Caderno de Resumos

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a região de Pilão Arcado e de outros municípios em torno do Rio São Francisco na década de 1840, contra a qual a autoridade constitucional dos governos provincial e geral não conseguiu efetivar-se, pois o seu desfecho somente se deu após a quase total eliminação física de um dos grupos inseridos no conflito, o grupo familiar dos Guerreiros e os seus aliados. Essa luta entre facções nos revela uma realidade regional da qual emerge a ausência quase completa de autoridade dos empregados públicos, sobretudo daqueles vinculados às forças militares e ao poder judiciário. Dessa forma, a partir da compreensão a respeito da realidade do conflito local a ser apresentado, o trabalho buscará realizar preliminarmente o debate da noção de centralização política do Estado imperial para aquele momento, noção esta comumente aceita pela historiografia. Do mesmo modo, fará a tentativa de compreender a medida do processo de construção de uma nação brasileira, levando em consideração que o território a ela vinculado e que as populações por esse território circunscritas ainda se encontravam longe da condição de submissão à autoridade do governo central e das suas leis. Palavras-chave: autoridade, sertão, nação.

Fernanda Villela Bastos

Mestranda da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CAPES fernanda.villelab@yahoo.com.br

Quando os intelectuais “roubam a cena”: o Conservatório Dramático da Bahia e sua missão “civilizatória” (1855-1870)

Em meados do século XIX, o teatro era mais do que um local de entretenimento, era uma escola de moral e de bons costumes, um instrumento de civilização. Além de ser uma espécie de centro de convergência cultural de toda a cidade, lugar onde poetas, artistas e políticos encontravam público e sentiam-se a vontade para expôr ideias, o teatro era visto também como um perfeito instrumento capaz de mudar o comportamento e refinar os hábitos da população. O interesse em que seus palcos tivessem este tipo de “missão” vinha de membros da elite política e intelectual voltada para a consolidação do Estado Imperial através da manutenção da ordem e da difusão do ideal de construção de uma civilização. Enquanto a ideia de ordem relacionava-se com a manutenção dos privilégios das classes dominantes e das instituições ligadas aos poderes constituídos, a necessidade de civilizar equivalia a uma ação didática, a uma difusão de princípios como razão e progresso e de práticas e valores considerados próprios da “boa sociedade”. Para que o teatro cumprisse com tal missão era necessário primeiramente impedir que ele fosse um espaço altamente perigoso por permitir a expressão inflamada da opinião pública e, mais do que isso, era necessário um controle rigoroso sobre o conteúdo dos dramas e comédias para que eles buscassem passar lições ao público, moralizá-lo. Inicialmente a fiscalização dos teatros era de responsabilidade da polícia, mas, com o tempo, foi-se percebendo que a censura realizada por ela se tornava cada vez mais arbitrária. Parecia urgente 125


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