O Elefante de Marfim - Portitura de Ciberfonia

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22 .15.5. Teoria Musicante: Dizer que uma estética explica uma ou outra obra é afirmar que há uma relação entre um processo de criação de contexto e a poética própria do texto, independente da questão se o mundo real, como um todo (o audível aural) se ajusta àquela teoria. É possível ouvir Bach laicamente e Mozart longe da corte? Debussy podia estetizar as marés, que ele realmente o fez. Ao mesmo tempo, podemos acrescentar que essa obra, afinal de contas não é representativa. Logo, seria inconsistente se com a primeira afirmação quiséssemos dizer que Debussy tinha uma estética das marés. Debussy fez uma maquete de mar, Bach uma maquete de Deus que talvez seja por esta humildade maior que a sua igreja. Toda estética é política ou policia. 22 .15.6. Teorema Musical: Uma avaliação do poder mimético geral de uma estética é menos problemática e mais relevante, como uma avaliação do estado do conhecimento sensível, que uma avaliação das explicações estatísticas de ocorrências isoladas das obras que a fundamentam. É mais fácil se chegar a uma teoria geral sobre uma metanarrativa artística ( John Cage: acaso, não-intenção, intuição, etc.) do que compreender cada uma das exceções em sua obra (as partituras, a poética das palestras, etc.). A estilização é um teorema que subjaz às mensagens específicas de cada obra, ao mesmo tempo embasando-as quanto delas tirando seu próprio sentido. 22 .15.7. Relato Sonoro é a construção de uma situação que, depois que os parâmetros iniciais estão fixados, se move em direção a sua conclusão com um tipo de necessidade, inexoravelmente – retrospectivamente, “inevitável”, teleonômica. A acuspoesia (arte sonora) está diretamente ligada ao teorema de sua estética aural, neste sentido é teleosófica (assume transparentemente seu processo). Sua metanarrativa demanda o processo estético. As estéticas estilísticas mostram apenas como os eventos puderam acontecer como aconteceram dentro da subjetividade compositora, mas não a justificam. Tal vínculo une o conceito, o contexto e o conjetivo (a entrescuta, ou modo de conexão entre sujeito e objeto). 22 .15.7.1 . A Causalidade Estética é a relação entre eventos, não podendo ser identificada nem com a eficiência sensível de processos estésicos. Não podemos dizer porque gostamos de uma obra, mas apenas afirmar que certos eventos que incluíam a obra causaram-nos tais e tais processos estésicos e de compreensão estética. A formulação exata não é importante; que os termos relacionados sejam eventos (inclusive os processos e estados de coisas momentâneos ou duradouros) é muito importante. 22 .15.8. Arranjo: Quando algo é mencionado como causa (tema, motivo, inspiração, projeto) isso não quer dizer que tal partitura fosse suficiente para produzir a obra experienciada. Dizemos que essa música se deu por conta deste arquétipo harmônico, embora saibamos que sua percepção seja para poucos já que a pulverização deste campo aural seja entremeado de uma infinidade de outros aspectos do arranjo.


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