A arte efémera e a conservação: o paradigma da arte contemporânea e dos bens etnográficos

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Conservation of contemporary art and ethnographic objects: starting to cross paths of investigation O objectivo do Encontro Arte Efémera: o paradigma da Arte Contemporânea e dos Bens Etnográficos foi o de colocar em diálogo duas áreas aparentemente tão diferentes, mas na verdade com diversos aspectos em comum. Tendo em conta que em última análise tudo é efémero, não procurámos avaliar o peso ou a definição da expressão efémero. Partiu-se sim do conceito operatório de que o efémero é aquilo que os autores criaram para uma determinada função ou uso, ou para intencionalmente morrer. Para além da questão da efemeridade dos materiais constituintes dos bens etnográficos ou da arte contemporânea, as questões comuns passam por outros problemas, mas também por dúvidas, metodologias e soluções adoptadas. É consensual que a preservação passa inevitavelmente pelo questionamento do papel institucional. Em primeiro lugar é necessário perceber se o museu poderá disponibilizar as ferramentas, o conhecimento, os recursos humanos e financeiros indispensáveis à conservação de obras tão complexas como aquelas que foram trabalhadas no âmbito de alguns casos de estudo apresentados. Em seguida emergem recorrentemente, tanto na arte contemporânea como nos bens etnográficos, temas como o que preservar, como documentar obras ou rituais, mantendo a riqueza e o vigor dos acontecimentos. As palavras de Joaquim Pais de Brito traduzem bem a dúvida: «Das obras elaboradas com matérias vegetais viçosas, o que fazer com elas para lhes manter a estabilidade estrutural, a densidade, a cor, a frescura que evoca os registos de diálogo e celebração cultural da natureza? E as elaborações gastronómicas, intenso e exaltante efémero que religa os indivíduos e constitui os grupos, como trazê-las para o museu?». Ou seja, como transferir conhecimento tão complexo e rico como aquele que existe nas comunidades investigadas pelos antropólogos, envolvendo teias multidireccionais e entrecruzadas de acções e

The purpose of the Conference Ephemeral Art: the paradigm of Contemporary Art and Ethnographic Objects was to place two apparently different subject matters, but with several aspects in common, head to head. Bearing in mind that ultimately everything is ephemeral, we did not wish to determine the significance or define the term ephemeral. We did rather base on the operative concept that that which is ephemeral is what artists have created for a certain function or use, or to purposefully die. Along with the question of ephemeral materials that belong to ethnographic objects or contemporary art, other common questions are related to pro­ blems, and also doubts, methodologies and adopted solutions.

RITA MACEDO IHA, FCT-UNL ritamacedo@fct.unl.pt

The paradigm of contemporary art and ethnographic objects

Conservação de arte contemporânea e bens etnográficos: começar a cruzar vias de investigação

It is agreed that the preservation implies that we question the role of institutions. Firstly, it is necessary that we confirm whether the museum can supply the tools, knowledge, human and financial resources that the conservation of works so complex like the study cases presented here require. Then questions that often arise both in contemporary art and ethnographic objects, such as how to preserve and document works of art or rituals, maintaining the richness and vigour of the events. Joaquim Pais de Brito’s words explain this quite well: “What to do with works made from vegetable materials so that they maintain their structural stability, density, colour, freshness that evoke registers of dialogue and the cultural celebration of nature? And the gastronomic creations, intense and exalting, ephemeral that reconnect individuals and build groups, how do we bring them to the museum?” In other words, how do we transfer knowledge that is so complex and rich like those from the communities studied by anthroplogists, involving multidirectional webs and intercrossed actions and objects, that are separate from the places and communities they were thought to be part of? The parallel between ethnographic objects and contem7


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