GUIA DOS BENS TOMBADOS IEPHA/MG – Volume 02

Page 195

CONJUNTO ARQUITETÔNICO, PAISAGÍSTICO E O ESPAÇO CULTURAL DA USINA DE MARMELOS ZERO

GUIA DE BENS TOMBADOS IEPHA/MG

de transporte de cargas e pessoas mediante a implantação de linhas férreas com estações ferroviárias, as quais facilitaram o comércio e o contato com a sociedade europeia. Nesse processo, tais verbas também foram investidas na criação de bancos e indústrias. As indústrias surgiram nas regiões com alta concentração de população e poder aquisitivo, com condições de mercado e de transporte, como as cidades de “Juiz de Fora, São Paulo e Rio de Janeiro”.1 Nesse contexto, a cidade de Juiz de Fora participou de modo significativo do início do processo industrial desenvolvido no Brasil. Atribui-se ao ano de 1889 o começo, quando após vários empecilhos enfrentados – tanto por parte do maquinário importado quanto por parte do medo da população diante das novidades –, o industrial Bernardo Mascarenhas conseguiu por meio da Usina de Marmelos iluminar a cidade com luz elétrica no dia cinco de setembro. A Marmelos Zero foi utilizada para iluminação privada e pública e, assim, converteu-se na fonte de energia local. Considerada entre as pioneiras usinas hidrelétricas da América Latina, proporcionou o crescimento urbano e econômico ao favorecer a implantação de fábricas e indústrias na cidade, em função da proximidade com uma força geradora, além da facilidade para o escoamento da produção. De “Princesinha de Minas” a “Manchester Mineira” A Marmelos Zero funcionou até 1896 com dois geradores monofásicos de cento e vinte e cinco quilowatts (125kw) cada um, e com tensão de mil volts (1000 volts) e frequência de sessenta hertz (60 hertz), sendo que as usinas implantadas posteriormente (Marmelos I, II e III) continuaram a ser utilizadas em Juiz de Fora até a estatização da energia, em 1979. A partir dessa data, a Companhia Mineira de Eletricidade, também criada por Mascarenhas, foi assumida pela Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG). No mesmo ano, ocorreu o anúncio de falência da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas, tornada o emblema da “Era Industrial” vivida por Juiz de Fora, então a cidade mais industrializada de Minas Gerais. Conforme Relatório da Inspetoria da Indústria de 1905, “em proporção à população, a mais industrial do Brasil” até as primeiras décadas do século XX, a ponto de ser designada por Rui Barbosa como a “Manchester Mineira”, em alusão à célebre cidade industrial inglesa.

Foi dessa maneira que a localidade viveu seu terceiro grande momento de reconfiguração econômica e urbanística. De fato, a cidade de Juiz de Fora – nascida como o povoado do Morro da Boiada junto ao Caminho Novo da Estrada Real, por volta de 1700, ao longo de um traçado à margem esquerda do rio Paraibuna – até então, havia sido caracterizada pela cultura agropecuária praticada nas diversas fazendas ali surgidas, junto a armazéns, vendas, hospedarias e a Alcaidemoria. O Caminho Novo da Estrada Real foi o trajeto oficial para o escoamento da produção aurífera do século XVIII. De traçado posterior ao do Caminho Velho, este segundo caminho ligou Minas Gerais ao Estado do Rio de Janeiro; passava pelas vilas de Diamantina, Ouro Preto, Barbacena e Juiz de Fora, entre outras. Esse caminho obteve grande importância no desenvolvimento socioeconômico e político de Minas, consequentemente do Brasil Colônia. Fig. 3 – Usina de Marmelos Zero, inserida na margem do rio Paraibuna.

Contudo, já na segunda metade do século XIX, com a criação da Estrada do Paraibuna – por meio de um desvio do Caminho Novo, determinado pelo governo provincial de Minas e promovido pelo engenheiro alemão Henrique Guilherme Fernando Halfeld – o povoado, já conhecido como vila de Santo Antônio do Paraibuna, teve seu desenvolvimento urbano direcionado para a margem direita do mesmo rio ao acompanhar a estrada. Nesse novo núcleo, local conhecido como a colina do “Alto dos Passos”, foram projetadas ruas e, em um dos trechos da Estrada, desenvolveu-se a rua Direita (atual Avenida Barão do Rio Branco), entre arquiteturas de padrão ainda colonial logo sucedidas por numerosos chalés, entre outras edificações ecléticas. 1

REIS FILHO, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 2000.

175


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.