Nova edição do "Rússia", 21 de agosto

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Política e Sociedade

RÚSSIA O melhor da Gazeta Russa gazetarussa.com.br

Cicloativismo Movimento pela popularização de bicicletas cresce não apenas na capital, mas na Rússia Central e até na Sibéria Além disso, enquanto a bicicleta goza de popularidade em países asiáticos devido ao custo e, em países europeus, devido à facilidade, já que o trabalho e áreas de lazer ficam a distâncias geralmente inferiores a cinco quilômetros, na Rússia, a proibição de bicicletas no metrô ainda cria empecilho. A projeção soviética das cidades russas acaba tornando muito grande a distância entre o trabalho e as áreas de lazer e os bairros residenciais. “Percorrer de 10 a 20 quilômetros de bicicleta para ir dos bairros ao centro ainda é pesado, por isso as pessoas raramente usam a bicicleta como seu principal meio de transporte”, explica Trofímenko.

(Bem) abaixo de zero

Status x sustentabilidade

Número de bicicletas em Moscou aumentou de 1.500, em 2014, para pelo menos dois milhões, em 2015, de acordo com a prefeitura. ANASTASSIA MÁLTSEVA ESPECIAL PARA GAZETA RUSSA

Para quem vive um inverno em que os termômetros ultrapassam os 25 graus positivos, pode parecer difícil de acreditar, mas a gélida Moscou, assim como São Paulo, começa a viver a revolução do cicloativismo. Um dos indícios dessa tendência é que a demanda por bicicletas na capital russa aumentou drasticamente nos últimos cinco anos. Hoje, Moscou conta com 150 pontos de aluguel, que deverão chegar a 300 até o final do ano. Além das agências de aluguel, a cidade tem 755 esta-

cionamentos para bicicletas, e ciclovias começam a aparecer em alguns bairros. “Pedalo há mais de três anos”, conta a engenheira balística Anna Konstantínova. “Tenho uma bicicleta com várias marchas e um cesto na frente para colocar minhas coisas. Para percorrer a distância de 5,5 quilômetros da minha casa até o trabalho, eu costumava gastar 40 minutos. Agora, com a bicicleta, preciso de apenas 25 minutos. Por isso, passei a ir de bicicleta para o trabalho mesmo durante o inverno.” Ela explica que pedala seguindo estritamente as regras de trânsito, ou seja, mantendo-se na pista da direita, e nunca a mais de um metro de distância da calçada. Segundo Anna, os carros mal estacionados dificultam a

vida dos ciclistas na cidade, já que atrapalham sua passagem. Outro fator que poderia ser melhorado é a quantidade de estacionamentos para ciclistas, que ainda é pequena.

dos ganham popularidade não só na capital, mas em São Petersburgo e na Rússia Central e Sibéria. “Quem adere são principalmente jovens e pessoas que se impor tam com o meio ambiente e um estilo de vida saudável”, diz o especialista.

Entre desafios do ciclista russo, está no metrô necessidade de mais Proibição A editora literária moscovita ciclovias e permissão Oksana Agápova vai de patide biciletas no metrô nete ao trabalho. Mas isso só “Por causa disso, temos que acorrentar nossas bicicletas a cercas e postes, o que ainda incomoda os pedestres”, diz. Segundo Konstantin Trofímenko, pesquisador sênior do Instituto de Política de Transportes da Escola Superior de Economia, os meios de transporte não motoriza-

acontece entre maio e setembro. “Quando a neve derrete, chego ao trabalho em um terço do tempo habitual: no inverno, levo 15 minutos a pé de casa até a estação de metrô, mas de patinete só preciso de 5”, conta. “Os engarrafamentos e os estacionamentos pagos tornam insustentável o uso de

carro. Por isso, para mim, esse é o melhor meio de transporte. No momento, ele supera até a bicicleta, porque é proibido entrar com ela no metrô”, explica. Segundo o criador do movimento em prol dos direitos dos transeuntes “União dos Pedestres”, Vladímir Sokolov, quando uma pessoa anda de patinete, ela ainda é considerada pedestre, por isso pode se deslocar pela calçada, o que torna esse meio m a i s s e g u r o do q u e a bicicleta. “Os ciclistas têm que ir pela rua ou ciclovia, se houver. Mas as ruas russas geralmente não são seguras. Os carros passam voando, a 80 quilômetros por hora, e ainda h á p o u c a s c i c l o v i a s ”, explica. Para Sokolov, um passo

REUTERS

Alguns russos já vão trabalhar diariamente de bicicleta, mesmo no inverno

NÚMEROS

US$ 9,4 mi foram investidos na construção de ciclovias desde 2011 em Moscou. Até 2016, 90 km de vias serão recapeadas e ganharão ciclovias

200 km de ciclovias já foram criadas na capital russa, mas grandes distâncias entre centro e bairros são difíceis com proibição no metrô

importante para que o movimento dos ciclistas possa se difundir na Rússia é a redução da velocidade máxima permitida em vias urbanas para 40 a 50 quilômetros por hora.

A urbanista Rada Konstantínova é cética quanto à possibilidade de que a bicicleta substitua os automóveis. Segundo ela, se a bicicleta conseguir desiludir 5% dos motoristas quanto à eficácia de seus automóveis até 2045 será uma vitória. “A maioria dos russos hoje tem medo de andar de bicicleta porque os carros passam a altíssimas velocidades, e muitos também ficam incomodados por ter que respirar a poluição dos carros, que não faz nada bem à saúde”, explica. O clima seria outra barreira. “Esses transportes alternativos na Rússia só são viáveis durante o calor. Não podemos esquecer que o inverno russo é tão frio e tem tanta neve que a única coisa que as pessoas querem é sair correndo para o metrô e para seus carros para não c on ge l a r o n a r i z”, d i z Konstantínova. Mas um fator pouco citado no atraso da ciclorrevolução no país é a ostentação do carro como símbolo de status. E, em uma cidade que reúne o maior número de bilionários do mundo, após décadas de privações, exibir um automóvel ainda é imp o r t a n t e p a r a m u it a s pessoas.

Mistura de religião e Decreto impõe eliminação de política desagrada alimentos dos EUA e da UE CONTINUAÇÃ DA PÁGINA 1 CONTINUAÇÃO DA PÁGINA 1

Fé laica, sem contradição

43 %

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871 SERGEY MEDVEDEV / TASS

AP

dades que a Catedral de Santo Isaac, de propriedade do Estado, passe a ser de usufruto livre e ilimitado da Igreja Ortodoxa Russa. O pedido recebeu uma enxurrada de críticas de defensores do patrimônio público e de cidadãos temerosos quanto à possibilidade de que um dos principais símbolos da cidade venha a ter acesso restrito. “A catedral nunca pertenceu à Igreja, foi sempre propriedade do Estado, construída com dinheiro público. Temos medo de perdê-la como museu, como atração turísti- Padres ortodoxos caminham em frente ao Kremlin, em Moscou ca”, diz Babitch. Entre igrejas e capelas, Moscou possui mais de 1.000 Para russos, fé templos. As novas construções independe de religião, devem muito ao programa e Igreja está “mais “200 igrejas”, que tem por obempenhada em fazer jetivo garantir locais de culto a curta distância para toda negócios e receber a população da capital. capital do Estado”, Mas, de acordo com além de aniquilar o VTsIOM, 18% dos áreas de lazer para russos se opõem à construção de uma igreja construir templos perto de casa, mesmo são contra que essa seja da sua prótemplos de outras norte, havia um parque com pria religião, e 43% são religiões na vizinhança uma lagoa. “Era o único lugar contra a edificação de temonde dava para passear com plos que professem uma fé meus filhos e, no inverno, diferente da sua na a gente descia as colinas vizinhança. ali de trenó. Agora cer“As pessoas disveem a caram a área e vão conscordam da construpropagação da fé truir uma igreja”, conta. ção desenfreada de não querem como “prejudicial novas igrejas de sua para a sociedade” Segundo ele, os moraigrejas. Elas tomam própria religião dores da região chegaram o espaço de parques a registrar uma reclamação e locais de lazer, emjunto à prefeitura, mas não bora a cidade já tenha receberam resposta. muitas igrejas, e ficam às “Não entendo por que consmoscas, com pouquíssimas truir uma igreja bem no parpessoas nos cultos”, diz Flerte de Igreja com Estado se que. Sou um homem de fé e Babitch. manifesta desde apoio a canO moscovita Anton Vassi- didatos políticos até concessão não vejo problema em andar 15 minutos para chegar à igreliev, por exemplo, conta que de terrenos e edifícios ja mais próxima”, diz. em frente a sua casa, na zona

ral Aduaneiro, revelam que, durante o primeiro semestre de 2015, foram aprendidas mais de 550 toneladas de produtos incluídos na lista de embargos russa. Nesse período, as autoridades russas confiscaram 44,8 toneladas de produtos sancionados, números tímidos perto dos divulgados neste mês pelo Rosselkhoznadzor. Seguindo as novas diretivas, fiscais do Estado buscam produtos afetados pelo embargo não apenas nas fronteiras, mas em mercados e lojas de todo o país, que devem ser eliminados imediatamente após a apreensão. O processo de destruição deve ser registrado em foto e vídeo, além de ocorrer na presença de, no mínimo, duas tes-

Apreensões devem ser destruídas em presença de testemunhas

temunhas que não tenham conexão com os produtos.

Punição alimentícia Além de dividir os observadores, o decreto presidencial provocou diferentes reações na opinião pública. “Os russos nutrem grande

reverência em relação aos alimentos e ao trabalho de seus produtores. Para muitos, a destruição de alimentos em bom estado é um sacrilégio”, afirma a diretora do Centro de Política Agrícola, Natália Chagaida. “Seria melhor confiscar os

toneladas de alimentos embargados dos EUA e da União Europeia foram destruídas entre os dias 6 e 15 deste mês

produtos bons para consumo, punindo, assim, os fornecedores ou importadores que violarem a decisão do governo, e doá-los a escolas, orfanatos etc.”, acrescenta. Já o deputado do partido de centro-esquerda Rússia Justa, Andrêi Krutov, propôs que os alimentos abrangidos pelo embargo sejam enviados para Donbass, região ucraniana devastada pela guerra civil.

Novos russos Médicos, engenheiros e técnicos têm prioridade devido à demanda

74 profissões podem ter cidadania facilitada Decreto que simplifica obtenção de cidadania russa entrou em vigor no início do mês para suprir deficiências do mercado de trabalho. ROSSIYSKAYA GAZETA

Entrou em vigor na Rússia, em 7 de julho, um decreto do Ministério do Trabalho que prevê a facilitação na concessão de cidadania russa para estrangeiros e apátridas de determinadas profissões em demanda no país.

A lista, que inclui 74 especialidades, tem oportunidades sobretudo nas áreas de medicina e engenharia. Mas cargos de gestão e técnicos, como torneiros e mecânicos para maquinário de construção civil, também foram relacionados. “Há muitas vagas para esses profissionais atualmente. Quase 83% das pessoas que saem do ensino médio seguem os estudos no ensino superior. Por isso, há carência de pessoal técnico, operários espe-

cializados e de formandos do ensino profissionalizante”, diz Andrêi Korotaev, especialista em demografia e dinâmica macrossociológica. Já Vadim Novikov, membro do Conselho Consultivo para o Desenvolvimento da Concorrência, acredita que a lista mostra a prioridade do governo em desenvolver a indústria pesada e média, b e m c omo o c omple xo militar-industrial. Para participar do procedimento simplificado é neces-

sário antes obter um visto específico cuja finalidade é o recebimento da cidadania russa. A necessidade de um ano de residência temporária no país, antes imprescindível para a concessão de residência definitiva, também foi dispensada. “Atualmente, falta qualificação a esses profissionais no nosso país, e são justamente os especialistas estrangeiros que terão a cidadania simplificada que ajudarão a recuperar o tempo perdido”, diz o diretor científico do Instituto de Economia, Política e Direito de Moscou, Nikolai Vôlguin. Especialistas dizem ainda que a lista poderá ser alterada de acordo com as demandas do mercado de trabalho no país.


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