Patrimonio em textos

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MATIAS CARDOSO, O BANDEIRANTE ESQUECIDO

Acha-se a Capitania do Rio Grande tão opprimida dos Barbaros (que nella mataram o anno passado mais de cem pessoas entre brancos e escravos, destruindo mais de 30.000 cabeças de gado; e neste, 30 homens além de muitos feridos, ao Coronel Antonio de Albuquerque da Camara na entrada que lhe fez com trezentos, pelejando todo dia com mais três mil arcos; por cujos temor estão os mo(a)dores quase abalados a despejar a capitania), que correm ao serviço de Sua Majestade se lhe acuda por todos os meios possíveis. Para esse effeito fiz conselho, e se assentou nelle, que se declarem por captivos todos os bárbaros prisioneiros, por ser justíssima a guerra na forma da provisão de sua Majestade [...] (DOCUMENTOS HISTÓRICOS, 1929, v. 11, p. 139-140).

A gravidade da situação das capitanias do Rio Grande e do Ceará em função dos ataques indígenas justificou até mesmo o desvio para essa guerra, dos paulistas de Domingos Jorge Velho, convocados para lutar contra o quilombo dos Palmares. Matias Cardoso se resolvesse lutar nesta guerra, teria total independência de ação, à semelhança de outros chefes da Campanha: Manuel de Abreu, Coronel Antônio de Albuquerque, Domingos Jorge Velho e André Pinto. Quando da morte do Governador Geral, Mathias da Cunha, em 24 de outubro de 1688 e de sua substituição pelo Arcebispo D. Fr. Manuel da Ressurreição, Matias Cardoso ainda se encontrava no rio São Francisco. O novo Governador, por meio de várias cartas enviadas a São Paulo, retomou as negociações para o envio de forças paulistas. Em 9 de dezembro de 1688, escreveu à Matias Cardoso: Procurando por Vossa Mercê para lhe encarregar (como o Sr. Mathias da Cunha, Governador e Capitão Geral que foi deste Estado, em cujo o logar succedi, determinava) o soccorro que com a sua gente havia de fazer à guerra dos bárbaros do Rio Grande; suppondo estar Vossa Mercê no Rio São Francisco; me disse o Mestre de Campo Antônio Guedes de Britto, que já as ordens que eu mandasse a Vossa Mercê o não haviam de achar na povoação do dito Rio, por ter noticia que era Vossa Mercê partido para essa Capitania a buscar mais farinhas para a dita povoação. A informação que o dito Mestre de Campo e o Provedor-mor Francisco Lamberto me deram do valor, e procedimento de Vossa Mercê me obriga a buscal-o, donde entendo que pode ter melhor effeito o fim para o que o procurava no Rio São Francisco: porque como me resolvi a escrever ao Capitão-mor dessa Capitania e à Camara da Villa de São Paulo, persuadissem os sujeitos de maior importância que costumam penetrar os sertões para cativar índios, queiram vir a conquistal-os naquela Campanha, em cuja guerra se tem declarado por escravos e fazer da mesma conveniência merecimento para as honras, e mercês que devem esperar Del –Rei meu Sr. Em um serviço tão relevante, [...] é certo que se Vossa Mercê se

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