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CARANDÁ Revista do Curso de Letras do Câmpus do Pantanal – UFMS Corumbá, MS, maio 2011, n. 3, p. 55

Alistair Thomson, historiador oral australiano, agrega em seu trabalho, os principais pontos destacados até então. Em uma competente sistematização, que tem como base suas pesquisas junto a veteranos de guerra australianos (Anzacs), Thomson explora três interações chaves: as relações entre reminiscências pessoais e memória coletiva, entre memória e identidade e entre entrevistador e entrevistado. De acordo com o autor, ―compomos nossas reminiscências para dar sentido à nossa vida passada e presente‖ (THOMSON, 1997, p.56). A utilização do termo composição, nesse contexto, faz referência aos processos de reconstrução a que submetemos as imagens do passado a partir das solicitações atuais. Para tanto, são utilizadas as linguagens e os significados conhecidos e socialmente aceitos de nossa cultura (THOMSON, 1997). Os vínculos entre memória e vida social – ressaltados por Ecléa Bosi – são, dessa forma, contemplados a partir da noção de composição. Entretanto, conforme salienta Thomson, nem sempre as imagens e linguagens disponíveis e socialmente aceitas, em um determinado espaço-tempo, encaixam-se às experiências pessoais. Portanto, os relatos coletivos que usamos para narrar e relembrar experiências não necessariamente apagam experiências que não fazem sentido para a coletividade. Incoerentes, desestruturadas e, na verdade, ―não-lembradas‖, essas experiências podem permanecer na memória e se manifestar em outras épocas e lugares – sustentadas talvez por relatos alternativos – ou através de imagens menos conscientes. Experiências novas ampliam constantemente as imagens antigas e no final exigem e geram novas formas de compreensão. (...) Que memórias escolhemos para recordar e relatar (e, portanto, relembrar), e como damos sentido a elas são coisas que mudam com o passar do tempo (THOMSON, 1997, p.56/57).

IDENTIDADE E MEMÓRIA Canclini (2005, p. 117) concebe o conceito de identidade como ―construção imaginária que se narra‖. Hall (2003), não busca identidade nas origens ou tradições de um povo, mas opta pela identidade diaspórica, resultado híbrido entre múltiplas interferências culturais. Segundo esse autor: As identidades cultuais são pontos de identificação, os pontos instáveis de identificação ou sutura, feitos no interior dos discursos da cultura e história. Não uma essência, mas um posicionamento. Donde deve haver sempre uma política de identidade, uma política de posição, que não conta com nenhuma garantia absoluta numa ―lei de origem‖ sem problemas, transcendental (HALL, 2006, p. 70). Essas dificuldades em definir cultura estão presentes em Diferentes, Desiguais e Desconectados (2005), obra em que o autor resume três grandes definições de cultura (2005, p. 37-41): 1- ―cultura é o acúmulo de conhecimentos e de aptidões intelectuais e estéticas‖; 2- cultura como tudo aquilo criado pelo homem e por todos os homens a partir do natural que existe no mundo. São os modelos de comportamento, os costumes, as distribuições espaciais e temporais; 3- definição sóciossemiótica, na qual a cultura abarca ―o conjunto de processos sociais de produção, circulação e consumo da significação na vida social‖. Contudo, para o autor, mais importante que se ater às definições de cultura ―é (...) descrever os esforços de convivência e não somente ressaltar as diferenças‖.


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