O Elefante de Marfim - Projeto de Próera

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10.11 .3.1 . Narrativas elefantes: As palavras nos permitiram elevar-nos acima dos animais, mas também é pelas palavras que não raro descemos ao nível de seres demoníacos. As narrativas buscam uma maneira de tecer as distintas partes de um todo complexo, dando-lhe fluência melódica (mesmo quando a maioria de seus elementos seja ruidística). Rompida a quarta parede do palco (ou ainda avançada esta até a porta do teatro e dentro das telecapturas midiáticas), o público se vê abandonado aos desejos da compositora da ópera. Temos aí o estado de desequilíbrio inicial de nossa narrativa que advém do desejo, como uma cobra caída ao nosso ombro. Com a percepção do encantamento teatral sobre si, os personagens rompem novamente o ritual da representação, quebrando o encantamento da narrativa sobre a plateia que é obrigada (agora em potência exponencialmente maior) a se posicionar como atuante e interventor da realidade. 10.11 .3.2 . Hipersurrealismo: Os acontecimentos sobrenaturais (assim como os mitos sobre os elefantes) intervêm rompendo o desequilíbrio mediano da normalidade aparentemente natural da realidade, provocando uma série de tensionamentos que provocam por fim este desequilíbrio reverso onde o surrealismo aparece como mais real que o realismo fantástico. O sobrenatural aparece na série de episódios que descrevem a passagem de um estado prosaico e cotidiano a outro, um vão da razão em seu mais puro anti-humanismo (Vampyroteuthis Infernalis). Retira o véu de realidade crua do que se passa com os próprios sentidos perante a obra, espelho neural através de um olho caleidoscópico. O transtorno da assombração (o fantasma-ópera) traz a narrativa do libreto como algo não só fora da situação usual da ópera e do cotidiano do espectador, mas fora do próprio mundo natural que gera as obras de arte e os estupros. O fantástico na narrativa coloca a questão ética num outro lugar que o da moral: no da lógica sensível (Lewis Carroll). 10.11 .3.2 . Transrealismo: A próera (narrativa elefante), é o abismo entre real e irreal: transreal. De maneira mais geral, ela contesta toda a dicotomia simplificadora e sintética do pensamento operístico num clara abertura da representação à intervenção simbólica dentro da sensibilidade espectadora. É a própria natureza da artificialidade recortando o dizível em pedaços descontínuos, explicitando o belo canto como vômito e o piano como cadáver de elefantes. O nome, pelo fato de escolher uma ou várias propriedades do conceito que ele constitui, exclui todas as outras propriedades do conceito que ele possui. Eis a irrealidade da palavra na voz. O timbre e a intonação vocal, o melonema, constituem uma camada subliminar da palavra teatral, são a comunicação infralógica da mesma como a comunicação sísmicas dos elefantes através de seus estômagos soantes e seus pés que ouvem.


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