Informativo da Fundação Uniselva | novembro/dezembro 2015 | Suplemento Especial - PNAIC Mato Grosso.

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Informati v o da Fundação

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Entidade de Apoio e Desenvolvimento da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Cuiabá/MT - Nov/Dez - 2015

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/fund.uniselva

SUPLEMENTO ESPECIAL

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UFMT pela alfabetização na idade certa. Dezembro/2015

Pontes e Lacerda

COMPROMISSO | Todas as crianças alfabetizadas até, no máximo, os 8 anos de idade Formação Continuada

Em MT são 141 municípios

Instâncias governamentais e Universidades executam o programa em todo o país

Perto de 5.500 alfabetizadores das redes públicas de ensino


EDITORIAL

Alfabetização de qualidade e professor valorizado A junção de instâncias governamentais e universidades públicas proporcionou o maior programa de formação de alfabetizadores implementado no Brasil, cuja abrangência causa admiração em vários segmentos internacionais ligados à educação. Trata-se do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), programa de formação continuada presencial de professores alfabetizadores resultante de um Regime de Cooperação entre o Ministério de Educação (MEC), os governos do Distrito Federal, dos estados e dos municípios. O estado de Mato Grosso, claro, bem como a UFMT, não poderia ficar de fora desse programa, cujo objetivo final é o de assegurar que todas as crianças brasileiras estejam alfabetizadas até os oito anos de idade, ao final do 3ª ano do ensino fundamental. Nesta publicação especial, o caro leitor vai conhecer as grandes ações do PNAIC no estado, medidas essas que movimentaram as redes estadual e municipal dos 141 municípios mato-grossenses em busca desse objetivo de alfabetização das crianças na idade certa. O programa tem quatro eixos de atuação, entre eles, a formação continuada de professores alfabetizadores e os materiais didáticos, literatura e tecnologias educacionais. Segundo o MEC, o desafio é grande: melhorar radicalmente a escola pública

brasileira. Nos diferentes estados, o desenvolvimento do PNAIC coube às universidades públicas e, em Mato Grosso, a missão ficou por conta do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFMT, campus de Rondonópolis, como curso de extensão. A professora pós-doutora em Educação Cancionila Janzkovski Cardoso é a coordenadora geral do PNAIC/MT e conta com uma equipe de professores formadores e orientadores responsáveis pelas ações do programa em todos os municípios matogrossenses. Criado em 2012, o programa teve suas primeiras ações realizadas em Mato Grosso em 2013, ampliadas depois em 2014 e melhoradas ainda mais em 2015, como o leitor poderá acompanhar nesta presente publicação, cujo propósito é o de registrar o desenvolvimento do PNAIC/MT. Na avaliação dos participantes do programa no estado, os resultados dos seus três anos de funcionamento estão sendo muito satisfatórios, trazendo um salto de qualidade ao ensino fundamental e novo vigor aos professores alfabetizadores, que se sentem mais valorizados, como revelam os depoimentos registrados nas páginas deste Suplemento Especial PNAIC/MT. Nesse sentido de aprovação do programa, autoridades da área de educação em Mato Grosso também se manifestaram, conforme declarações igualmente publicadas nas páginas seguintes. Boa leitura!

PNAIC/MT

Educadores de Mato Grosso valorizam as ações do Pacto

Educadores envolvidos com o PNAIC em Mato Grosso são afirmativos ao comentarem as ações do programa. A reitora da UFMT, Maria Lúcia Cavalli Neder, disse que trata-se de “um programa importantíssimo para o Brasil, considerando que hoje uma das maiores preocupações da educação é a questão da qualidade”. Ela acrescentou que “os primeiros anos escolares, juntamente com a educação infantil, precisam proporcionar uma leitura e escrita com mais propriedade, pois isso é fundamental para o desenvolvimento da educação brasileira”. De sua parte, o Secretário-adjunto de Políticas Educacionais da Secretaria de Estado de Educação (Seduc-MT), Gilberto Fraga, afirmou que a parceria com a UFMT para desenvolver o PNAIC tem contribuído para a formação dos professores da rede estadual de ensino e tem dado tudo certo. “Principalmente porque garante a existência de uma programação anual e que está sendo executada. E assegura aos formadores a aplicação nas unidades escolares. Uma boa parceria que está dando resultado e tem melhorado os indicadores educacionais no que se refere à Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) e à Provinha Brasil”, destacou. A coordenadora do Comitê Gestor Institucional de Formação Inicial e Continuada de Profissionais do Magistério da Rede Básica (COMFOR) da UFMT, Edna Hardoim, explicou que o PNAIC, cujas coordenações estão no campus de Rondonópolis, é o segundo maior curso de formação continuada presencial ofertado pela instituição. Ela informou que anualmente o programa atende pouco mais que seis mil professores alfabetizadores de Mato Grosso e frisou que, ao lado de assegurar a oferta do curso, a UFMT, por meio do COMFOR, “cumpre sua missão, principalmente por meio do trabalho de uma equipe competente, titulada e articulada com as instâncias necessárias, aten-

dendo às demandas neste campo do conhecimento”. ​O diretor-geral da Fundação Uniselva, Cristiano Maciel, ressalta que o PNAIC é um dos projetos gerenciados pela entidade, em suas diversas áreas, e que a divulgação de suas ações nesta edição especial é de suma importância para publicização dos resultados do projeto, compartilhando com a comunidade as importantes ações realizadas em prol da educação. Todos os envolvidos estão de parabéns pela magnitude do projeto. A coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação em Rondonópolis, Raquel Gonçalves Salgado, assinalou a relevância do PNAIC para “a política pública e indutiva de formação de professores e como uma das ações do Programa de Pós-Graduação em Educação diretamente voltada à inserção social na Educação Básica, aspecto este ressaltado como ponto positivo na última avaliação da Capes/MEC”.

EXPEDIENTE O Suplemento Especial PNAIC-MT faz parte do número 25, edição nov/dez 2015, do Informativo Uniselva, publicação da Fundação Uniselva, entidade de apoio e desenvolvimento da UFMT. Jornalista Responsável: Sônia Zaramella (DRT/DF 1.210); Redação: Maicon Milhen e Sônia Zaramella; Fotografia: Acervo Uniselva e PNAIC; Projeto Gráfico e Editoração: Daniel Couto Valle (danielcvalle@gmail.com) PNAIC-MT - Equipe 2015. Coordenação Geral: Cancionila Janzkovski Cardoso; Coordenadoras Adjuntas: Sílvia de Fátima Pilegi Rodrigues e Cecília Fukiko Kamei Kimura; Supervisoras: Anabel Beatriz de Col, Anabela Rute Kohlmann Ferrarini e Rosana Maria Martins; Apoio Técnico Administrativo: Fabiana Rodrigues Oliveira Queiroz; Estagiários: Pedro Aparecido Barreto de Mello e Rolely dos Santos Ferreira; Formadores: Ana Lucia Nunes da Cunha Vilela, Carla Melissa Klock Scalzitti, Dilson Thomaz, Dulcilene Rodrigues Fernandes, Eliane Aparecida Martins, Genialda Soares Nogueira, Janibia Fernanda da Costa, Jussara Cristina Mayer, Rosenei Bairros de Freitas Carvalho, Rosimeire Dias de Camargo, Sandra Regina Braz Ayres, Senilde Solange Catelan e Silvia Cristina Fernandes.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - Campus Universitário de Rondonópolis/UFMT. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa - Bloco Central Rodovia RondonópolisGuiratinga (MT 270), Km 006 Rondonópolis/MT. CEP 78735-901. Fones: 66 3410-4094 | 66 3410-4090. e-Mail: novopacto.ufmt@gmail.com https://www.facebook.com/PactoUFMT


FORMAÇÃO EM REDE

Nova abordagem para educação básica garante alfabetização até os 8 anos de idade Garantir que todos os estudantes dos sistemas públicos de ensino estejam alfabetizados em Língua Portuguesa e em Matemática até o final do 3º ano do ensino fundamental, esse é o propósito do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) assumido pelos governos federal, estaduais e municipais. Para que esse objetivo seja cumprido, os envolvidos trabalham com um conjunto integrado de ações, materiais e referências curriculares e pedagógicas disponibilizados pelo Ministério da Educação (MEC), tendo como eixo principal a formação continuada dos professores alfabetizadores. Em Mato Grosso, o Pacto está estabelecido como um projeto de extensão, gerenciado pelo COMFOR e pela Fundação Uniselva, vinculado ao Programa de Mestrado em Educação da UFMT, em Rondonópolis, e desenvolvido com recursos disponibilizados pela

Secretaria de Educação Básica do MEC. As Secretarias Municipais e a Secretaria de Estado de Educação são parceiras na realização. A formação continuada dos professores alfabetizadores teve início no estado em 2013, com foco em língua portuguesa; em 2014, a ênfase foi dada à alfabetização matemática e neste ano de 2015 buscou-se a interdisciplinaridade, combinando o português e a matemática com outras áreas de conhecimento. A coordenadora geral do programa no estado, Cancionila Janzkovski Cardoso, explica que a proposta de formação do Pacto acontece em rede. “Inicialmente, a equipe da universidade - coordenadores, supervisores e formadores - planeja o curso que será ministrado aos professores orientadores de estudo. Em seguida, cada orientador, em seu município de origem, realizará a formação com os professores alfabetizadores que, por fim, desempenharão as atividades junto aos seus alunos”.

Formação de Professores Alfabetizadores

As ações do Pacto apoiam-se em quatro eixos de atuação:

O trabalho é desenvolvido a partir dos Cadernos de Formação do Pacto, elaborados por especialistas das universidades, convocados pelo MEC. Em cursos, encontros e seminários, os orientadores de estudo nos estados são capacitados e levam conhecimento para repassar aos professores alfabetizadores dos diversos municípios. Confira os temas dos cursos de formação:

1 - Formação continuada presencial para os professores alfabetizadores e seus orientadores de estudo. 2 - Materiais didáticos, obras literárias, obras de apoio pedagógico, jogos e tecnologias educacionais. 3 - Avaliações sistemáticas. 4 - Gestão, mobilização e controle social.

2013

Articulação de diferentes componentes curriculares, com foco em Linguagem.

2014

Ênfase na Matemática, mas foi aprofundado e ampliado o tema da Linguagem.

EDUCADORES

2015

Formação interdisciplinar, abrangendo diferentes áreas de conhecimento, mas preservando a Linguagem e a Matemática.

Orientadores de estudo

Rio Branco

PNAIC em Mato Grosso – 141 municípios Formadores Professores alfabetizadores

Alta Floresta

Barão de Melgaço

2013

2014

2015

13

28

13

336

317

322

5.964

6.591

5.957

Nova Olímpia

NA ÓTICA DOS PROFESSORES ALFABETIZADORES

Criatividade em sala de aula e desenvolvimento profissional Os relatos dos professores alfabetizadores que participam do PNAIC em Mato Grosso revelam metas e objetivos profissionais, mas, sobretudo, foco no desenvolvimento e processo educativos dos alunos, consequentemente, com o direito de aprendizagem dos mesmos. Eles enfatizam também que estão buscando adotar práticas mais proativas em relação aos alunos e compreendem a importância de buscar seu próprio desenvolvimento profissional. “(...) participar desse curso é uma oportunidade única. O curso nos faz crescer, inovar a nossa dinâmica em planejar, repensar e conduzir a nossa prática pedagógica. Cada encontro propicia momentos de reflexão, troca de experiências que fortalecem nossas atividades junto aos nossos educandos. Considerando a grande diversidade encontrada na escola, essa formação propiciou um novo olhar, valorizando o educando na sua individualidade respeitando a sua forma de aprender e o tempo que necessita. Acredito que a formação continuada seja o caminho para que tenhamos uma educação de qualidade e que vai em busca de formar cidadãos que realmente sejam agentes na sua comunidade”. Lucimar de

Souza Paula, professora alfabetizadora em Figueirópolis d’Oeste

“O curso refletiu na prática diária de todos os docentes, novas ideias surgiram, despertando a vontade de aplicar aos alunos em sala de aula todos os conhecimentos adquiridos, bem como expor aos pais os trabalhos dos alunos”. Marilza Silva, coordenadora local em Itaúba “Considerando que estamos em constante transformação, o Pacto colaborou com a transformação do nosso cotidiano com as crianças, tornando assim prática pedagógica dos alfabetizadores mais prazerosa, não só para as crianças, mas também para todos os participantes. O programa propiciou que todos nós participantes do Pacto passássemos a ter uma nova visão em relação ao lúdico, ou seja, aprendemos também que é possível alfabetizar e letrar a partir de jogos e brincadeiras, as quais eram vistas apenas como diversão e passatempo nos momentos de recreação. Pode se verificar essa mudança ao observar as práticas em sala de aula e nos resultados obtidos nas sequências didáticas; nos projetos didáticos e produções de textos e leituras, evidenciando um grande sucesso na aprendizagem dos alunos”. Marta Cassemiro, coordenadora local

em São José dos Quatro Marcos

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ENTREVISTA

PNAIC trouxe avanços na qualidade do ensino ofertado às crianças das escolas públicas de Mato Grosso, afirma coordenadora geral

Cancionila Janzkovski Cardoso destaca mudanças nas estratégias pedagógicas e a valorização dos professores

Na Universidade Federal de Mato Grosso, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC) é vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEdu), campus de Rondonópolis, como curso de extensão. Desde seu início no estado, em 2013, o PNAIC tem a coordenação da professora Cancionila Janzkovski Cardoso, doutora em Educação pela UFMG e pós-doutora pela UFPR. Segundo ela, os avanços na qualidade do ensino ofertado para as crianças das escolas públicas já são percebidas no estado com o desenvolvimento do programa, repercutindo em mudanças nas estratégias pedagógicas das diversas unidades de ensino, entre elas, a leitura deleite, as sequências didáticas, os projetos didáticos e os jogos. Cancionila Janzkovski Cardoso trabalha no Departamento de Educação da UFMT desde outubro de 1985 e no PPGEdu desde a sua criação, em 2010, desenvolvendo projetos e orientando pesquisas ligadas à alfabetização, leitura e escrita, formação de professores, história da alfabetização e história dos livros.

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Como é a estrutura de formação em rede do PNAIC e quais foram as principais ações do programa nestes últimos anos? Profª Cancionila: O processo de formação se desenvolve a partir da constituição de uma rede, qual seja, o professor formador, ligado à universidade, atua diretamente com um grupo de orientadores de estudo ligados às secretarias de Educação, dando-lhes formação e acompanhando seus trabalhos. Esses orientadores, em seus municípios de origem, são responsáveis pela formação contínua dos professores alfabetizadores, por meio de estudos dos materiais fornecidos pelo MEC, orientação de planejamento e realização de atividades com as crianças do 1º ao 3º ano. Em 2013, iniciamos a formação com materiais preparados por especialistas, com ênfase na Linguagem, mas já em uma perspectiva de busca de integração com outras áreas do conhecimento. Com a completa adesão da rede estadual e das redes municipais, na ocasião, ministramos o curso de formação em três polos: Cuiabá, Rondonópolis e Sinop. Em 2014, toda a formação foi concentrada na capital e a ênfase foi dada para a Matemática, no entanto, o MEC permitiu a manutenção de dois formadores em cada turma (Língua Portuguesa e Matemática), contribuindo, assim, para maior aprofundamento de trabalhos articulados entre as áreas. Em 2015, as discussões e o material de formação buscam aprofundar, ainda mais, a ideia da interdisciplinaridade, cujos princípios favorecem o processo de alfabetizar letrando. Quais os principais pontos positivos desse trabalho? Profª Cancionila: Primeiro, a abrangência do programa, fortemente orientado para o fazer pedagógico dos professores. O PNAIC tem atendido, no Brasil, a cada ano, mais de 300 mil alfabetizadores. Isso tem garantido o direito de formação continuada aos alfabetizadores, previsto em lei, tendo como referência a sala de aula. Segundo, essa abrangência só foi possível com a completa adesão das redes. O PNAIC inclui a qualificação de profissionais efetivos das secretarias de Educação municipais e estaduais, que assumem o compromisso de trabalhar na formação de seus pares no município - professores alfabetizadores do ciclo de alfabetização. Desse modo, as ações de formação são concebidas e vivenciadas por todos e não apenas pelas equipes das Universidades, sempre considerando as realidades locais. Temos, pois, concretamente, um Pacto entre os entes federados, que vêm empreendendo esforços para a melhoria da qualidade da educação, cujos resultados são coletivos. Terceiro, o PNAIC apresenta objetivos ligados aos direitos de aprendizagem que têm ajudado os professores a definir metas e as redes a desenvolverem suas propostas curriculares com base em um repertório comum. Quarto, a otimização do uso dos materiais distribuídos pelo MEC por outros programas, em especial, aqueles que distribuem livros didáticos, livros de literatura e jogos e, igualmente, a possibilidade de os municípios adquirirem outros materiais como jogos, livros, revistas, jornais. Desse modo, por meio do material de referência da formação, são feitas reflexões variadas, apontando para diferentes estratégias de ensino e uso de materiais, incentivando os professores a selecionarem os mais adequados e, também, produzirem seus materiais. Tudo isso amplia a compreensão das políticas públicas pelos professores, bem como as possibilidades de encontro da criança com a cultura escrita, por meio de um material de qualidade. É possível apontar alguns resultados dessa formação? Profª Cancionila: Temos acumulado um manancial importante de fontes documentais que nos informam sobre mudanças nas práticas pedagógicas, já que todo nosso trabalho está sendo registrado por meio de relatórios feitos a cada ação. Tam-

bém temos feito, ao final de cada ano, uma pesquisa de tipo survey, consultando todos os perfis sobre questões relacionadas ao curso e à formação. Essa massa de dados nos permite afirmar que houve avanços na qualidade do ensino ofertado para as crianças das escolas públicas. É comum encontrarmos depoimentos que dizem que a perspectiva do alfabetizar letrando, defendida pelo PNAIC, trouxe alegria e leveza para as salas de aula. O lúdico, as brincadeiras, os jogos foram ressignificados e constituem-se em estratégias de ensino que garantem os direitos de aprendizagem das crianças. Elas aprendem de forma mais significativa e duradoura. Outros aspectos são a profissionalização e a valorização dos professores, que estão se sentindo muito mais seguros para a docência e muito mais respeitados por seus pares. No aspecto da profissionalização, podemos destacar, ainda, o exercício da escrita, do registro de suas ações por meio de relatos de experiência, aspecto que historicamente era quase nulo entre professores da educação básica. Muitos têm sido encorajados a apresentar seus relatos em congressos da área e, ainda, publicar tais relatos, socializando experiências exitosas e dando visibilidade a um trabalho que além de significativo, lhes dá prazer. A articulação entre a teoria trabalhada com a prática pedagógica é reconhecida pelos profissionais, que apontam como desdobramento dessa práxis um avanço individual e uma melhor qualidade no ensino-aprendizagem de suas turmas de alunos. Por fim, os alfabetizadores relatam que têm sido olhados de uma nova maneira por seus colegas e pelos gestores da escola e do município, com mais respeito, admiração e valorização. O que mudou em relação às estratégias pedagógicas? Profª Cancionila: As mudanças que mais se destacam são a leitura deleite, as sequências didáticas, os projetos didáticos e os jogos. A leitura deleite é entendida como aquela feita para a fruição/prazer, para o contato prazeroso com o texto, sem a pressão de resolver tarefas. Feita, preponderantemente, no início das aulas se utiliza, na maior parte das vezes, de textos literários. Nesse âmbito, revela-se a importância dos Acervos Complementares, distribuídos pelo MEC, que passam por avaliação rigorosa de especialistas e, portanto, têm uma alta qualidade literária/textual. A leitura deleite foi incorporada à cultura escolar mato-grossense. Já as sequências didáticas e projetos didáticos são estratégias de ensino que visam trabalhar na perspectiva da interdisciplinaridade. A partir de um tema são realizadas atividades que perpassam várias áreas do conhecimento, de modo articulado e distanciado da tradicional fragmentação dos conhecimentos. Os jogos deixaram de ser coadjuvantes para entreter os alunos e passaram a ocupar importante lugar na aprendizagem efetiva. Tanto na Linguagem como na Matemática, os jogos são propostos em momentos-chave, com claras intenções pedagógicas, sem perder o lado lúdico, tão apreciado pela infância. Todas essas estratégias de ensino, sempre pensadas em relação aos direitos de aprendizagem, têm trazido mais cor e alegria às salas de aula, mais motivação para as crianças participarem das atividades escolares e mais aprendizagem significativa. Quais as perspectivas para o PNAIC EM 2016? Profª Cancionila: O Ministério de Educação tem sinalizado positivamente para a continuidade do Programa, no entanto, não formalizou, ainda, junto aos Coordenadores do PNAIC nas Universidades as propostas para 2016. Considerando que, em 2015, o PNAIC foi o único curso autorizado pelo MEC a ser ministrado, excetuando-se os que já estavam em andamento, entendemos que haverá a continuidade do Programa. Por outro lado, é bom mencionar que uma interrupção na formação continuada neste momento poderia colocar em risco as conquistas obtidas.


NOS MUNICÍPIOS MATO-GROSSENSES

Coordenadores locais do Pacto relatam mudanças no ciclo de alfabetização Em novembro deste ano, o PNAIC reuniu, em Cuiabá, 307 orientadores de estudo participantes do curso do programa, dos quais 225 pertencentes à rede municipal de ensino e 80 vinculados à rede estadual. Esses orientadores são os multiplicadores de conhecimento perante os professores alfabetizadores pertencentes à rede pública de educação dos municípios de Mato Grosso.

Na ocasião, foram trabalhados, ao lado de outros temas ligados à formação dos professores alfabetizadores, 87 textos produzidos pelos coordenadores locais do PNAIC informando as mudanças verificadas, em suas respectivas redes de ensino, que, depois de sistematizadas, contemplaram quatro grandes áreas: gestão municipal e escolar, professor, aluno e comunidade. Confira os resultados:

GESTÃO Aquisição de novos materiais/Recursos didáticos Articulção/Diálogo com os Conselhos Articulação/Diálogo entre os coordenadores pedagógicos Articulação/Diálogo entre os diretores escolares Divulgação das ações Garantia de boa logística para a realização dos encontros locais Garantia de condições para o deslocamento e participação dos cursistas Garantia de condições para participação dos OE nos encontros do pacto Mobilização para motivar gestores Otimização do uso de materiais já existentes nas escolas Reformulação curricular Reformulação do PPP

Foram listados 42 itens relacionados às mudanças observadas na área de gestão municipal e escolar, dos quais 12 (tabela) foram mais mencionados, entre elas, divulgação das ações, diálogo entre os diretores escolares e mobilização para motivar os gestores.

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PROFESSOR Aumento de confiança e autonomia Aumento de remuneração Criação do cantinho da leitura Ensino interdisciplinar Relação/Articulação teoria/Prática Fortalecimento da formação continuada Criação de dispositivos legais Jogos/Ludicidade Melhoria do ambiente de trabalho Sequência didática Refletir sobre a prática Direito de aprendizagem Criação de novos materiais/Recursos didáticos Ampliação do planejamento Realização de leitura deleite/Literatura Compromisso com a alfabetização das crianças Articulação/Diálogo entre os professores Inovações/Mudanças na prática docente

No segmento professor 49 itens alvos de mudanças foram listados pelos coordenadores locais, dos quais 18 (tabela) destacaram-se mais, figurando, entre eles, as inovações na prática docente, o diálogo entre os professores alfabetizadores, o compromisso com a alfabetização das crianças e a realização da leitura deleite.

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ALUNO 3%

10% 15%

52%

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COMUNIDADE

Melhoria da aprendizagem/aprendizagem significativa Interesse pela leitura Interesse/participação nas atividades da escola Interesse pela produção escrita Diminuição dos índices de evasão e repetência

Ampliação do diálogo com a comunidade Participação dos pais nas atividades escolares Atividades conjuntas entre escolas

7%

43%

Oito pontos foram percebidos quanto ao segmento aluno, dos quais cinco sobressaíram, predominando a melhoria da aprendizagem, com 52% das anotações, seguido pelo interesse pela leitura, com 20%, e participação nas atividades da escola, com 15% das menções.

50% Na área comunidade, os coordenadores locais indicaram três frentes de mudança, a partir da implantação do PNAIC, que foram a ampliação do diálogo com a comunidade, a participação dos pais nas atividades escolares e as atividades conjuntas entre escolas.

O QUE SIGNIFICA ESTAR ALFABETIZADO, NA PERSPECTIVA DO PNAIC? Estar alfabetizado significa ser capaz de interagir por meio de textos escritos em diferentes situações. Significa ler e produzir textos para atender a diferentes propósitos. A criança alfabetizada compreende o sistema alfabético de escrita, sendo capaz de ler e escrever, com autonomia, textos de circulação social que tratem de temáticas familiares ao aprendiz. (MEC, 2013)

Vila Bela da Santíssima Trindade

Vale São Domingos

Alto Araguaia

Claudia

Nova Guarita

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RELATOS E EXPERIÊNCIAS

Mensagens de alfabetizadores reforçam necessidade de manutenção do PNAIC Nos encontros reuniões, seminários e cursos relativos ao PNAIC dos quais participam em Cuiabá, ou em suas regiões, os professores alfabetizadores estabelecem uma intensa troca de experiências a partir de relatos e interlocuções. Preocupados com a manutenção das ações do programa, no último encontro de formação, realizado na capital, eles deixaram mensagens enfatizando a necessidade de o programa avançar ainda mais na qualidade da alfabetização, bem como para consolidar a profissionalização dos professores alfabetizadores. Confira:

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PRODUÇÃO ACADÊMICA

Publicações e pesquisas contam a história do PNAIC em Mato Grosso Para contar a história do PNAIC em Mato Grosso, a coordenação do programa vem trabalhando em duas frentes – publicações e pesquisas, iniciativas essas que também contribuem para a divulgação do trabalho. Vários pesquisas e trabalhos completos são publicados em anais de eventos do PNAIC/MT pelo país. Os Seminários de Encerramento das Ações do Pacto, realizados a cada ano, por exemplo, tem seus Anais reproduzidos em CD nos quais constam os relatos de experiências de todos os orientadores de estudo e coordenadores locais. No ano passado, foi lançada a Coleção PNAIC de Mato Grosso: memórias de alfabetização. Trata-se de três volumes, contemplando os três polos trabalhados

em 2013, e os livros têm o selo da Editora da EdUFMT, o que qualifica grandemente as obras. Além disso, há o investimento em pesquisa, a partir do grupo de pesquisa ALFALE liderados pelas professoras Cancionila Janzkovski Cardoso e Sílvia Pilegi que, no momento, tem em andamento nove pesquisas, sendo um estudo das professoras, quatro de mestrado, um de pós-doutorado e três de Conclusão de Curso de Graduação. Cabe ressaltar que os Programas de Pós-Graduação, como por exemplo os da Educação em Rondonópolis e Cuiabá, têm proporcionado o aprofundamento das reflexões sobre o PNAIC, fomentando ainda novas pesquisas para além das ações do projeto.

LIVROS CARDOSO, Cancionila Janzkovski.; RODRIGUES, Sílvia de Fátima Pilegi; FERRARINI, Anabela Rute Kohlmann (Orgs.) Histórias, experiências e reflexões: Pacto pela alfabetização em Mato Grosso (2013). V1 – Polo de Rondonópolis. 1. ed. Cuiabá, Mato Grosso: EdUFMT, 2015, 320 p. CARDOSO, Cancionila Janzkovski.; RODRIGUES, Sílvia de Fátima Pilegi; FERRARINI, Anabela Rute Kohlmann (Orgs.) Histórias, experiências e reflexões: Pacto pela alfabetização em Mato Grosso (2013). V2 – Polo de Cuiabá. 1. ed. Cuiabá, Mato Grosso: EdUFMT, 2015, 250 p. CARDOSO, Cancionila Janzkovski.; RODRIGUES, Sílvia de Fátima Pilegi; FERRARINI, Anabela Rute Kohlmann (Orgs.) Histórias, experiências e reflexões: Pacto pela alfabetização em Mato Grosso (2013). V3– Polo de SINOP. 1. ed. Cuiabá, Mato Grosso: EdUFMT, 2015, 256 p.

DEPOIMENTOS Os gestores foram desafiados a melhorar a organização das escolas para dar conta de desenvolver ações que levam em consideração a garantia do direito à alfabetização de todos os alunos, mobilizaram ações para melhorar a proposta de alfabetização. Ficou evidente, nas falas dos gestores e professores, que ocorreu o comprometimento com as ações do Pacto. As mudanças na prática docente envolveram os profissionais da educação para realizar mudanças na gestão municipal e escolar no que concerne ao planejamento das ações educacionais, proposta curricular, formação de professores, tempo disponível para os alfabetizadores planejarem, avaliação e análise dos resultados obtidos. Aprendemos que Educação se faz em comunhão, é essencial o envolvimento do conselho municipal de educação, gestores, professores, pais e alunos, pois nenhuma caminhada dessa envergadura se faz sozinho. Estudar, aprender e ensinar são pilares do Pacto que dependem de ações coletivas. Coordenadora Local Nelir Heinen, Paranatinga. Acredito que a sustentabilidade de qualquer projeto de formação profissional na área de educação depende da capacidade para qualificar quadros locais, que atuem como intermediários permanentes no processo de formação dos profissionais das redes de ensino. O grande desafio, para fortalecer a qualidade do trabalho educacional, é garantir um ambiente de trabalho estruturado em torno da reflexão sobre a prática pedagógica. O que, por sua vez, requer condições para o exercício da profissão, de forma a viabilizar a constituição de equipes colaborativas: uma cultura profissional nas escolas. A manutenção de práticas de planejamento e avaliação, registros de acompanhamento e monitoramento das aprendizagens depende de uma liderança pedagógica local, constituída por uma equipe que tenha ferramentas necessárias para estimular e fazer avançar o estudo e o intercâmbio entre os professores, de forma a impactar positivamente as condições de aprendizagem dos alunos. Professora Formadora Ana Lúcia Vilela. Iniciei o trabalho de formação, em 2013, bastante insegura, pois nunca havia participado de atividades de orientação. Durante as formações, pude perceber que os professores conquistam suas aprendizagens por meio dos estudos dos cadernos e ao refletir sua própria prática pedagógica. A interação e a troca de experiências entre os alfabetizadores contribuíram para crescimento profissional destes professores. Houve uma transformação tanto em relação à concepção dos conteúdos como das estratégias usadas para alfabetizar. A cada seminário realizado com os Formadores, sentia-me mais preparada e empolgada para realizar os encontros em meu município. O grande desafio, acredito que alcançado, foi fazer com que os professores compreendam a necessidade de trabalhar de acordo com o Pacto, aproveitando o que a criança traz e fazendo da fase de alfabetização um momento inesquecível na vida das crianças. Orientadora de Estudo Eliane Couvo, Nova Bandeirantes. Participar dos seminários ofertados pelo PNAIC, como Orientador de Estudo, em 2014, enriqueceu e ampliou meus conhecimentos, o que possibilitou maior contribuição no decorrer dos cursos de formação junto aos Alfabetizadores. Os conceitos construídos no decorrer das formações contribuíram para a melhoria da minha prática pedagógica, condição que enriqueceu os encontros. Consequentemente, as alfabetizadoras também inovaram sua atuação em sala e a qualidade da educação ofertada aos alfabetizandos melhorou. Dou “Viva!” a todos os defensores da educação brasileira que militam por uma educação de qualidade! É a partir da oferta desta educação, que os direitos de aprendizagem poderão ser assegurados a todas as crianças brasileiras e mato-grossenses. Orientador de Estudo Nelson Manoel da Silva, Sapezal. Enquanto professora cursista da formação continuada do PNAIC, percebi, ao longo do curso, que é possível elaborar atividades significativas aos alunos, visto que o aprendizado se tornou mais prazeroso e pude ter um suporte muito rico. Quero salientar, ainda, que o PNAIC contribui bastante com a questão do registro daquilo que realizamos em sala e que ninguém via. Hoje a comunidade escolar sabe e acompanha tudo que realizamos em sala de aula através de imagens, palestras e outros. Professora Alfabetizadora Hortência Medeiros, Nova Maringá.

O PNAIC veio para nos ajudar a focar na aprendizagem dos alunos de forma objetiva e divertida, com novas estratégias, necessárias para ensinarmos e aprimorarmos a leitura e a escrita dos nossos alunos, através, por exemplo, dos estudos de grupos, nos quais trocamos ideias. Isso permitiu caminharmos com segurança, apresentando passo a passo uma sequência, enriquecendo nosso material de uso diário, realizando nosso trabalho com sucesso. Professora Alfabetizadora Evanilce Silva, Tapurah.

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AGENDA DE TRABALHO

Pessoal qualificado e comprometido com a educação regional Uma equipe enxuta e eficiente coordena as ações do Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa desde 2013, quando o programa teve início no estado. As professoras Cancionila Janzkovski Cardoso, Silvia de Fátima Pilegi Rodrigues e Cecília Fukiko Kamei Kimura estão à frente dos trabalhos, contando com apoio das atuais supervisoras Anabel Beatriz de Col, Anabela Rute Kohlmann Ferrarini e Josimar Miranda Ferreira, dos apoios técnicos administrativos, dos orientadores de estudos e dos professores alfabetizadores espalhados entre os 141 municípios.

EQUIPE 2013

EQUIPE 2014

EQUIPE 2015 GIRO PELOS MUNICÍPIOS

8

Jaciara

Porto Alegre do Norte

Sinop

Guarantã do Norte

Santa Carmen

Sorriso

Alto Araguaia

Pedra Preta

Novo Mundo


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