Revista 10

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Para prevenção da ocorrência de casos novos, o diagnóstico rápido e o acesso a tratamentos precoces são essenciais Adele Schwartz Benzaken

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sífilis persiste como importante problema de saúde pública entre as populações mais vulneráveis do Brasil, em particular nas populações indígenas, projetando uma situação de franca iniqüidade, incompatível com o presente estágio evolutivo do Sistema Único de Saúde (SUS). Em que pese a carência de dados precisos, não é tarefa difícil demonstrar que, pelos clássicos critérios de magnitude, transcendência, vulnerabilidade e factibilidade, qualquer política pública de saúde minimamente lógica e responsável no Brasil tem que priorizar o combate à sífilis. As evidências demonstram que programas de detecção da infecção em gestantes e o tratamento das positivas estão entre as intervenções mais custo-efetivas para a redução da mortalidade infantil que se conhecem a tal ponto que a existência de casos de sífilis congênita é considerada, internacionalmente, um indicador sentinela, marcador de assistência pré-natal de má qualidade. É consenso que o controle da sífilis, assim como o de qualquer DST, pressupõe o diagnóstico e tratamentos precoces dos casos que ocorrerem, ao passo que se previne a ocorrência de casos novos. No entanto, o acesso ao diagnóstico, tratamento e ações preventivas está longe de ser universal, sendo literalmente inexistente em extensas áreas do território brasileiro, notadamente nas ocupadas por populações indígenas, em decorrência de variáveis geográficas

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ou outras relacionadas à insuficiente ação de políticas de saúde. As dificuldades mais óbvias para a implantação das técnicas rotineiras de diagnóstico de sífilis em áreas mais remotas do território brasileiro estão diretamente relacionadas às carências infra-estruturais, como instalações laboratoriais dependentes de maquinário movido à energia elétrica e profissionais com capacitação específica. Desta forma, a necessária extensão da cobertura do diagnóstico de sífilis nas áreas rurais brasileiras está claramente vinculada à utilização de novas estratégias que dêem conta ou contornem estas limitações. É o que se dá com a utilização dos chamados “testes rápidos” que não necessitam de treinamentos complexos e prolongados, não necessitam de refrigeração para o armazenamento ou transporte e nem de equipamentos de laboratório para sua realização. Pela facilidade de realização, o resultado torna-se disponível nos primeiros 20 minutos, com boa sensibilidade e especificidade. Parte significativa da intervenção já ocorreu quando na Fundação Alfredo da Matta (FUAM) foram realizados os estudos que validaram, isto é, comprovaram a efetividade de diferentes testes rápidos para sífilis, com vista ao seu uso em diferentes contextos ou cenários epidemiológicos. Está em andamento o plano de implantação, com apoio financeiro da Fundação Bill & Melina Gates, em conjunto

com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e o Programa Nacional de DST/Aids, do Ministério da Saúde, buscando alternativas com vistas a intervir nesta situação epidemiológica para incrementar o acesso e a sustentabilidade do diagnóstico de sífilis em populações indígenas da Amazônia Brasileira para o ano de 2008 e 2009. É sabido que, em saúde pública, novas demandas sempre se defrontam com limitações orçamentárias. Por isso, pesquisas como esta, coordenada pela FUAM, mostram-se necessárias para dar a possibilidade de adoção de novas estratégias para o controle e prevenção da sífilis que sejam compatíveis com a realidade em regiões de difícil acesso, permitindo uma real sustentabilidade às atividades implantadas, com a melhoria na qualidade de vida da população local. É por esse e por outros motivos que o Programa de Apoio à Iniciação Científica (PAIC), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), vem sendo implementado na FUAM, visando o fortalecimento deste e de outros estudos, assim como a contribuição para a consolidação da base vocacional da fundação: ensino de qualidade e pesquisa-Ação. Adele Schwartz Benzaken é Diretora-Presidente da Fundação Alfredo da Matta e especialista em ginecologia.

foto: acervo fuam

Diagnóstico de sífilis em populações indígenas no Amazonas


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