REVISTA ORIENTE OCIDENTE - N.31, II SÉRIE, 2014

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O Papel do Ensino da Língua Portuguesa na China

chineses sobre os países de língua portuguesa e as relações sino-lusófonas, para além do esforço da parte das próprias instituições de ensino superior chinesas e dos professores chineses da LP, também se espera que os países de língua portuguesa possam oferecer os seguintes dois tipos de apoios: ajuda à criação dos cursos de mestrado e oferta de bolsas de estudo aos mestrandos chineses. Como foi referido acima, a formação de novas gerações de investigadores trata-se de um trabalho pertencente ao ensino de pós-graduação. Porém, actualmente a maioria das universidades chinesas com ensino da LP não possui condições para oferecer programas de pós-graduação, devido essencialmente ao facto de que o corpo docente é, de forma geral, muito jovem e que, a nível académico, não está devidamente preparado para isso. Assim, caso se pretenda criar um curso de mestrado em estudos sobre os países lusófonos, vai-se precisar inevitavelmente da ajuda da parte destes últimos, enviando professores especializados nas respectivas áreas para ajudar à criação dos cursos e assegurar as disciplinas respeitantes. Além disso, é na China uma prática muito comum o aluno de um curso de mestrado em línguas estrangeiras ou em estudos estrangeiros ir

estudar um ano no estrangeiro durante o curso, de forma a, por um lado, melhorar o seu nível da língua e, por outro lado, estudar com professores estrangeiros e fazer as respectivas pesquisas para a elaboração da dissertação. No entanto, se é relativamente fácil para um aluno licenciado na China ganhar uma bolsa de estudo para ir fazer mestrado fora, é até ao momento praticamente impossível para os mestrandos chineses que vão estudar um ano em Portugal ou no Brasil obter uma bolsa de estudo sanduíche. Assim, são eles próprios, ou melhor dizer, as famílias deles que têm que assumir todas as despesas acontecidas com o estudo no exterior. Sabe-se que actualmente nem todas as famílias chinesas têm a capacidade financeira para suportar esses custos, que se tornam, por isso, inibitivos para muitos que se interessam pelos cursos. Razão pela qual, espera-se que da parte dos países lusófonos se possa criar bolsas de estudo sanduíche, governamentais ou empresariais, especialmente dirigidos aos mestrandos chineses da área de estudos sobre os países de língua portuguesa e as relações sino-lusófonas. E, no caso das bolsas de estudo oferecidas pelas empresas, se necessário, os mestrandos chineses, quando vão estudar no país origem da empresa, podem prestar alguns serviços na empresa, como retribuição.

Conclusão As relações entre a China e os países lusófonos estão a intensificar-se de forma constante ao passo que o ensino da LP na China também está a aumentar continuamente. Entretanto, a intensificação dessas relações, se pretender evoluir de forma consolidada e saudável, exige um melhor conhecimento e uma melhor compreensão entre a China e os países de língua portuguesa; ao mesmo tempo, o ensino da LP na China também não pode ficar a marcar passo, limitando-se à formação das básicas habilidades linguísticas e de tradução aos alunos de português, mas deve contribuir de forma mais activa para esse melhor conhecimento e compreensão mútua. Para isso, os que trabalham na área do ensino da LP na China e as instituições de ensino superior chinesas envolvidas neste trabalho têm obviamente a obrigação de fazer o seu próprio esforço, mas, enquanto isto, os países de língua portuguesa, particularmente Portugal e o Brasil, os dois países mais bem dotados dos respectivos recursos, também têm a sua contribuição para fazer. A nossa expectativa é que, daqui a alguns anos, o ensino da LP na China seja capaz de atingir um novo patamar para se igualar ao das outras línguas estrangeiras mais bem implementadas no País.

Referências: 1. Centro de Estudos dos Países de Língua Portuguesa (CEPLP) do Instituto de Estudos Regionais da Universidade de Economia e Negócios Internacionais (UIBE). Relatório dos Dez Anos do Fórum para a Cooperação Económico e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) (2003 a 2013), Beijing, China Commerce anda Trade Press, 2013 2. Crevo, Amado Luiz. Apresentação, in Becard, Danielly Silva Ramos. O Brasil e a República Popular da China – Política Externa Comparada e Relações Bilaterais (1974-2004), Brasília: FUNANG, 2008 3. Sítio oficial da Secção Cultural da Embaixada de Portugal na China http://www.embaixadadeportugalempequim.com/sections/cul_sec.php?lng=cn&aId=0#foot 4. Sítios oficiais das instituições de ensino superior chinesas com curso de Licenciatura de Língua Portuguesa

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