DESIGN MATRÍZTICO

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292 em nós uma dinâmica emocional do que fazemos no momento de fazê-lo, e a colocamos nas suas supostas conseqüências. Por isso, não são os movimentos ou operações realizadas, mas antes a atenção (orientação interna) sob a qual é vivida, enquanto se realiza, o que constitui uma conduta particular como jogo ou como não jogo. É por essa razão, ainda sem nos darmos conta disso, que normalmente classificamos a conduta animal como jogo ou como não jogo, segundo a intencionalidade ou propósito que nós vemos nela. […] Somente nós, os seres humanos, assim como outros que, como nós, vivem na linguagem podemos viver condutas que não pertencem ao jogo. VERDEN-ZÖLLER (2003:135-136). Joga-se quando se atende ao que se faz no momento de fazê-lo, e isto é o que agora nos nega a cultura ocidental chamando-nos continuamente a pôr nossa atenção nas conseqüências do que fazemos. Assim, ao dizer: “devemos nos preparar para o futuro”, significa que devemos pôr a atenção fora do aqui e agora; ao dizer “devemos dar uma boa impressão”, quer dizer que devemos atender ao que não somos, mas desejamos ser. Ao operar desta maneira criamos uma fonte de dificuldades na nossa relação com os outros e conosco mesmo devido a que os seres humanos estamos onde está a nossa atenção, e não onde estão os nossos corpos. Jogar é atender ao presente. Uma criança que brinca está envolvida no que faz enquanto o faz; uma criança que brinca de ser médico é médico; uma criança que brinca de andar a cavalo com um pau, cavalga um cavalo. O jogar não tem nada a ver com o futuro, jogar não é uma preparação para nada, jogar é fazer o que se faz em sua total aceitação, sem considerações que neguem a sua legitimidade. Os adultos normalmente não jogam, e frequentemente não jogamos quando afirmamos que brincamos com nossos filhos. Para aprender a jogar devemos entrar em uma situação na qual não podemos senão atender ao presente. VERDEN-ZÖLLER & MATURANA (2003:219-220). Conversações auto-referentes são centradas nas dimensões que estruturam um ser vivo em si mesmo, sua auto-imagem e estética, seus valores e conceitos, suas condutas possíveis. São conversações de auto-observar, auto-perceber, auto-confiar, auto-transformar e auto-avaliar. Elas podem se dar ou não de forma lúdica. Uma conversação não lúdica é uma dinâmica conversacional que visa atender no emocionar as conseqüências e não o fazer propriamente dito, vale dizer visa atender necessidades exógenas. Uma conversação lúdica, ao contrário, é uma dinâmica que é vivida “atendendo no nosso emocionar o fazer, e não a suas conseqüências” (VerdenZöller, 2003:135). Estamos em um jogo quando o fazemos pelo prazer de fazer, quando nos ocupamos, ao invés de nos pré-ocuparmos. Simplesmente fluímos na sua dinâmica. Podemos ter conversações lúdicas ou não. Se tivermos conversações não lúdicas, “criamos uma fonte de dificuldades na relação com os outros e conosco mesmo devido a que os seres humanos estamos onde está a nossa atenção, e não onde estão os nossos


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