Caixa Mágica

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Em terceiro lugar surge o problema da tecnologia. No passado foram várias as propostas que tentavam criar a “casa do futuro” ou então apenas casas com tudo o que o progresso técnico-científico tinha para oferecer. Estas soluções partem de um princípio que impossibilita logo à partida que, por muito bem pensadas e construídas que sejam, possam algum dia ser casas minimamente flexíveis. A tecnologia está em constante evolução, todos os dias aparelhos novos aparecem e os anteriores passam a ser obsoletos. Se “obrigarmos” a casa a depender de uam qualquer panóplia de objectos estamos a assegurar no fundo não uma flexibilização do espaço mas sim a condenação a um estado de obsoleto à priori. Basta o tempo que vai da concepção, em que se escolhe e determina as tecnologias a aplicar, até à construção, para que quando o utilizador a vai ocupar já não vê nele a maravilha e as possibilidades da tecnologia porque aquele que ele tem já está ultrapassada. Resumindo, tentar projectar casas flexíveis, casas que possam ser habitadas hoje e adaptadas amanhã e depois para continuar a satisfazer o mesmo ou outros habitantes, é um jogo traiçoeiro. O arquitecto tem sempre que pensar simultaneamente como arquitecto e como aquele cliente específico para o qual está a trabalhar e tem que ser o mais pragmático possível de modo a criar soluções manipuláveis e não soluções rígidas e deterministas. Actualmente as habitações já começam a ser referidas não apenas em m2 mas também em m3. Não está generalizado mas já acontece em vários países europeus. O m3 contém uma nova noção da habitação - o volume, o ar habitado. As pessoas já perceberam que a altura tem influência no conforto que os espaços lhes podem proporcionar. Para além disto, a noção de volume contém maior ou menor grau de (in)capacidade de determinado espaço ser manipulado/adaptado. A “Caixa Mágica” levanta a seguinte questão - porque não o m4? Se considerarmos que as pessoas não habitam apenas comprimento, largura e altura, mas também tempo, então faz todo o sentido exigir que as casas sejam pensadas, avaliadas e vendidas com o m4 como referência. A idade de uma casa (seus materiais e estruturas) e sua envolvente são fundamentais se o cliente quiser avaliar o habitabilidade real dessa casa. É que hoje as pessoas já não pensam em 044

termos do hoje, aqui e agora. Muitos têm que pedir créditos a longo prazo para poder satisfazer as suas necessidades/sonhos/desejos de habitar, o que significa que certamente irão ficar “presos” à sua “nova casa” durante muitos anos. Consequentemente prevêem que mudanças podem ter que fazer e se a casa em questão permite essas mudanças/adaptações, logo pensam não em área, nem em volume, mas sim em m4.

1C _ Habitar Hoje

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