Gaivota 2011

Page 55

“Não importa se és preto ou branco, rico ou pobre, o que importa é a intenção vinda do coração”

Chegara a época preferida do Eduardo. As luzes iluminavam o bairro, a neve cobria as ruas e as crianças juntavamse para brincar nesse aglomerado de algodão frio. Os vizinhos convivem e o que não faltam são as galhofas. Desde pequeno que é neste ambiente alegre que Eduardo está acostumado a viver, ano após ano. Era um rapaz que não tinha mais do que 9 anos. Tem olhos negros e a luz parece que dança nos seus olhos. A sua pele mais escura distingue-o dos outros meninos da sua idade. Andava com um sorriso no rosto e tinha sempre alegria para dar a quem precisava. Mas o melhor de tudo é que se comportava sempre bem, o melhor que podia, para que no dia de Natal pudesse receber um presentinho do Pai Natal. Não queria mais nada e compreendia o porquê dos pais não lhe oferecerem nada, pois sabia que eles eram pobres. Acordar de manhãzinha nesse dia especial e correr para a arvorezinha, que só tinha três ramos e um presépio ao lado, só com Maria, Jesus e José, bastava para agradecer ao Pai Natal. E à noite? Um jantar com a família. Amor era o que não faltava e assim era o Natal deste rapaz. Do outro lado do bairro, vivia um colega de turma, o Afonso, dois anos mais velho que o Eduardo. Afonso não passava de um rapazinho rechonchudo, de pele muito clara que realçava os seus lindos olhos verdes. Ao contrário do outro rapaz, este tinha tudo o que queria, pois os pais estragavam-no com miminhos. Para ele, todos os natais era sempre a mesma coisa: escrever uma enorme carta com todos os brinquedos que queria, possíveis e imaginários, e “puff”, como que por magia, lá aparecia tudo o que pedira: carros, jogos, computadores, roupa, tudo e mais

alguma coisa que ele nem precisava. Enfim, era este o significado do Natal para Afonso: prendas. Eduardo, pelo contrário, só queria passar um dia inesquecível com os pais, e claro, ter um pequeno presentinho para lembrar o Natal. Finalmente, chegara o tão desejado dia. Afonso acorda e aproxima-se rapidamente da árvore. Mais de três andares de presentes, caixas enormes e pequenas, de todas as cores, pesadas e leves, estavam à sua frente. Ele nem sabe por onde começar. Pelo lado esquerdo ou pelo direito? Pelas prendas maiores ou pelas mais pequenas? De repente, entregou-se ao fim do mistério e abriu as caixas embelezadas com as mãos, com os dentes e até com os pés. Do outro lado, Eduardo abre os olhos e com um enorme sorriso desce as escadas e vai ao encontro da árvore. E lá estava a bola que ele tanto desejara. Agora já podia jogar futebol, o seu desporto preferido. Estava desejoso de contar aos seus amigos e poder jogar com eles mas isso só seria possível no regresso às aulas. Depois, decidira dar uma volta para aproveitar o dia, mas demorara muito e estava quase na hora de jantar. No regresso passou pela casa do Afonso e olhou para dentro. Na sala estava uma enorme árvore, decorada e cheia de luzes. Papéis de embrulhos, todos rasgados, preenchiam o chão, enquanto o Afonso jantava calmamente. Do lado de fora sentiu o cheiro a frango assado o que abriu ainda mais o apetite de Eduardo. Já demorara mais do que o previsto, por isso apressou o passo até à sua humilde casa. Chegou a tempo do jantar que foi simples, embora envolvido num clima familiar afectuoso e feliz. De regresso à escola, Eduardo


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.