O LIVRO N EGRO DO AÇÚCAR

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Açúcar nos dicionários e enciclopédias Nos anos 50 do século passado o advogado Fernando Levisky iniciou uma campanha para expurgar dos dicionários brasileiros vocábulos com acepções pejorativas e ofensivas à dignidade das pessoas. O Dr. Levsky era judeu e não se conformava com os significados da palavra judeu e termos derivados constantes nos dicionários: Judeu - homem mau, avarento, de má índole, usurário. Judiar - atormentar, escarnecer, maltratar os outros. A campanha não se limitava a reabilitar o vocábulo judeu, pretendia escoimar de significados pejorativos termos como negro, paulista, baiano, galego etc. A campanha do Dr. Levisky teve repercussão e gerou o livro do jornalista Queirós Júnior, V ocábulos no banco dos réus, encontrável nos bons sebos da cidade. Nem o advogado nem o jornalista pensaram nisso mas a palavra açúcar está mal definida na maioria dos dicionários da língua portuguesa que classifica açúcar como sendo um alimento. Desde o pioneiro Dicionário da Língua Portuguesa de Antonio de Moraes e Silva do final do século dezoito. O dicionário mais entusiasta em relação ao açúcar é o Lelo, editado em Portugal. Segundo este prestigioso dicionário, reeditado até hoje, o açúcar é uma substância doce e agradável ao paladar que se extrai de certos vegetais e, arremata mais adiante, é um alimento de primeira ordem . Outro não menos entusiasta é o brasileiro Koogan Houaiss, cujo verbete deve ter sido redigido nos escritórios dos fabricantes de açúcar: Alimento de sabor doce que se extrai da cana-de-açúcar e da beterraba e, mais adiante, purificado, filtrado, cristalizado, é consumido após a refinação que o torna mais puro ainda . Laudelino Freire surge como uma exceção à regra com ele a conversa é outra. Firme, o insigne dicionarista recusa-se a chamar açúcar de alimento: corpo doce , substância doce , qualquer coisa menos alimento. O Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa é perfeito: Açúcar, nome vulgar da sacarose . Sacarose, por sua vez é assunto para químico. O curioso é que Aurélio Buarque de Holanda Ferreira ganhou fama como organizador desse dicionário que fora iniciado várias edições antes por Hildebrando Lima e Gustavo Barroso. Já famoso, Aurélio lançou um dicionário novo ao qual pespegou seu próprio nome. Comparando com o Pequeno Dicionário que o antecedeu, pelo menos no que diz respeito ao açúcar, o Aurélio mudou para pior. Por incrível que pareça, o badalado Aurélio define o açúcar como alimento . E finalmente para provar que tamanho não é documento o grandissíssimo Houaiss também arrola o açúcar como alimento. Pulando de dicionário para enciclopédia, a popularíssima Enciclopédia Barsa inicia o verbete açúcar definindo-o como substância destinada a adoçar bebidas e alimentos . Só tenho a dizer que em minha casa o açúcar destina-se à lata de lixo, com açucareiro e tudo. Já a igualmente popular Delta Larousse começa assim: Alimento cristalizado de sabor doce e ao falar dos usos do açúcar começa pelo seu papel na alimentação, onde figuraria como excelente produtor de energia , o qual, parte indispensável de uma dieta bem balanceada, fornece um alto valor energético por unidade de peso . A Delta, infelizmente, com esse comentário induz o leitor a erro. Por dieta balanceada ou equilibrada entende-se a famosa dieta constituída de carboidratos, gorduras e proteínas, distribuídos na igualmente famosa pirâmide. Como todos os alimentos destas três categorias além de nutrir fornecem energia suficiente ao bom funcionamento do organismo, o açúcar surge como um aditivo químico fornecedor apenas de calorias


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