REVISTA ORIENTE OCIDENTE - IIM MACAU - N. 37 2020

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salvaguardar o bem-estar dos cidadãos”. Nesse sentido, agiu-se de imediato face a actos que as autoridades percepcionaram como ameaça. Houve quem visse nesse modo de agir uma “reacção exagerada”, contrária ao que estabelece a Lei Básica quanto a direitos, liberdades e garantias. No entanto, para os novos responsáveis, Macau deve iniciar a nova década numa linha de continuidade de manutenção da estabilidade social no território. Esta era também a garantia que davam ao Governo central. As sequelas em Hong Kong são profundas e, possivelmente, irreparáveis. Os protestos continuados devoraram os seus jovens, como escreveu Yonden Lhatoo, colunista do South China Morning Post. “É o fim da inocência da nossa juventude”, ressaltou, acrescentando: “O que observamos é uma geração com o coração cheio de ódio, mente radicalizada e sangue nas mãos.“ Segundo foi revelado pelo Governo de Hong Kong, um terço dos manifestantes detidos em Junho de 2019 tinha menos de 18 anos. Na altura, estes dados foram considerados “chocantes” pelo porta-voz do Governo que pediu aos pais e professores que apelassem aos jovens “para que não participassem em nenhum acto ilegal ou violento”. Contudo, o apelo não foi seguido. Em declarações no início de Dezembro, o novo chefe da Polícia de Hong Kong, Chris Tang, dava a conhecer que, no total do número de manifestantes detidos desde Setembro do mesmo ano, 43% eram estudantes, comparado com os 25% entre Junho e Agosto. A par disso, acentuou-se, e de que maneira, a animosidade dos “Hongkongers” para com os “Mainlanders” que se fixaram em Hong Kong. Ela já era latente com o crescente fluxo, após 1997, de cidadãos chineses continentais, a quem res-

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O Presidente Xi Jinping cumprimenta os membros empossados do Governo de Macau e do Conselho Executivo. Foto: Gabinete de Comunicação Social de Macau.

ponsabilizam pelo aumento do custo de vida, nomeadamente dos preços da habitação, que se tornaram proibitivos. Na crise gerada pela proposta de lei da extradição, o sentimento anti-China manifestou-se especialmente nas acções contra cidadãos que se exprimiam em mandarim, por suspeita da sua ligação à Mãe-Pátria. Também nos actos violentos ocorridos foram atacadas lojas de chineses supostamente originários da China Continental. A explicação para estas situações de confronto continuava a ser encontrada no insolúvel problema de identidade nacional de grande parte da população de Hong Kong desde longa data. Resultado eleitoral histórico O fim da crise tem sido o mais difícil de conseguir. E uma crise mal resolvida deixa sempre feridas. Na véspera de Carrie Lam fazer o discurso anual no Conselho Legislativo, em Outubro de 2019, o diário South China Morning Post alertou em editorial que, “sem uma solução política, é difícil ver como e quando as perturbações que afectam Hong Kong

chegarão ao fim”. Boicotada pelos deputados pró-democracia, Carrie Lam viu-se forçada a abandonar o hemiciclo. Dirigiu-se depois àquele órgão por intermédio de um vídeo. Ignorando as reivindicações da rua, procurou impressionar a população prometendo a construção de 10 mil habitações sociais em três anos com o apoio de um novo fundo de 5 mil milhões dólares de Hong Kong. Ceder às exigências dos manifestantes seria impensável para ela quando se sabe que Pequim não abdica do controlo do território à sua maneira. Tudo o que então disse Carrie Lam desapareceu rapidamente na voragem das manifestações que se mantiveram ainda mais violentas. Pensando que contribuía para uma qualquer solução da crise, assim não sucedeu. Optou por se apagar, assim como o Governo do território, deixando que as forças de segurança, com uma intervenção plenamente musculada, tomassem conta da situação. Ao chegar-se a este ponto, Pequim fez saber que não podia haver lugar a qualquer compromisso com os contestatários, como avisou em 18 de Novembro o Diário do Povo .


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