Luz,Camera,Ação
Sergei Eisenstein
A arte como referência para o lighting design por Ana Cláudia Ulhôa
Soldados aparecem marchando escada abaixo. Em uma tomada mais aberta é possível ver todos enfileirados com suas armas prontas para atirar. De baixo de um sol forte, as sombras dos oficiais são refletidas nitidamente no chão. Após alguns disparos, há um corte para uma imagem na qual populares descem correndo, desesperadamente, os degraus que levam ao porto. Mais uma vez, os soldados aparecem. Porém, nesse momento, vemos apenas suas pernas e sombras em cima dos corpos das pessoas atingidas. Esse é um trecho de uma das cenas mais clássicas do cinema, a da escadaria de Odessa, do filme Encouraçado Potemkin, dirigido por Sergei Eisenstein. Nela, o espectador pode perceber como o jogo de luz e sombra é capaz de ressaltar uma emoção ou uma intenção do diretor. A projeção da sombra dos soldados cobrindo os corpos no chão, por exemplo, reforça a ideia de opressão do exército czarista sobre o povo. O uso desse tipo de recurso é uma das características que tornou Eisenstein um diretor consagrado na história do cinema mundial. Outros nomes também utilizaram o claro e escuro com maestria em seus filmes. Como é o caso dos expoentes do expressionismo alemão, Friedrich Wilhelm Murnau e Robert Wiene, que dirigiram os longas Nosferatu e O gabinete do Dr. Caligari, respectivamente. Mas não é só o cinema que utiliza a luz para causar diferentes sensações em seu público. Diversos tipos de arte lançam mão desse artifício e acabam servindo de referência para os profissionais da área do lighting design. David Bosboom, designer de iluminação com passagens pela Brodway, Ballet Bolshoi e Disney, diz que “se você quiser ser um bom profissional, veja tudo: exposições, cinema, teatro, dança. Eles podem ser uma fonte de inspiração para você”.
Serguei Eisenstein, diretor do filme O Encouraçado Potemkin de 1925. Foto: Divulgação
Desde que se mudou para o Brasil, em 2007, para ficar mais próximo da esposa brasileira e do filho, o nova-iorquino começou a dar aulas e palestras sobre design. Como material de suporte ele optou por slides de grandes mestres da pintura. “Para passar a técnica eu deveria ter um laboratório, mas é uma coisa que envolve custos, precisa ter produção e não é comum no Brasil. Então, resolvi usar essas imagens para mostrar aos meus alunos o que quero dizer”. 45