Catálogo 24º AmadoraBD 2013

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24º AMADORA BD 2013 Cenários

TEMPO 1 – A REVISTA TINTIN

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B  Prancha de Espião Acácio, nº 1, in Revista Tintin, 1979 ©coleção Fernando Relvas

Mesmo que a sua carreira se tenha iniciado anos antes, em 1975, nos fanzines O Gorgulho e O Estripador, foi na revista Tintin, dirigida por Dinis Machado, que o seu trabalho conseguiu chegar ao grande público, conquistando os leitores. Se, durante muitos anos, as páginas da revista que publicava o melhor da BD franco-belga, se mantiveram fechadas aos autores nacionais, a criação dentro da revista de um suplemento a preto e branco (por onde passou também o Corto Maltese de Hugo Pratt e excelentes artigos sobre Banda Desenhada, selecionados e traduzidos por Vasco Granja) veio diminuir substancialmente os custos da publicação de autores portugueses e o jovem autor aproveitou bem esta oportunidade de publicação para, em 1979, fazer nascer aquele que é, ainda hoje, o seu personagem mais conhecido, o Espião Acácio. Crónica humorística da Primeira Grande Guerra, inspirada pela leitura da Ilustracão Portuguesa, revista do princípio do século que funcionaria como principal fonte iconográfica e documental, a série cedo conquistou os leitores do Tíntin, que aderiram sem reservas ao traço personalizado e ao humor de Relvas. Constituída por episódios de duas páginas, que podiam ser lidos de forma autónoma, a série iria chegar quase à centena de páginas, mesmo que os leitores do Tintin tivessem dificuldades em reconhecer nas histórias finais, o Acácio que conheciam dos primeiros episódios… Relvas, talvez por se ter cansado do humor mais clássico e documentado, vai na fase final da série introduzir elementos de ficção científica perfeitamente estranhos à história que a tornam em algo diferente, e que, apesar do próprio considerar estes últimos episódios como os seus preferidos, para os leitores não era necessariamente melhor, bem pelo contrário… O mesmo se passa em termos gráficos, com a limpidez quase “linha clara” que caracterizava até então o seu traço, desenhado com caneta de aparo, a dar lugar a experiências pouco conseguidas com o pincel, do mesmo modo que a planificação das páginas se vai alterando, passando das quatro tiras por página iniciais, para apenas três tiras. Do mesmo modo, a paródia a personagens com existência histórica real, como Lawrence da Arábia e um jovem Adolf Hitler, cedo dá lugar a personagens mais fantasistas, ou anacrónicas, como um cientista louco, punks ou extraterrestres. Tal como os contornos dos quadrados da última tira de cada página vão gradualmente desaparecendo, também a barreira artificial que separa os leitores dos personagens é quebrada num episódio em que o próprio Relvas aparece como personagem e é obrigado pelo director da revista a salvar a vida de Acácio, que tinha morrido no episódio anterior.


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