A ressurgência dos moderados Quando vê as duas principais figuras da política nacional, legitimadas pelo voto de milhões de portugueses, defender uma visão calma e equilibrada da nossa memória histórica, não será o momento da comunicação social repensar a sua cobertura inflamatória da mesma?
“Nem André Ventura nem Mamadou Ba representam aquilo que é o sentimento da generalidade do país. Felizmente”. A frase é de António Costa mas podia igualmente ser de Marcelo Rebelo de Sousa. O discurso de 25 de Abril do Presidente da República mostrou que a memória histórica portuguesa não precisa de estar presa numa guerra civil infindável entre a extrema-direita que a glorifica acriticamente e a extrema-esquerda que a condena de maneira igualmente cega. Foi o mais recente passo na reconquista da narrativa da nossa história e identidade por parte dos moderados, personificados no Presidente da República e no primeiroministro, que representam a larguíssima maioria da sociedade portuguesa.
Talvez o melhor reflexo da tensão entre extremos na discussão mediática da nossa herança histórica tenha sido a sequência de tentativas de politização do Padrão dos Descobrimentos. No dia 10 de Março, escassas semanas após o deputado do PS Ascenso Simões também defender a remoção do monumento, Joacine Katar Moreira começa a manhã publicando uma foto do Padrão a ‘descolar’ de Belém. Seis dias depois, o candidato do Chega à autarquia lisboeta é apresentado em frente ao mesmo, presenteando-nos com pérolas discursivas como “Defendo a democracia, mas não a libertinagem”. Aprofundou-se assim uma dicotomia que se vem a sentir cada vez mais no espaço mediático: ‘Ou estás connosco ou estás contra nós!’. Espalha-se a ideia de que um português patriota que não deseje a remoção do Padrão é inerentemente um radical de direita e de que um português humanista que compreenda as nuances da nossa história e o sofrimento que nela existiu deve subscrever integralmente a agenda