Dissertação de Mestrado | Letras do cotidiano: a tipografia vernacular na cidade de Belo Horizonte

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Agora tá meio devagar, porque tem esse negócio que o cara não pode pintar de frente de loja. Tem que ter o tamanho padrão. Antes se o cara tinha um muro de doze metros ele podia colocar uma propaganda grande. Hoje ele tem que colocar uma pequena propaganda. Aí, desse lado, tá meio devagar. (informação verbal).

As letras pintadas por Karany marcam forte presença na região Noroeste de Belo Horizonte, onde reside e se tornou muito conhecido por ser visto frequentemente pintando muros e faixadas nas ruas. Entretanto, sua atuação não se restringe a essa região, e seu trabalho pode ser percebido em diversos pontos da cidade, principalmente onde há grande tráfego de pedestres ou de veículos. Karany geralmente escolhe o local a ser pintado antes de vender o direito de uso e a pintura em si a algum cliente. Ele utiliza muros de viadutos, de imóveis abandonados ou negocia diretamente com proprietários de imóveis o direito de usá-­‐los. A prática de apropriação de muros de áreas públicas como suporte para publicidade foi se tornando mais comum por conta da crescente fiscalização da prefeitura que controla a propaganda em fachadas de lojas. Ou seja, em propriedades privadas, a fiscalização é maior. Segundo ele, anteriormente confeccionavam-­‐se grandes fachadas, mas, atualmente, os proprietários estão sujeitos a multas, se descumprirem o que estipula o código de posturas do município de Belo Horizonte, que além de outras coisas, determina o tamanho máximo dos letreiros presentes nas fachadas dos estabelecimentos comerciais. Entretanto, a aplicação em murais de áreas públicas, como, por exemplo, em muros de contenção de viadutos, ainda não está sendo fiscalizada, o que colabora para a proliferação desse tipo de manifestação. Como observamos, Karany mapeia pontos da cidade que possibilitem a confecção de murais. Os murais são escolhidos privilegiando a visibilidade e a grande circulação de veículos. A área escolhida é dividida e vendida por partes, e cada área tem o seu preço de acordo com o tamanho, formato e visibilidade. Assim, nota-­‐se na figura 30, que o mural registrado aqui possui diversas áreas que foram dividas em tamanhos distintos, se assemelhando às áreas de anúncios em páginas de jornal e de revistas. No mural fotografado, o formato mais comum disponível para anunciantes possui aproximadamente dois metros de altura por dois de largura e custa em média duzentos e cinquenta reais. A pintura é feita utilizando todos os materiais disponibilizados pelo próprio pintor-­‐letrista. Os gastos com os materiais são embutidos no valor final do anúncio.


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