Edição 84

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Flagra

Foto: Alípio Ferreira

Trote solidário e sustentável Alípio Ferreira O Ministério Público parabenizou a professora Maria Tereza Leme Fleury pelo trote solidário, realizado por diversas entidades estudantis com apoio das três Escolas da Fundação. O trote, que supostamente é uma alternativa oficial ao trote nada-solidário, é na prática um evento a mais destinado aos calouros, que em geral participam dos dois. A ideia é permitir aos calouros uma experiência de interação com o bairro Bixiga: foram feitas, nas edições do trote, atividades com crianças na creche Novo Olhar, limpeza do parque Recanto do Pedrinho, e também o plantio de uma árvore. Mas é só durante um dia... Árvore plantada por calouros na rua itapeva

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Editorial

gazetavargas@gvmail.br

Gazeteiros Edição

Alípio Ferreira - Editor Chefe - 5º Economia alipiof@hotmail.com

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Redação

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Bárbara Sterchele - 3º Direito

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Gesley Fernandes - 5º AP f.gesley@gmail.com

João Lazzaro - 3º Economia jgslazzaro@gmail.com.br

Jonathan Natalício - 9º AE

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Mariana Pacetta - 3º Direito

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Colunistas

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Institucional

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Rafael Rossi - 8º AE

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Rosa Maria Lima - 3º AE

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Impressão

Ecoprintt Tiragem: 3000 exemplares

Capa

Breno Oliveira - 4º AP

Tiragem

3000 exemplares

FGV, a pior escola do mundo O título deste editorial é um exemplo de uso de duas figuras de linguagem misturadas: a ironia e a hipérbole. A ironia caracteriza-se por usar uma expressão querendo dizer justamente o contrário. A hipérbole, por sua merecida vez, é marcada por levar a extremos absurdos alguma caracterização. O leitor desavisado e filisteu protestará. Não será o título em discussão demonstração cabal do sensacionalismo ao qual se prostituiu a Gazeta Vargas? É bem provável. Afinal, caso “sensacionalista” seja a melhor crítica que leitores irascíveis sabem fazer ao nosso trabalho, que tranquilidade! Íamos falando da FGV. Como explicitado supracitadamente, esse título infeliz não é mais do que uma brincadeira com figuras de linguagem. É óbvio que a FGV não é a pior escola do mundo. Todos sabemos que a Fundação se esmera em mostrar ao mundo sua capacidade de superação acadêmica e técnica, produzindo conhecimento de forma a contribuir para a melhoria dos padrões éticos nacionais, e mais outras coisas. Mais especificamente, a FGV-SP, essa atrevida dissidente, por uma boa quantidade de décadas, foi especialista na produção e discussão de técnicas de gestão. Não é à toa que tenha internamente se dotado de uma estrutura intrincada e eficiente de prestação de serviços e procedimentos administrativos com o intuito de prover um ambiente acadêmico salutar e produtivo. Esses serviços e procedimentos vão desde a limpeza das salas de aula até a contratação de doutores magnificíssimos, passando pelos serviços de alimentação e pela manutenção da infra-estrutura escolar. Tudo isso, processos transparentes de conhecimento geral. Será? Crente de que a resposta para essa pergunta seja um sonoro “não”, a Gazeta Vargas resolveu ir atrás de saber como operam e a DISCLAIMER

quem respondem os órgãos e serviços da Fundação Getulio Vargas, com destaque para a dissidência paulistana. E é disso que se trata esta edição #84: segurança, limpeza, alimentação, aposentadoria dos professores, captação de recursos e entidades estudantis. São estes os temas tratados nessa edição que se pretende fazer uma “radiografia da FGV”. É claro que, ao trazer às claras ao adorável público quais são as forças contratuais que sub-repticiamente se articulam por trás da face feliz e harmoniosa que a FGV nos mostra, a Gazeta Vargas não se poupou a reflexão: é também um serviço ao ambiente geveniano o trabalho de tornar pública a informação que ao público pertence. Não será pretensão em demasia dessa revistinha feita por estudantes de economia, administração e direito? Não. Todos miram seus dedos inquisidores ao ex-governador Arruda, proferindo contra ele todas as críticas que merece um agente público descumpridor de seu papel. Assim como todos julgam escandaloso o caso de censura prévia contra o jornal O Estado de São Paulo, sinal de que a liberdade de imprensa ainda não é um valor de todo consolidado em nossa sociedade. Mas ocorre que no dia-a-dia da Fundação não faltam dilemas e complicações no trato com a coisa pública e na expressão de opiniões e ideias. E em geral os valores republicanos e democráticos, que todos defendem sem hesitar, são subitamente relativizados: a liberdade de imprensa parece um direito que a Gazeta Vargas não merece, e o respeito à coisa pública uma obrigação ao qual nossos gestores não precisam atentar tanto assim... É a recorrente hipocrisia que os gevenianos praticam ou enfrentam, e que no nosso caso, enfrentamos.¤

Alípio Ferreira

A Gazeta Vargas não se responsabiliza por dados, informações e opiniões contidas em textos devidamente identificados e assinados por representantes de outras entidades estudantis, bem como nos textos publicados no Seu Espaço submetidos e devidamente assinados por autor não presente no expediente desta edição. Todos os textos recebidos estão sujeitos a alterações de ordem léxico-gramatical e a sugestões de novos títulos. Por ser limitado o espaço de publicações, compete à Gazeta Vargas a escolha dos textos que melhor se enquadram na sua linha editorial, sendo recusados os textos muito destoantes acompanhados das devidas justificativas e eventuais sugestões de alterações. DIREITOS RESERVADOS — A Gazeta Vargas não autoriza reprodução de parte ou todo o conteúdo desta publicação.

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Cartas

Cartas à Gazeta Vargas 83 Comentários gerais

A edição #83 da Gazeta Vargas mostrou que a revista está voltando ao caminho certo. No meu ver a revista deve trazer muito mais assuntos internos a GV do que questões alheias à Fundação. Essa edição trouxe a tona com detalhes o que vem acontecendo no DAGV, mostrando os dois lados da discussão. Trouxe também cobranças, mesmo que brandas, à Diretoria da EAESP, além de outras questões relevantes ao dia-a-dia do aluno Gvniano, como as contas do DAGV e a criação da mais nova entidade, a IN. O que definitivamente deixou a desejar é a sessão mais lida da Gazeta, o humor....Acho que poderíamos lançar a campanha: VOLTA NOGUCHI!!!! Brincadeiras a parte, gostaria de parabenizar a todos que se envolveram de alguma forma com essa publicação, estou certo que a Gazeta Vargas está ocupando novamente seu lugar de veículo de informação, investigação e denuncia que marcou a participação durante muito tempo. Alan Broner Ex-Aluno da EAESP alan_broner@yahoo.com.br

O novo lar do CA

Embora munido de breve história, o CA representa uma entidade extremamente séria conduzida por indivíduos dedicados e comprometidos - fenômeno que transparece no projeto da ambiciosa nova sede. Como claramente se verifica no Estatuto Social do Centro Acadêmico, cabe à referida entidade “promover a integração e a solidariedade entre o corpo docente e o discente, além de promover a integração com as outras Escolas da FGV; e organizar e promover eventos e prestar serviços de caráter cívico, social, cultural, científico e técnico”. Deste modo, cumpre destacar o papel da nova sede como plataforma para a promoção e livre exercício de todas essas diretrizes estatutárias. Pretendemos promover programas sociais (aulas de ética e cidadania) na nova sede para jovens da população carente da região; apresentar um espaço apto para convergir e entrosar os alunos da FGV, assim como as demais entidades gevenianas (as quais serão em breve recebidas para um churrasco de integração); promover o ensino de línguas estrangeiras por meio do programa Berlitz; disseminar a cultura em todas suas formas, por exemplo, por meio de aulas de literatura e análise crítica de cinema, além da

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possibilidade de expor trabalhos artísticos dos alunos na própria estrutura da sede. A academia transcende o que aprendemos nas salas de aula - o CA entende isso e internaliza sua obrigação de desenvolver o aluno culturalmente. Uma vez estabelecida a nova sede, digo em nome de todos do Centro Acadêmico, empenharemos em oferecer os supracitados programas. Portanto, o maior incentivo que levaria um aluno das escolas irmãs a frequentar a nova sede do CA não seria o preço da cerveja ou os recursos já disponíveis no DA, mas a possibilidade de interagir com os alunos do Direito, ampliando seu leque de networking e enriquecendo sua perspectiva para além do universo da Administração. A nova casa foi extremamente bem recebida pelos alunos da EDESP – forte indício de que estamos no caminho certo. Sinto-me compelido a informar que o redator João Lazzaro discricionário ao afirmar que o Centro Acadêmico estaria, ao investir na nova sede, retirando verba das “reais obrigações do CA”. Agradeço esta oportunidade estendida pela Gazeta Vargas para esboçar meu parecer acerca da matéria outrora mencionada, e aproveito para também realçar dois convites: estamos abertos a ainda mais projetos que dêem bom destino à nova sede, e TODOS estão convidados!

Fernando Ribeiro Presidente Centro Acadêmico Direito GV cadireitogv@gmail.com

Contas do DAGV: Desnudas e Ruborizadas?

Qual é o papel do Diretor Financeiro do DAGV ? Dar lucro ou gerir de maneira cuidadosa e eficiente os recursos da entidade ? Se você optou pela primeira opção e se preocupa somente com a linha “resultado do exercício” de cada mês, não se desespere, suas preocupações foram sanadas! Nos meses de dezembro, janeiro, fevereiro e março, os resultados foram respectivamente $6.821,29, ($1.301,21), $14.468,02 e $31,852,38 (sim, positivos, e não rubros como iria preferir a Gazeta). Agora, se você, que nem eu, pensa que uma boa gerência não se resume ao resultado, trago noticias ainda melhores: a começar pela gerência das reservas do DAGV, uma das primeiras preocupações foi saber os detalhes das nossas aplicações: Quais são os prazos das aplicações, os riscos associados, os impostos e é claro

os retornos. A saber, as reservas estão divididas em fundos de capitalização diária e de extrema solvência nos bancos Itau e Bradesco, rendendo 94% do CDI e com um risco muito próximo de zero. O próximo passo foi gerir com extremo cuidado a situação do DAGV perante a Receita Federal e perante aos seus processos jurídicos. Além de pagar os impostos mensalmente em dia, pagamos impostos atrasados de dezembro de 2005, dois meses de atraso em 2006 e mais 3 meses de atraso no inicio de 2009, o que nos custou a bagatela de $9.003,62 no mês de janeiro e conseqüentemente, o único resultado negativo de 2010. No que tange os processos jurídicos, o famoso processo Alcides foi quitado ($100.000,00), e o processo (ainda em julgamento) da Giovanna das fotos está sendo devidamente negociado, sendo que uma provisão em caso de perda já foi providenciada. Já a questão da reforma, explicitamente citada pela Gazeta passada foi tratada com absoluta cautela. Parcelamos o que nos era conveniente (Marceneiro, carpete, sofás) e adiantamos o que julgávamos ser importante como recursos audiovisuais, o concerto do pebolas e a busca por novos meios de entretenimento (leia-se Playstation 3, o videogame mais utilizado que eu conheço) e os equipamentos da TVDA. Optamos por fazer tudo nos primeiros meses e assumir um resultado negativo no começo da gestão para que grande parte da obra fosse concluída ainda nas férias e para que não atrapalhasse o dia-a-dia dos alunos. Em todos os momentos estávamos cientes desta opção e mesmo com os resultados negativos, não tivemos que financiar nada e não tivemos que pagar juros, fizemos tudo de acordo com o caixa disponível. Investimos intensamente na Xerox do DAGV. Mudamos sua alocação física, ampliamos o espaço para os alunos, trocamos as máquinas velhas e criamos a papelaria do DAGV. Com isso revitalizamos uma fonte importante de recursos para o DAGV. Não podia deixar de mencionar as muito bem lembraras anti-heroínas do semestre passado: a Chopada e a Gioconda 41. De fato o prejuízo foi grande porém, não tínhamos muitas escolhas a não ser me comprometer a recuperar o prejuízo em eventos futuros. A título de esclarecimento, todos os eventos são planilhados com antecedência e discutidos muito tempo antes de serem realizados. Calculamos expectativas de receita e resultado e idealizamos um evento minimamente


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Cartas

gazetavargas@gvmail.br

Yuri Benelli Diretor Financeiro do DAGV ym.benelli@gmail.com

A Datena Vargas e os limites entre a puberdade e a maturidade

Devido à superficialidade e sensacionalismo com os quais a “crise” no D.A. foi tratada, sinto forte necessidade de, na posição de representante discente, pedir à Gazeta que pergunte-se, e seja honesta consigo, se não deveria ter havido mais (ou algum) profissionalismo na veiculação das notícias sobre a referida crise nas edições 82 e 83. Entendo que a notícia, que tem um ponto importantíssimo e inquestionável de discussão, foi evidenciada sem o mínimo de investigação profissional antes de ser publicada, resultando, nas palavras do professor Francisco Mazzuca e da professora Maria Fleury “uma opinião pessoal e uma interpretação de fato”. Acredito que a função da Gazeta é sim investigar e noticiar (nesta ordem, por favor), mas com profissionalismo, não com opiniões e interpretações pessoais. Um caso que tem tamanha influência no cotidiano da faculdade não deveria ter sido tratado com maior cuidado? É correto utilizar tanta (ou qualquer) ironia quando o objeto da matéria são as contas do DAGV? É correto publicar como “curiosa” a compra do PS3 por R$1.700 quando o prejuízo foi de R$10.000? E os outros R$8.000? Por que não foram evidenciados? Vocês notaram que eles são responsáveis por 80% do “rubro resultado” que tanto foi alardeado? Falando nisso, perguntem aos alunos, maiores interessados nesta discussão, se foi certo ou errado comprar o PS3. Talvez 20% acreditem que não. Mas e os outros 80%?? No exame de consciência que proponho a vocês, espero também que conste a

irônica foto da página 25 que mostra a sala de reuniões vazia com a legenda: “DAGV às traças”. Nesta, o amadorismo que vocês dizem ter existido na Chopada deve ter atravessado a fina portinha de vidro da Gazeta, não? Ou é este o retrato fiel do cotidiano da sala de reuniões?? Aquela mesma que foi objeto de desentendimento há dois dias quando havia duas entidades diferentes dizendo que era a sua vez de ocupá-la. Mas a maior questão é que toda esta crise derivou do sensacionalismo, que aproveitou a deixa e entrou na Gazeta pela porta da frente junto com o amadorismo. Ou será que, se esta equipe de investigação criminal tivesse entrado em contato com a Pernod e publicado a resposta que está hoje, depois de tudo estourar, na página 26, a repercussão seria a mesma? E por que a Gazeta não se preocupou em investigar o autor do crime que invadiu uma conta de e-mail alheia, limitando-se a utilizar estas informações, obtidas de maneira ilícita, para publicar uma OPINIÃO PESSOAL e uma INTERPRETAÇÃO DE UM FATO, como se fossem resultado de um jornalismo sério e profissional? Qual a influência desta falta de profissionalismo na “atual pequenez” em que “se afunda” o DAGV? O número de diretores que renunciaram seria o mesmo se a resposta da Pernod tivesse sido publicada na edição 82 desmascarando o achismo que tomou conta daquela edição? Os e-mails de ex-membros ridicularizando e tumultuando a atual gestão seriam os mesmos? Como foi dito na última edição pelo Editor chefe, Alípio Ferreira, “A missão da Gazeta Vargas é ser um fórum legítimo de proposição e registro de debates relevantes à comunidade FGV-SP”. Realmente, é uma missão louvável, mas busquem atingi-la com seriedade, pois está na hora de ir da teoria para a prática. Talvez seja o momento de a Gazeta Vargas sair de sua puberdade, para arrostar a dura e crua realidade do jornalismo. Marcus Vinicius Chiri Marcus.chiri@gmail.com Gazeta Vargas – Recebemos com muita tranquilidade as críticas feitas acima. Foi com muita segurança que a edição #82 foi lançada, com cada tema amplamente debatido e cada figura de linguagem precisamente intencionada. Convidamos o leitor a entender melhor a concepção que a Gazeta Vargas possui de seu próprio trabalho, assim como nossa visão do jornalismo, no texto na página a seguir, do redator Rafael de Heredia.

Contos Heréticos a seguir!!!

lucrativo. Acontece que no ramos dos eventos nem sempre tudo acontece como planejado e os prejuízos são inevitáveis quando se projeta um público de 3000 pessoas e somente 2430 efetivamente comparecem. As medidas tomadas foram a reformulação da parceria com empresas de eventos e a dcisão de que as futuras festas seriam mais conservadoras e menos arriscadas, o que se concretizou nos resultados da primeira cervejada e da Giovanna 29, que foram $17.078,58 e $21.842,68 respectivamente. Desta forma, o que eram apenas “esperanças de entregar o diretório num equilíbrio de gastos e receitas” como lembrou a edição 82, deram passos largos a se tornarem realizações de uma diretoria reduzida e comprometida.

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Contos Heréticos

Aos inimigos da Gazeta Rafael Heredia

Engana-se quem acredita que vivemos em tempos banais. Ou mesmo que as conquistas democráticas como imprensa livre, liberdade de expressão e de oposição estejam garantidos. Por mais que muitos finjam ser democratas convictos e pareça haver consenso generalizado em torno dela, é na hora de aplicar todos os aspectos da democracia que vemos a extensão (baixa) da sua popularidade. Seja nos níveis mais amplos, como nos governos nacionais, seja dentro de instituições menores (como a própria FGV), a construção de um ambiente democrático é uma obra sempre em andamento, inacabada. Até por não ser apenas uma forma de governo, mas é um tipo sutil de direito social e de consciência de cada indivíduo, a democracia pode e é frequentemente desafiada e aviltada.

A liberdade de discordar e denunciar Que país ou instituição pode ser mais agradável a um líder autoritário do que aquele em que só existe a Assessoria de Imprensa e a Publicidade Oficial? Em que a crítica foi banida e só existe a Verdade Oficial? Em “1984”, o livro de Orwell menos lido do que banalizado, existia um ente chamado Ministério da Verdade. Dali emanava tudo o que uma pessoa poderia saber e expressar; de preferência, na linguagem perturbada que era a Novilíngua. Apesar da alardeada consolidação da democracia no Brasil, o atual presidente também não é exatamente conhecido por sua relação harmoniosa com a imprensa. E infelizmente não apenas ele. Como podemos ver pela carta ao lado, é bem verdade que hoje em dia tem ampla aceitação a idéia de que o jornalismo “deve apenas noticiar, e não investigar ou opinar”. É típico de uma noção perturbada de jornalismo e, portanto, de demo-

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cracia. É freqüente que estas autoridades (e mesmo leitores) ignorem que toda uma discussão jornalística, ética e inclusive jurídica é levada a cabo dentro nas redações antes de levar matérias à luz. Não é diferente com a Gazeta Vargas. No nosso caso, alguns podem até discordar do resultado, mas o fato é que reflete um conjunto de posições friamente refletidas pela Gazeta, e não um arroubo púbere de ousadia e rebeldismo.

Jornalismo investigativo, crítico e com opinião Há quem repudie o jornalismo que é crítico e emite opiniões. Preferem acreditar em certa mitologia da “imparcialidade” (entendida como “não assumir um lado”). Sem nenhuma perspicácia, ignoram que não existe jornalismo que deixa de fiscalizar, que é irrefletidamente a favor. Fingem não saber que veicular só verdades oficiais é a morte da liberdade de expressão e de consciência. E mais: pretendem ignorar que o jornalista pode ser crítico e assumir posição. A estes questionamentos, respondemos que SIM!, veiculamos na Gazeta, sem qualquer receio ou medo de não dormir à noite (o que superamos ao longo da puberdade), opiniões e interpretações sobre os mais diversos assuntos. E assim é justamente porque somos honestos, porque não fingimos uma “imparcialidade” que mais atrapalharia a livre formação de opinião dos nossos leitores. Frequentemente fazemos escolhas e ousamos expressá-las. O que não nos impede de apurar rigorosa e isentamente os outros ângulos de um acontecimento – até por ser uma pré-condição na nossa formação de opinião. A maturidade e independência intelectual dos leitores são elementos imprescindíveis da equação jornalística. E é o que levará às suas próprias conclusões. Não pretendemos ser a palavra final sobre o assunto, mas a faísca que contribui um

debate muito mais amplo do que as nossas páginas.

Denúncias, opções estéticas e uma pergunta Sobre o repúdio à ironia (uma crítica presente não apenas na carta ao lado), podemos dizer: ao contrário dele(s), respeitamos o direito do leitor a expressar opiniões sobre o nosso gosto (duvidoso) para figuras de linguagem as mais variadas. Para usar um clichê, lutaremos até a morte pelo seu direito democrático de fazê-lo. Mas na condição de entidade que não recebe repasse dos alunos da FGV, também nos reservamos o direito de escolher metáforas e outras figuras que melhor expressem a situação dos temas abordados. Não procuramos agradar a todas as opiniões, mas sabemos acolhê-las (e publicá-las). Já a utilização de denúncias anônimas é praxe em todo o mundo, exceto pela Coréia do Norte e países alike. Desde a redemocratização do Brasil, exceção feita ao filho do excelentíssimo, ilibado sr. José Sarney, jamais um jornal foi condenado a qualquer sanção por utilizar, por exemplo, informações vazadas por um funcionário público sobre investigação sigilosa ou mesmo pela interceptação ilegal (infelizmente tão em voga no país) de comunicação. É responsabilidade do poder público coibir estas práticas, não da imprensa. Se no caso do DAGV os autores se sentem atingidos, nós que estamos certos sobre a maneira anônima em que a denúncia nos chegou, estimulamo-lhes a que procurem fazer valer seus direitos e investiguem o fato. Se for de interesse público, daremos publicidade ao resultado. Por fim, fica a pergunta: deveria a imprensa ser apenas um veículo de fatos, incapaz de qualquer poder síntese e análise da realidade? E a mesma pergunta colocada por outro ângulo: uma imprensa acrítica e de joelhos interessa a quem? ¤


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Curtas

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Curta da Gazeta

Casa do CA Foi finalmente inaugurada a nova sede do CA Direito GV, aos 19 de março de 2010. Nessa sexta-feira foi oferecido um pequeno festim, com direito a visita de dois professores: José Garcez Ghirardi e André Rodrigues Corrêa. Com exceção dos dois ilustres docentes, a casa neste dia foi frequentada exclusivamente por alunos do Direito GV. Como noticiado na edição #83 da Gazeta Vargas, apesar da recente conquista, o CA manterá também a antiga sede, localizada no décimo quinto subsolo do prédio da Rua Rocha. Casa do CA (2) Para batizar a nova sede em grande estilo, o CA Direito GV realizou uma festa de arromba. O nome escolhido para a maison CA é Itapeva Palace. A festa do Direito iniciou-se às 13h do dia 17 de abril, um sábado. Se você tivesse o privilégio de estudar na Direito GV, poderia desembolsar R$20,00 para usufruir das delícias preparadas na festa: espetinhos, bebidas, pão de alho, sorvete... Por outro lado, aos colegas da EESP e EAESP o preço cobrado foi de R$25,00 para as moças e R$40,00 para os moços. “Política da reciprocidade”, dirão alguns, uma vez que o DAGV em suas festas também cobre preços de não-alunos aos colegas da Rua Rocha. Periódicos para alunos de graduação A Biblioteca Karl A. Boedecker fará uma experiência com seus usuários. A partir do dia 26 de abril, será permitido aos alunos de graduação o empréstimo de diversos periódicos. São “emprestáveis” os periódi-

cos armazenados no primeiro subsolo do prédio sede da Biblioteca, com exceção dos periódicos acadêmicos, os “imprestáveis”. O empréstimo de periódicos, segundo a própria Biblioteca, não era permitido devido “à baixa demanda, por parte de alunos da graduação, atrelado ao fato de difícil reposição de fascículos, em caso de dano ou extravio”. Por isso, a liberação será feita como experimento, e a Biblioteca contará com a colaboração dos seus usuários para tornar essa nova regra permanente. Getulitarismo na EESP No dia 28 de abril, os alunos de economia estudavam para a prova do dia 29, quando receberam uma mensagem sumária da Secretaria: o professor Vladimir Ponczeck tivera a delicadeza de marcar a prova de sua matéria também para o dia 29! Em ocasião inédita na EESP, os alunos tiveram sua primavera dos povos. Trinta e três economistas subiram ao décimo terceiro andar às 8h40, e lá permaneceram protestando para as secretárias atordoadas. Essa notícia foi possível por conta das novas regras de avaliação na EESP que permitem os professores a aplicarem provas parciais sem aviso prévio. O resultado do motim, no entanto, foi nulo: houve duas provas no dia 29. Carlos Ivan em Redes Sociais O presidente da Fundação Getulio Vargas, Carlos Ivan (o Terrível), entrou na rede social NING. Foi encaminhada a seguinte mensagem aos alunos do 3º semestre de Economia: “A partir dessa semana, o professor Carlos Ivan, presidente da Fundação Getulio Vargas, ingressará na nossa rede

do Ning. O pedido de entrada foi feito pelo próprio professor, e não tem como objetivo fiscalização. O professor, e a FGV como um todo, esta muito interessada no desenvolvimento de novas tecnologias de ensino, e o professor Carlos Ivan gostaria de conhecer o Ning e ver o andamento de nosso trabalho. Gostaria apenas de informá-los de tal fato e reiterar o compromisso que vocês devem ter com a ética e seriedade em nossa rede. Até o momento não tivemos nenhum problema, e não acredito que teremos. Apenas lembrem-se que se trata de um espaço profissional e deve ser tratado como tal.” Circuito dos Presidentes São sete as chapas inscritas para o evento mais esperado do ano. Quem assumirá o prestigioso e cobiçado cargo de presidente do... D-A-G-V? As campanhas deste ano já começaram, e as chapas Acesso, Manifesto e as cinco memoráveis FBKKK`s (uma dissidente da outra, segundo eles próprios), já têm preenchido os debates acirrados acerca do futuro da representação discente na EAESP e EESP. Por enquanto foram partes essenciais da campanha camisetas, perfis de Orkut, twitter, e carômetros com direito a fotos no espelho. As cartas programas estão disponíveis no DAGV para o eleitor indeciso. Vote consciente! Roubos na Rua Itapeva Horário de pico na rua Itapeva pode ser um inferno. Para ir da Paulista à Rua Rocha, um motorista pode levar umas boas dezenas de minutos. Para estacionar, então, quase impossível. Mas quem diria, mesmo quem estaciona não pode ficar tranquilo. Alguns casos foram noticiados de “estepes” roubados e outros objetos furtados de dentro dos carros. A má-fé dos meliantes consegue minar qualquer tentativa de paz de espírito nessa movimentada rua.

Altos e Baixos Em alta »» Gravata do Seu Oswaldo »» Álbum de figurinhas da Copa »» Economia na presidência do DAGV

Na mesma »» Restrição de acesso ao Lounge Citibank »» Silêncio da FGV quanto ao desvio de verbas »» Inconstância no funcionamento da rede wireless

Em baixa »» Gordon Brown »» Rating da dívida pública espanhola »» Segurança na Rua Itapeva

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Crônica

A Saga Crepúsculo Entre a ambivalência da fascinação e da repulsa Mariana Beira Pacetta

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uando aceitei a sugestão de um amigo e enfim decidi dedicar uma coluna ao fenômeno Crepúsculo, eu sabia que estava em palpos de aranha. Acreditem quando eu digo: eu não gosto do livro. No entanto, quando olho todos os dias minha escrivaninha abarrotada com os quatro livros da Stephenie Meyer ou quando noto que os dois gigabytes do meu iPod foram inteiramente consumidos por canções das bandas que compõem a trilha sonora dos filmes, eu percebo que há algo de errado comigo. Resolvo proceder como sempre faço em tempos de aflição: ir ao Google. Minha pesquisa foi produtiva. De três coisas eu estava certa. Primeira, eu sofria de um mal nada incomum. Segunda, havia uma parte dele – e eu não sabia que poder essa parte teria – que poderia me legar danos permanentes e incuráveis. Terceira, eu estava incondicional e irrevogavelmente viciada. Zapeando pela web, porém, foi fácil notar que o que não faltam são detratores para a Mania Twilight. No Estado de São Paulo, Antonio Gonçalves Filho acusa o personagem de Meyer de ter sucumbido à moral da classe média. “Os vampiros de outras épocas – incluindo o conde Drácula de Bram Stoker – eram criaturas extremamente libidinosas, que seduziam suas vítimas com uma boa mordida no pescoço para em seguida atacar outras partes na região sul do corpo. [...] Se a noite de Nosferatu foi povoada de desejos ocultos, fazendo-o perder o controle, a de Edward é um romântico cenário com promessas de amor eterno.” Avançando na simbologia dos vampiros, procurei entender melhor minha enfermidade. Precisei cruzar o Atlânti-

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co por ajuda profissional e encontrei no The Guardian a explicação do psicoterapeuta Derek Draper: “O vampiro é uma metáfora do garoto predatório, mas ao mesmo tempo sedutor. Uma garota quer ser caçada e quer ser pega. Em outras palavras, a mordida representa a penetração, e o dente, o pênis.” Ok. O insight me fez lembrar da razão de eu não gostar de psicanalistas, mas não ajudou em nada com a obsessão. Foi só ligeiramente mais eficaz ler sobre a conotação moral-religiosa da estória. Stephenie Meyer, eu não sabia, é mórmon, e aparentemente alinha-se à ala conservadora de americanos que

É a mesma que por 13985 páginas se embasbaca com os contornos perfeitos do maxilar ultra perfeito de Edward. não vê o sexo pré-marital com bons olhos e que faz coro a movimentos pró-abstinência como o “Just Say No”. Não soa muito convincente, entretanto, considerando que tudo o que Bella Swan mais quer na vida é “Just Saying Yes” para o namorado vampiro. Tá bom, qualquer um de nós pode entender sem maiores dificuldades as alegorias por trás do romance de Meyer. Mas nada mudou em meu quarto, e eu ainda preciso de um iPod com mais gigabytes... Pensei em encerrar a coluna por aqui, me resignando com a minha sina, e durante vários dias, continuei simplesmente lendo, lendo. Foi quando eu

tive minha epifania: em Eclipse, há um certo trecho em que Edward pede que Bella revele sua insistência em negarse a casar-se com ele. A resposta dela é então hilária! Toda constrangida, ela explica que ela não é “that girl”, aquele tipo de garota que se casa aos dezoito anos, logo depois do colegial, como uma caipira do interior que engravida do namorado. Eles estão em pleno século XXI e ela se pergunta o que as pessoas pensariam caso ela aceitasse o pedido... E aí está, era tudo o que me faltava: eu estava, se não curada, ao menos convalescente! Ninguém precisa de verdade de grandes teorizações sócioculturais porque a saga Crepúsculo traz em si mesma os germes da cura ao mal que provoca. Porque a verdade é que Bella Swan é exatamente “aquele” tipo de garota. O óbvio ululante é que a garota que implora interminavelmente pelo homicídio que a fará viver “eternamente” ao lado do seu idolatrado vampiro é a mesma que se preocupa com a imagem que ela passará com um casamento precoce. Essa é a mesma garota que assume com o maior senso de dever os seus afazeres domésticos, é a garota que frita peixe para um pai cinqüentão e lava suas cuecas. É a mesma que por 13985 páginas se embasbaca com os contornos perfeitos do maxilar ultra perfeito de Edward. É aquela que renuncia à faculdade. A personagem de Stephenie Meyer tragicamente não consegue conceber uma vida outra que não a de passar todos os seus segundos, por todo o sempre, adorando, exaltando, se maravilhando com seu deus-vampiro. E por fim, céus, por fim, ser devidamente “pega”. Pena. Mas os leitores podem ficar sossegados: Isabella Swan e toda a sua trupe vampiresca vão lhes dar no saco. Leiam e esperem. No final, Bella não é o nosso tipo de garota. Ela só quer, só pensa em namorar... ¤


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Gazeteando

gazetavargas@gvmail.br Foto: Daniel Fejgelman

Novo Coordenador de Economia Marconi assume a vaga deixada por Nakano Henrique Sznirer

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ra uma tarde comum e pacata de uma sexta-feira, dia 5 de março de 2010, quando todos os alunos do curso de graduação em Economia receberam um e-mail da assistente administrativa da EESP, Sumaira Ismael. Sob um olhar rápido, parecia não passar de um e-mail da secretaria avisando sobre uma palestra ou confirmando alguma aula substitutiva que teriam. Mas ledo engano! Na verdade, se tratava de um comunicado sobre a mudança de coordenador no curso de Economia. Yoshiaki Nakano, também diretor da EESP, deixou o cargo, que seria empossado pelo professor Nelson Marconi. Mesmo tendo esta notícia tardado um mês a chegar, já que o documento que legitimava a troca havia sido assinado no dia primeiro de fevereiro de 2010, ela foi bem recebida pelos alunos de Economia, que há muito tempo criticavam o acúmulo de cargos do Professor Nakano. Nelson Marconi é formado em Ciências Econômicas pela PUC-SP e possui mestrado e doutorado em Economia de Empresas pela FGV-SP, segundo a plataforma Lattes, o Orkut da academia. Também possui um doutorado sanduíche (o que quer que isso seja) na renomada Massachusetts Institute of Technology. Atualmente leciona na PUC-SP e na FGV-SP e sua área de pesquisa é Política e Economia do Setor Público. Nakano assumiu o posto de coordenador do curso de Economia em 1 de agosto de 2008, substituindo o então coordenador Marcos Fernandes Gonçalves da Silva. Desde então, porém, esta troca foi alvo de diversas queixas

de alunos, que não gostaram da ideia de uma pessoa só acumulando dois cargos no comando da escola. Assim, um ano e meio após assumir o posto de coordenador, Nakano decidiu que seria melhor delegar esta função a outra pessoa, no caso, o professor Nelson Marconi. A primeira regalia de Marconi, ao assumir o cargo de coordenador do curso de Economia, foi uma sala no 13º andar, juntando-se à alta cúpula da EESP. Mas além dos benefícios, Marconi também adquiriu uma série de obrigações para com os alunos da EESP. Uma das queixas mais frequentes dos alunos era com relação a intercâmbios, pois segundo as regras da Coordenadoria de Relações Internacionais da EAESP (CRI), estes só têm direito a vagas remanescentes após a alocação dos alunos de Administração. Para resolver este problema, o novo coordenador, juntamente com o professor Samy Dana, e com a colaboração de dois alunos do 5º semestre da graduação em Economia, Felipe Cuconati e Vitor Agnello Rodrigues, criou o International Affairs, departamento que cumprirá o mesmo papel que a CRI cumpre na EAESP. Até agora, já foram selecionadas universidades da Europa e dos EUA com quem o departamento tentará propor parcerias, e o contato com estas está no aguardo do aval da diretoria da EESP. As regras para seleção dos alunos que participarão de intercâmbios também já foram estabelecidas . Paralelamente, foi criado o Departamento de colocação profissional da EESP, também coordenado pelo professor Samy Dana e auxiliado pelos dois alunos do 5º semestre. Por enquanto, este departamento tem como proposta, além da alocação de alunos a estágios,

Nelson Marconi, uma nova dinastia um acompanhamento exclusivo dos alunos de Economia, com palestras de profissionais da área de Recursos Humanos, melhoramento de habilidades em comunicação dos alunos, elaboração de currículo, entre outras habilidades demandadas pelo mercado de trabalho. Outra inovação inserida na grade curricular dos alunos que ingressaram na EESP após 2009 foram os cursos à distância, que são reuniões mensais em que são discutidos e propostos textos a serem lidos, e com uma avaliação ao final do semestre. Os primeiro e segundo anos da EESP estão tendo duas matérias deste tipo neste semestre. Esse tipo de curso foi inserido nessas turmas por uma exigência do MEC, já que a EESP considerava uma hora-aula equivalente a 50 minutos do relógio. O MEC exige que a hora-aula equivalha a 60 minutos contados, o que aumentou a duração do curso de Economia em 20%. Isso justifica a inserção desses cursos à distância. Ao que parece, o novo coordenador está desempenhando bem seu papel até agora, projetando diversas mudanças e colocando em prática projetos que há muito eram demandados pelos alunos de Economia, e até mostrando que a divisão de trabalhos é mais produtiva do que a concentração do mesmo, e comprovando mais uma vez a teoria de Adam Smith... ¤

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Foto: Alípio Ferreira

Caras: na GV

Entrevista com

Seu Antonio Felipe Yamada

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uitos dos estudantes que passam diariamente pelo sétimo andar da Escola de Administração nem desconfiam que lá trabalha uma pessoa de fortes dons artísticos. O bedel Antônio Leonildo Braghin, 62 anos, possui dois livros de poesia publicados, além de regularmente contribuir com textos para a Gazeta Vargas e, em suas horas vagas, fazer esculturas em objetos como madeira e gesso. Num calmo início de tarde de abril, recebeu a reportagem da revista para uma simpática conversa sobre sua vida e suas relações com nossa instituição. Todos os dias, seu Antônio sai de sua casa na Lapa, onde mora com sua esposa, para vir à FGV, na qual deve chegar antes das 6 da manhã, para abrir e preparar as salas de aula para as primeiras aulas do período. Trabalhando na Fundação desde 1996, o bedel é uma figura bastante conhecida pelos alunos e é uma ótima fonte para se conhecer a história recente da instituição e as relações dos estudantes com a mesma. Seu Antônio presenciou a difícil transição vivida pela EAESP, de um modelo de gestão mais plural e democrático para a estrutura atual, na qual há mais controle por parte da mantenedora, no Rio de Janeiro. O bedel afirma que esse processo gerou mais cobranças para os funcionários, afetando principalmente aqueles, na palavra do funcionário, “mais acomodados”. As mudanças de governança teriam tornado o ambiente da FGV mais produtivo e regulamentado, o que é encarado positivamente por seu Antônio. O perfil dos alunos foi outro fator que passou por mudanças desde que

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Braghin começou a trabalhar na FGV, ainda que estas alterações tenham sido “bastante sutis ao longo do tempo”, nas palavras de nosso entrevistado. Os estudantes tornaram-se, segundo o bedel, mais engajados e envolvidos com a faculdade, principalmente devido ao aumento do número e da atuação das entidades discentes. O relacionamento de seu Antônio com os estudantes é bastante bom, não faltando oportunidades para conversas e brincadeiras entre estes. Dessa forma, o bedel tem orgulho de ter tornado-se amigo de vários estudantes, com os quais nunca houve sérios problemas de relacionamento. Num dia normal, seu Antônio e vem de carro ao trabalho, tendo de madrugar para chegar num horário tão rígido. Suas atividades incluem cuidar dos equipamentos das salas de aula, operar o ar-condicionado e atender a eventuais necessidades dos professores durante as aulas, além de fiscalizar e reportar à secretaria eventuais faltas e atrasos de professores (que são tolerados até um limite de 15 minutos, depois dos quais a turma é liberada da primeira hora de aula). Além do prédio da EAESP, seu Antônio também já trabalhou no edifício de Economia. Quando perguntado a respeito de eventuais diferenças entre os administradores e os economistas, o bedel, curiosamente, afirma que os alunos da EAESP parecem mais expansivos, interagindo bem mais com os funcionários que os estudantes da EESP, que seriam um tanto retraídos, embora, obviamente, haja inúmeras exceções. A despeito de perceber tal tendência, Antônio não pôde explicar claramente as causas da mesma, atribuindo-as, talvez, à ausência de espaços físicos de convivência na escola de economia. De toda

Seu Antonio em um momento de descontração forma, a razão deste fato mencionado serve para a reflexão de todos nós: será que, além dessa falta de um lugar próprio, as insanas e sádicas exigências acadêmicas da Escola andam prejudicando a integração social dos EESPianos? A ver... Apesar de fenômenos curiosos como esse acima, seu Antônio considera o trabalho na FGV extremamente enriquecedor pessoalmente. De fato, grande parte de sua variada produção artística foi desenvolvida sob as asas gevenianas, nos momentos livres atrás da mesa de bedel. Antônio, porém, não teve essa profissão a vida toda. Durante muitos anos, atuou com desenho e projeto de ferramentas de fundição, trabalho com que criou seus 3 filhos, hoje casados e que deram ao simpático funcionário seus 5 netos. Em 1996, ao deixar uma indústria na qual havia trabalhado por cerca de 20 anos, aposentou-se e, nessa condição, iniciou suas atividades na FGV. Esperamos que seu Antônio continue presente na comunidade FGV ainda por muitos e muitos anos, contribuindo para tornar nosso dia-a-dia mais tranqüilo e agradável, bem como auxiliando no cumprimento adequado da rotina operacional diária de nossa faculdade. ¤


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Caras: Ex-GV

Foto: Enviadapelo entrevistado

gazetavargas@gvmail.br

Entrevista com

João Zanini A diplomacia com um toque de GV Laurent Broering Que tal se formar com a possibilidade de ingressar num trabalho em que glamour, possibilidades de atuação internacional, residência em belas mansões, proximidade com o poder e um salário de mais de R$ 12.000 por mês são realidade logo no começo da profissão? Pois pasmem, não é no setor privado que está essa oportunidade! É por isto que desde as mudanças na carreira de Diplomata em 99, apesar do aparente desconhecimento do CECOP sobre o assunto, o número de gevenianos no Itamaraty só tem crescido. Como João Zanini. Em uma GV quase vazia, quarta pré-feriado, a nostalgia tomou conta do ex-Presidente do DA ao chegar no 1º andar. Com uma vida atarefada em Brasília, foi somente na véspera de Páscoa que o Terceiro-Secretário conseguiu uma folga para conversar com a Gazeta Vargas no deck que ajudou a construir. Se por um lado ele não considera ter sido um aluno exemplar, a paixão que o motivou nos anos de Diretório Acadêmico o faz ser lembrado até hoje por aqueles que conheceram sua gestão ou pelo menos ouviram falar de suas conquistas. Tanto é que desde que deixou o cargo, Zanini tem sido procurado todos os anos perto das eleições por jovens que se dizem contra o “rumo das coisas” no DA. Frase clássica, segundo ele. Conta também que chegou a ser ameaçado algumas vezes ao remover do DA o controverso Departamento Social, grupo até então responsável pelas já famosas festas gevenianas pouco afeito à impessoalidade da administração pública e com uma leve tendência em remunerar melhor alguns de seus integrantes do que a própria entidade. Teve ainda que lidar com o fato de não contar com muito apoio por

parte dos alunos, mas diz que fazer política por eles e não para eles, ou seja, sem necessariamente querer “agradar” a todos, fez toda a diferença para a qualidade de sua gestão. No entanto, assim que seu mandato acabou passou a sentir necessidade de mudar um pouco de ares, trancando a matrícula na GV e (como costuma definir sua experiência) seguindo para a Ásia “vagabundear” por 13 meses. Considera seu mochilão uma das mais valiosas passagens de sua vida, já que em meio à sensação de estar num lugar exótico para os padrões ocidentais, experimentou ainda um processo de maturação ímpar pelo qual saiu de vez de casa e conseguiu descobrir muito sobre si mesmo. Faltava ainda concluir a GV quando voltou, incluindo o estágio que estava postergando. Estudante de AP, começou a trabalhar na Secretaria de Transportes quando todos os estereótipos do serviço público se concretizaram num emprego que só serviu para desestimulálo a seguir na área. Concluídos os créditos remanescentes, Zanini finalmente se formou e passou no exame da Anpec, embora não desejasse se tornar acadêmico. Aproveitou também para embarcar mais alguns meses pela África, onde em meio a diversos perrengues quase acabou preso no Zimbábue por causa de papeis supostamente subversivos que estavam na sua mochila, tendo que sair correndo para não pegar alguns anos de cárcere. Ao regressar, começou seu mestrado em Economia na EESP e, embora estivesse detestando o curso e ter de passar cerca de cinco horas diárias estudando além do tempo despendido em aula, se consolava por estar se “colocando à prova” e conquistando conhecimentos em política econômica.

Zanini não para, não para, não para não Convencido de que era no setor público mesmo que estava sua vocação, embora não estivesse muito certo sobre onde ou como isso ocorreria, Zanini seguia em frente. Até o dia em que bebeu demais numa festa de um amigo da qual voltou sozinho dirigindo e acordou na manhã seguinte com uma enorme ressaca, dentro do carro na garagem de seu prédio. Preocupado, afinal um grande amigo seu tinha acabado na cadeira de rodas por muito menos alguns meses antes, percebeu que alguma coisa estava errada. Precisava mesmo mudar de rumo antes que o caminho tomasse conta de seu destino. Dando início a uma verdade revolução em sua vida, pôs fim ao mestrado e lembrou de um amigo que há pouco mais de uma semana havia lhe falado sobre um preparatório para o concurso do Itamaraty. Matriculado dez dias depois, acabou aprovado em 2009 e está em vias de se formar no mestrado em Diplomacia do Instituto Rio Branco. Animado com a carreira no Itamaraty, já acumula um estágio realizado em Cuba e afirma que o meio diplomático é um ambiente ao mesmo tempo desafiador e estimulante, apesar de burocrático, e se sente muito feliz por ter entrado na carreira. Preocupado com as recém adquiridas responsabilidades, Zanini se levantou e deu uma última olhada no 1º andar. Mas não quis participar da Câmara Discente daquele dia: estava na hora de ir para um jantar pensar o futuro da Política Externa Brasileira. ¤

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Gazeteando

Mais uma vez o DAGV Alípio Ferreira

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Gazeta Vargas #83 saiu em março de 2010, há dois meses. Na época, as coisas não iam muito bem para o DAGV. Uma crise dividiu e esvaziou a diretoria executiva da gestão Interação, e o presidente teve de se utilizar de seus esforços comunicativos para convencer a todos de que o DAGV ainda poderia surpreender positivamente. Mais especificamente, os membros remanescentes estavam decididos a reverter a situação dramática das contas do Diretório, realizando um ajuste fiscal e trabalhando para obter superávits sistemáticos nos eventos. O desafio mais premente era então a festa Giovanna 29, que tinha a obrigação moral e política de ser um sucesso de vendas e satisfação. E paradoxalmente foi justo por conta dessa festa que o presidente do DAGV se viu numa outra enrascada. Um aluno de Economia, Giovanni Merlin, enviou um e-mail aborrecido ao Diretório, em que se queixava de um episódio desagradável que presenciara. No dia 16 de março, acabaram-se os ingressos de vendas da Giovanna. No entanto, Giovanni – atenção à coincidência de nomes – havia se dirigido à caverna do DAGV, e explicado a sua situação à secretária do Diretório. Esta solicitamente anotou seu nome numa lista, pedindo que voltasse no dia seguinte de manhã, quando chegaria um terceiro lote de ingressos para venda. O presidente do DAGV, por sua vez, havia feito reservas paralelamente a essa lista da secretária, mas também já recebera o pagamento pelos ingressos. Acontece que a decisão de vender um lote a mais de ingressos somente foi tomada numa reunião do grupo de eventos ocorrida na noite do dia 16. Uma vez chegados os ingressos, o presidente atropelou a lista da secretária - lista cuja existência não era conhecida pelos membros deste hono-

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rável diretório– e comprou os ingressos que tinha reservado. Quando Giovanni chegou para comprar os seus, surpresa! Os ingressos haviam se esgotado. A história, aqui bastante resumida, foi discutida numa reunião de Câmara Discente, em pequeno expediente. Nessa reunião, ocorrida aos 31 de março às 19h, o presidente Arthur Veloso teria de se explicar a confusão a uma plateia inconformada: por que havia feito uma lista, sendo que nenhum aluno deve ter prioridade na compra de ingressos? E por que fazer essa garantia aos alunos, sendo que não havia ainda sido decidido pela venda dos ingressos no dia seguinte? Por que ele não contara aos outros membros do grupo de eventos que havia feito as reservas? Os ex-diretores do DAGV, Luan Gabellini e Felipe Cataldi, chegaram a estimular alunos a virem à reunião da Câmara Discente, colando cartazes pelo 1º andar e enviando emails a diversos e-groups. Na reunião, levaram um puxão de orelha da secretária geral Aline Varnovitzky (é necessário possuir autorização do Diretório para colar cartazes em seu espaço), mas conseguiram o seu intento: a sala de reuniões estava cheia. A pauta da reunião era a eleição de um novo conselho fiscal e a aprovação de um contrato de um ano com a Skol, decisão que foi postergada para uma reunião que não ocorreu. Mas era no pequeno expediente que residia a razão de estar de tanta gente ali: que punição seria cabível ao presidente, se é que ele deveria ser punido. Os inquisidores estavam armados. Acusavam Arthur Veloso, por haver reservado ingressos a alguns alunos, de infringir uma das leis canônicas do Diretório Acadêmico: “não diferenciarás os alunos. A pena para tal heresia deveria ser a excomunhão, ou seja, a “desassociação” do DAGV. A questão agora era formal. Subitamente transformados em gélidos positi-

vistas, os membros da Câmara Discente alegavam um problema no regimento: a Câmara Discente pode decidir se um aluno é ou não é mais membro do Diretório – com todas as regalias associadas a isso -, mas não pode fazer impeachment. A solução foi, então, afastá-lo até o dia 28 de abril do cargo de presidente, e enviar aos alunos por e-mail uma explicação e retratação formal. Assim foi decidido, e a reunião se encerrou. Até o dia 28, porém, alguém teria que assumir a presidência. Quem assinaria os documentos? Os membros restantes

Luis Bonaparte: ecos na pós-modernidade da diretoria concordaram que o diretor financeiro e aluno de Economia, Yuri Moreira Benelli, assumisse interinamente o cargo. Foi o 18 Brumário de Yuri Benelli, o dia em que Economia chegou pela primeira vez à presidência do DAGV! Mas os dias foram passando, e logo o dia 28 chegou. A preocupação que ronda o diretório agora não é mais quem é o presidente, e sim quem será. As eleições que ocorrerão em maio contam com sete chapas inscritas: Manifesto, Acesso, FBKKK, *FBKKK, * * FBKKK, * * * FBKKK e * * * *FBKKK. O vencedor do pleito terá em mãos não somente uma entidade para administrar, mas o desafio de conquistar o único poder que realmente conta para um Diretório, e que este já perdeu faz um tempo: a mobilização dos alunos. ¤


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Promenade

gazetavargas@gvmail.br

Uma América para americanos, brasileiros, bolivianos... Mostra de Andy Warhol revela lado B do artista Érica Miyamura Àqueles que pretendem conferir a exposição Andy Warhol, Mr. America, (em cartaz na Pinacoteca do Estado de São Paulo até 23 de maio), pequenas recomendações: em primeiro lugar, se deseja poupar seu bolso, vá de sábado - porque são oferecidos bilhetes “cortesia” que dão acesso a todas as mostras; segundo, cheque bem o endereço, pois a Estação Pinacoteca, próxima à Estação Júlio Prestes, é aonde você quer chegar – não vá fazer confusão como fez a infeliz responsável pela presente seção; terceiro e último, aos leitores do sexo feminino, sugere-se que não andem desacompanhados se não quiserem topar com os habitantes e simpatizantes da Boca do Lixo (vulgo Cracolândia). Andy Warhol, para os não-familiarizados, foi pintor, artista gráfico, editor de revista e produtor da banda Velvet Underground, criou a factory, um dos centros da contracultura nova-iorquina nos anos 70 entre outras atribuições. Referência do movimento pop art, ficou conhecido tanto pelas telas de cores vibrantes quanto por seu relacionamento com celebridades dos anos 60 e 70, sendo assíduo freqüentador da lendária discoteca nova-iorquina Studio 54. É de sua autoria a visionária citação de que, no futuro, todos teriam seus quinze minutos de fama [In the future, everyone will be famous for fifteen minutes], uma alusão à máquina que é a mídia das celebridades instantâneas. O visitante que adentrar o quarto andar da Estação Pinacoteca, entretanto,

poderá ser surpreendido pela aglomeração de intelectuais e pseudo-intelectuais que se acotovelam para enunciar a melhor análise das obras do artista. Não se deixe levar: faça como um bom leigo ou humilde connaisseur e observe aquilo que mais lhe interessa, chegando as suas próprias conclusões. Marilyn Monroe, Jackie O. e a seqüência de Sopas Campbell – as telas mais famosas estão todas lá. Aqueles que tiveram a oportunidade de visitar o MoMA em Nova York podem até sentir falta de algumas obras, mas podem se contentar com algumas boas surpresas, tais como a simpática recepção das vaquinhas amarelas nas paredes [Yellow Cow On Blue] e a brisante instalação de nuvens prateadas flutuantes [Silver Clouds]. Há ainda, a ótima curadoria de Philip Laratt-Smith, que já faz valer o seu ingresso. A curadoria, aliás, mostra-se disposta a explorar algo além de seu lado artista, revelando traços até por vezes contraditórios de sua personalidade. É transcrita, por exemplo, uma curiosa conversa entre Warhol e o editor da revista Interview Glenn O’Brien: GLENN O’BRIEN: Você acredita no sonho americano? ANDY WARHOL: Não, mas acho que podemos ganhar muito dinheiro com ele. O que levanta o questionamento com relação à veracidade da declaração – seria mais um artífice seu para lançar os holofotes sob sua figura? Ou simplesmente, a verdade por trás dos fatos? Esta última constatação procede, uma vez que Warhol produziu telas de cunho

artístico quase nulo, faturando cerca de 100 milhões de dólares por oito colagens de Elvis Presley – e você agora tem um motivo a mais para se perguntar porque está fazendo FGV. Deve-se, entretanto, admitir que se Warhol não foi um exímio artista, mas pelo menos soube explorar ao máximo sua figurae os conceitos que vendia. Ele mesmo estava ciente disso. Em suas próprias palavras, “Ser bom nos negócios é a forma mais fascinante de arte. Fazer dinheiro é arte e trabalhar é arte, e o bom negócio é a melhor arte”. Não se deve, porém, fazer um juízo de valor premeditado com relação às obras da exposição – há sim, conteúdo por trás da superfície. É possível identificar, por exemplo, referências explícitas e também disfarçadas acerca da temática da morte: acidentes de carro, suicídio e cadeiras elétricas reforçam esta afirmação. Um exemplo dessa morbidez é que as imagens de Marilyn foram pintadas um dia após sua morte, além de Jacqueline Kennedy, cujo marido fora assassinado recentemente, e um Nixon fúnebre [Vote McGovern] não deixa dúvidas. Aos mais esquentados, vale lembrar que o sexo aparece com igual ou maior intensidade, em cenas que justificam a censura de 16 anos e para os que não se garantem. Por fim, se ainda assim sentiram falta dos R$6 que desembolsaram na entrada, ou mesmo se acreditam que não valha a pena nem assisti-la de graça (afinal, não cobre o combustível para o deslocamento), fica um consolo: desçam dois ou três andares e poderão desfrutar de uma bela seleção do histórico de Carlos Marighella, ironicamente em exibição no ex-DOPS. ¤

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Radiografia da FGV

Desorganograma da FGV O fatídico dia em que perguntamos aos funcionários da FGV quem é o chefe Alípio Ferreira

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e a pergunta inicial desta grande matéria de Radiografia é “quem manda neste curral?” nada mais óbvio e imediato do que desenhar um organograma. Habituados que são às hierarquias, às divisões de tarefas e de departamentos, não deveria ser nada difícil aos funcionários da FGV nos informar sobre como funciona a gestão dos órgãos da Fundação. Principalmente depois que foi alçado ao cargo de presidente e líder espiritual da Fundação Getulio Vargas o professor Carlos Ivan Simonsen Leal, os funcionários da FGV-SP deixaram de saber quem manda em quem e quem faz o quê. Surgiram novas escolas, novos cargos, novos prédios, novas salas e ante-salas, e quem já estava lá em geral não foi consultado sobre como deveria parecer o organograma da FGV. As Escolas de São Paulo, por exemplo, respondem diretamente à Presidência no Rio de Janeiro. Mas há assuntos que dizem

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respeito às três escolas e que são tratados pela Diretoria de Operações ou pela Diretoria da FGV-SP, sendo que uma não está sob a outra. A Diretoria de Operações, comandada pelo professor Carlos Roberto dos Santos Cópia (e seus muitos nomes), é responsável pela livraria, gráfica, limpeza, segurança, biblioteca, secretaria além de outras comodidades e incomodidades. Já a Diretoria da FGV-SP é algo um tanto mais misterioso. O diretor Francisco Mazzucca trabalha em sua espaçosa sala no décimo andar, e sua função é cuidar do desenvolvimento institucional da FGV em São Paulo. A Assessoria de Desenvolvimento Institucional (ASDI), que funciona sob a liderança da professora Zilla Bendit, está abaixo desta diretoria, e é responsável pela captação de recursos com os quais a vida da FGV se torna digna de seus nobres frequentadores, e projetos são viabilizados. Mas há muita nuance nessas estruturas que o nosso humilde organograma tenta retratar. A Coordenadoria de Relações In-

ternacionais, dirigida pela professora Ligia Maura Costa, órgão da EAESP que promove intercâmbios, também atende aos alunos da EESP e Direito GV. Apesar de as entidades estudantis serem, em sua maioria, completamente independentes da Fundação, algumas têm vínculos com as Escolas por meio de centro de custos, ou então foram fundadas sob apoio e pressão da FGV. Mas sua independência formal é em geral garantida por um estatuto, regimento interno, e personalidade jurídica própria. Quanto à personalidade jurídica da EAESP, ela inexiste. A FGV possui somente um CNPJ, sediado no Rio de Janeiro. Para algumas atividades, no entanto, a lei não permitiria o uso do status jurídico de Fundação, como é o caso da livraria. Assim, há ainda, para cumprir a legislação brasileira, alguns CNPJ’s vinculados à Fundação para realizar atividades assessórias. Segue um desenho de como deve aparentar a FGV se dela tirarmos uma chapa de raios-Röntgen (raios-X para os não pernósticos). ¤


Radiografia: Gacetada

GAZETA VARGAS gazetavargas@gvmail.br

Cheiro ruim Alípio Ferreira

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FGV ainda não se manifestou convincentemente a respeito, mas a Gazeta Vargas provê uma versão imbatível. Vejamos. A Prefeitura do Município de São Paulo – non ducor, duco – era administrada pela dona Marta no ano 2003 de Nosso Senhor. À época, a gestão das escolas municipais não funcionava a contento, e a rede de informática disponível era ainda muito ruim. A secretária de Educação do Município, Maria Aparecida Perez, resolveu tomar uma atitude, uma vez que o problema ocorria debaixo de sua alçada. A solução seria reverter essa situação: “modernizar o sistema de informática das escolas municipais e implantar novos sistemas de gestão”, segundo a Folha de São Paulo. O problema era saber quem poderia fazer o serviço. Naturalmente, o fator urgência pe-

Citrus Sinensis sava. O Poder Público deve impreterivelmente zelar pelo bem-estar dos cidadãos, dado que no momento do Contrato Social estes entregaram ao Estado de Direito sua tão frágil tutela. No entanto, atado que é ao insigne ordenamento jurídico vigente, o Poder Público deve agir às claras e de acordo com o que quis o legislador eleito democraticamente pelo Povo – aqui não no sentido pejorativo. Isto quer dizer que a secretária, por mais bem-intencionada que fosse, para contratar uma empre-

sa capaz de “modernizar o sistema de informática das escolas municipais e implantar novos sistemas de gestão” deveria abrir uma licitação, instituto definido na lei 8.666, de 21 de junho de 1993. A não ser que ela encontrasse uma empresa que demonstrasse “notória especialização” no serviço pelo qual o Povo clamava. De acordo com a lei 8.666/93, em seu artigo 25, “considera-se de notória especialização o profissional ou empresa cujo conceito no campo de sua especialidade, decorrente de desempenho anterior, estudos, experiências, publicações, organização, aparelhamento, equipe técnica, ou de outros requisitos relacionados com suas atividades, permita inferir que o seu trabalho é essencial e indiscutivelmente o mais adequado à plena satisfação do objeto do contrato.” Infelizmente a empresa Auge, de Belo Horizonte, não se encaixava nos critérios de notória especialização. O gerente da Prodam, estatal de informática da Prefeitura, Raphael Pacheco, vinha desde 2002 tentando contratar a empresa mineira para o projeto da Secretaria de Educação, enfrentando certa resistência. Mas nem tudo estava perdido para as crianças do Município. E é aí que entra a Fundação Getulio Vargas. Notoriamente especializada em terceirizar serviços de informática, a ilustre Fundação foi contratada pela Prefeitura do Município de São Paulo – non ducor, duco – para “modernizar o sistema de informática das escolas municipais e implantar novos sistemas de gestão”, de acordo com a Folha de São Paulo. A Prodam, estatal de informática da Prefeitura, agora sem necessidade de licitação, contratou a Fundação Getulio Vargas, que, devidamente especializada, terceirizou o serviço para a empresa de informática Auge, de Belo Horizonte, tão logo foi firmado o contrato de 21,8 milhões de sestércios brasilienses.

Assim, resolvia-se o impasse: o Poder Público cumpria com seu compromisso estabelecido há oitenta milhões de anos no Contrato Social, a Fundação Getulio Vargas cumpria com seu compromisso estampado na parede do sétimo andar de contribuir para o desenvolvimento do Brasil-sil-sil, as crianças de São Paulo podem agora dispor de um ensino público municipal eficiente e reconhecido, e a empresa Auge, de Belo Horizonte, que estava querendo que queria ser contratada desde 2002, conseguiu! Caso clássico de compatibilidade en-

O promotor Saad Mazloum qualifica o superfaturamento da contratação como ‘extraordinário’ tre a lei – que reflete o interesse público e a vontade do Povo, aqui não no sentido pejorativo – e interesses privados, o caso da Prodam e da Fundação Getulio Vargas (e da Secretaria de Educação, e da empresa Auge, de Belo Horizonte, e da dona Marta) não passou despercebido de outras instâncias estatais. O promotor Saad Mazloum, do Ministério Público, está escrevendo um case no tema, e qualifica o superfaturamento da contratação como “extraordinário”. A sociedade aguarda ansiosa pelo final deste enredo. ¤

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Radiografia: Entrevista

Alípio Ferreira Pedro Henrique Veloso No dia 22 de abril de 2010, quando o Brasil comemorava 510 anos de seu “descobrimento”, a Gazeta Vargas entrevistou o professor Francisco Mazzucca às 16h em sua sala no 10º andar do prédio da Nove de Julho. Apesar de o professor ter recebido a equipe com bastante cordialidade, foram semanas de incansáveis telefonemas, escadas e esperas até conseguir marcar um horário com o célebre professor. Atualmente no cargo de Diretor da FGV-SP, Francisco Mazzucca tem a tarefa de promover o desenvolvimento institucional da FGV-SP, por meio de órgãos como a ASDI. Possui uma extensa biografia dentro da FGV e da EAESP. Foi diretor da EAESP por duas vezes (1999-2003 e 2007-2008), e professor-adjunto do departamento de Contabilidade, Finanças e Controladoria (CFC). Recentemente coordenou o Programa de Desligamento Incentivado (PDI) na EAESP, ao qual ele mesmo aderiu. O PDI visa possibilitar a renovação dos quadros da Escola e permitir uma “saída honrosa aos professores da Fundação”, como disse o professor Mazzucca. Abaixo segue a entrevista que ele nos cedeu. Gazeta Vargas – Professor Mazzuca, o que motivou o PDI? Francisco Mazzucca – O que motivou o PDI foi fundamentalmente uma visão da Fundação Getulio Vargas sobre os professores antigos. Dado o fato de a idade média dos professores estar se tornando maior e maior, seria por bem oferecer aos professores que tiveram - e têm - tanta contribuição com esta instituição a oportunidade de poder se afastar, se assim desejassem, com algum incentivo. Além disso, fomos a primeira escola da Fundação a fazer um plano desses. Gazeta Vargas – E as vantagens que o

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PDI garante aos professores? Francisco Mazzucca – Uma remuneração em função do seu salário, a possibilidade de desligamento em até três anos, e uma vantagem representada pelo pagamento do plano de assistência médica por cinco anos. O professor poderá participar também de atividades na Escola, como em cursos executivos, não mais como professor de carreira. Gazeta Vargas – Foi unânime a aceitação dos termos do plano do PDI pelos professores? Francisco Mazzucca – A regra para o PDI não foi idade física, foi tempo de casa. Tinha que ter 30 anos ou mais, e não podia estar licenciado. Mas mesmo em o professor tendo mais de 30 anos de casa, se quisesse continuar na escola, não teria problema nenhum. Alguns professores querem ficar mais do que três anos. Quer dizer que a pessoa poderia aceitá-lo ou não. Tivemos o cuidado de fazer com que o sindicato dos professores participasse das regras do plano. Não foi perguntado ao sindicato se ele concordava com valor em dinheiro ou assistência médica. Foi mostrado ao sindicato qual seria a forma de trabalho, a forma do plano, e nesse sentido este plano foi aprovado com a anuência do sindicato. Não houve aceitação plena, tanto é que dos 52 possíveis, 31 não aceitaram. Gazeta Vargas – Em 1994 a EAESP promoveu um grande programa de aposentadorias, no qual diversos professores se desligaram da Escola. Quais são as principais diferenças entre o modelo de 1994 e o deste ano? Francisco Mazzuca - Em 94 foi oferecido um programa a um grupo de professores que preenchiam algumas condições: tempo mínimo de casa, ser professor de carreira e ter uma idade mínima, se não me engano. Se esses professores saíssem, receberiam ou uma quantia em dinheiro a vista ou

Foto: Rosa Maria Souza Lima

PDI e seus adeptos

Francisco Mazzucca também aderiu ao PDI uma série de pagamentos. Não tem nada a ver com agora: são dois sistemas diferentes pra duas motivações diferentes. O grande objetivo do atual PDI foi fazer com que a saída dos professores que assim o desejassem se dê de maneira honrosa. Isto é, a Fundação presta uma homenagem aos professores que estão saindo, que foram muito importantes para a construção da instituição. Gazeta Vargas – O senhor uma vez disse que a preocupação partiu da presidência da Fundação... Francisco Mazzucca - Depois que os professores mais antigos saíram, em 94, a segunda geração sempre demonstrou à presidência da Fundação preocupação com sua saída. Ao que a Fundação respondeu de forma correta: depois de 94 instituiu-se um fundo de pensão comum para toda a Fundação, o GV-Prev, com bons resultados. Foi uma remuneração muito importante a esses professores pós-94. Funcionava como funcionam todos os fundos de pensão: é descontada uma quantia da folha, e a cada um real que era depositado do salário, a Fundação depositava também um real. E era ainda possível até depositar voluntariamente mais – a Fundação não cobriria com mais, mas as aplicações eram muito boas em termos de retorno. Então, além disso, queríamos algo a mais, que foi esse plano. ¤


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Secretaria da Graduação O que a secretaria vem fazendo para melhorar o atendimento ao aluno

Alterações na matrícula, reservas de salas, agendamento de provas, solicitação de documentos, mudanças na grade horária. Só para citar alguns dos procedimentos realizados pela secretaria. Basicamente, toda a parte de estrutura e calendário, além da organização física e de documentação passa por lá. Na secretaria da graduação onze pessoas respondem pelo atendimento aos alunos e pela realização dos procedimentos internos. Uma passagem pela secretaria pode ser uma experiência longa. Pelo menos, isso é algo do que os alunos vêm reclamando faz tempo. Outra queixa constante é a falta de agilidade para a obtenção de documentos como programas e históricos escolares. Além disso, no que tange os assuntos da EESP, a falta de divisão clara entre as atribuições da secretaria do segundo andar no prédio administração e as da secretaria do décimo terceiro andar na Economia incomoda. O descontentamento é ampliado pelo despreparo para atender os alunos dessa escola. Na última reunião do CRD(Conselho de Representação Discente da EESP) esse tema foi discutido. Em períodos conturbados, como foi o começo deste ano escolar, aumentam os problemas de organização. No começo de 2010, além do maior volume sazonal de trabalho, a secretaria estava implementando um novo software para processar dados (por exemplo matrículas e históricos escolares). Segundo Sônia Regina Lima, da secretaria da graduação da EAESP e da EESP, boa parte do tempo que seria dedicado às atividades normais da secretaria foi dedicado a alimentar o novo sistema com as informações do sistema anterior. Outro problema que a mudança pode acarretar é

que os funcionários precisam de tempo para dominar esse novo recurso. A mudança foi motivada pela necessidade de agilizar os procedimentos da secretaria. Nesse primeiro momento, entretanto, o resultado foi o acúmulo de trabalho e o descumprimento de prazos. A secretaria da graduação está a par da maioria dos problemas sentidos pelos alunos e alguns deles já estão sendo resolvidos. O número de atendentes para alunos da graduação deve subir sempre que houver muitos alunos esperando, chegando a até cinco. Está sendo estudada a implementação de um sistema que irá diferenciar as pessoas que só precisam assinar ou retirar algum documento ou protocolo daquelas que precisam conversar e podem demorar, evitando que todos passem pela mesma fila. Quanto à divisão de trabalho na secretaria de Economia somente assuntos que precisam ser resolvidos pela coordenadoria devem ser tratados no décimo terceiro andar. Sônia, a responsável pela secretaria da graduação, afirmou que essa divisão não é muito clara nem para os próprios funcionários e se mostrou disposta a tratar desse assunto com os alunos e com o coordenador do curso. No semestre passado ocorreram alguns problemas com relação à divulgação de certas datas. Algumas informações simplesmente não constavam no calendário. Um exemplo disso foi o prazo para requerer equivalência com disciplinas cursadas em outras faculdades. O resultado disso não saiu até o fechamento da edição, duas semanas depois do prazo. A recomendação da secretaria foi que os alunos começassem a cursar a disciplina enquanto aguardavam o resultado. Quer dizer, a equivalência, se seguida essa recomendação, só vale para metade do semestre.

Uma das justificativas apresentada pelas vezes em que ocorre desrespeito a prazos é que nem sempre a secretaria é a única responsável pelas tarefas. Se, por exemplo, um professor atrasar a divulgação de suas notas, todas as notas demorarão mais para serem lançadas no histórico escolar. Portanto, em alguns casos ocorrem falhas de comunicação. Isso tanto entre os professores e a secretaria como entre a secretaria e os alunos. Para os últimos, os comunicados da secretaria para os alunos são feitos via email e nem todos os recebem. Estão sendo estudadas soluções para esse problema pelo departamento de marketing da FGV. Foto: Alípio Ferreira

Fernando Fagá Felipe Yamada

A saga da senha A secretaria da graduação mostra-se aberta par ouvir os alunos. É possível contatar diretamente a secretaria da graduação para conversar, ou evitar filas, encaminhando email para as diversas contas da secretária. O serviço prestado pela secretaria ainda está longe de ser perfeito. Entretanto é bom saber que estão sendo efetuadas e pensadas mudanças que visam melhor atender o aluno. Esperamos que todas dêem certo e que a comunidade dos alunos sinta em breve os resultados. Enquanto isso, tente ser paciente e trate bem as secretárias. ¤

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Biblioteca Geveniana Livros, assaltos, mudanças, livros...

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uem vai à biblioteca estudar encontra um ambiente propício. Tem a opção de usar as salas de estudo em grupo ou as individuais. Quem escolhe a primeira deve estar preparado, pois o silêncio não reina (e é essa a ideia). Principalmente durante a semana de provas, quando os gevenianos que deixaram para última hora invadem o espaço, geralmente com alguém mais esclarecido na matéria, para ver se conseguem destes extrair e fixar na memória (até o dia seguinte) alguma informação que julguem ser útil para a prova. Mas a superlotação não é um problema sério. Principalmente depois da inauguração da sala do subsolo do prédio da Picarolo, apelidada carinhosamente de bunker pelos frequentadores (esperase que funcione num caso de represália atômica). Já quem vai estudar nas salas individuais, após uma série de tentativas infrutíferas de acender a luzinha de leitura, encontra a santa paz. O silêncio é tanto que às vezes dá até vergonha do virar da página - que ressoa pela sala. A não ser quando há algum(a) engraçadinho(a) que fica cochichando sem parar. Mas felizmente isso é um caso raro, e, quando há, alguém logo solta um shhh, que faz com que os sussuros cessem. E deu vontade de ir ao banheiro? Nos andares superiores da biblioteca você poderá ter uma vista panorâmica do deck do Getulinho enquanto faz o número um (pelo menos no masculino). Incrível pensar que em meio a tanta tranquilidade já houve violência. Pasmem que a biblioteca já foi alvo de assaltos. Assaltos, no plural mesmo. E de armas em punho, como contou à Gazeta Vargas Marina Vaz, atual gerente

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da biblioteca, durante uma entrevista(1). Inclusive esse foi um dos motivos do fechamento da entrada da Picarolo. A construção da passarela de ligação entre o prédio da EAESP e o da biblioteca e o trancamento do antigo vestíbulo foi resultado da violência urbana que assola São Paulo. Marina Vaz, aliás, também contou outras coisas. Se você (ou o seu responsável) acha que as multas cobradas pelos atrasos são muito pesadas, fique sabendo que, primeiramente, você tem -20 Gvpoints (vide Gazeta #83 para mais informações). Mas, além disso, há uma boa notícia para os que vivem afogados em dívidas com a biblioteca: está em pauta uma discussão sobre a sanção Foto: João Lazzaro

Rafael Jabur

Vista do banheiro masculino da biblioteca a ser aplicada aos alunos que não devolvem o que pegaram emprestado na data determinada. Foi proposta uma mudança para suspensão temporária do direito de empréstimo. Essa proposta já foi passada para a Gerência Acadêmica e será discutida na Comissão de Biblioteca. Mas essa história é mais antiga que parece. Já houve outras formas de punição, passando da própria multa até uma combinação de multa e suspensão. Mudou-se bastante. O que não se alterou muito foi a quantidade de atrasos. Parece que, como lembrou Marina, é necessário que o usuário que atrasa perceba que está prejudicando o próximo.

Outro problema discutido atualmente é que os alunos de graduação têm uma restrição maior que os da pósgraduação quanto ao material que pode ser emprestado. Até o dia 26/04, os primeiros não podiam pegar os periódicos, mas, a partir dessa data, a restrição se afrouxa aos periódicos acadêmicos. O pessoal que trabalha na biblioteca recebe bem os frequentadores e você pode até passar uns minutinhos batendo um papo com um deles. E imaginem o trabalho que dá catalogar e arrumar certinho todo o acervo - em Março de 2010 eram 70.784 exemplares de livros, fora os vídeos, teses, fotos e publicações eletrônicas. Toda essa informação está disponível aos estudantes do Brasil, mas apenas através de outras bibliotecas. O chamado público externo só frequenta a biblioteca mediante autorização. E para conseguir alguma obra tem que fazê-lo por meio de “empréstimos entre bibliotecas”, uma forma de convênio que a Karl A. Boedecker mantém com instituições devidamente avaliadas (com uma estrutura bibliotecária confiável). O grosso do dinheiro usado para manter e expandir toda essa estrutura, que conta com os dois prédios (Picarolo e Rua Rocha), vem de repasses da própria Fundação. E não há na memória nenhum problema de natureza financeira - como afirmou a atual gerente, a FGV nunca negou verba e na previsão orçamentária que se faz anualmente é sempre deixada uma folga. Essa previsão é feita para cada uma das três escolas, que é responsável pelo seu quinhão. Enfim, a biblioteca criada em 1954, quando ainda funcionava na Martins Fontes, cumpre bem o seu papel de fornecer apoio bibliográfico para os alunos e pesquisadores, além de ser um ótimo lugar para quem não consegue estudar em casa. ¤

(1) A entrevista transcrita pode ser conferida no site da Gazeta Vargas (http:www.gazetavargas.org/)


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O Prático ou o Catedrático?

Qual é a verdadeira importância das entidades estudantis dentro da FGV? Flávio Ciabatoni Em 1970, um grupo de estudantes motivados por um objetivo em comum resolveu criar a primeira entidade estudantil da FGV, a AIESEC. A organização surgira em 1948, na Europa do pósguerra, com o objetivo de promover o relacionamento pacífico entre os países membros, através da realização de intercâmbios. O escritório criado na FGV foi o primeiro do Brasil. Depois de 40 anos, a fundação possui 12 diferentes entidades, sendo a faculdade mais rica na oferta de tais componentes extracurriculares. Dentre todas as entidades estudantis da FGV, podemos identificar um ponto em comum: todas se propõem a oferecer ao aluno uma experiência que tenha um aspecto mais voltado para a prática do que os conhecimentos oferecidos pela faculdade. A obtenção dessas noções práticas é muito importante para a formação dos alunos, já que dão para o estudante uma prévia de como será o seu futuro trabalho. Assim, não seria mais do que o esperado que a FGV tenha grande interesse em manter tais entidades. Para isso, ela as ajuda com custos operacionais, além de impor normas que diminuem a competitividade entre as organizações, já que estas são obrigadas, por regimento, a manterem portfólios diferentes. Ao contrário do que a maioria dos alunos pensa, as entidades costumam, sim, cooperar umas com as outras. No entanto, há momentos em que o aluno se vê dividido entre o cumprimento de obrigações que dizem respeito à faculdade e aquelas que são exigidas pelas entidades. Na grande maioria das vezes, o aluno acaba privilegiando o trabalho na entidade, e colocando-o em primeiro lugar. Quais serão os motivos que os levam a adotar essa postura?

Talvez o principal motivo para esse comportamento seja, principalmente no caso da EAESP, a falta de motivação dos alunos em relação à faculdade. Há constantes reclamações de que as aulas não rendem tanto quanto o esperado, o que promove uma indiferença por parte dos alunos em relação às leituras ou à realização das tarefas. Assim, confrontado por uma tarefa interessante e prática que lhe é exigida pela entidade de que participa, não é de se surpreender que o aluno opte por cumprir com essa tarefa, deixando de lado o que lhe é exigido pela faculdade.

é bastante raro que um aluno realize o projeto proposto na entidade e, no fim, tenha a sensação de não ter aprendido nada

Talvez a EAESP devesse se preocupar um pouco mais com a otimização do tempo de aula. Não é incomum a impressão de que a aula que dura 100 minutos poderia ter sido realizada em trinta. E ela provavelmente poderia. É bastante freqüente, dentre os estudantes de administração, a sensação de passar uma aula inteira sentado, escutando um professor falar, e sair da aula exatamente da mesma maneira que entrou, sem ter aprendido nada. Já quando participando de atividades promovidas pelas entidades, é bastante raro que um aluno realize o projeto proposto e, no fim, tenha a sensação de não ter aprendido nada. As atividades realizadas nas entidades são sem-

pre bastante produtivas, e seu caráter prático sempre acaba por proporcionar ao aluno uma boa experiência, que certamente lhe servirá na entrada do mercado de trabalho. Portanto, será que a boa reputação da FGV não se deve, em grande parte, às entidades estudantis? É possível dizer que se não fosse por elas, a faculdade não teria o prestígio que tem, já que seu modelo de ensino não é algo excepcionalmente diferente do das demais universidades. Qual é a principal diferença entre a FGV e as outras faculdades? A resposta é simples: o elevado número de entidades estudantis. Assim, torna-se bastante claro o porquê de a fundação oferecer ajuda de custo à maioria das entidades, sem exigir muito em troca. Ela já ganha, com isso, um grande nome dentro do mercado de trabalho, uma reputação que garante que, a cada ano, novos alunos entrem na faculdade. Grande parte deles opta por participar de alguma entidade, completando um ciclo que aumenta, cada vez mais, o destaque da FGV em relação às demais faculdades de administração, direito e economia de São Paulo. ¤

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Reportagem: Entidades

12 Formas diferentes de começar a mudar o mundo Mariana Pacetta

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jovem ingressante da Fundação Getulio Vargas poderá ser tomado de surpresa ao descobrir que a sua faculdade abriga entre seus muros nada menos que doze entidades estudantis. Não levará muito tempo para o calouro perceber que o sorridente jacaré de óculos Ray Ban, os traços curvilíneos de uma pequena casa e as peças de um quebra-cabeça em verde-e-amarelo são algumas das imagens que têm um espaço permanente cravado no imaginário geveniano. E não será outra a sua constatação: em poucas décadas de existência as entidades da FGV conseguiram imprimir uma marca reconhecida de sucesso. Resta entender como isso aconteceu e quais os impactos dessa realidade para a comunidade acadêmica da FGV. A história da origem das entidades da GV revela um ponto em comum entre elas. Foi do corpo estudantil que nasceram as iniciativas para a sua criação. Em muitos casos, os grupos de alunos idealizadores dessas associações tiveram que atuar fortemente junto à Fundação até conseguirem tirar do papel os seus projetos. Por isso, é impossível falar sobre a história das entidades sem se remeter à mobilização de exalunos, que souberam identificar uma demanda real dentro da escola. Esse esforço coletivo é parte da explicação do sucesso das entidades e do vínculo afetivo que sempre envolveu seus integrantes. O desprendimento das entidades em relação à Fundação reflete-se também na forma como são administradas. A maioria delas tem personalidade jurídica própria e é economicamente

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suficiente. A Coordenadoria de Graduação mantém um fundo chamado Centro de Custos, destinado para cobrir as despesas operacionais das entidades No entanto, especialmente no caso das empresas Junior, os dividendos de suas atividades e parcerias tornariam dispensável o auxílio institucional. O mesmo não ocorre com entidades como a Atlética ou o CA, por exemplo, cuja atuação depende diretamente dos repasses provindos das mensalidades dos alunos. Financeiramente dependentes ou não, as associações estudantis souberam conquistar e manter uma autonomia gerencial que foi fundamental para alcançar o nível de desenvolvimento atual. A interferência da faculdade no processo decisório das entidades é quase nula. Em algumas delas há um Conselho Administrativo, composto por professores, diretores, e ex-membros, que semestralmente se reúnem para a discussão das atividades da organização. Embora possa discordar das diretrizes da entidade, o Conselho não tem poder de veto. Esse arranjo permite que o corpo de alunos ponha em prática o modelo de gestão que entender mais apropriado. A passagem do tempo, numa espécie de darwinismo institucional, redesenha naturalmente a estrutura interna dos organismos estudantis. O que fica claro é que a relação da Fundação com as entidades se aproxima do “ganha-ganha”. E é notável que ambos os lados tenham entendido desde muito cedo essa lição: a autonomia estudantil não tem que ser temida; um ambiente livre é sempre terreno fértil para grandes realizações. Prova disso é que o cenário em que coexiste a dúzia de entidades da FGV acaba de entrar numa nova fase, com

potencial para significativas revoluções na nossa vida acadêmica. Se o relacionamento dos núcleos estudantis com a Fundação é amigável, entre eles próprios nem sempre foi assim. Não vem de hoje a crença de que as entidades da GV não se bicam. Anos de gestões personalistas contribuíram para no passado criar animosidades e exacerbar a competição entre elas. A grande maioria dos membros, no entanto, avalia que essa situação foi inteiramente superada, especialmente nos últimos anos. Mas a percepção dos alunos ainda não conseguiu vislumbrar os efeitos dessa mudança interna. Por isso, as entidades da GV, capitaneadas pela Empresa Júnior, de quem partiu a iniciativa, irão promover um movimento de integração que planeja atuar sobre duas frentes diversas: uma cultural, influindo na imagem que a comunidade acadêmica tem da relação entre as entidades, e outra integracional, induzindo a um maior contato entre os próprios membros. Como parte desses esforços, muito em breve os gevenianos verão espalhados pela faculdade os banners promocionais do evento esportivo que reunirá todas as entidades em torno de uma disputa futebolística. Batizado de “Interentidades”, o torneio será mais uma opção de entretenimento (etílico, talvez?) no calendário acadêmico oficial. Àquele calouro desavisado do começo do texto resta uma certeza: o seu futuro como um agente de transformação social não é a recompensa longínqua de quatro ou cinco anos de um curso exigente de graduação. Ao pisar na FGV, ele ou ela tem o privilégio ímpar de poder escolher doze formas diferentes de começar a mudar o mundo. ¤


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Saúde mental na GV? Ricardo Marchiori

V

ocê se sente esgotado, deprimido, aflito? Quando vê um carro vindo na rua, ocorre-lhe atravessá-la sem a preocupação mundana de chegar ao outro lado vivo? Exageros à parte, a verdade é que manter a cabeça equilibrada e a saúde mental sob controle não é uma tarefa fácil. Muitas vezes não é sequer uma prioridade para os gevenianos, com suas inúmeras atribulações quase-corporativas. É por isto que esta matéria procura apresentar e explicar um programa da FGV criado para ajudar os alunos em situações psicológicas e universitárias complicadas: o GV Pró-saúde. Parace que não é de hoje que o aluno da FGV nutre idéias e pensamentos negativos (felizmente até agora nenhum ao estilo Columbine ou Virginia Tech). A resposta institucional da FGV para estes problemas foi a criação na EAESP, em 1983, do Pró-Saúde. À época, constatou-se que muitos alunos traziam problemas para a faculdade, e que não competia aos professores resolvê-los – seja por não saberem como ajudar ou por não terem condições para tanto. Mas apesar de antigo, o Pró-Saúde está sob nova direção do professor Tiago Corbisier Matheus.

E o que faz? Explicando aos curiosos ou interessados: o Pró-Saúde consiste em até 4 sessões de suporte psicoterápico gratuitas, cujo foco é resolver as dificuldades dos alunos que procuram algum tipo de ajuda e não sabem onde encontrá-la, bem como para os estudantes que não dispõem de meios próprios para manter um acompanhamento contínuo. É importante, entretanto, explicar alguns pontos sobre o aluno-alvo do programa. Por exemplo, é de grande valia que o interessado manifeste algum nível concreto de problema, mesmo

que o expresse de maneira vaga como um desconforto, uma aflição, inquietação. Enfim, algum tipo de mazela da alma. A razão para tal é filtrar em um pré-atendimento aqueles simplesmente curiosos e daqueles com expectativa formada em relação ao programa, já que assim é possível identificar os estudantes que melhor aproveitarão o apoio fornecido.

algum nível concreto de problema, como um desconforto, uma aflição, inquietação. Enfim, algum tipo de mazela da alma.

Passado o pré-atendimento, o aluno é encaminhado a profissionais de fora da FGV para as 4 sessões. Pois bem, parece pouco, mas o objetivo é ajudar a elucidar e a dissipar as inquietações que circundam quem procura atendimento e estimular estas pessoas a que busquem resolver seus problemas pessoalmente ou com outros profissionais não relacionados ao Pró-Saúde (e que podem ser indicados pelo Prof. Tiago). Consiste assim em um primeiro passo para clarear uma situação difícil ou até mesmo insustentável - que afete a vida do aluno como um todo: universitária e pessoalmente – podendo então ser mais bem trabalhada posteriormente pelo indivíduo. O programa é um trampolim para quem busca ajuda e não sabe onde encontrar. Parece que seria improvável imaginar uma faculdade que acompanha o bem-estar psicológico de todos os seus alunos e interessados, por inviável devido aos recursos financeiros e humanos necessários a

esta oferta.

Ajuda seletiva Até aqui tudo bem: a faculdade oferece um programa de suporte gratuito para os estudantes, mas a má notícia é que se você é de Economia ou Direito e está aflito com as notas de meio de semestre, com aquela prova de Direito dos Contratos que você jura que zerou ou com as grandes questões do universo, o Pró-Saúde pouco te servirá. Até o momento ele é exclusivo da EAESP. Ainda estão sendo analisandas as tendências e demandas do geveniano destas outras escolas, apesar de a diretoria do programa informar que a procura de apoio por alunos das outras escolas é pequeno, quando não inexistente. Se esta matéria te pareceu um panfleto ou uma propaganda do Pró-Saúde, eu realmente sinto muito!, mas foi difícil encontrar grandes falhas estruturais em um programa que basicamente oferece ajuda aos alunos. Caso te interesse a polêmica ou a conturbação da ordem publica, tenho certeza que no resto da Gazeta há matérias mais instigantes e incendiárias. Por fim, o Pró-Saúde não foca somente no atendimento psicoterápico individual e procura outras maneiras de estimular o debate entre as visões de mundo e opiniões dos alunos. Dentre estas novas maneiras de trabalhar o bem-estar mental, surgiu uma cooperação entre o Pró-Saúde e o DAGV para estabelecer o “Cá Entre Nós”, uma exposição das idéias pessoais de estudantes a respeito de temas específicos. O primeiro evento ocorrerá dia 19 de Maio na sala 704 com o tema “Carreiras e Mercado de Trabalho” onde 3 alunos falarão o que pensam e o que sentem a respeito. Espera-se assim esclarecer e abrir o tema ao debate, pluralizando opiniões e dando chance para que cada um busque seu jeito de se realizar no mundo e manter a cabeça em paz. ¤

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Uma madrugada na FGV- SP Alípio Ferreira Bárbara Sterchele

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ão 21h58 de uma terça-feira típica. Alunos de MBA, CEAG e pósgraduação vão ouvindo as últimas palavras dos professores. Os funcionários da biblioteca terminam de retornar os livros às prateleiras e apagam as luzes. Alguns alunos de graduação dão os últimos retoques no trabalho para quarta-feira de manhã. Os bedéis já consultam os relógios ansiosos pela hora da partida. Os funcionários do Rockafé tiram o uniforme e cruzam a catraca pela última vez no dia. Dentro de uma hora, bedéis, professores, alunos, funcionários, todos dirigem-se ao conforto de seus lares, ou a um destino melhor, quem sabe? São 22h43,motoristas ensandecidos fazem fila na Rua Itapeva. Fumantes saboreiam o último trago no estacionamento do sétimo andar. O silêncio vai tomando conta do espaço outrora preenchido pelo burburinho de mais uma terça-feira. Luzes apagadas. Nenhum ruído. Poucos feixes de luz atravessam as janelas. Em uma cidade perigosa, caótica e turbulenta, a paz parece reinar na FGV, no edifício Kennedy. Ouvem-se passos. O cortante rangido das portas. O tilintar de chaves. São 23h50, as vozes abafadas de um exército invisível se fazem ouvir. Este, responsável por recolher os guardanapos abandonados no primeiro andar, apagar os rabiscos desenhados nas carteiras e tornar os banheiros utilizáveis mais uma vez. No dia seguinte, como em um passe de mágica, o DA estará brilhando, as carteiras estarão ordenadas e os banheiros com cheiro de pinho do campo. Um dia a mais se passará e uma vez mais esse exército invisível de funcionários terceirizados realizará essa tarefa necessária e talvez pouco

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reconhecida. Às 23h funcionários da empresa de limpeza CCR chegam à FGV para cumprir com uma agenda de tarefas que só deverá

Anderson Félix acabar às 6h30 do dia seguinte. As últimas lições e comentários nas lousas são apagados e as carteiras são esfregadas até que não figurem mais desenhos obscenos, anotações de aula e colas de provas. São 15 os trabalhadores responsáveis por essa epopeia noturna. Isso equivale a sete salas para cada auxiliar de limpeza. A cada dois meses aproximadamente, ocorre a “lavagem”, que consiste em retirar todas as carteiras das salas de aula para lavar o chão. É meia-noite. Dentro da sala 704, com um pano umedecido, a senhora Maria das Neves, paraibana de nascimento e há 17 anos em São Paulo, esfrega as carteiras. Dona Maria das Neves é a responsável pelo sétimo andar, e diz que a sala mais trabalhosa é justamente aquela, a 704, que recebe dos funcionários o apelido de “sala grande”. Demora aproximadamente 40 minutos por sala, mas na “grande” leva até uma hora. Neste momento, cruza o 7º andar mais um dos habitantes noturnos da FGV. Muito disposto e atento, o segurança Anderson Felix de Lima faz a ronda. Felix nasceu em Fortaleza, Ceará e veio com 9 anos para São Paulo. Desde 2007 na Fundação Getulio Vargas, pela empresa GOCIL ele julga o emprego tranquilo e não se incomoda com o turno das 19h às 7h que

enfrenta todas as noites. De fato, não são apenas os funcionários da CCR responsáveis pela vida na FGV enquanto seus alunos e professores dormem, fornicam, ou lutam contra a insônia nas noites paulistanas. Os seguranças da GOCIL sabem aproveitar toda a estrutura da faculdade que se encontra a sua disposição. Responsáveis por rondas periódicas e por qualquer tipo de atividades ameaçadoras externas ou internas à instituição eles executam sua cansativa função de maneira bem humorada. Frequentemente, Cléber Tadeu de Ávila, 35 anos, é designado para escolher uma boa pizzaria, em vista do lanchinho da madrugada. O próprio Cléber, ex-jogador profissional de futebol, brinca que a tranquilidade da madrugada geveniana somada às “pizzadas” têm tornado o futebol cada vez menos frequente. Mas o líder da noite, o Batman da FGV, chama-se Éder Samuel dos Santos. Dos cinco anos que Éder tem trabalhado na faculdade, marcou época o “causo” do formando trêbado que derrubou dois seguranças que o detiveram depois de incrivelmente passar pela fresta da porta de vidro

Wilson e Eder da entrada pela Av. Nove de Julho. O incidente, datado do ano de 2007, lhe rendeu alguns pontos no cotovelo direito e uma conversa com o então diretor da EAESP, Francisco Mazzuca, que ficou muito preocupado com o ocorrido. Baiana de Iaçu, Marinalva Silva da Rocha boceja um pouco. Sozinha, está limpando departamentos e escritórios da ala norte do prédio, no décimo andar. Diferentemente de muitos outros, não gosta de levar radinho ou mp3: “desconcentra do trabalho”, justifica. Na solidão e no silêncio compenetrado, Marinalva não tem medo das histórias de fantasmas que


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correm na boca dos funcionários. Para ela é tudo invenção. “É que algumas meninas não gostam de ir limpar sozinhas, e inventam essas histórias para ir de duas, três...” Marinalva fita o relógio. É 1h15min. Não se vê ninguém limpando. Os funcionários da CCR estão no “jantar”, reunidos no seu quartel-general, próximo ao estacionamento do sétimo andar. Dentro do refeitório, comentários sobre a sujeira: “a sala grande tava muito suja hoje?”. O líder

para limpar o 1º andar também. Odair tem 20 anos. Saiu de Recife com um amigo há um ano, e está faz oito meses na FGV. Sobre a limpeza no DAGV, comenta em tom de reprovação: “os colegas de vocês sujam muito”. Com um fone de ouvido pendurado na gola do uniforme,

GOCIL, dormirem, fornicarem e lutarem contra a insônia nos dias paulistanos. Durante o dia, assume o comando da segurança, o Sr. Krause e no âmbito da limpeza, uma nova equipe fica incumbida da tarefa de manter o ambiente habitável. Os responsáveis pela segurança e limpeza na Diretoria de Operações trabalham no décimo andar da ala norte do edifício da Av. Nove de Julho. Mais especificamente é a gerente Regina Mazon quem lida com

Odair e Davi Ilza Batista Nando se isola em sua sala, atento a problemas. Após a refeição, quinze minutos serão suficientes para uma partida de sinuca no primeiro andar e algumas xícaras de café. Até às 2h descansam, para então voltar ao trabalho. São 2h03. Ao mesmo tempo em que o segurança Wilson Oliveira Barbosa volta de uma ronda, os auxiliares de limpeza Davi Souza e Odair Marques se aventuram no asseio e organização do pitoresco primeiro andar. Arriscando-se em meio à confusão de sofás sebentos, tentam organizá-los de uma maneira minimamente racional, já que essa organização em poucas horas será profanada por estudantes ávidos em assistir à partida de futebol da quarta-feira. Davi, 27, saiu há um ano de Cruz das Almas, Bahia - “é onde é a UFBA”, conta orgulhoso -, quando veio trabalhar em São Paulo. Começou há seis meses na CCR, quando veio direto para a FGV. Todas as noites, equipa-se de um arsenal poderoso para lavar as escadas da FGV com seu colega e amigo Odair. Às vezes são escalados

Edvaldo e Cleber revela o que gosta de ouvir: Racionais. São 3h50min, no 5º andar, a auxiliar de limpeza Ilza Carvalho Batista pondera por um segundo e reconforta-se pensando que a esta hora a maior parte do trabalho já foi feita. Nascida em Feira de Santana, na Bahia, está em São Paulo há 22 anos. Vive na Praça 14-Bis, pertinho do trabalho, e faz supletivo na igreja Nossa Senhora Achiropita. Apesar da aparente comodidade, dona Ilza lamenta: “hoje em dia serviço está difícil, tem que pegar a primeira oportunidade”. E a oportunidade que lhe surgiu há seis meses foi a CCR, trazendo-a para perto de casa, a FGV. Sobre o turno da noite, diz que “aqui dentro é muito assustador”. Fantasmas? “Não... Fantasma é a gente mesmo: tem que ter medo é dos vivos.” São 6h da manhã, os soldados exaustos guardam seu material na Central de Limpeza no sétimo andar, colocam de volta suas roupas civis e preparam-se para o retorno ao doce lar. Assim enquanto os funcionários, alunos e professores, habitantes do dia, voltam à faculdade, é a vez dos guerreiros da madrugada da CCR e da

os contratos desses serviços terceirizados. Segundo Regina, os contratos são renovados anualmente, para garantir a qualidade e evitar a rigidez na contratação de serviços. O turno do dia para ambos, os seguranças e auxiliares de limpeza, apesar de menos solitários e talvez até por isso, não é menos penoso. Convenhamos que as situações mais esdrúxulas têm maior probabilidade de ocorrer à luz do dia, sob o Sol dos trópicos. Afinal, quando um aluno derruba um copo de café no meio na sala de aula, ou quando o bebedouro explode e ensopa todo o chão, ou quando você esquece a sua carteirinha de acesso, são eles, os seguranças, auxiliares de limpeza e secretárias que acodem e resolvem a situação. A FGV não é somente a produção acadêmica, o trabalho confortável, um diploma valioso e um conjunto de edifícios elegantes. Ela é também esse exército de homens e mulheres que cumprem seu modesto e fundamental papel nessa grande instituição. ¤ Fotos: Breno Oliveira

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De grão em grão A Receita por trás do Rockafé Alípio Ferreira Isabelle Glezer

De onde veio o Rockafé Quem já folheou a Gazeta Vargas, ainda que só para checar as sessões de humor e notas, percebe, edição após edição, que os preços do Rockafé estão sempre “em alta”. Embora isto possa parecer pura e indiscriminada implicância da revista, é inegável a impressão entre os alunos de Administração, Economia e Direito de que pagamos demais por nossa (por enquanto única) opção de lanche na GV. As teorias aparecem nos corredores aos cochichos: muitos parecem supor haver preços altos no Rockafé, e até há a suspeita de vista grossa feita pela GV em relação a estes “abusos alimentares”. Dizem as más línguas que o Rockafé possui direito de monopólio na FGV-SP, e que a Fundação teria uma participação na receita do Rockafé. Seríamos alvos de uma grande conspiração destinada a dilapidar nossos pobres bolsinhos? A Gazeta Vargas bravamente foi a campo e pôde desconstruir parte destes mitos. Antes da instalação do primeiro Rockafé na FGV, há 14 anos, outras lanchonetes operavam no edifício da Fundação. A primeira unidade da empresa, no 5º andar, foi inaugurada em 1996 na gestão do professor Alain Stempfer, seguindo as negociações iniciadas na gestão anterior, do professor Michael Zeitlin. O projeto inicial era de instalar uma lanchonete no sétimo andar do prédio da Nove de Julho. No entanto, segundo informou a diretoria do Rockafé, o professor Alain foi bastante duro: “Ou faz no quinto andar, ou não faz”. Na época, o prédio estava passando por uma grande reforma, e não havia lugar no sétimo an-

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dar para o empreendimento alimentício. Os empreendedores, um pouco descrentes do sucesso que teriam alocados no quinto andar, chegaram a apostar com o diretor que se a loja tivesse por três meses clientela superior a mil pessoas por dia, eles reformariam a quadra do sétimo andar. Perderam a aposta (e ganharam mais de mil clientes diários), e tiveram não só que reformar, mas reconstruir completamente a quadra do sétimo andar. A partir de então, o Rockafé foi crescendo na FGV, abrindo suas unidades no primeiro andar, o restaurante Getulio e posteriormente nas novas escolas (EESP e EDESP). Hoje está presente também em outras instituições, como o Colégio Santa Cruz e a ESPM.

Monopólio?

A Gazeta Vargas procurou trazer fatos à emocionante discussão sobre contratos e preços do Rockafé. Para isto, entrou em contato com a Diretoria de Operações da FGV-SP. E pasmem, gevenianos: entre a Fundação Getulio Vargas e o Rockafé existe apenas um contrato de simples locação por metragem e condomínio, renovado a cada quatro anos, sem qualquer cláusula de exclusividade, monopólio ou compromisso, segundo nos contou o professor Carlos Cópia, Diretor de Operações. A FGV tampouco possui qualquer tipo de renda variável sobre as vendas do Rockafé. O professor Cópia, no entanto, afirmou que não tem autori-

zação para nos mostrar os contratos entre a FGV e a “LPQ Alimentos Ltda” ou a “Gutembergue Alves dos Santos - ME”, outra empresa do grupo. Sobre o tema do monopólio, apuramos que o máximo que se poderia dizer é que o Rockafé tem um “monopólio de fato”, isto é, desprovido de garantia legal ou contratual de exclusividade. Mas nem este parece ser o caso: na unidade da FGV na Avenida Berrini, por exemplo, a lanchonete instalada não pertence ao grupo. Também diversos dos disputados coffee-ends de palestras e cursos de pós-graduação são providos por algumas outras empresas de alimentação que atuam na Fundação (o que não é o caso do PEC, servido religiosamente pelo Rockafé todo ano). Além disso, segundo nos conta o professor Carlos Cópia, o Rockafé será em breve substituído por outra empresa na EDESP. Essa mudança se daria em virtude de uma pesquisa realizada com os alunos de Direito pela internet, e cujos resultados não foram favoráveis ao Rockafé lá instalado. Conforme nos contou a Diretoria de Operações (DO), a pesquisa apurou que os alunos estão insatisfeitos com a falta de opções, e desejariam que fosse instalado um serviço de self-service por quilo, já que almoçam nas redondezas da faculdade quase todos os dias. A DO espera da nova empresa que se instale durante as férias de julho, pronta para operar a partir do 2º semestre de 2010. A empresa LPQ ainda não havia sido comunicada pela DO até esta reportagem ser feita, e não emitiu nenhum posicionamento oficial a respeito. Embora a Gazeta não tenha tido acesso ao contrato entre a FGV e os Rockafés, pudemos analisar aquele assinado entre o a LPQ Alimentos Ltda e o DAGV. Verificamos que entre o Diretório Acadêmico e a LPQ Alimentos vige, desde 1999, um contrato de cessão de uso de instalações físicas, com a anuência da Fundação Getulio Vargas. Ainda no mandato da Gestão Identidade (19992000), o presidente João Luiz Alcântara Amorim de Benevides assinou contrato


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que cedia, em troca de repasse de 5% das vendas brutas, um espaço de 121 m2. Desde julho do ano passado, quando iniciou a gestão Interação, este montante foi em média de R$ 4.860, com desvio padrão de R$ 2.207. Mas ao contrário do que acontece com a FGV, o contrato do DAGV com a LPQ Alimentos Ltda. tem prazo indeterminado, é “irrevogável e irretratável, obrigando as partes e seus sucessores”. Ainda que esta não seja uma prática incomum em contratos, este tipo de vinculação “eterna” causa desconforto. No presente caso, entretanto, o receio não é injustificado: é politicamente quase impossível que uma gestão do Diretório Acadêmico se proponha a arcar com um enorme passivo derivado da rescisão contratual. Atualmente, o DAGV está sujeito a uma multa rescisória, que atualizada giraria em torno de R$300 mil e um período de dez meses de carência (praticamente o tempo de duração de uma gestão). Na visão da diretoria da LPQ, no entanto, não faltaria quem se propusesse a pagar essa multa rescisória no caso de haver o desejo de trocá-los no primeiro andar. A maneira de o DAGV garantir que está recebendo seu soldo na devida quantidade seria por meio da realização de acompanhamento da contabilidade do restaurante e da lanchonete. Mas em geral, tende-se a confiar na boa-fé dos empresários, e num passado recente o DAGV não realizou auditoria alguma. A diretora da LPQ afirmou que é de seu

pleno interesse que esteja claro que sua empresa repassa religiosamente os 5% a que o DAGV tem direito. Para mostrar a veracidade de seus números, garantiu a Gazeta Vargas que trará alguém para acompanhar e registrar nos turnos do dia e da noite as receitas dos estabelecimentos do primeiro andar, a começar no dia 17 deste mês de maio. De qualquer forma, não parece razoável a contratação sem prazo de renovação entre o DA e o Rockafé, já que a Fundação renova seus contratos a cada quatro anos sem prejuízo a nenhuma das partes. Assim, a gestão que firmou contrato teria ignorado a maleabilidade do gosto e do bolso do aluno, para grande prejuízo da nossa liberdade de escolha. No entanto, de acordo com o parecer técnico jurídico solicitado ao membro Rafael Rossi Silveira, as expressões “irrevogável”, “irretratável” e “por tempo indeterminado” presentes no contrato somente “querem dizer que [o contrato] não comporta direito de desistência, que é o direito de suspender a efetiva contratação. Não quer dizer que o contrato é ad aeternum. Ou seja, não quer dizer que não possa ser denunciado. Aliás, a única coisa que faz com que o contrato tenha durado tanto é o prazo indeterminado (o que, na verdade, é bom para o DAGV, pois neste caso comporta-se denúncia vazia, ou seja, sem a necessidade de inadimplemento do Rockafé)”. Traduzindo do juridiquês, o fato de o contrato não precisar ser renovado implica no direito do DAGV de exigir a retomada do

imóvel em qualquer instante do tempo sem a obrigação de justificá-la, mesmo que o contrato esteja sendo seguido à risca. No que diz respeito ao reajuste de preços, a FGV e o DAGV relacionam-se de maneira diferente com a empresa: enquanto a Fundação não tem qualquer poder sobre o reajuste do preço dos alimentos no Rockafé, o contrato com o DA prevê que os preços serão reajustados 60% por dissídio ou convenção coletiva da categoria profissional (basicamente, a maneira como os cafés/lanchonetes universitários costumam reajustar seus preços) e 40% pelo Índice de Preços por Atacado – Disponibilidade Interna (IPA-DI, índice amplamente utilizado em contratos, e calculado pela FGV). O instrumento legal ainda fala sobre um “acompanhamento pelos cedentes”. Não é especificado se o DAGV deve acompanhar estes reajustes, nem a periodicidade em que devem ocorrer. No entanto, a diretoria da empresa afirma que o reajuste deve ser feito anualmente, e caso não reajustem tudo a que têm direito, não acumulam para o ano seguinte. A diretoria alega que em alguns anos não fez uso desse direito plenamente, não tendo reajustado completamente os preços. Julgam, assim, que não seria de “bom senso” que esse direito de reajuste não utilizado pudesse se acumular ao longo dos anos.

E quem paga a conta?

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Pergunta-se, no mesmo sentido, se a FGV estaria certa em isentar-se completamente de qualquer responsabilidade sobre o reajuste dos preços do Rockafé, já que esta é a única alternativa de alimentação nas dependências da faculdade. É hipótese amplamente aceita que a situação financeira da maior parte dos alunos da Fundação é abastada. Partindo daí, tem-se que a demanda pelos bens ofertados nas lanchonetes gevenianas é altamente inelástica, ou seja: enquanto os alunos precisarem de um cookie no entre-aulas, não hesitarão em pagar o preço que lhe cobrarem. No limite, segundo esse raciocínio, as empresas de alimentação aqui instaladas somente ofertariam suas finíssimas crèmes brûlées, acompanhadas de cupcakes, chocolats du jour e Nespressos. Naturalmente, no entanto, a realidade e o tal “bom senso” exigem que a prioridade seja dada a ofertar um produto de boa qualidade e preços acessíveis, tanto para a garantia da sobrevivência da empresa quanto para o cumprimento de seu papel: trazer comodidade ao freqüentador da faculdade. O Rockafé defende-se dizendo que os preços praticados não são abusivos: afinal são compatíveis com o nível de preços cobrados em outras universidades. Periodicamente realizam uma pesquisa detalhada com seus concorrentes para

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Radiografia FGV: Serviços verificar se seus preços estão de acordo com o mercado de pães de queijo universitários. A diretoria da empresa nos enviou uma tabela, parte da qual reproduzimos com exclusividade. O professor Cópia julga ser legítimo que a lanchonete, como bom agente econômico racional maximizador intertemporal de lucros que é, pratique seus preços e arque com a demanda que lhes corresponde. No entanto, parece desconsiderar que não são todos os alunos da FGV que são insensíveis aos preços praticados na lanchonete da escola. E quem negará que todos teriam o direito de desfrutar da comodidade de um cookie no entre-aulas? Curioso, pois, que a DOSP resolva se omitir como se esse tema não lhe pertencesse. De forma geral, a Fundação deveria estar mais atenta ao interesse dos alunos, em especial no que diz respeito às formas medievais de pagamento efetuadas no Rockafé (cheque, dinheiro e vale-refeição), as quais ignoram totalmente o advento tecnológico dos cartões de crédito e débito. O posicionamento da Diretoria de Operações nesses casos é convenientemente isento, ou até “meramente profissional”, com critérios objetivos de contratação e uma clara limitação à interferência na atividade contratada. Esse distanciamento estratégico de algumas questões espinhentas contrasta

– e muito – com a proximidade que o Rockafé assume no dia-a-dia do aluno. Não somente uma proximidade resultante das operações comerciais efetuadas diariamente nas Escolas da FGV-SP, mas da proximidade – também estratégica – que a empresa mantém com as atividades dos alunos, desde as mais sérias às mais lúdicas. O Rockafé é geralmente quem organiza a tenda da FGV nos jogos Economíadas, e não raro é do Rockafé que se compram os coffee-ends de eventos realizados por entidades estudantise os próprios sócios donos da empresa costumam ser empresáriospresentes no movimentado cenário geveniano. A situação parece paradoxal, deixando ainda algumas pontas mal aparadas nessa história de contratos e preços. A Diretoria de Operações é descomprometida quando se fala de preços, alegando que a própria lógica dos mercados há de lidar com essa situação, por mais injusta que ela potencialmente possa se tornar. No entanto, realiza unilateralmente uma pesquisa de opinião com os alunos do Direito GV, a partir da qual é tomada a decisão de que a empresa que atualmente fornece o serviço deve ser substituída! Estranhos desígnios orientam essa relação. Os preços praticados no Rockafé, sejam eles altos ou não, são similares àqueles praticados em outras universidades. Os preços praticados no restaurante Getulio são similares ou inferiores aos preços praticados em restaurantes por quilo de shoppings-centers. Inclusive, o restaurante possui uma parceria com a FGV que permite cobrar preços mais “camaradas” para os alunos que possuem bolsa financiável para alimentação, uma das modalidades oferecidas pelo Fundo de Bolsas. Parece até que o Rockafé compete com a Diretoria de Operações quanto a quem se preocupa mais com os alunos. Pouco razoável: parece mais é que o Rockafé e a DO estão em um jogo de cooperação, de causar arrepios a muito aluno, mas que certamente convém a muita gente. ¤


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Coluna do RK

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O Futebol Brasileiro Hoje Rafael Kasinski

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e ilusão fosse guloseima, o Brasil seria um país dos morbidamente gordos e desesperadoramente diabéticos. Ilusão aqui é um hobby, as pessoas dependem dela para conseguir um mínimo de alegria em suas vidas. A incapacidade de enxergar a realidade é algo que realmente junta gente de todas as cores e classes muito mais do que o futebol. E já que falo de futebol, que seja representação, então, como microcosmo, dessa nossa sagacidade às avessas. Ou alguém está achando que o futebol brasileiro presta? É fácil dizer que sim quando se leva em conta somente o jogo, mas Futebol existe em outras dimensões. Porque sem estas outras dimensões, é só pelada. Tome-se como exemplo o time darling do momento, Santos FC. Há por lá ótimos jogadores e um bom técnico. Mas francamente: essa alegria toda dura até quando? Até a próxima janela de transferência? Ou a que vem logo em seguida? O time em questão não tem opção: precisa vender seus principais jogadores, pois muito dinheiro é oferecido por eles. Os clubes brasileiros hoje não podem mais contar com suas principais estrelas sendo jogadores e escravos assalariados ao mesmo tempo. O Santos, como qualquer outro time de futebol no Brasil, considera o lucro líquido uma benção, vê em cada craque revelado pela base do clube a salvação do trimestre e não um investimento a longo prazo. O Brasil deveria ter os campeonatos mais prestigiados do mundo. O Brasileirão deveria ser cobiçado por emissoras de TV do mundo inteiro e a Copa do Brasil deveria ser uma competição no mínimo conhecida por nome. Ao invés disso, temos campeonatos regionais medícocres; um campeonato nacional em que a graça é ver quais times conseguem jogar de forma menos irregular;

uma copa nacional que serve para os times “grandes” tentarem uma vaga custosa e não particularmente emocionante para um campeonato continental bastante chato e ralé. Mas nossos talentos administrativos não estão aí para administrar futebol, estão aí para cuidar exclusivamente de suas vidas. Ou o leitor acha razoável os times “grandes” continuamente pedirem (E RECEBEREM!!!) ajuda fi-

A corrupção que rolará nestes próximos anos não está escrita no gibi.

“A bola é redonda e o jogo dura 90 minutos” Sepp Herberger nanceira do governo para não quebrar? Guardadas as devidas proporções, equipes como o Flamengo, Palmeiras, Remo e Santa Cruz estão tão perto do fundo do poço quanto times grandes como o Manchester United e o Real Madrid por causa do tamanho de suas dívidas. A diferença entre United e Real, e Flamengo e Cia., é que os primeiros não tratam seus torcedores como gado. E daí temos a CBF, nossa pièce de resistance, a “organização” que “cuida” do futebol brasileiro. A Confederação, en-

tretanto, só consegue ganhar quantias vultuosas de dinheiro transformando a roupa dos jogadores em outdoor brega. Times brasileiros deveriam ter suas camisetas decorando os corpos de um sem-número de pessoas mundo afora, mas estas são dificílimas de encontrar fora do Brasil. Isso é em grande parte obra do Rei da CBF, Ricardo Teixeira, que nada mais é do que criatura e reflexo de seu sogro João Havelange, outrora presidente da mesma entidade e também da FIFA. Nenhum deles em algum momento prestou como administrador, e suas gestões predatórias e pilantras só pioram pelo fato de autoridades públicas fazerem vista grossa. Ou o leitor acha normal Teixeira regressar dos EUA em 1994 com o troféu da Copa em mãos exigindo que autoridades alfandegárias permitissem que a CBF praticasse o que a lei tipifica como contrabando? Só no Brasil se permite que gente assim se eternize na administração de uma entidade que deveria ajudar a promover um futebol de primeira, ou que gente assim organize a Copa do Mundo, um evento que não estamos prontos para receber. Como dizem alguns, a corrupção que rolará nestes próximos anos não está escrita no gibi. Toda a história do futebol brasileiro é uma procissão sem fim de tenebrosas decisões administrativas. Hoje, não temos um time de nível internacional que dure mais que uma temporada; não temos quase nenhum jogador de nível mundial que queira ficar aqui a não ser para se aposentar, à exceção, talvez, de Robinho e Adriano; não temos um clube em situação financeira sadia e nenhum estádio preparado para a Copa do Mundo. Talvez de dentro da FGV ou coisa que o valha saiam cabeças mais inteligentes e dedicadas que vislumbrem algo mais digno para este talento nacional que temos. Talvez. Mas dado nosso histórico, recomenda-se esperar sentado. ¤

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Somar Hoje Para Multiplicar Amanhã Roberta de Alcantara Machado

Responsável pela fundação e expansão das operações do CREA+ no Brasil Ex-aluna da FGV - AP, formada em Junho/2008

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ailarina ou professora. Eram essas as profissões que eu gostaria de ser quando crescesse. Talvez por influência de pessoas queridas que me rodeavam, como minha mãe, dançarina de muitos anos, ou como minha madrinha, professora desde sempre. Mas o curioso é que em cada fase relevante da minha vida, a arte de ensinar foi mostrando-se cada vez mais presente, sem me dar conta de que poderia ser uma questão de “destino”. Entrei numa sala de ballet pela primeira vez, aos quatro anos e de lá saí apenas aos 20. E os primeiros passos como “professora”, ou pelo menos na iniciativa de, foram durante a escola, quando dava aulas particulares a amigos de meu irmão, três anos mais novo do que eu. O que mais me fascinava no ballet eram a disciplina e, ao mesmo tempo, a liberdade de movimento, além da ideia de mostrar ao outro o potencial que ele tem para conseguir boas notas, que basta um pequeno “empurrão” para ajudálo a entender suas dificuldades. Porém, ao deixar a escola, acabei não optando nem pela dança nem pela pedagogia. Dei um rumo um pouco diferente à minha vida,mas que, pelo visto, seria por menos tempo do que imaginava! Entrei na FGV, em Administração Pública (AP), em agosto de 2004, e apesar do curso, sinceramente, nunca me enxerguei fazendo carreira na área pública ou 100% ativa em projetos do terceiro setor (apesar de já haver me en-

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volvido com trabalhos voluntários ocasionalmente). Meu primeiro estágio foi em um projeto chamado Rede do Saber, cuja proposta visa complementar a formação em nível superior de professores da rede pública estadual de São Paulo, por meio do ensino à distância. Foi uma experiência bastante enriquecedora, no sentido de se poder comprovar a grande necessidade de se oferecer uma boa formação àqueles que, durante a semana, podem exercer tanta ou mais influência em nossa educação que nossos próprios pais. Após nove longos meses, comecei a trabalhar no setor privado de saúde, no qual permaneci até a semana passada. Apesar do grande e inegável aprendizado e das excelentes pessoas com quem trabalhei, acredito que nunca me identifiquei totalmente com essas empresas. No final do ano de 2008, consegui uma bolsa de estudos para participar de um programa de liderança para jovens da América Latina, Portugal e Espanha (Iberoamérica), em Washington D.C. De fevereiro a junho de 2009, vivi momentos incríveis junto a outros 34 jovens, uns recém-formados como eu, outros com mais experiência de vida. Éramos 35 jovens de distintas faixas etárias, porém bastante unidos por um objetivo comum: formar uma ampla rede de contatos para que, juntos, consigamos desenvolver a América Latina e mudar sua realidade. Com esse pensamento em mente, tínhamos a tarefa de apresentar ao final do programa, um projeto que tivéssemos interesse de desenvolver quando retornássemos a nossos países de origem. Reuni-me então com um amigo chileno (José Miguel Ossa Guzmán), também presente no curso, que trabalha com educação em Santiago, com o objetivo de inspirar-me

para o projeto. O que a princípio seria uma breve conversa sobre temas relacionados à educação, tornou-se a conversa mais contagiante e inspiradora que já tive. Fui apresentada ao CREA+, organização sem fins lucrativos nascida no Chile, cujo objetivo é aprimorar o ensino público de crianças e jovens de recursos escassos, por meio do reforço em matemática e de atividades complementares. E foi paixão à primeira vista,paixão e carinho transmitidos no modo como ele me expôs sobre o projeto, paixão visível no sorriso das crianças presentes no vídeo institucional da organização ao falarem do bem que lhes faz participar no Crea+! E foi por isso que, ao me fazer o convite para expandir o Crea+ para o Brasil, não consegui pensar duas vezes antes de aceitar. Era final de março de 2009 quando, juntos com outro amigo do programa, de Lima (Peru), demos início ao projeto de expandir o Crea+ pela América Latina: Brasil e Peru. Após retornar a São Paulo, três meses depois, dei inicio a um trabalho que, mais que desafiador, é extremamente gratificante! Conseguir influenciar pessoas e fazê-las tomarem como delas um projeto que no início era uma tarefa árdua, mas que, quando se concretiza, não tem preço. Dar início ao Crea+ foi como projetar o nascimento de um filho: exige muito planejamento e paixão. Exatos nove meses após voltar de Washington, comecei a buscar pessoas que quisessem me ajudar a tornar esse sonho realidade. Hoje, com dois meses de vida, posso dizer que o Crea+ possui os melhores recursos que, em minha opinião, uma organização pode ter: PESSOAS comprometidas e motivadas pelo que fazem! Se somarmos esforços, juntos conseguiremos multiplicar os resultados positivos! ¤ Contatos do CREA+ no Brasil: Email: contato@creamas.com.br Site: www.creamas.com.br Facebook: Creamais Brasil


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Receita de bolo para melhorar o DA Jairo Fugita Ohno

8º semestre – CGAE Jairo.ohno@gmail.com ltimamente a atual gestão do DA tem comprovado uma tese na qual eu já havia pensado. O Diretório Acadêmico é uma das entidades da GV com o maior potencial de sair feio dos trilhos. O elevado número de pessoas atingidas pelas suas decisões e a troca integral que ocorre anualmente nas gestões é o fato gerador desse potencial. Mas é a incapacidade dos que fazem atualmente parte dessa entidade de reconhecer que se tudo não for feito com grande esforço e controle o DA inteiro vai para o buraco o mais preocupante de tudo. Além disso, a eles falta humildade. Mas como dar noção e humildade para qualquer um é difícil por meio de um simples texto, resolvi escrever algo bem didático, para qualquer um entender. Espero que meu texto motive aspirantes a administradores do DA, já que a apenas poucos meses do final da atual gestão, fica difícil reverter a situação (se for depender da Gioconda, então...). Primeiro uma breve contextualização: fiz parte do DA entre fevereiro de 2006 e junho de 2008 e, nesse tempo, trabalhei com três gestões diferentes, que me deram alguma noção de como o Diretório funciona. Especialmente, fiz parte da Contato (2007/2008), que adotou essa “receita de bolo”. A idéia que vou explicar é simples: o DA tem basicamente duas partes diferentes e que merecem tratamentos diferentes. São elas: Político-acadêmica Projetos A primeira é a essência da entidade, o porquê de sua existência. E, mais im-

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portante, é uma área de longo prazo. Ou seja, os efeitos do que for feito nela provavelmente não surgirão na mesma gestão que iniciou o trabalho. O gestor desta área deve ter isso muito claro para não confundir as coisas e se desanimar ao ver que suas reuniões com a alta administração da Escola não surtem efeito imediato. Não é assim e nem é para ser assim, as mudanças discutidas ali devem ser bem pensadas, longamente, e as exceções são poucas (a negociação da mensalidade é uma delas...). Já a área 2 é a entidade vista e sentida pelos alunos no curto prazo. É responsável pelas festas, palestras, cervejadas, xerox, primeiro andar, etc. – e pela falta de tudo isso também. Pode ser uma área menos nobre do que a primeira, mas não é menos importante. A imagem de curto prazo do DA depende da gestão dessa área e a empatia dos alunos também. Para o futuro, o mais importante é a gestão ter melhorado a graduação, abaixado o custo da mensalidade para quem faz intercâmbio, reduzido o preço - da DP, cobrado a implementação da reavaliação, etc.Isso é muito mais importante do que ter feito uma Gioconda fantástica da qual as pessoas mal lembram. Por serem duas áreas tão diferentes, a Contato resolveu separá-las na sua gestão. O Presidente e os VPs Acadêmicos (no caso, o Tadeu, Justi e Park) encabeçavam a área 1, e eu ocupava o cargo de VicePresidente Administrativo, criado só para liderar a área 2. Entretanto, essa divisão não foi tão rígida assim, até porque depois eu acabei me envolvendo com a área acadêmica. Mas o fato é que eu não me lembro do Tadeu ter ido a uma reunião com a Cuervo ou de eu ter ido a uma conversa

com o Carlos Ivan (isso, claro, não significava que não sabíamos o que se passava na outra área – muito pelo contrário). E, para ser bem sincero, a divisão funcionou. Acredito que a maioria dos leitores da Gazeta hoje não tenha vivenciado tantas outras gestões, mas acreditem, era diferente. O DA tinha uma imagem melhor. A Contato não foi perfeita, claro, e eu posso estar com uma visão um tanto quanto romântica “da nossa época”, mas o texto não é sobre isso. Mas que ela era melhor, era – e nas duas áreas! – e dava um show nas gestões mais recentes, ah, disso eu estou certo e até aposto. Fica a dica aos que querem mudar o DA. PS: iniciamos/continuamos a discussão da melhoria da avaliação dos professores, da regulamentação das entidades, das “FGV-esquinas”, entre outros; fizemos a I Semana de Finanças, a I Semana das Entidades, o I Painel (de Propaganda), o I Seminário de Marketing...cadê a continuação de tudo isso? Fica aí outra dica. ¤

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O Imposto “Robin Hood” Ismael Cavalcante

5º Semestre - AE uito vem se falando da maior crise econômica desde a Grande Depressão. O PIB mundial encolheu, grandiosos bancos faliram, o neoliberalismo sofreu um duro golpe e até o FMI mudou sua postura tradicional. Dani Rodrik, professor de Economia Política da Universidade de Harvard, escreveu recentemente no Valor Econômico: “ No mundo econômico e financeiro, revoluções são raras e muitas vezes detectadas apenas retrospectivamente. Mas o que aconteceu em 19 de fevereiro pode ser considerado, com certeza, o fim de uma era nas finanças mundiais. Nesse dia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou uma nota sobre suas políticas de atuação que inverteu sua histórica posição sobre controles de capital. Impostos e outras restrições sobre fluxos de capital, escreveram os economistas do FMI, podem ser úteis e constituem uma ‘parte legítima’ do conjunto de ferramentas de política econômica”. Nada mais apropriado por parte do FMI, afinal a crise que estamos vivendo é causada principalmente pelo “circo financeiro” mundial. Qualquer banco podia emprestar para qualquer um. E qualquer um podia pegar dinheiro para comprar qualquer coisa. Nos últimos anos de bonança financeira mundial o equilíbrio estava sempre em risco e o precipício, logo a frente. Foram criados produtos derivativos muito complicados, como os Credit Default Swaps, e vários bancos, como os quebrados Bear Stearns e Merryl Lynch, viviam com recursos de 24 horas, ou seja, estavam sempre a um dia de uma crise de crédito. Não é a toa que Bernard Madoff utilizou o Esquema Ponzi por décadas. Ninguém estava prestando muita atenção. Na esteira dos acontecimentos, hou-

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ve indignação geral, pois enquanto o sistema ia para o ralo, assim como milhões de empregos, vários executivos ganhavam bônus milionários. E pela ganância e imediatismo desses homens e mulheres, muitos outros chegaram numa situação de desemprego e desespero. Nesse cenário, Dani Rodrik termina o texto citado acima da seguinte maneira :” Com essa batalha vencida (a administração da conta de capitais), a próxima meta merecedora de atenção é um imposto mundial sobre transações financeiras. Fixada em um nível muito baixo (0,05%) é uma taxa comumente mencionada. Tal imposto levantaria centenas de bilhões de dólares para bens públicos mundiais e, ao mesmo tempo, desestimularia atividades especulativas de curto prazo nos mercados financeiros. O apoio a um imposto sobre transações financeiras mundiais é crescente. Um grupo de ONGs que o rebatizou de ‘imposto Robin Hood’, iniciou uma campanha mundial para promovê-lo, contando até com um videoclip deliciosamente mordaz com o ator britânico Bill Nighy (http:www.robinhoodtax. org/). Significativamente, a União Europeia jogou seu peso em favor do imposto e exortou o FMI a defendê-lo. O único grande bastião opositor são os EUA, onde o secretário do Tesouro Tim Geithner deixou claro seu desagrado.” As informações abaixo foram retiradas do site (http:www.robinhoodtax. org/) e traduzidas livremente pelo autor:

Como funciona? O imposto Robin Hood é uma pequena taxa que incide sobre bancos, hedge funds e outras instituições financeiras. Porém, levantaria bilhões de dólares para combater a pobreza e as mudanças climáticas. Poderia começar com um valor mui-

to baixo como 0,005%. Mas aplicado diariamente sobre todo o sistema financeiro global, poderia levantar centenas de bilhões de dólares todo ano.

Por que agora? Comunidades pobres mundo afora estão sentindo os efeitos da crise mundial e o meio ambiente está sendo cada vez mais explorado. Então, chegou a hora de quem criou a bagunça pagar para limpá-la.

Quem apoia? Gordon Brown (Primeiro Ministro Inglês), Angela Merkel (Chanceler Alemã) e Nicolas Sarkozy (Presidente Francês) são exemplos emblemáticos dentre os líderes mundiais. Vários grandes empresários também apoiam a idéia. Lord Turner, George Soros e Warren Buffet, além de centenas de respeitados economistas. Essa não é uma utopia. É uma simples e brilhante idéia que transcende partidos políticos e que – com o seu apoio – pode virar realidade. ¤


GAZETA VARGAS

Seu Espaço

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Política econômica no Pronto Socorro Vítor Augusto Possebom 3º semestre de Economia

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a edição #83 da Gazeta Vargas, o aluno Diogo Bardal escreveu um interessante texto acerca da opinião dos economistas sobre o aumento dos gastos públicos. Como ele bem destaca, a classe dos economistas, em geral, tem criticado a política do governo federal de aumento dos gastos públicos, em especial com contratação de novos funcionários e aumentos salariais. Na visão do meu colega, a crítica dos economistas é infundada por ignorar os benefícios que o sistema público de educação e de saúde, bem como a Justiça, podem trazer à sociedade e, consequentemente, à economia. Portanto, para ele, o governo deve proceder da forma como vem agindo. Todavia, creio ser necessário esclarecer dois pontos neste raciocínio. O primeiro deles é que os economistas não ignoram os aspectos humanos na função produção, como parece ocorrer no diálogo entre os dois sábios. Estes se importam, e muito, com aquilo que pode ser denominado capital humano. Um exemplo desta preocupação é a função de produção de Schumpeter, que, modelada matematicamente por Irma Adelman, afirma que o produto de uma economia depende dos fatores de produção produzidos (denominação de Schumpeter para o que outros economistas chamam de capital), da quantidade de terra, da quantidade de mão de obra, da tecnologia e do meio ambiente sócio-cultural. Exatamente este meio ambiente sócio-cultural engloba todos os fatores que podem influenciar a organização material da produção,

tais como nível educacional, qualidade de vida, Justiça e garantia de direitos fundamentais. Tendo já esclarecido o fato de os economistas reconhecerem sim a importância de fatores humanos, é necessário justificar por que criticamos o aumento dos gastos do governo, agente que, em tese, fornece educação, saúde e Justiça. Foi retirado, em 2007, 34,70% do PIB dos bolsos dos cidadãos, segundo dados da Receita Federal. Para efeito de comparação, em 2007, a carga tributária média da OECD foi de 36,1%; a do Canadá, 33,3%; a da Suíça, 29,7% e a do Japão 18,4%. Basicamente, temos um leão faminto como aqueles dos países de Estado do bem-estar social. Mas nossos serviços públicos são de qualidade, no mínimo, duvidosa, como todos vocês sabem. Vale destacar também que, em 2008, último ano com dados disponibilizados pela Receita, a carga tributária brasileira elevou-se para 35,8% sem haver nenhuma melhora aparente nos SUS, no sistema educacional ou Judiciário. É nesta relação carga tributária/PIB que reside a principal crítica dos economistas. Se o governo quer gastar em infra-estrutura, ótimo! Se o governo quer gastar em educação, maravilha! Se o governo quer gastar em saúde, perfeito! Se o governo quer gastar em Justiça, corretíssimo! Afinal de contas, todos esses dispêndios não apenas são necessários para elevar o produto potencial da economia, mas também são fundamentais para o estabelecimento de uma sociedade justa. Os economistas não têm nenhuma crítica até este ponto. A grande questão é que o governo arrecada muito, gasta muito e oferece pouco. Portanto, quando o administrador afirma que devemos olhar não ape-

nas os resultados financeiros, mas também a recuperação de pacientes, o que ele vê no Brasil? Resultados financeiros ruins? Sim! Recuperação de pacientes rápida e eficiente? Não! O brasileiro estuda, em média, apenas 6,9 anos (Fonte: IPEA, 2007), ou seja, nem completa o ensino fundamental! Um décimo de nossos lares está sujeita à degradante situação não ter acesso à água potável (Fonte, IPEA, 2007)! Quanto à segurança, 105,6 jovens do sexo masculino são assassinados antes dos 29 anos a cada 100.000 habitantes (Fonte: IPEA, 2002)! Nada contra o governo gastar. Tudo contra o governo gastar mal! Como vem gastando. É exatamente por que o governo gasta mal que chamamos isso de inchaço da máquina pública. Se o governo fosse eficiente, ninguém reclamaria. Mas, como o governo é inchado, ele dificulta o crescimento econômico e força a sociedade a ir mancando até um nível de desenvolvimento adequado. Portanto, será que nosso debate eleitoral deve ser pautado pelo Estado desenvolvimentista, aumentando gastos públicos, como defendem os dois principais candidatos à presidência? Ou será que devemos discutir formas de gastar melhor o dinheiro público? Afinal de contas, uma melhor gestão do dinheiro do povo traria, certamente, benefícios para toda a população! ¤

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GAZETA VARGAS

Coluna de Tecnologia

Apple, Apple e mais Apple Daniel Fejgelman As últimas semanas foram agitadas para a Apple. O lançamento do seu inovador tablet foi tema de inúmeras discussões que vão desde as deficiências do aparelho até o rumo das inovações em computação pessoal. Muitos acham o iPad um brinquedo de gente grande, um dispositivo que não tem muita utilidade e que seria dispensavel àqueles que detém o iPhone. Outros dizem ser um produto essencial e de utilidade imediata. Seria ele a melhor saída para não carregar livros, navegar na internet em qualquer lugar e aposentar, de vez, a mochila de notebook?

Pontos técnicos: A apple lançou nos EUA versões básicas do iPad que tiveram uma demanda excessiva e acabaram atrasando o lançamento em outros países. No Brasil, a previsão de lançamento é longinqua, tanto pela insignificância do mercado como pelas normas impostas pela Anatel, Melhoramentos: Para o lançamento do iPad a Apple atualizou o sistema operacional do iPhone que agora permite o uso de multi-tarefas e assim aproveita a maior capacidade de processamento do tablet. Para o futuro, a Apple deve trocar a tela de LCD por telas de OLED, que apresentam cores mais vivas e um menor consumo de energia. Devemos ver, em breve uma tentativa da Apple de fabricar seus próprios chips para se tornar menos dependente da sul-coreana Samsung. Outros pontos possíveis, mas não prováveis, para o iPad

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seriam: uma conexão USB , uma câmera e uma antena GPS. Kindle killer? Essa é a pergunta que a maioria daqueles que pensam em ebooks se fazem, mas no entanto a resposta não

é trivial, ambos proporcionam experiências distintas que trazem vantagens. O iPad é excelente àqueles que não querem andar sempre com notebooks e que não se resolvem apenas com smartphones. Ele pode quebrar um galho para quem precisa andar com PDFs para todo o canto e que tenham alguns ebooks, mas não é muito bom para leituras muito longas por cansarem a visão. Já o Kindle, só serve para a leitura, e isso ele faz bem. �Não reflete luzes e não cansa a vista. O veredicto? Depende do perfil do usuário. Pessoalmente, eu teria os dois. Dica para as buscas: Nos EUA, o Bing foi uma tentativa de melhorar o sistema de pesquisa do Google para mostrar resultados mais relevantes aos usuários por localização e tema. No Brasil, ainda não sofremos tanto com esse mal (pesquisas que apenas mostram os resultados mais populares e escondem o que realmente procuramos). Buscando ser uma forma alternativa de pesquisa, temos o lançamento do BUSK(busk.com), um mecanismo que pesquisa postagens em blogs e sites de notícias para oferecer o que há de mais recente sobre algum tópico. As postagens ficam agrupadas e, ao clicar no tílulo, elas se expandem, permitindo a vi-

sualização de textos e imagens limpos de propagandas. A ferramenta ainda está em testes, mas já foi aprovada pelo departamento de TI da Gazeta Vargas. Android em todos os lugares: A expansão da Google nos telefones dita o cenário dos concorrentes do iPhone. Depois de aderir ao sistema de empreendimento de Steve Jobs (tela sensível e venda de serviços por aplicativos), a Google impõe forte expansão no mercado de telefones. Atualmente, o número de dispositivos equipados com o sistema android cresce rapidamente com foco em modelos de alta capacidade de processamento e telas de alta resolução. Essa é a saída para conquistar os consumidores viciados em tecnologia que não se conformam com o ambiente “fechado” imposto pela Apple (que precisa aprovar todos os aplicativos e formatos de arquivos que podem ser reproduzidos em seus aparelhos). O sucesso do sistema Android sera ditado por dois fatores, quais sejam, se sua loja de aplicativos conseguir um movimento grande de vendas e de desenvolvedores e se a Apple insistir em controlar excessivamente tudo o que passa pelo iPhone e pelo iPad. ¤


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Gazeta Várzea

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Copa do mundo João Prado Pereira de Oliveira

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ada vez me surpreendo mais com a versatilidade dos alunos. A economia está à beira de um colapso. A Grécia tá quebrada. A Espanha teve seu rating de crédito rebaixado. A comunidade européia está apreensiva com o futuro do Euro. As bolsas caem vertiginosamente. O dólar oscila a cada dia. As eleições se aproximam e colocam na berlinda discussões sobre as diferentes formas de governo e sobre o futuro do país. É uma gama extensa de assuntos e si-

tuações típicas de preocupação dos alunos e professores de uma escola como a GV. Momento único para pensarmos em como administradores (de empresas e públicos) e economistas poderiam contribuir para diminuir os riscos de crise, para melhorar a economia mundial, para reduzir as desigualdades e melhorar a qualidade de vida das pessoas. Mas não é nada disso que escutamos pelos corredores da escola, pelos elevadores, no DA, em sala de aula. Em vez desses assuntos, os alunos têm dado relevância a um tema único, que centraliza qualquer discussão: o álbum de figurinhas da copa. Inicialmente acha-

va que era um costume Geveniano, porém soube essa compulsividade ocorre na sociedade paulistana praticamente toda, no ultimo domingo tinha postos de trocas de figurinhas em frente a estádios de futebol, em shoppings e até mesmo em frente ao nosso Museu de Arte de São Paulo. Espero que tenhamos o mesmo empenho e êxito em resolver nossos problemas sociais do que a vontade em relação à copa do mundo , ou o álbum da copa.¤

O famoso teste dos GV Points

O

s Gv Points evoluíram! Se você é um geveniano que se preze, por que vai ficar contando míseros pontinhos em um teste de múltipla escolha se você pode, além disso, GANHAR? Pois é isso mesmo! A Gazeta Vargas e seus membros arrecadaram fundos, venderam suas posses, alugaram o aquário da Gazeta para voyeuristas e desviaram recursos do RockCafé para trazer a você, geveniano, os melhores prêmios da imprensa brasileira (melhores até que aquele jogo de facas de inox que sua mãe ganhou comprando Caras). São os GV AWARDS! Se você fez o teste da edição passada com certeza você lembra sua pontuação e com certeza sentiu orgulho dela e comentou com todos os colegas da sua sala. Pois prepare-se, seja você um freqüentador da Daslu ou alguém que não faz a menor idéia de que Cidade Jardim é um shopping

e não uma cidade muito bonita, porque se você: »» Fez mais de 50 GV POINTS você ganha: uma camiseta pólo Abercrombie & Fitch, listrada nas cores de sua preferência (desde que uma delas seja branca e a outra igual a cor das listras de todas as outras camisetas pólo Abercrombie & Fitch das pessoas da sua classe). »» Fez de 1 a 50 GV POINTS você “têm o espírito geveniano , mas não consegue acompanhar os gastos dos que fizeram mais de 50 pontos” (excerto da edição passada) e por isso seu prêmio é: EXATAMENTE o mesmo que o de cima, para você conseguir finalmente se misturar com as pessoas que fizeram mais de 50 pontos (mas não deixe elas descobrirem senão você vai ser excluído).

»» Fez -40 a Zero Gv Points e está se perguntando porque faz GV seu grande prêmio é uma passagem de (ida) para a Usp, e não é só isso: você pode escolher qualquer ponto de ônibus QUE VOCÊ QUISER para começar sua jornada e responder a essa pergunta! »» Fez menos de -50 points seu prêmio de consolação é na verdade um consolo: relaxa que você faz AP então nem deve estar se importando com bens materiais não é mesmo? ¤

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GAZETA VARGAS

Filosofia infantil Michelle Rizón Hoje perdi o meu andar no elevador por causa de uma criança. A menina balbuciava para o espelho e sacudia uma bolsinha de plástico com calcinhas enroladas; quando percebi, estava no andar dela. Crianças me despertam um fascínio tão pronto que já não consigo tirar os olhos delas no primeiro momento em que as vejo. É um feitiço que me deixa presa voluntariamente. Aconteceu também enquanto eu estava sentada no Chokito, num clima já meio decadente às nove da noite na nove de julho, vi outros dois garotinhos trocando agressões com carinho e risadas. Tudo neles parecia tão primário, tão fluente, que fez me perguntar se algum dia serei daquele jeito. Não pela falta de preocupações e responsabilidades, mas pela nitidez com que as crianças parecem ver o mundo. A minha cabeça geralmente tem tanta besteira - um pagode repetindo sem parar (“manda q’eu faço chover, pede q’eu mando parar”); uma dúvida sobre o que meu namorado tem feito - e a delas, imagine só, apenas nada. Se elas querem atenção, pedem atenção, se estão com fome, choram, se apanham, vingam. Não tem complexidade. Parece também que elas não fazem muita questão de se separar do mundo, de se diferenciar e, principalmente, de negar as coisas como são coisas que faço assiduamente. Acho idiotice pensar esse meu amor como materno. Não me vejo grávida. Muito menos mãe. O que eu sei é que quando comparo uma criança a alguém, me mato de rir. Por exemplo, minha mãe: “filha, você tá viajando com o namorado de carro, reza um pouco, pede

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Coluna da Michelle proteção.” ou “minha filha, para de ir nessas coisas densas de teatro, vai levando.” Agora minha irmã mais nova: “Mi, volta?” ou “Me dá o telefone, mãe!” “Pra quê filha?” “?” O caso da Marina Tenho uma amiga que pilota avião na Califórnia. Ela me contou que um dia passou um tremendo apuro na aula, sozinha, sem instrutor. Disse que estava voando a uma determinada altura em pés que congelava o carburador do avião; e, pra resolver isso, precisava ligar o aquecimento e fazer o motor funcionar de novo. Deu certo, mas só por três minutos. A cada desligamento do motor o avião iniciava uma queda livre e isso durou seis tentativas, até que ela desistiu. Mas como não desistiu de viver resolveu pousar, com muito desespero e coragem. Avistou uma rodovia, escolheu o lado menos movimentado e pousou tranquilamente sem deixar um arranhão no avião da escola. Atônita no meu Nextel disse a ela: “sério Ma, eu não quero passar por esse tipo de coisa na vida, esse tipo de sentimento”. E a resposta dela me deixou mais perplexa ainda: “eu não escolho sentir nada.” Fiquei com essa frase na cabeça. A Marina sempre foi uma garota muito decidida do que queria, isso é, pilotar avião. É provavelmente um daqueles sonhos que um avô queria muito realizar em algum neto e a neta por gostar demais dele incorporou a idéia pra ela. A convicção da menina me assusta e não são raras essas frases que me deixam meio tonta da vida. Uma garota, como ela mesma diz, single minded. Depois dessa conversa, durante a semana, talvez ainda sob o efeito do impacto da frase, passei a enxergar na minha rotina comentários de minhas amigas procurando uma vida amorosa mais leve, sem sofrimento, mais fria, de não se entregar tanto, etc. Essas coisas

me deixavam coçando a cabeça com suspeita. Como você determina essa medida de se entregar? Como elas fazem? É uma espécie de adestramento? Não vou me envolver, não vou me envolver, não vou me envolver, é assim? Um mantra? Sempre tive dificuldade em domesticar o que sentia. Até antes dessa frase eu tinha essa crença de que você escolhe passar por algumas coisas. Mas hoje eu acho que a vida é meio trágica pra todo mundo. Não tem consolo. Não digo que sou uma “Maria Padecida” até porque acabei de desligar o telefone com o Bernardo, sabe. Eu vivo bem, mas não sei se viver bem é viver em paz e com leveza. Parece coisa de propaganda de manteiga. Eu tenho uma memória muito ruim de um ex meu. O idiota era tão palhaço, fazia tanta merda, que chegou um momento que não aguentei mais. Larguei o garoto rindo. Mas essa desistência minha, de achar que conseguiria acordar e seguir normalmente pensando que hoje era outro dia me despertou um profundo desprezo dele. Eu desprezava a roupa dele, a maneira de ser dele, as palavras que ele usava, os pensamentos dele. Até que chegou um momento, meio cataclísmico e epifânico, em que eu constatei: aquele desprezo estava dentro de mim e não nele. Hoje eu ainda carrego um leve cinismo com o palhaço, uma versão mais cotidiana do desprezo que sentia. Isso tudo porque eu não suporto a imagem dele xavecando outra garota na minha frente, quero mais é a indiferença que sinto por ele. O Bernardo gosta muito de “machices”. Eu não ligo, mas também não costumo dar atenção a assuntos viris e bobos. Só que um dia ele me contou uma história que achei muito incrível. Dizem que César, o primeiro imperador de Roma, antes dos seus discursos para milhares de soldados agachados, escutava no ouvido a seguinte frase de um de seus conselheiros: “você é um homem”. Sério, isso me deu arrepios. ¤



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