Revista Politica Democrática

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sua trajetória e entrará, diversas vezes, em embates contra outra estratégia da esquerda brasileira: a via insurrecional, pautada em ações guerrilheiras. Após a eclosão do golpe cívico-militar de 1964, o PCB amargaria, na segunda metade da década de 1960, uma onda de repressão contra seus militantes. Essas ações auxiliaram na desmobilização organizativa do partido. Contudo, em 1970, Armênio Guedes, ao apresentar a Resolução Política do Comitê Estadual da Guanabara do PCB, procura entender e combater, através da “tática eleitoral” em detrimento das “práticas guerrilheiras”, influenciadas pela Revolução Cubana de 1959, o processo de “fascistização” da política brasileira, decorrente, principalmente, da instauração do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 1969: Foi para reagir a esse momento de dificuldades e confusões que a Comissão Política do CE da Guanabara decidiu lançar o documento de março de 1970. Tratava-se, de um lado, de um esforço para colocar em prática a linha aprovada pelo VI Congresso e, de outro, para dar continuidade à tradição do Partido no estado de ligação com as massas e de alianças com um amplo arco de forças democráticas e liberais (p. 106).

Esforço esse, que a direção do PCB reconheceria apenas mais tarde, mas que foi de vital importância para o processo de redemocratização no Brasil. Segundo Luiz Werneck Vianna, “no final da década de setenta, o argumento democrático se desvencilhou da sua subordinação à questão nacional, definindo-se a via da transição para a democracia, importante contribuição do PCB às lutas contra o regime”.4 Atuante no processo de redemocratização do Brasil, Armênio Guedes vai escrever alguns artigos voltados à atuação da esquerda nas lutas democráticas. O dirigente vai reconhecer, no programa do MDB, a possibilidade de formação de uma frente ampla contra as forças ditatoriais. Em artigo no periódico Voz Operária, Guedes afirmou que os comunistas deveriam ser favoráveis a um amplo acordo entre todos “os grupos, setores, correntes e personalidades que se empenham na luta pela democracia no Brasil pode traçar os rumos e fixar as diretrizes que deverão nortear a formação e o desenvolvimento de uma frente pela democracia” (p. 109). Em meio a esses posicionamentos, em entrevista ao Jornal do Brasil, no ano de 1979, 4 WERNECK VIANNA, L. Questão Nacional e Democracia: O Ocidente Incompleto do PCB. In: WERNECK VIANNA, L. A transição da Constituinte à sucessão presidencial. Rio de Janeiro (RJ): Revan, 1989. p. 157)

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Victor Augusto Ramos Missiato


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