Linux Educacional

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educadores interessados em tecnologia, é justamente mostrar que o software livre “é bom, bonito, fácil de usar, funciona e tem tudo a ver com uma discussão mais ampla sobre educação”. A contra­definição é de Frederico Guimarães, um dos fundadores do SLE e seu atual coordenador. “Somos educadores que trabalham com software livre”, diz ele, lembrando que, antes da criação do grupo, “as discussões eram só técnicas ou só pedagógicas”. Para Guimarães, o software livre é “mais um movimento do que uma questão técnica”, porque abre um debate sobre a apropriação compartilhada do conhecimento. No ano passado, em entrevista ao Portal do Professor, do Ministério da Educação (MEC), ele já explicara a relação direta entre a escolha das tecnologias educacionais e uma determinada concepção de educação. O software proprietário, disse ele então, é “absolutamente oposto” àquilo que o SLE acredita que deva ocorrer em um ambiente educacional, que é o “local da educação, da experimentação, da descoberta, da manipulação, da discussão”. Nesta entrevista para A Rede, Guimarães vai além e explica também a diferença entre software aberto e software livre, além de apontar todas as boas razões para defender a tecnologia livre na educação – e para participar dos debates e ações do SLE. Mais: ele elogia o uso do Linux Educacional pelo MEC, mas lamenta a falta de transparência no desenvolvimento da distribuição e seu atrelamento a implementações que utilizam software proprietário. “Por que ainda manter a lógica do ‘nós produzimos e vocês usam’? Isso acaba repetindo a lógica do software proprietário”, adverte. O que é o SLE? Frederico Guimarães – É um grupo de pessoas, um projeto que começou no Fórum Internacional sobre Software Livre (FISL) há mais ou menos três anos (ver reportagem sobre o 11º FISL na página 34). Somos educadores que trabalham ou desejam trabalhar) com software livre. Não tinha um lugar para discutir isso, porque as discussões eram só técnicas ou só pedagógicas. Então a gente queria um grupo onde pudesse discutir tecnologias, em particular tecnologias livres, mas com um viés educacional. Além disso, temos também como objetivo traduzir e documentar, pedagogicamente, essas tecnologias. Qual é o perfil do grupo? Guimarães – A maioria das pessoas ativas são educadores. Temos professores desde o ensino fundamental até o universitário, tanto da rede pública quanto da particular. Se considerarmos o número de inscritos, é um grupo grande, mas os que participam efetivamente são 20, no máximo 30 pessoas. Discutimos basicamente a questão da tecnologia, da educação e de como juntar essas duas coisas. Com o tempo, o tom das nossas discussões foi se afinando, foi ficando mais claro o que a gente defende. O próprio nível de argumentação do grupo mudou. Algumas pessoas sabiam muito pouco sobre tecnologia em geral e quase nada sobre software livre em particular e evoluíram bastante, chegando ao ponto de compartilhar conhecimentos com os novatos no grupo (e mesmo com os experientes). Estamos construindo um projeto comum e a argumentação do uso educacional do software livre está hoje muito clara, muito madura para o grupo. Qual é a visão de vocês sobre software livre na educação? Guimarães — A gente acredita que a educação, em sua essência, só é possível com software livre, por uma série de motivos. Em primeiro lugar, porque essa tecnologia permite um grau de interatividade muito maior do que o software proprietário. Nós podemos, por exemplo, alterar o funcionamento e traduzir os códigos. Além disso, está cada vez mais claro para nós que a discussão sobre software livre vai além do software, além do código. É mais um movimento social do que técnico, porque levanta questões sobre a liberdade e o desenvolvimento compartilhado do conhecimento. Passa pela discussão de que o conhecimento não pode ficar centralizado, mas deve ser dividido entre todos. É curioso que muitos professores defendam uma escola mais


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