Democracia Viva 24

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Cândido Grzybowski Sociólogo, diretor do Ibase

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Ibase, por meio de sua revista Democracia Viva, procura sempre

pautar, para o debate público, os temas e as questões que, nas diferentes conjunturas, indicam as possibilidades e os limites para a cidadania ativa avançar na radicalização da democracia. Nesta edição, estamos trazendo, em primeiro lugar, um olhar atento sobre a insurgência indígena na América do Sul e seu significado para nós, brasileiros e brasileiras. Ao nosso lado, vive um povo quase desconhecido pela maioria de nós. A Bolívia tem um povo diverso e aguerrido, com mais de 60% da população composta por indígenas. Vale ressaltar que capitais brasileiros invadem suas terras e se apropriam delas para plantar soja e obter gás para suas indústrias. Os povos indígenas bolivianos estão no centro de uma cidadania que praticamente impõe uma revolução permanente à democracia no país. Mas vale a pena comparar o que se passa com o Equador, outro país de marcante presença indígena em sua composição, história e identidade. A emblemática Nina Pacari, forjada nas lutas pela causa de seu povo, líder do Movimento Pachakuti, conta-nos sua história e nos dá uma visão da atualidade política no seu país e em toda a região, tendo os povos indígenas no centro. Para completar, há um artigo e uma entrevista sobre os(as) tapebas, povo indígena esquecido no interior do Ceará. O processo das eleições municipais no Brasil, neste ano, acentuou um lado publicitário de venda de candidatos(as) mais do que um confronto de idéias e propostas. Essa forma de construção do poder democrático traz, em si mesmo, o germe de profunda crise política, com riscos para a própria democracia. É inadiável pautar o tema da mídia e de seu uso nas campanhas políticas como parte de um amplo debate sobre partidos e institucionalidade política da nossa democracia. Tal debate é fundamental para uma refundação democrática do Estado. Afinal, precisamos sair da armadilha de uma Lei de Responsabilidade Fiscal que se sobrepõe a tudo, menos ao Banco Central e sua irresponsável política macroeconômica, que só preserva os interesses de especuladores em relação à dívida pública. Uma Lei de Responsabilidade Social parece o contrapeso fundamental para recolocar a “coisa pública” (república), materializada no Estado, no seu devido lugar para a construção de uma democracia substantiva no Brasil. Mas como desmercantilizar a política partidária e eleitoral para desmercantilizar o Estado? A revista não pára aí. Mais uma vez, traz ao debate aquilo que, no Brasil, teimamos em deixar escondido: o racismo cotidianamente impregnado em nossas relações. Uma ampla coalizão de movimentos negros e organizações de cidadania ativa do Brasil, entre elas o Ibase, lançará uma campanha contra o racismo. Aproveitamos a ocasião para apresentar a campanha e mostrar que não dá para continuar dando as costas ao racismo, uma das mais perversas formas de exclusão social e desigualdade entre nós. O Fórum Social Mundial (FSM) se aproxima. Novamente em Porto Alegre, de 26 a 31 de janeiro, vai se reunir o multifacetado movimento da cidadania de dimensões planetárias. Mas quem somos exatamente? O Ibase, em nome da Secretaria Internacional, realizou uma pesquisa sobre o público participante do FSM 2004, realizado em janeiro, em Mumbai, Índia. São dados importantes para pensarmos sobre as possibilidades e os limites que temos para construir um outro mundo.


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