Revista LEETRA Indígena Vol. 4

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o espírito da criação que os Xavante buscam preservar desde tempos imemoriais. As mudanças a que foram submetidos com o contato, não conseguiram acabar com este espírito. Porém, “os espíritos que não vemos” avisam, por meio dos sonhos, aos A’uwẽ Uptabi que é necessário um cuidado maior, um carinho, uma persistência em continuar se perguntando qual é a essência do povo. É fundamental praticar as cerimônias a cada geração. É importante levar a criança a iniciar os caminhos da vida que são determinadas pelas classes de idade a que pertencem. Citamo-las por ordem: Ai’uté (Recém-nascido), Watebrémi (Criança – início do caminho), Ai’repudu (Pré-adolescente), Wapté (Adolescente), Ritéi’wá (Jovem), Danhohui’wa (Padrinho), Iprédu (Adulto), Ĩhire (Velho). Neste sistema educacional as principais fases são três: Wapté, Ritéi’wá e Danhohui’wá. Este último é o padrinho dos Wapté e a principal tarefa é a de ensinar primeiro os Airepudu e depois os Wapté. Há sempre um Rito de Passagem de uma classe para outra. A cultura Xavante é sempre vivida em grupo. E, por isto a criança vai se educando com a própria vida. E, por isto, aprende a viver melhor a cada dia. O viver em grupo ensina o convívio consigo e com os outros. Quando as crianças estão nas primeiras etapas da classe de idade, as tarefas são desenvolvidas como as tarefas de Bödi (Neto) e tarefas de Oti (Neta). Segundo os Xavante de Pimentel Barbosa, eles dividem-se em dois clãs: Ӧwawẽ(Grande rio) e Poredzaono (Girino). Os casamentos são celebrados entre estes dois clãs. E, os anciãos sabem a sequência correta dos grupos de padrinhos responsáveis pelos ritos de passagem do grupo em iniciação. Além disso, os pais, por meio da convivência, sentem e percebem em qual grupo de idade desejam que seus filhos participem. São os grupos de idade: Sadaro, Nozo’ú, Hötorã, Ẽtepá, e Ainarowa, Ai’rere, Tirowa, Abare’ú. A partir dos onze anos, as crianças, meninos e meninas iniciam seu aprendizado rumo ao mundo adulto, num processo de, aproximadamente, cinco anos, afastados do convívio social e dos pais. Os meninos vão para a casa de reclusão denominada Hö, Casa dos Adolescentes. A infância é o período que vai do nascimento até o Rito de Passagem de Perfuração de Orelha dos Meninos, ponto máximo da Cerimônia Danhono. Esta cerimônia e todos os ritos complementares transformam o Wapté em Ritéi’wá. Seguem-se a estas, outras cerimônias que objetivam, gradualmente, trazer novamente o rapaz à sua vida familiar. Durante, aproximadamente, cinco anos, os adolescentes do sexo masculino ficaram no Hö, Casa de Reclusão dos Meninos. As meninas ficam em casa, sem percorrer toda a aldeia, como antes costumavam fazer. Enquanto reclusas em suas casas, as meninas ficam mais próximas às mães, tias e avós, internalizando um modo próprio e particular de ser. Fazem todas as atividades relacionadas ao mundo feminino com uma responsabilidade maior. Elas participam com os meninos do seu grupo de idade dos ritos de passagem. Rev. LEETRA São Carlos-SP n.4 v.1 2014

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