A cidade como um canteiro de negócios.

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Esses projetos, contudo, são os mesmos em qualquer cidade, mudando-se apenas os tipos de revestimento e os apliques empregados. Aqui, o “estilo” do conjunto faz referência aos imóveis que hoje compõem o patrimônio arquitetônico e urbano das cidades francesas, próprios à Idade Média, com casas justapostas, pátios semi-públicos, arcadas internas, janelas forçadamente colocadas desalinhadas, para criar aspecto de tosco. O edifício vertical, para não se descontextualizar da ambiência medieval, foi construído como um castelo, tornando-se elemento de coroamento da esplanada gramada. Mas a evidente modernidade das técnicas empregadas tornam a paisagem urbana forçada, como um setor de um parque de diversões. Do ponto de vista psicosociológico, o indivíduo é então convidado a um outro tipo de espaço, um sonho. A paisagem urbana sendo projetada dessa forma faz o visitante sair da realidade exterior para viver em um sonho, um mundo perfeito, onde a ilusão e a fantasia são as regras. Sharon Zukin, estudando exclusivamente os parques temáticos da Disney, e citando Goldberger, afirma: “o Disney World funciona porque abstrai os elementos técnicos e arquitetônicos do lugar e as emoções que os lugares evocam. ‘Quanto mais abertamente falsas são as construções, mais confortáveis nos sentimos com elas” (Goldberger, 1992)’ ” 105. A expansão do mercado imobiliário sobre essa pequena cidade parece garantida com os planos da Eurodisney de construir um novo parque temático nos limites municipais de Bailly-Romaivilliers. Os Villages Nature serão um parque de diversões diferenciado, voltado para a prática do ecoturismo. Aproveitando-se da existência de um bosque natural e da renovação da concessão de uso territorial assinada entre a Eurodisney e o Estado francês, passando de 2017 para 2030, o parque terá 22,3km2, ou seja, área quase quatro vezes superior à área total do município. Segundo o jornal eletrônico Le Quotidien, o parque será composto de “uma cidade lacustre e uma vila florestal, assim como devem ser construídas 7.000 moradias (das quais 1.700 numa primeira fase). (...) Cerca de 10.000 apartamentos adicionais poderão ser construídos. A Eurodisney estima que o projeto gere 70.000 empregos diretos, indiretos e induzidos” 106. Logo, a Eurodisney estende seus negócios ao imobiliário, visto que pretende custear a construção dessas unidades residenciais nos municípios limítrofes 105 S. Zukin, Aprendendo com a Disney World, p. 13. A autora cita GOLDBERGER, Paul. A curious mix of Versailles and Mickey Mouse. New York Times, 21 jun. 1992. 106 Cf. France: Euro Disney prolonge sa convention avec l’Etat, vise 8 mds d’investissements, Le Quotidien, 14 de setembro de 2010.

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