Revista GPS Brasilia 3

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entrevista

sais para cuidar de tudo o que aparece, como em bancos ou seguradoras. Eu podia contratar cinco advogados a R$ 10 mil, R$ 20 mil cada. Mas isso é tudo o que eu rejeito. Você certamente não saberá o que está sendo feito. Eu gosto de ter domínio do que se passa. Outro dia eu encontrei um governador de estado num restaurante. Ele me perguntou como estava o processo dele. Eu sabia, inclusive, onde a papelada estava fisicamente. Você precisa dar segurança para a pessoa. No escritório, não tem uma peça que saia sem uma leitura minha. Então a sobrecarga em seu escritório deve ser imensa? Devo ter uns 200 processos. Tenho colega que tem 30 mil. Em Direito, os processos duram muito tempo. Há pouco, eu ganhei um grande caso, um dos mais importantes em que atuei. Durou 13 anos. É um caso de militar reformado que foi acusado de cometer crimes financeiros. Daí eu brinco. Os meus casos são maiores que meus casamentos. Nunca tive um casamento que durasse 13 anos. Mas judiciário tem essa distorção. Faz com que eu tenha casos antiquíssimos. Como foi o começo de sua história? Advogado tem que circular. Quando vim para cá, não conhecia ninguém. Eu digo que a boemia ajuda a advocacia. Eu conheci o irmão do Zé Eduardo Alckmin, o Guto, na noite. Eu precisava de um

“Não pode existir um crime, cuja pena da lavagem seja três vezes maior que a pena do crime. Perdeuse a necessidade de uma discussão mais técnica”

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estágio e ele me sugeriu procurar o Zé. Não tinha carro, nem dinheiro... era uma batalha. E também não havia ninguém da família na área de Direito. Tive que correr atrás do meu espaço. Estagiei no escritório. Me formei e tornei-me sócio. Chamava Alckmin Bastos e Lobo. Fiquei lá 15 anos. Foi o único lugar que trabalhei na vida. Você sempre fala com carinho de José Eduardo. O Duda é o máximo. Bem-humorado, inteligente, irônico. Tem uma família fantástica. Eu adoro ele. Mas chegou uma hora que percebemos: um estava atrapalhando o outro. Estávamos disputando cliente. Foi quando montei a minha estrutura. Mas somos muito amigos.

DUDA MENDONÇA O Duda Mendonça foi sua mais recente vitória em exposição na mídia. Você esperava? Eu estudei muito. Antes de sustentar no Supremo, eu passei quatro meses cuidando do caso. Então, claro que eu sabia o que ia falar. Eu nunca escrevo, nem leio. Fui uma semana antes para a casa dele na Bahia. Queria conhecer as pessoas simples que moravam e trabalhavam com ele. Aquilo me ajudou muito a construir a real imagem de Duda. A sustentação veio na sequência, quando estava cor-

rendo na praia. Às vezes dá o insight e surge exatamente o que eu quero falar. Como você se prepara para um dia de Plenário? Eu sempre fico ansioso, dá aquele friozinho na barriga. Não tem como negar. Mas durmo bem, sou muito tranquilo. Escrevo alguns tópicos, mas sou organizado mentalmente. Em dia de julgamento, prefiro comer algo leve. Adoro frutas. Como você conduz um caso mais complexo que requer a sua atuação? Um processo se ganha na técnica. Mas os juízes são humanos. Quem esquece isso deixa de ser um bom advogado. Eu não tenho receio em procurar um juiz para distribuir memorial. E ouço, ‘mas Kakay, você sabe que ele vai votar contra você’. Não importa. Faço isso sempre. Ministros do Supremo me falam: ‘Kakay não deixa de fazer. Faz diferença’. Tem advogado que acha que sustentação oral é pró-forma. Grande erro. No Mensalão, eu vi ministros mudarem de opinião várias vezes. Já vi ministro tirar o processo de pauta para analisar o caso sobre o ângulo exposto. Você entra sabendo se vai ganhar ou perder? Muitas vezes não. O próprio Duda Mendonça. Estava aquele massacre geral. As pessoas achavam que não valia a pena sustentar depois de 15 dias de julgamento. Mas não existe isso. Eu distribuí memorial até dois dias antes de ele


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