Beagá. Em um aniversário meu, saiu do gabinete e foi até minha sala para me dar de presente um livro do Antônio Cândido, que comprara em um shopping, como costumava fazer quando saía caminhando pelo centro de Belo Horizonte, na hora do almoço. Mas ele estava mesmo era a caminho do Palácio da Liberdade. Na dedicatória, ele falava do nascimento das grandes amizades. Célio de Castro, que tinha tantos amigos, ficou encantado antes da hora. Logo ele, que foi o governador que Minas não teve.

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Exemplo de homem público

Octavio Elíseo Alves de Brito

Octavio Elíseo Alves de Brito é Engenheiro e Professor. Amigo e cliente do Dr. Célio de Castro, foi Deputado constituinte, juntamente ao Dr. Célio obteve a nota 10 pelo DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).

Era o momento histórico em que a resistência à ditadura militar obrigava a busca permanente de brechas de liberdade para a ação política, na construção do sonho de um outro Brasil. Tinha-se que ter projeto político, com perspectiva de futuro, vislumbrando algo maior que nossos limites, que alimentasse uma nova esperança e, a confiança de que valia a pena lutar. Criavam-se oportunidades de convergência, deixando-se de lado eventuais divergências ideológicas. Foi quando encontrei Célio de Castro, liderança política cassada em 1964 que nos mostrava que a crença no futuro alimentava o caminhar. Comecei a conhecê-lo como médico, Clínico Geral exemplar. Além do estetoscópio, o diálogo, “ouvir para poder falar”, a conversa que orientava o diagnóstico, construindo com paciência, o paciente. Alimentava a confiança, produzia também o amigo. Daí para frente, acompanhou sempre meu estado clínico, orientando o especialista, quando julgava necessário. As consultas eram prazerosas, estendiam-se em conversas que revelavam o experiente analista político, o homem de cultura que falava de literatura, filmes, música, como de política. E tenho convicção de que a saúde saia melhor. Célio era sempre disponível, mesmo nos momentos em que suas ocupações políticas o absorviam. Uma convivência que alimentou uma gratificante amizade.

Fico imaginando o quanto o clínico geral competente moldou o comportamento do político, o discurso como fluxo social, para ter coisas a dizer é preciso que tenha ouvido.

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Na Assembléia Nacional Constituinte, eleitos, ele e eu, pelo PMDB, tivemos contato quase diário, durante vinte meses, na caminhada matinal no Parque da Água Mineral, nas Sub-Comissões, Comissões e no Plenário, nos cafezinhos e nas refeições, quase sempre noturnas. Oportunidades de compartilhar com Célio de um dos mais ricos e gratificantes momentos político, na medida em que a abertura do processo constituinte permitiu uma intensa atividade de participação e pressão social, em Audiências Públicas, Emendas Populares, etc. Como líder sindical e interlocutor permanente das classes populares, Célio de Castro foi referência e liderança no bloco progressista que se formou na Constituinte, e que se opôs, em cada discussão e votação, à postura reacionária para derrubar avanços no texto constitucional.

Recolho, em minha memória, a lembrança de dois episódios que o envolveram. Quando foi vítima de uma bomba que explodiu em sua residência, em Belo Horizonte, no Plenário, reagimos à agressão, que não era apenas ao Constituinte Célio de Castro, mas “à própria soberania da Assembléia Nacional Constituinte”. E que o Ministério da Justiça e a Polícia Federal assumissem o caso. Isto foi em meados de abril, dois meses do início dos trabalhos.

Em meados de março, iniciado o processo de votação do texto constitucional no Plenário, foi derrotado o Parlamentarismo e aprovado cinco anos de mandato para o Presidente Sarney, quando o texto votado definia quatro anos para o mandato do Presidente da República. E isto era fruto de uma interferência direta do Presidente, por intermédio do PMDB, que tinha maioria na Constituinte (53%), em mais uma violação de sua soberania. E outra vez o PMDB traia seu projeto político. No dia seguinte, sete deputados de Minas Gerais, incluindo Célio de Castro, participamos, em Plenário, nossa saída do PMDB.

Constituinte Nota 10 pelo DIAP, com presença absoluta nas votações, apresentou 33 emendas ao texto constitucional, posições sempre a favor dos trabalhadores e em apoio à participação popular. Célio de Castro, certamente, deixou sua marca na Constituição Cidadã, que é o coroamento do processo político construído nas greves operárias da década de 1970, na lei da anistia, na campanha das Diretas-Já e, na eleição da Assembléia Nacional Constituinte.

Constituição de 88, marco inicial do novo Brasil, que assegura as liberdades, garante os direitos, dá voz ao povo.

Célio de Castro, com a mesma determinação com que contribuiu para escrevê-la, lutou sempre para torná-la realidade. E nos deixou um grande exemplo de pessoa e homem público, muito maior, certamente, do que este que tentei mostrar.

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Célio de Castro: oitenta anos...

Patrus Ananias

Patrus Ananias de Sousa é advogado e político. Formou-se em Direito na UFMG em 1976. Foi prefeito de BH , Deputado Federal e Ministro do Desenvolvimento Social e Combate a fome.

Célio de Castro tinha muitas paixões. A paixão pela medicina; a paixão pela política; a paixão pela palavra. Tantas mais... Entre as paixões literárias, Guimarães Rosa se destacava: deu-me, certa vez, como presente de aniversário, a primeira edição de Sagarana, com belíssima dedicatória. Lia e relia Grande Serão: Veredas e ficávamos horas conversando sobre os caminhos e mistérios desta obra prima da literatura brasileira e universal. O saudoso Cezar Campos, grande e inesquecível secretário de Saúde do povo de Belo Horizonte, participou de algumas dessas prosas que iam varando a noite. Falamos, numa dessas conversas roseanas, sobre a Terceira Margem, conto antológico de Primeiras Estórias. Célio e Cezar ficaram explorando as implicações psicanalíticas do belo texto. Quando as forças da intolerância e da repressão explodiram o carro de Célio – penso que foi o último que ele teve! – lá estava, vítima também, o livro maior do mineiro de Cordisburgo. Eram amigos inseparáveis!

Célio e eu estivemos juntos em muitas lutas e caminhadas. A luta contra a ditadura; a luta pela liberdade e autonomia dos sindicatos; as lutas pela Anistia, pela Constituinte, pelas Diretas-Já. Juntos, caminhamos pelas ruas e becos de Belo Horizonte na campanha memorável de 1992 e nos governos – meu e dele, nossos – que mudaram os rumos da história de Belo Horizonte e abriram as portas da cidade para os pobres e excluídos.

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De todas essas boas pelejas e andanças, restou uma bela amizade. Perguntei-lhe sobre o estadista que mais admirava. Respondeu-me, naquele momento, o nome de Ho Chi Minh. Alguns anos depois, lendo uma biografia do grande líder vietnamita, compreendi o porquê. Célio era um socialista com os pés, o coração e a cabeça, corpo inteiro, plantados pelo tempo histórico. Não abdicava da responsabilidade de ser um sujeito atuante e transformador de sua época.

Outras vezes já falei do testemunho existencial. O grande médico, plantonista durante décadas no Pronto-Socorro, jamais condicionou o atendimento médico, da mais alta qualidade, ao prévio pagamento. Tinha em relação ao dinheiro e aos bens materiais uma postura franciscana, gandhiana, hochiminiana. O desapego raiava os limites do desprezo.

Por tudo isso, e muito mais, Célio de Castro está vivo. Vivo no coração de seus familiares, amigos, pacientes; vivo no coração do povo de Belo Horizonte, dos pobres, dos militantes da liberdade e da justiça social. Cada um de nós vai contando a sua história para os nossos filhos, netos, bisnetos... E assim Célio não morre! Só morre quem é esquecido, quem “passou pela vida e não viveu”.

Voltemos ao início para fechar o arco da reflexão e do sentimento; voltemos a Guimarães Rosa para lembrar que “a morte é o sobrevir de Deus entornadamente” e perguntarmos e respondermos juntos: “o que é um pormenor da ausência? Faz diferença? Choras o que não devias chorar... A gente morre é para provar que viveu... As pessoas não morrem, ficam encantadas”. Célio viveu e continua encantado no coração e na memória de cada um de nós! Sopremos as oitenta velinhas!

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Célio de Castro, humanista

Paulo Lott

Paulo Emílio Coelho Lott é jornalista, amigo do Dr. Célio de Castro, foi secretário Municipal de Governo no mandato do então prefeito Célio de Castro.

Quando o filósofo francês, Gilles Deleuze, morreu em Paris, em novembro de 1995, Célio de Castro amanheceu na Prefeitura com o ar abatido, como se tivesse perdido uma pessoa da família. Deleuze era um intelectual de difícil compreensão, até mesmo para os iniciados e, na verdade, quase um desconhecido, menos para o Dr. Célio, outro intelectual do mesmo nível que, em seus longos silêncios e com sua voz baixa e cadenciada, conseguia decodificar, compreender e perdoar os conflitos e as mesquinharias da política paroquial. Célio, como Deleuze, era o pensador que estava vendo lá na frente, e que sabia que o presente e seus sofrimentos em pouco tempo já eram coisas do passado, e que o importante era fazer agora, sem se deixar levar pelas ordenações ilusórias da corte que o rodeava – todos nós – cada um mais impaciente e mais pleno de certezas que o outro.

Essa característica da personalidade de Célio de Castro, o pensador introspectivo e sem deslumbramentos, podíamos ver nas viagens de serviço que, às vezes, fazíamos. Nas longas esperas de aeroporto ele invariavelmente ia para uma livraria e lá ficava com seus livros. Nós, os companheiros de viagens, tínhamos um pacto: durante o voo, deixávamos que ele ficasse separado numa poltrona, sem ser incomodado e mergulhado nas páginas de seus poetas, seus filósofos, seus historiadores.

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Cada incidente vivido com o Doutor – era assim que o chamávamos, carinhosa e respeitosamente – era uma lição de vida. Como na campanha da primeira eleição para a prefeitura. Os pré-candidatos do PSDB, PT e PMDB andavam todos na casa dos 15% nas pesquisas, enquanto Célio de Castro amargava magros 2 ou 3%. Quando a campanha começou, sua imagem serena e confiável, com seu discurso sem demagogia e sem falsas promessas, fez virar a maré. Em pouco tempo estava em primeiro lugar e o outro lado entrou em pânico.

Foi quando um candidato adversário, num momento de desespero e infelicidade, atacou duramente a honra de médico, cidadão e político do Dr. Célio. Na mesma noite trocamos telefonemas aflitos e indignados e combinamos uma resposta à altura. Era a guerra. Na manhã seguinte ele apareceu no comitê sereno como nunca, combinou as tarefas do dia e determinou que o assunto estava encerrado, e que ninguém estava autorizado a dar qualquer resposta. Sabia que seu nome, seu passado e sua honra eram respostas suficientes. Ele percebeu que eu, como outros companheiros, queríamos uma reação. Então, na manhã seguinte, discretamente, entregou-me uma folha de papel. Eram versos do poeta brasiliense, Geir Campos, que começava assim: “Não faz mal que amanheça devagar / as flores não têm pressa, nem os frutos pelo outono por chegar”. E o último verso: “O que importa é ter os olhos enxutos e a intenção de madrugar”. Não precisou dizer mais nada.

Célio de Castro, com sua arraigada formação humanística, manteve sempre intocada sua fé na saga do Homem sobre a face da terra, e com os olhos enxutos e sempre abertos, como queria Geir, manteve aceso, até tombar, seu compromisso com o mais absoluto rigor ético com a coisa pública, com as camadas mais desvalidas da população e com a justiça social integral, sem rótulos nem apelos eleitoreiros. Dr. Célio de Castro, um Homem.

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Relato de uma saudade

Pedro Paulo Cava

Pedro Paulo Ribeiro Cava é diretor, ator, produtor, gestor cultural e professor. Com participação significativa no cenário cultural de Belo Horizonte.

Agosto de 1971, tempo frio. Lá pelas cinco da manhã, Tetê, minha mulher, acordou assustada com as frases desconexas que eu dizia em delírio, tremendo com mais de 40 graus de febre. Éramos um casal muito jovem (eu tinha apenas 21 anos) e inexperiente diante da vida. Correu ao telefone da vizinha e aconselharam-na a chamar o Dr. Célio de Castro.

Foi assim que, em menos de meia hora, ele chegou à minha casa e me viu prostrado. Em volta, todo um alvoroço familiar. Com muita calma examinou, revirou, mediu, auscultou, vasculhou e sentenciou: “Uma virose muito forte!”. Receitou e alguém foi correndo buscar um antibiótico de amplo espectro, coisa moderna na medicina de então, mais antitérmicos, alimentação frugal e deixar que o tempo se encarregasse do resto.

Voltou no final da tarde. Novos exames e conseguimos conversar um pouco. Naquele dia eu perdi uma viagem a Lavras onde faríamos mais uma das apresentações de Oh! Oh! Oh! Minas Gerais. Cinco dias de repouso e recuperação. “Quando você melhorar, vá ao meu consultório que vamos fazer outros exames”, disse de saída. Calma e segurança era o que me passava aquela figura frágil e minuciosa.

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Dias depois fui ao consultório, ainda no Hospital Santa Mônica, e lá conheci a Lia, secretária que o acompanhou por toda a vida e que se tornou minha amiga. Pediu exames depois de uma consulta de mais de uma hora revirando daqui e dali à procura de respostas, disse: “Virose mesmo, isso não tem explicação, não tem causa aparente, está no ar”, explicou. Estendeu a conversa como se não tivesse mais nenhum paciente na sala de espera. Teatro, arte, literatura, política, vida, terapia.

Célio fazia terapia e insinuou que eu deveria fazer o mesmo. “Muita sensibilidade aguçada gera ansiedade, depressão, angústia, você vai precisar deste suporte”, concluiu.

Amigo desde então, foi meu médico e ouvinte atento durante mais de 30 anos. Bastava um pequeno sintoma, um medo à toa e lá ia eu ao João XXIII ou ao consultório, clamando por socorro que nunca me foi negado. Ele parava tudo, examinava e conversava. “Mais uma crise de ansiedade, não é, Pedro Paulo?” E conversava, receitava e eu saia dali com a alma lavada, vendendo saúde.

Estivemos juntos nos principais movimentos contra a ditadura e o arbítrio: Anistia, Cebrade (Centro Brasil Democrático), Fundação do MDB, campanhas políticas, luta contra a censura, legalização dos partidos, eleições diretas. Mais que amigos, nos tornamos companheiros de ideias e de utopias.

Deputado federal, atendia em BH às sextas e sábados os incontáveis amigos, correligionários e até adversários políticos. Era referência na medicina nacional. Lia marcava as minhas consultas para o último horário porque sabia que a prosa entre médico e paciente iria se estender. Na saída eu ouvia dela: “Dr. Célio disse que não vai cobrar a consulta”. Ele sabia que eu não tinha muitos recursos. E deve ter sido assim com tantos outros de quem ele, como num passe de mágica, aliviava as aflições.

Ele era ameaçado, perseguido. Os homens da direita jogaram uma bomba em sua casa, destruindo a parte da frente. Eu estava no trânsito e ouvi a notícia pelo rádio. Toquei para a casa dele na Rua Catete e devo ter sido um dos primeiros a chegar. Maria e as crianças escondidas e aterrorizadas nos fundos da casa. Ele ao telefone. Outros amigos foram chegando e a rua se encheu de medo e de gente.

Enfrentou sem medo as ameaças, tornou-se Deputado Constituinte, vice-prefeito de Patrus e depois virou mito como “Doutor Beagá”. Lançamos sua campanha para Prefeito em noite memorável no Teatro da Cidade com a presença de não mais que uns quarenta amigos. Ele tinha, naquele momento, apenas 2% de intenção de votos. Ganhou na

ponta das urnas. Conhecia as vísceras e os vícios da cidade, andava a pé por suas artérias e veias e sentia palpitar o coração dos miseráveis e desprovidos que habitavam os bairros mais pobres. A cada dia tomava o pulso e media a pressão da metrópole e se entristecia por não ter todos os remédios que pudessem dar cabo da pior doença: a miséria humana.

Almoçávamos juntos quase toda semana. Ele saia a pé pela rua Goiás e enfrentávamos a fila do bandejão mais próximo. Simples em tudo. Sua sabedoria estava no olhar que ele pousava sobre as pessoas e nos comentários que eventualmente emitia sobre a política.

Quando adoeceu corri ao hospital e lá estava toda a família. Por covardia minha, nunca tive coragem de visitá-lo em casa. Não queria vê-lo doente, logo ele que me aliviou de tantas dores e aflições. Encontrei-o numa homenagem na Câmara Municipal. Sorriu e gritou quando me viu. Ficamos um tempo abraçados e chorei em seu ombro. Beijei suavemente a testa daquele amigo e ele sorriu feliz.

Célio se foi e deixou uma marca na vida de cada um que teve a felicidade de conviver com ele. Em mim, talvez, tenha deixado muitas, mas a maior de todas é a saudade.

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Governar para os que mais precisam

Renato Casagrande

Renato Casagrande, amigo do Dr. Célio de Castro, e atual Governador do Estado do Espírito Santo.

Compartilhar experiências administrativas e intensos debates sobre políticas públicas com o prefeito Célio de Castro foram fundamentais para nortear as ações dos mandatos que assumi a partir da década de 90. Sua filiação ao Partido Socialista Brasileiro coincidiu com minha eleição para Deputado Estadual, representando o Estado do Espírito Santo. Junto a centenas de outros companheiros socialistas, protagonizamos o 1º Encontro Nacional dos Eleitos pelo PSB, após a redemocratização do país, em sua querida cidade, Belo Horizonte. Neste momento, Célio exercia seu segundo mandato de Deputado Federal e pude contar amplamente com seu apoio em importantes negociações bilaterais entre Minas Gerais e Espírito Santo, na busca por melhorias para os municípios dos dois Estados.

A maneira de construir politicamente sua trajetória na vida pública permeia a história recente da reconstrução democrática do nosso país. Um homem público que soube passar ensinamentos estruturados na ética e na transparência, que se consolidaram nas gestões governamentais mais modernas do Brasil.

Foi de Célio de Castro um dos mais expressivos modelos de mobilização social para definição de investimentos públicos, o “Orçamento Popular”, que introduziu quando exerceu o cargo de prefeito de Belo Horizonte.

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Compreendendo que Dr. Célio esteve na vanguarda do pensamento que rege as diretrizes das administrações públicas deste século, afirmo que busquei também nele, a inspiração para o programa de governo que ofereci à população capixaba, que me confiou a responsabilidade de conduzir o Estado neste momento. Governar prioritariamente para os que mais precisam do poder público e desenvolver com crescimento sustentável são as duas premissas que busco em cada ato que assino à frente do Governo do Estado do Espírito Santo. São elementos que amadureci a partir das conversas com pessoas como governador Miguel Arraes e o prefeito Célio.

Buscar o compromisso das instituições com os serviços públicos prestados à população marcou a forma de governar deste mineiro, que, como milhares de outros mineiros, amam o Espírito Santo. Por vezes, aceitou nosso convite para reuniões partidárias nos municípios de norte a sul do Estado. Conheceu a nossa terra como um genuíno cidadão capixaba e as nossas praias sempre constaram no roteiro da sua vida.

“Em Guarapari estão as praias mais bonitas do mundo”, dizia Célio. Assim como seus conterrâneos, sentia-se verdadeiramente em casa. Saboreamos juntos nossa famosa “moqueca capixaba” feita na panela de barro e ouvíamos dele, a celebre frase do jornalista Cacau Monjardim que repetimos com orgulho: “moqueca, só capixaba, o resto é peixada.” Na ausência do amigo e companheiro, levo sua biografia serena e objetiva. Do grande político socialista e brasileiro que amou sua terra e sua gente.

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A visão política ampla

Renato Pereira

Renato Pereira, amigo e fundador do PSB em Minas Gerais. Secretário durante o primeiro mandato do Dr. Célio de Castro e assessor especial no segundo mandato.

Acompanhei, por mais de 20 anos, a carreira política do Dr. BH. De presidente do Sindicato dos Médicos de Minas Gerais a prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro manteve-se sempre fiel a seus princípios e ideais.

Suas qualidades pessoais em muito contribuíram para o seu sucesso político: um homem aparentemente introspectivo e calado, mas que dominava, como poucos, a arte de saber ouvir e pinçar, com precisão, o que era realmente importante.

Seu ofício de médico como clínico geral deu a ele a capacidade de proferir diagnósticos corretos. Sua figura se agigantava nos debates e conversas políticas. Era um homem que tinha visão política ampla, não discriminava pessoas ou posições políticas opostas à dele. Conviveu, democraticamente, com um leque de políticos de diferentes partidos e ideologias. O trânsito tranquilo, em diferentes áreas, foi responsável pela construção de uma frente de centro-esquerda em 1996, formada com PMDB, PSB e PPS, que o levou à Prefeitura de Belo Horizonte.

Não era um homem de partido. Participou de vários. Era um livre pensador. Não tinha perfil para se enquadrar em máquinas partidárias dominadas por pensamentos sectários e imutáveis. Sua maneira aberta de fazer política foi importante para Minas e para o Brasil. Teve papel relevante na construção da chapa Lula e José de Alencar, que deu ao nosso país a grande vitória do PT.

Célio de Castro foi um político digno, que muito contribuiu para as grandes transformações do cenário político brasileiro.

Homenageá-lo nos seus oitenta anos é fazer justiça à sua biografia.

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O Mestre Dr. Célio de Castro

Rita Margareth de Cássia Rabelo

Rita Margareth foi Chefe de Gabinete do então Prefeito Dr. Célio de Castro.

Minha convivência com Dr. Célio de Castro proporcionou um importante aprendizado, impossível de ser esquecido. Foram muitos anos de vivências comuns, no enfrentamento de bons e maus momentos no trato da coisa pública e sempre colhi lições de dedicação, ética e compromisso com os mais altos objetivos da boa política. Vou aqui evocar três situações do cotidiano que, entre tantas outras, ressaltam as características marcantes da personalidade de Dr. Célio.

1- Ele nunca conversava com uma pessoa sem perguntar-lhe o nome, pois, para o Dr. Célio, como prefeito ou como médico, as pessoas tinham sempre uma importância superior. Por isso, ele sempre precisava saber o nome de quem estava naquele momento se relacionando com ele, da pessoa mais humilde à mais graduada. Quando, caminhando pela rua, algum transeunte o abordava, ele parava ,ouvia atentamente e antes de responder a indagação feita, queria saber o nome daquela pessoa. Ao almoçar em um restaurante, nenhum garçom o servia sem ele buscar saber o nome. O mesmo acontecia nos ambientes de trabalho. Era, de fato, uma demonstração de respeito e consideração pelas pessoas.

2- Dr. Célio sempre prestigiava as pessoas que o auxiliavam na Prefeitura de Belo Horizonte, no exercício do mandato de Prefeito . Acreditava na competência e na criatividade de seus auxiliares, afirmando que o que diferenciava o ser humano era a sua capacidade de pensar. Ouvia a todos, procurando sempre construir o consenso. Não gostava de arbitrar os conflitos, com autoritarismo, batendo na mesa. Dizia que sua mesa de trabalho era de vidro e redonda e se ele fosse decidir as questões batendo na mesa o estrago poderia ser maior. Na verdade, fazia parte do seu estilo à paixão pelo entendimento e compreensão da alma humana. Por isso, buscava nos ensinamentos da psicanálise o suporte para conduzir questões complexas e muitas vezes conflituosas.

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3- Uma característica marcante do Dr. Célio era sempre agradecer, com gentileza, quando atendíamos às suas solicitações, mesmo quando se tratava de assuntos de nossa inteira responsabilidade. Quando aprovava o resultado, elogiava com sinceridade, mas quando percebia alguma falha, se não estivesse bom ou da forma que gostaria, pedia as alterações com tanta delicadeza, que parecia que estávamos fazendo um grande favor para ele. Tinha uma atitude de permanente respeito pelo trabalho dos outros.

Esses são exemplos simples, nas situações do cotidiano, que mostram a grandeza de caráter de uma destacada figura de nossa cidade, tanto na atuação política como profissional. É por tudo isso, que a trajetória da vida política de Dr. Célio, assim como da vida de renomado e competente médico, foi marcada pela capacidade de agregar as pessoas e enfrentar as mais difíceis situações com um tom sereno e confiante, como se a reger com maestria, uma grande orquestra.

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Mestre na Arte de Curar e ensinar

Rodrigo Célio de Castro

Rodrigo Célio de Castro, um dos filhos do Célio de Castro é engenheiro e autor da iniciativa deste livro.

Tenho a convicção de que meu pai era uma pessoa a frente do seu tempo, tanto na criação ofertada a nós, como em sua visão na medicina, na política e na vida.

Respeito era a palavra de ordem. Ouvir com paciência, um dom.

Com ele, pude ver as montanhas e os rios de Minas, ouvir a política simples e carinhosa. Esse carinho também se deu no trato com as pessoas e na coisa pública. Uma frase sempre marcou essa visão: “eu não sou político, eu estou político”, fazendo uma comparação entre aqueles que têm a política como profissão e aqueles que se doam à política como uma missão de buscar, através de um mandato participativo, o bem comum.

Amizade é uma dádiva que construímos no transcorrer de nossas vidas. Meu pai nos ensinou que fazer política não é criar inimigos, mas respeitar as diferenças. Mesmo os adversários políticos eram amigos, dizia ele: “temos divergências, mas isso não diminui em nada nossa amizade e o respeito mútuo”. Amizades transpõem todas as diferenças, por isso, ele tinha trânsito livre em todos partidos.

Constituinte nota dez, foi morar em Brasília na companhia de outros dois deputados. Todas as segundas-feiras bem cedo, lá pelas cinco da manhã, pegávamos o carro e, no caminho do aeroporto, ele me passava algumas coordena-

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das de como apoiar minha mãe na administração de nossa casa. Nunca deixou em momento algum de fazer seu papel de pai. Ele sabia que para alcançar seu objetivo tinha que se submeter a alguns sacrifícios e, com certeza, o afastamento de sua família foi um de seus maiores desafios. Quando voltava a Belo Horizonte, nas sextas-feiras, sempre no último voo de Brasília, durante o caminho para casa contava os acontecimentos do Congresso e, sempre preocupado com o nosso bem estar, perguntava como tinha sido a nossa semana.

Esse sacrifício também acontecia na área da medicina, onde por várias vezes ele saía de casa durante a madrugada para atender chamados. Em alguns casos, doenças graves, e em outros, não, como ocorreu uma vez em que ele deixou um de nós, com febre alta, para chegar à casa do paciente e descobrir que era necessário apenas ajudar a dar banho.

Na vida sempre buscamos exemplos de conduta, seriedade e felicidade. Portanto, meu exemplo é meu pai.

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Liderança e inteligência

Silas Faleiro

Silas Faleiro é amigo de infância do Doutor Célio e Ex-prefeito de Carmópolis de Minas.

Recebi uma nobre missão da família Castro, dar alguns depoimentos sobre a ilustre pessoa de Célio de Castro, que marcaram sua trajetória, brilhante de lutas, vitórias e sofrimentos de um homem público, médico famoso e cidadão brasileiro. Missão difícil, pois seria necessário escrever um compêndio de milhares de páginas, para traçar o verdadeiro e vasto perfil de uma figura tão importante.

Ao mesmo tempo, esta missão tornou-se bem mais suave para mim, seu amigo, colega de profissão e conterrâneo tendo o privilégio de conviver com ele na infância e adolescência em Carmópolis de Minas nossa terra natal. Na ocasião Célio já despontava com sua liderança e inteligência cursando o ginasial em Oliveira e se destacando como o melhor aluno do colégio professor Pinheiro Campos.

Mudando para Belo Horizonte, juntamente com seus pais e irmãos, ingressou no colégio Arnaldo e durante o curso científico foi o melhor aluno com nota 10 em todos os boletins escolares. Na faculdade de medicina da UFMG, concluindo o curso em 1958 como médico, tornou-se um exemplo para os seus alunos e para toda classe médica, pela sua competência, zelo, carinho que dispensava aos pacientes e principalmente, por sua ética profissional.

Como politico, tornou-se um grande estadista, exercendo dois mandatos de deputado federal sendo um deles no

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período constituinte de 1988, destacando-se pelos seus idealismos e intenso trabalho em benefício do povo brasileiro. Recebeu o título de deputado nota 10 através do DIAP (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) que congrega Confederação, Centrais Sindicais e Federações de todo o Brasil.

Participou ativamente na elaboração do SUS e do Estatuto da Criança

Tive a honra de trabalhar com o Célio, quando prefeito de Belo Horizonte por dois mandatos, no hospital Odilon Berhens e como membro efetivo do conselho municipal do idoso e mais uma vez. Pude constatar o seu trabalho eficiente e o carinho e o amor dedicado à causa pública, preocupado sempre com os problemas sociais dos idosos e crianças e principalmente os mais carentes.

Instalou o disque idoso, o primeiro do Brasil, a casa do idoso, a casa transitória para atender os idosos que recebiam alta hospitalar, e necessitavam ainda de cuidados especiais após a internação, entre tantas realizações. Como prefeito, cuidou muito das crianças, da área cultural e social.

Em Carmópolis quando prefeito em 2008, criamos a medalha “Dr. Célio de Castro” para homenagear nosso ilustre conterrâneo e agraciamos várias pessoas ilustres de Belo Horizonte, Carmópolis e região.

Você Célio, um verdadeiro ser humano, um estadista que muito contribuiu pela grandeza do nosso país, sonhou e muito realizou deixando-nos, órfãos de uma figura, tão ilustre como você que só fez o bem e por isso ficará eternizado em nossas memórias.

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Cidadão na expressão da palavra

Simão Lacerda

Simão Lacerda é publicitário e amigo do Dr. Célio de Castro.

OCélio era meu grande médico quando informou-me que seria candidato a prefeito de BH. Eu disse a ele: -Você está certo disso, Célio? -Sim. Disse-me ele. Ponderei então: -Célio as campanhas não são honestas, voce é integro, cidadão na expressão da palavra, ético, humilde, culto, como bom médico sabe escutar. As pressões vão ser imensas, a campanha é cara e levantar dinheiro vai bater de frente com a sua austeridade. -Você fica ao meu lado? -Fico. -Então faça o necessário. Me aliei ao Paulo Joel da HP e ao Celso Araújo da Multivideo, acertei os orçamentos, montei a minha equipe e fomos à luta com um posicionamento de campanha. Um belíssimo jingle: É O MELHOR E VAI GANHAR. E no segundo turno: É O MELHOR E VAI GANHAR DE NOVO. Programas de TV e Rádio objetivos, críveis e modestamente produzido, mas que passavam credibilidade. Um

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belo grupo de trabalho capitaneado pelos talentos políticos e fidelidade ao Dr. Celio, dos “mosqueteiros”: Rogério Colombini, João Francisco e o Paulo Lott.

Tudo isso alicerçado a um grupo de colaboradores convencidos da seriedade e da importância do Dr. Beagá. Para Belo Horizonte. Célio de Castro, disciplinado, com forte personalidade, convicto da vitória, foi subindo, vertiginosamente nas pesquisas e venceu!

É uma história aparentemente simples, mas eivada de muitas dores, pressões, dificuldades e traições. Coisas que hoje não convém serem relembradas.

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Mineiro da mais preciosa fonte

Tadeu Franco

Tadeu Franco é músico, cantor e compositor mineiro, amigo do Dr. Célio de Castro.

Ouço falar dele no começo dos anos oitenta, quando a gente ainda se estremece com a presença da ditadura e com ameaças de bombas terroristas aqui e acolá. Sua casa é alvo de explosões. Eu pergunto quem é essa pessoa tão perigosa ao ponto de merecer tamanha retaliação, e a resposta está no bate-papo de butiquim, de banco de ônibus coletivo, de táxi ou de praça. Todos falam maravilhas do até então por mim desconhecido fisicamente, o médico Célio de Castro. Dizem que é socialista, íntegro e generoso, sábio mineiro da mais preciosa fonte. O jeito brejeiro, simples no trato com os demais - sejam ricos ou pobres.

Ao vê-lo pela primeira vez, não me surpreende a sua figura de cidadão comum, cujo olhar denuncia o tamanho do coração. Ao participar de sua campanha à prefeitura, canto para pequenas platéias, em variados bairros, o que me faz duvidar da vitória de nosso candidato. Que nada! Trabalhadores de diferentes ofícios demonstram sua preferência ao votarem para o novo chefe da cidade no Dr. BH , como fica conhecido, carinhosamente.

Belo Horizonte vive momento de alto astral. A classe artística se ilumina; todos alegres com o amigo no comando. A música brasileira feita em Minas, se enche de esperança. Eu sou um que agradece. Ao comemorar os 100 anos belorizontinos, a prefeitura organiza um festival que escolhe o hino do centenário, cantado por mim com emoção renovada. Em palanque ou palco, gabinete ou rua, sua presença discreta revela muito o seu estilo e a sua personalidade.

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Não se vê nele sinais de político tradicional, linguarudo e invencioneiro, de sorriso fácil e simpatia enganosa. Não, ele não é assim. É sonhador de nobres cabedais ao acreditar que com a verdade o mal vai embora e que, se é funcionário público, esteja o povo à direita ou à esquerda de Deus Pai, acima ou abaixo da lamentável linha da pobreza, deve-se trabalhar com seriedade máxima, nenhum estrelismo ou alguma vaidade.

Política não é sua profissão, é o seu sonho de praticar o bem em grande escala, ao lado da gente brasileira, formada por indivíduos tão diferentes uns dos outros, mas sempre frequentada pelo mesmo espírito de solidariedade e justiça social. Não creio que ele siga algum regime político, pois todos tendem à opressão e à truculência. Acho que é regido pelo signo da bondade, cujo objetivo maior é o respeito ao semelhante, filho do mesmo claustro uterino de nossa mátria Terra. Esse é o cara no qual acreditei ao escolher como governante. Isso é só o que sei dizer daquele que veio guerrear em nome do amor. Em sua vida breve, muito fez , pelo seu exemplo, ainda faz e fará. Deus o tem, com certeza.

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VIVA CÉLIO DE CASTRO!

Tadeu Martins

Tadeu Martins é poeta. Enveredou-se muito cedo pela área cultural, ainda na sua terra natal, Itaobim, no Vale do Jequitinhonha. Sua carreira deslanchou depois que transferiu-se para Belo Horizonte, no início dos anos setenta.

Nosso Senhor também se alegra se a humanidade não erra e no dia em que fica feliz abençoa o mar e a serra e aumenta a sabedoria de uma criança na terra.

Deus estava muito contente toda a população percebeu lá na cidade de Carmópolis a sabedoria floresceu choveu bondade e inteligência no dia em que o Célio nasceu.

O dia era 11 de julho o menino já nasceu um astro bondade, ética, sabedoria foram as bandeiras do seu mastro um cidadão em paz com a vida o grande mestre Célio de Castro.

Os livros foram bons companheiros daquele moço do interior seguindo os passos do irmão fez medicina e virou doutor humildade e inteligência fizeram dele grande professor. No Pronto-Socorro de BH uma história de dedicação dia e noite salvando vidas bondade, carinho e emoção com o Rei dos Diagnósticos os alunos aprenderam a lição.

Ouviu a voz da consciência indignou-se com a exploração viveu medicina e política sua crença e sua oração pela dignidade do homem lutou com fé e determinação.

Por melhores condições de vida para o nosso povo mineiro por educação de qualidade formando um povo altaneiro na luta contra a ditadura sensato e bravo guerreiro.

Militante das causas sociais perseguido pela ditadura viajou desejo e combate contra a opressão e tortura Célio é um bravo guerreiro que lutou sem perder a ternura. Duas palavras definem Célio dedicação e sabedoria liberdade foi sua bíblia seu vício e filosofia a família um porto seguro o equilíbrio e harmonia.

Sindicalista e deputado médico e vice-prefeito ao lado de Pimentel e Patrus botou Belo Horizonte no peito ascultou a vontade do povo candidatou-se e foi eleito.

Foi o Prefeito do Centenário a ética foi o seu lema primeiro prefeito reeleito você fez da vida um poema no amor dedicado aos livros na sua paixão pelo cinema.

Meu prefeito, mestre e amigo nós bebemos na sua fonte nenhum sofrimento nesta vida lhe tirou a ternura da fronte seu amparo foi sua família e seu amor por Belo Horizonte. Para todos os belo-horizontinos homem, mulher e criança você foi médico dos médicos um exemplo de perseverança um sábio entre os políticos humildade na sua andança você foi um exemplo de vida na tempestade e na bonança você foi semeador de sonhos eterno plantador de esperança.

Sua partida nos entristece sua luz não se apagará receba o carinho da cidade neste grito que jamais calará: Viva o Doutor Célio de Castro! Viva o nosso Doutor Beagá!

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