Boavista - Issue 6

Page 22

Viajar por Lagos sob o olhar de Saramago A revista Boa Vista recriou os passos do Prémio Nobel da Literatura José Saramago pela cidade de Lagos, há mais de três décadas. ntre 1979 e 1981, o escritor José Saramago empreendeu uma viagem pelo país com o intuito de escrever “Viagem a Portugal”, obra editada em 1981. Este livro revolucionou o conceito do tradicional “guia turístico” e revelou um país surpreendentemente diferente daquele que todos descreviam. Sob o seu olhar atento e crítico, e a sua inconfundível escrita, o leitor é conduzido através do país real numa viagem por caminhos singulares. Tomando como ponto de partida o último capítulo do livro intitulado “De Algarve e sol, pão seco e pão mole”, e fazendo dele o seu guia, a revista Boa Vista percorre os mesmos locais descritos pelo Nobel da Literatura na cidade de Lagos, 35 anos depois da primeira edição. Saramago começa por relembrar que “a velha Lacóbriga, romana antepassada de Lagos, ficava (…) no monte Molião”. Atualmente, neste espaço existe, desde 1992, uma estação arqueológica numa pequena colina ovalada, na margem direita da foz da ribeira de Bensafrim. A estação alberga os vestígios de um antigo povoado fortificado, ocupado entre o século IV a.C. e o século III a.C.. A localidade foi progressivamente abandonada devido ao crescimento de um outro centro populacional, na atual localização de Lagos. Saramago prossegue relatando a lenda de que foi a partir da janela manuelina, da fachada do Castelo, junto à Avenida dos Descobrimentos, que D. Sebastião, rei de Portugal, assistiu à missa campal antes do seu misterioso desaparecimento na batalha de Alcácer Quibir, onde “ficou ele e a independência da Pátria”, escreve. Foi também em sua honra que o escultor João Cutileiro elaborou mais tarde a estátua do rei presente na Praça de Gil Eanes. O escritor segue viagem pela Igreja de São Sebastião, e destaca “a porta lateral do lado sul” enquanto “magnífico exemplar de arte renascentista” com “representações humanas, (…) elementos de

E

Discovering Lagos through Saramago’s eyes Three decades later, Boa Vista magazine retraces Nobel laureate José Saramago’s footsteps through Lagos

42

etween 1979 and 1981 Portuguese writer José Saramago undertook a trip around the country to write "Journey to Portugal”, which he published in 1981. This book revolutionised the concept of the traditional "travel guide" and revealed a country surprisingly different from the one everyone described. Under his watchful and critical eye, and through his unmistakable writing, the reader is led on a unique journey through the country. Taking the last chapter of the book, entitled "of the Algarve, sun, dry bread and soft bread”, as a starting point and guide, Boa Vista magazine visits the places described by the literature nobel laureate in the city of Lagos, 35 years after its first edition. Saramago begins by recalling that "old Lacóbriga, Roman ancestor of Lagos, was ... on Mount Molião." Since 1992 this small oval hill, on the right bank of the Bensafrim river estuary, has been an archaeological site housing the remains of an old fortified settlement that was occupied between the 4th and 3rd centuries BC. The location was progressively

B

abandoned due to another growing settlement where Lagos now lies. Saramago goes on to tell us about a legend, according to which it was from the Manueline window, on the façade of the Castle near the Avenida dos Descobrimentos, that D. Sebastião, King of Portugal, attended Mass before his mysterious disappearance at the battle of Alcácer Quibir in Marocco, where “together with the independence of the motherland he remained,” writes the author. It was also in his honour that the sculptor João Cutileiro later carved the statue of the king which stands on the Praça Gil Eanes. The writer moves on to the Church of St. Sebastian, and highlights "the southern side door" as "a magnificent example of Renaissance art" with "human representations, ... elements of flora and fauna ..." and a “larger than normal effigy of our Lady of Glory". The church was rebuilt and enlarged after the 1755 earthquake. Located in an elevated area of the city it has a majestic bell tower with a clock. Inside it has side chapels, the chapel of bones and an altar with gilded carvings, 왘

winter 2016 | spring 2017

inverno 2016 | primavera 2017

flora e fauna (…)” e ainda uma “imagem de Nossa Senhora da Glória de tamanho maior que o natural”. Esta igreja sofreu ampliações e reconstruções após o terramoto de 1755. Situada numa zona elevada da cidade tem uma majestosa torre sineira com relógio. No interior

possui capelas laterais, uma capela de ossos e um altar em talha dourada, cujo crucifixo se diz ter estado na Batalha de Alcácer-Quibir. Ali bem perto, Saramago defronta-se com o mercado dos escravos, e crítico, afirma: “Lagos tem um mercado dos 왘

43


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.