Hospital Público 39 - maio/junho 2023

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Maria Ana Kadosh, Sara Madeira e Joana Sousa, docentes da FMUL, desvendam a relevância do estilo de vida saudável no

Aquilo que comemos desde in utero tem u na programação metabólica de cada indiví A promoção de um estilo de vida saudável, onde se destaca a relevância da alimentação, é fundamental nos primeiros 1000 dias de vida do ser humano. Dada a crescente evidência científica nesta área, três docentes da FMUL com interesse pela matéria, estão a dirigir um curso focado no tema. O objetivo é capacitar a comunidade científica para a promoção de hábitos que contribuam para gerações futuras mais saudáveis. Maria Ana Kadosh: “A promoção de um estilo de vida saudável é a primeira linha de tratamento da maior parte das doenças crónicas não transmissíveis” “A alimentação e a nutrição adequadas são importantes não só na prevenção de doenças crónicas não transmissíveis, como a obesidade, a diabetes e as doenças cardiovasculares, mas também na promoção da saúde”, começa por afirmar Maria Ana Kadosh, de 36 anos, uma das três diretoras do curso “Estilo de Vida Saudável nos Primeiros 1000 dias de Vida – formação em 1000 minutos”. Correspondendo a alimentação inadequada a “um dos principais fatores de risco para as doenças crónicas não transmissíveis, e sendo estas uma das principais causas de morbilidade e mortalidade nos países desenvolvidos, é necessário investir na promoção de hábitos alimentares saudáveis, que vão contribuir para a prevenção destas doenças, para a promoção da saúde e, em última instância, para a melhoria da qualidade de vida”. A médica interna do 3.º ano da especialidade de Medicina Geral e Familiar na USF Valflores, que começou por se licenciar em Dietética e Nutrição pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (FMUL), em 2008, e que é doutorada em Nutrição pela mesma instituição desde 2016, entende mesmo que “a promoção de um estilo de vida saudável é a primeira linha de tratamento da maior parte das doenças crónicas não transmissíveis”. Assim, “perante um diagnóstico de patologias como doença cardiovascular, diabetes, obesidade ou dislipidemia, é preciso, em primeiro lugar, promover os hábitos alimentares saudáveis e uma vida ativa”. A futura médica de família evidencia que “a diminuição de peso tem impacto na melhoria do controlo metabólico, da tensão arterial, da glicemia, do colesterol sérico, da saúde mental e da sensação de bem-estar”. E acrescenta que, “mais importante do que olhar para um nutriente de forma isolada e promover

o seu consumo, importa promover padrões alimentares saudáveis, dos quais se destaca a dieta mediterrânica, um modelo alimentar de referência a nível mundial, caracterizado por um consumo abundante de alimentos de origem vegetal, como os hortícolas, os cereais integrais, os frutos oleaginosos, a fruta fresca e as leguminosas, a utilização de azeite como principal fonte de gordura, a ingestão moderada de peixe, carnes brancas, ovos e produtos lácteos magros, e o consumo esporádico de carnes vermelhas e de produtos açucarados”. Com a abertura, em 2018, da licenciatura em Ciências da Nutrição na FMUL, Maria Ana Kadosh foi convidada a fazer parte do corpo docente e, simultaneamente, passou a integrar projetos de investigação liderados pelo Laboratório de Nutrição da instituição. Nesse âmbito, acabou por se dedicar à investigação na área dos primeiros mil dias de vida, “desde a gravidez, passando pela amamentação e diversificação alimentar, até aos dois primeiros anos de vida da criança”, uma vez que desde 2009 se dedica à investigação na área da saúde ma-

“Os primeiros 1000 dias de vida consistem numa oportunidade única para apoiar os pais, como cuidadores primários, a promover estilos de vida saudáveis e a prevenir a doença nos seus filhos”, realça Maria Ana Kadosh.

ternoinfantil, tendo colaborado em diversos projetos nacionais e internacionais nesta área. Maria Ana Kadosh evidencia ainda que “tudo aquilo que comemos desde in utero tem um efeito de programação metabólica, ou seja, determina o desenvolvimento, o metabolismo e a saúde de cada indivíduo na idade adulta”. De facto, a profissional nota que “tudo aquilo que a mãe come durante a gravidez vai determinar as preferências alimentares do bebé”. E explica: “Através da deglutição do líquido amniótico, o feto desenvolve as suas capacidades sensoriais, olfativas e gustativas, com base nos sabores e odores da alimentação materna. Estas experiências sensoriais precoces contribuem para uma melhor aceitação da introdução dos primeiros alimentos durante o período da diversificação alimentar e facilita a experimentação de novos alimentos mais tarde”.

um desses livros, abordando precisamente a alimentação e a nutrição nos primeiros 1000 dias de vida, surgiu a ideia de organizar um curso sobre a área, que se estendesse ao estilo de vida saudável. Como explica, “pre-

Incidir sobre hábitos de vida que possam criar gerações saudáveis

tendemos capacitar todos os profissionais de saúde que trabalhem com grávidas, lactantes e crianças para a promoção de um estilo de vida que contribua para gerações futuras mais saudáveis”. Com um painel de médicos, nutricionistas, psicólogas, fisioterapeutas e fisiologistas do exercício dedicados a esta área como palestrantes,

No seguimento da publicação de uma coleção de cinco livros sobre ciência alimentar, em maio, um projeto conjunto do Laboratório de Nutrição da FMUL e da Fundação Francisco Manuel dos Santos, em que Maria Ana Kadosh foi autora de

Maria Ana Kadosh

serão abordadas temáticas como a alimentação, a suplementação e o tabagismo na grávida, a diversificação alimentar no lactente vegetariano, “numa sociedade em que cada vez há mais famílias a adotar uma dieta vegetariana”, e os mitos relativos à amamentação. A evidência científica relativa ao Baby Led Weaning, um método alternativo à diversificação alimentar tradicional, em que “as crianças experimentam os alimentos com as suas mãos e parece haver um maior controlo da saciedade”, estará também em discussão. No segundo dia do evento, haverá espaço para três workshops, dedicados à alimentação e nutrição, mindfulness na gravidez e no puerpério, e atividade física. O primeiro será realizado no laboratório técnico alimentar do Centro de Nutrição Avançada da FMUL, por um conjunto de nutricionistas, em que se irão “desenvolver refeições saudáveis e apelativas para grávidas, puérperas e crianças, trabalhando distintas estratégias práticas que potenciam a escolha e o consumo alimentar saudável”. Já o segundo workshop será da responsabilidade de uma psicóloga, que deverá apresentar “estratégias de mindfulness, algumas das quais associadas à gestão da ansiedade, que podem ser muito úteis nesta fase do ciclo de vida”. O terceiro, por sua vez,


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