Revista Enapa

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Vera Lúcia Cardoso

Os Grupos de Apoio à Adoção compõem a imensa rede de Organizações Não Governamentais (ONGs) que cresce constantemente no Brasil. Uma das exigências de transformação social, trazidas pelas ONGs, é o rompimento da “cultura do isolamento”, o que vem gerando o desenvolvimento de novas habilidades e estratégias para uma atuação conjunta e compartilhada. A ideia de parceria se fortalece, cada vez mais, em função de ações, projetos, programas que se pautem pela eficiência, efetividade e eficácia. Uma característica da parceria é o de trabalho entre semelhantes, porém, não-iguais. As organizações não governamentais são, por sua natureza, diferentes das organizações governamentais. Diferentes? Organizações Governamentais são instituições existentes dentro das estruturas do governo, em suas diversas esferas (municipal, estadual ou federal) e poderes (legislativo, judiciário ou executivo), que se mantêm com recursos que giram dentro do sistema financeiro estatal. Organizam-se em atividades meio (que não atendem ao público) e

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atividades finalísticas (que atendem ao público). A melhor definição de Organização Não Governamental, talvez, seja a que diz serem essas instituições privadas, porém públicas. São privadas na sua constituição jurídica, porém públicas porque abertas a atender gratuitamente seu público específico. Podem utilizar recursos financeiros estatais, mas possuem enorme capacidade de articular recursos não necessariamente oriundos do Estado. Esse conceito rompe com a dicotomia entre público e privado, no qual público era sinônimo de estatal e privado de empresarial. Semelhanças? Existem quando os atores sociais, Estado e Sociedade Civil, aproximam-se em função de um fim de interesse comum. Porém, semelhanças são mutáveis, dependem de muitas variáveis, especialmente da visão daqueles que detêm o poder de decisão nas organizações governamentais e nas ONGs. Parcerias que estabelecem relações colaborativas entre governo e sociedade civil organizada dependem do reconhecimento, tanto das diferenças, quanto das semelhanças nos interesses em comum.

O surgimento de ONGs, especialmente as fundamentadas no trabalho voluntário, como os Grupos de Apoio à Adoção, é fruto da vontade e desejo de seus fundadores, e se mantém com base na energia do desejo de participação de novos voluntários, que reconhecem a necessidade de aproximação para com seus semelhantes. O desejo nos move e nos sensibiliza a valorizar as experiências pessoais de cada um no espaço que lhe cabe viver, mesmo que num processo vivenciado de modo diferente, mas que se revela cheio de semelhanças. O desejo de fazer algo de bom pelo outro nos sensibiliza e desperta para um olhar diferente focado, naqueles a quem gostaríamos de ajudar. Assim, surgem os Grupos de Apoio à Adoção, a partir de famílias adotivas e de técnicos que trabalham com adoção e que, se no início da história construíram espaços de apoio às famílias adotivas e adotantes, aos poucos ampliaram o olhar e a ação para as crianças e adolescentes que vivem em abrigos e todas as suas complexas facetas.


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