Tempo Livre Novembro/Dezembro 2017

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DIRETOR - FRANCISCO MADELINO JORNAL BIMEStrAL 3.a SÉRIE • 1€ N.0 8• Nov-Dez 2017

15O anos


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ÍNDICE

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Entrevista: Júlio Pereira

Opinião de José Manuel Alho

6 Gala Reconhecer

9 Viajando com livros

capa

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A Casa na árvore

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Memórias de Júlio Isidro

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Comemorações dos 150 anos do Trindade

Viagem: Valência

Desporto: II Supertaça de Lisboa

Na mesa com Diogo Noronha

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Notícias

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Coluna do Provedor // Musicando

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Contos do Zambujal

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Passatempos

Editorial

FRANCISCO MADELINO Presidente da fundação inatel

Teatro da Trindade: Século e Meio!

D ilustração

Gonçalo Viana

e Lisboa, onde concluiu o curso de arquitectura, Gonçalo Viana mudou-se para Macau e aí assinou as suas primeiras colaborações no âmbito da ilustração editorial. Viveu alguns anos em Londres, trabalhando como arquitecto, sem nunca perder de vista a ideia de tornar-se ilustrador, carreira que iniciou em 2002. Da formação em arquitectura perdurou o vínculo à geometria, que desde cedo lhe pontuou o trabalho gráfico e continua a estruturar o seu trabalho de ilustrador. Tendo já publicado nos principais títulos da imprensa portuguesa, as suas ilustrações são também presença assídua em publicações internacionais, incluindo o prestigiado The New York Times. O seu traço de pendor conceptual foi reconhecido pela Society for News Design, pela revista Creative Quarterly e pela colectânea 200 Best Illustrators Worldwide, da Lüerzer’s Archive. Em 2008, ganhou o Prémio Stuart para melhor ilustração e cartoon de imprensa. Em 2011, as ilustrações para o livro Esqueci-me Como Se Chama foram também distinguidas pela revista 3x3 na selecção anual de ilustração infantil.

A

30 de novembro de 1867, o Teatro Trindade Inatel foi inaugurado. Desde aí, já lá vai um século e meio. Sempre ao serviço da cultura portuguesa e das artes da representação. É opinião quase unânime que é o teatro mais acolhedor, com melhores condições sonoras para quem representa e dos mais bonitos da Cidade de Lisboa. Desde 1962, passou a ser da então FNAT (Federação Nacional para a Alegria no Trabalho), a entidade que está na base da atual Fundação Inatel. As suas cores de azul e ouro, que marcam a sua decoração, datam das obras de 1967, após a sua aquisição, da autoria de Maria José Salavisa, que reformaram o original, em tons de vermelho, do arquiteto Miguel Evaristo de Lima Pinto, construído a pedido de Francisco Palha. Entre estas paredes e decorações, de estilo neoclássico italiano e heranças pombalinas, passaram textos dos maiores escritores e dramaturgos, nacionais e internacionais, e gerações de atores e encenadores. Esta Administração da Fundação tem como objetivo recolocar o Teatro da Trindade no centro da cultura lisboeta e nacional, fazendo passar por ele peças cujas representações atraiam, durante semanas, o público que gosta de teatro, assim como fazer renascer as produções próprias. Esta aposta foi emergindo ao longo de 2016, ano em que o Ministério do Trabalho fez 150 anos, e de 2017, em que o Teatro comemora 150 anos. Objetiva-se agora consolidá-la com a escolha de Diogo Infante para Diretor Artístico e programador, uma figura com obra feita e ideias claras, como ator e como produtor e programador. Ao Trindade é ainda cometida uma função supletiva nas áreas de missão da Fundação. Ser um teatro popular, onde todos os públicos encontrem ofertas culturais que reflitam projetos inovadores entre a tradição e a inovação, da música à escrita e ao teatro, onde haja espaços de reflexão sobre a vida e o mundo do trabalho, desde conferências a representações experimentais, para além dum local ícone do teatro e dos atores portugueses. Parabéns ao Teatro da Trindade Inatel!

Jornal Tempo Livre | email: tl@inatel.pt | Propriedade da Fundação Inatel | Presidente do Conselho de Administração Francisco Madelino Vice-Presidente Inês de Medeiros Vogais Álvaro Carneiro e José Alho Sede da Fundação Calçada de Sant’Ana, 180 – 1169-062 Lisboa Diretor Francisco Madelino Publicidade Tel. 210027000/ publicidade@inatel.pt Impressão Sogapal – Comércio e Indústria de Artes Gráficas, S.A., Estrada de São Marcos, 27 – São Marcos, 2735-521 Agualva-Cacém Tel. 214347100 Dep. Legal 41725/90 Registo de propriedade na ERC 114484 Preço 1 € Tiragem deste número 122.050 exemplares Membro da APCT – Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação | Estatuto editorial publicado em www.inatel.pt


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Entrevista Júlio Pereira

O cavaquinho dá-lhe asas

Júlio Pereira, considerado por muitos como o “homem do cavaquinho”, lançou recentemente o seu 22.º álbum denominado “Praça do Comércio”. O sucessor de “Cavaquinho.pt” (de 2014), mais do que um disco onde o cordofone minhoto volta a assumir principal protagonismo, é sobretudo uma obra universal e intemporal de um enorme instrumentista em cúmplice e intercultural diálogo, quer com os músicos que habitualmente o acompanham (Miguel Veras, viola; Sandra Martins, violoncelo), quer com uma extensa lista de ilustres convidados: António Zambujo, Pedro Jóia, José Manuel Proença, Luanda Cozetti, Mariana Abrunheiro, Teresa Melo Campos e Inês Melo Campos (do colectivo portuense a capella Sopa de Pedra que esteve na apresentação da segunda temporada do “Ciclo Mundos”), James Hill (Canadá), Olga Cerpa (Espanha) Cheny Wa Gune (Moçambique), entre outros.

“P

raça do Comércio” revela-nos um disco de largos horizontes, em que o cavaquinho navega (e voa) entre continentes, de um multi-instrumentista e director da Associação Cultural Museu Cavaquinho que parece rejuvenescer à medida que o tempo passa. O título do teu último disco, “Praça do Comércio”, evoca a música que estás a criar actualmente com o cavaquinho. Uma música miscigenada que parte de Lisboa, viaja pelo mundo e regressa com morna, choro, bluegrass, etc. É esta universalidade que queres mostrar em “Praça do Comércio”? Acho que quando faço um disco quero sempre contar histórias diferentes daquelas que já contei. Pessoalmente, não gosto de repetições. Já tinha feito o “Cavaquinho.pt” [edição de 2014] onde de algum modo já acontecia o que acabaste de dizer. Acho que a maior diferença na “Praça do Comércio” é (e isso vai sempre acontecer enquanto eu existir)...Repara, um compositor nasce num sítio qualquer, tem as referências que tem, teve as escolas que teve, mas no seu percurso de trabalho naturalmente há um desejo de se afastar das referências. Nas histórias que vou criando, quero cada vez mais libertar-me das escolas que tive. De algum modo, não há rigor quando dizem que eu faço música popular. Já é uma música que é minha, não interessa o rótulo, mas que não se pode facilmente classificar. Como sabes, este disco e o “Cavaquinho.pt”, não tem nada a ver com o “Cavaquinho” de 1981 em que eu pegava em temas de várias regiões do nosso país e tocava à minha maneira. Este não tem rigorosamente nada a ver com isso. Não vou buscar de uma maneira evidente uma referência musical, nem faço uma chula ou um vira à minha maneira, como sempre fiz. Neste disco, dou-te como exemplo “O Galope do Deserto”. Apesar de não ter bateria, nem baixo, nem guitarra eléctrica, percebes que aquilo é um rock. O embalo, a maneira como o toco, é um rock. Isto para voltar a dizer-te que cada vez mais tenho necessidade de me afastar das referências. Qualquer criador tem de ser totalmente livre. É muito fácil ficar preso. Se olhares para o meu passado, o facto de ter

tocado desde os meus 20 anos com os compositores mais importantes e de ter trabalhado aqueles anos todos com o Zeca Afonso, quer dizer, tudo isto são escolas humanamente fortes mesmo a falar de música. Afastarmo-nos dessas referências é a coisa mais difícil que há. Curiosamente, gravas em “Praça do Comércio” uma versão de “Índios da Meia-Praia”. Claro, uma versão muito distante do tema original… Sou muito sensível a versões. Sempre gostei, mas creio que é a primeira vez que faço uma versão de uma canção. Lembras-te daquela música dos Beatles, “With a Little Help From My Friends”?

“Muitos cantores de rock querem cantar em inglês porque isso é que é universal. Acho errado, porque para mim aquilo que é universal é aquilo que faz parte de uma cultura que a outra não tem”

Creio que todos nós ficámos de boca aberta quando o Joe Cocker a cantou e fez a sua versão. Essa versão não tem nada a ver com o original, acrescenta-lhe muito e dá-te uma enorme vontade de a ouvir. Mas já estás longe dos Beatles. Sempre gostei de versões deste tipo. Claro que o facto de ter tocado o “Índios da Meia-Praia”, foi a primeira música com a qual trabalhei a primeira vez com o Zeca… lembro-me, anos mais tarde, daquele disco da Dulce Pontes [“Lágrimas”] que também foi um boom. O powerplay desse disco era exactamente o “Índios da Meia-Praia”. Lembro-me que acordava com o rádio sempre a ouvir a Dulce. É óbvio que tenho uma grande ligação a este tema e apeteceu-me fazer esta versão. Neste disco há um enorme contingente de convidados de vários quadrantes, como o António Zambujo, Pedro Jóia, José Manuel Proença, Luanda Cozetti, Mariana Abrunheiro, James Hill (Canadá), Olga Cerpa (Espanha) Cheny Wa Gune (Moçambique), entre outros. Para cada tema há um convidado diferente, mas com prestações pontuais. Como é que isto aconteceu? É, mas não julgues que foram convidados com nomes sonantes para engrandecer um trabalho. Nada disso. Continuo na minha, de que construo histórias com sons. Se reparares bem, na “Noitada Extravagante” onde entra a Olga Cerpa, o Pedro Jóia e o António Zambujo, o tempo de intervenção deles é ultra curto. O Jóia faz quatro frases de viola, como a Olga canta uma quadra e o António outra. Se ouvirmos esse tema, percebemos claramente porque é que eles estão ali. Se a música nos leva ao norte de África e ao sul de Espanha colado ao nosso sul, é fácil perceber que aquelas três personagens fazem todo o sentido nesta música. Não interessa a quantidade de tempo que têm de antena. A Olga Cerpa faz parte dos Mestisay, grupo que produzi três discos. O mesmo aconteceu com o James Hill [em “The Common Raven”], com quem toquei o ano passado em Newark [Estados Unidos]. É natural que ficasse com vontade de o convidar. O Cheny Wa Gune, moçambicano dos Timbila Muzimba… eles fizeram aqui uma grande tournée em 2004 e eu fui um dos convidados… já estás a perceber porquê. Só faltam aqui os Chieftains e o Kepa Junkera...

Já agora, também falta aqui o Pete Seeger (risos). Falavas do Cheny Wa Gune e da digressão que fizeste com os Timbila Muzimba. O que é que ganhaste com essa experiência de unir um pequeno cordofone com aquelas timbilas, aquelas imponentes percussões moçambicanas? O que é que ficou dessa experiência? A pergunta é curiosa porque lembro-me perfeitamente de ouvir Timbila Muzimba aqui no Teatro da Barraca em Lisboa e fiquei completamente fascinado. Nessa altura, nem sequer via que instrumento é que poderia tocar com eles. As timbilas são instrumentos que não afinam. Ou seja, a afinação depende do clima. Esta nota, hoje é uma, amanhã é outra porque está mais calor ou há menos humidade. Fiquei completamente fascinado com a música que eles faziam, que não tinha nada a ver com a música ocidental. Fiz-me convidado. Acabei por tocar bouzouki e andei ali aos papéis. Não foram nada fáceis esses concertos a nível de afinação. Mas foi um prazer. Estas coisas eu não sei explicar. A maioria dos músicos quando dizem que tocam uma música universal apontam para uma música de características anglo-saxónicas. É por isso que muitos cantores de rock querem cantar em inglês porque isso é que é universal. Acho errado, porque para mim aquilo que é universal é aquilo que faz parte de uma cultura que a outra não tem. O local sem paredes do Miguel Torga que é citado no texto de apresentação? Exactamente. Isso é que é ser universal. Porque só assim consigo explicar que eu, sempre vivi em Portugal, tenha ficado fascinado em Moçambique (quando fui com o Zeca numa tournée) com o facto de chegar à praia e estar um grupo de mulheres a dançar e dois músicos a tocar percussão… esse foi o meu primeiro momento musical em África. Aquilo é outra cultura, outra coisa. Quanto mais não seja pelo ritmo. Sempre fui um músico muito rítmico, provavelmente por isso até fui músico de rock, não sei. Mas o facto de ter ficado fascinado com África vem também com o Zeca. O trabalho dele foi muito importante porque ele também adorava África. O Zeca foi talvez o compositor português que mais se atreveu a ir a África. Ele tinha aquelas palavras, aqueles textos surrealistas onde de facto podia utilizar a instrumentação que quisesse. Foi de


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Raquel Von Kaminaru

facto o português que mais introduziu África na música portuguesa. Claro que não quero ser injusto com o Fausto. Naturalmente, também teve essa ligação grande com África. Mas tudo isso foi muito importante para eu perceber e gostar… Esta coisa da música das culturas diferentes vem de as ouvirmos. Hoje em dia, um jovem tem mais dificuldade em perceber a música das diferentes culturas porque ouve sempre a mesma. Por hábito, nasce a ouvir aquela música anglo-saxónica e continua assim. Tenho imensos amigos da fase do rock que continuam só a ouvir rock. Não ouvem jazz nem qualquer outro género musical. Relativamente ao cavaquinho, porque é que este instrumento, ao longo da sua história, se transmutou tanto? Foi a Cabo Verde, ao Havai, à Indonésia... todas estas viagens têm a ver com o facto de o cavaquinho ser um instrumento pequeno, de grande portabilidade, pronto a usar em tocatinas ou noutras sessões de improviso? A pergunta é grande e as coisas não são tão lineares quanto parecem. Repara, há muitas dúvidas sobre a origem do cavaquinho brasileiro, do cavaquinho português e do cavaquinho caboverdiano. Nesta coisa da possível relação nossa com o resto do mundo, a única coisa que está documentada é a viagem do braguinha para o Havai. Evidentemente, entram teses diferentes de pessoas que estudam isto, por exemplo, da ida do cavaquinho minhoto para o Funchal e da sua relação com a braguinha. Teses diferentes e por aí fora. Também fiz uma viagem à Indonésia, há dois anos ou três à procura do descendente do cavaquinho, mas também com muitas dúvidas sobre isso, porque creio não haver fontes primárias

que o afirmem. Só alguns sinais que ainda hoje existem. Imagina chegares a um sítio onde vês só orientais e tudo a cantar “As Pombinhas da Catrina”. Isto quer dizer qualquer coisa. Há de facto descendentes de portugueses. Continuam ali dois instrumentos mas tu continuas sem saber de onde vieram. Da Madeira? Do Continente? Também houve a passagem por Cabo Verde… Enfim. Nem sei se vamos ter alguma vez dados precisos sobre as origens do cavaquinho, mas é claro que a investigação continua. Nisto tudo, o cavaquinho em geral e seus derivados, o facto de serem pequenos não tenho qualquer dúvida que os tornam transportáveis. Daí o ukulele que é de todos o que tem maior propagação no mundo inteiro, pelas características que tem que no fundo é como se fosse uma braguinha, dadas as suas características, é um instrumento onde podes acompanhar e cantar o que apetecer. É fantástico ter um instrumento que metes num saco, vais para um sítio qualquer, e sempre que te apetecer cantar tens ali aquele instrumento à mão. Acho que isso é o grande êxito do ukulele. Claro que quando falamos do ukulele estamos a falar de cem anos de prática. Só há quatro anos é que a Associação Cultural Museu Cavaquinho se constituiu. Só aí é que se começou a inventariar o que temos e, na realidade, até agora Portugal conta com uns cinco discos de cavaquinho gravados por músicos profissionais. São coisas muito recentes na história do nosso país. Precisam de tempo, como qualquer outra realidade. Como o cante alentejano ou o fado. É impressionante chegares à conclusão que em 2018 haverá cerca de 200 grupos de cavaquinho que movimentam quase 4000 tocadores, mais

de 30 construtores. Mas suponho que se der aí umas voltas que tenho de dar, ainda vou acrescentar mais 8 e de repente já estamos a falar em 40 construtores artesanais. Estás a ver que a prática do cavaquinho é gigante. Cresceu muito nestas últimas décadas e temos de a considerar como um bem patrimonial. E nos últimos cinco anos, para além dos teus dois discos (“Cavaquinho.pt” e “Praça do Comércio”) foram editados também o “Cavaquinho do Amadeu” do multi-instrumentista Amadeu Magalhães, o “Cavaquinho Cantado” do Daniel Pereira Cristo e, fora da Associação, o “Assimétrico” do Luís Peixoto, mais experimental e de fusão electro-acústica. Isto são bons sinais? Que dinâmica podemos esperar para os próximos tempos? A única coisa que eu reparo é que há cada vez mais jovens a tocar. Neste disco, foi a primeira vez que fiz um guia de acordes e partituras. Há cerca de 15 dias, um jovem a quem o Daniel Pereira ensinou a técnica do rasgado pegou nesse guia e gravou um vídeo a tocar um tema da “Praça do Comércio” que me impressionou. Muito parecido comigo. Isto é sinal de qualquer coisa que está a acontecer. De certeza que isto vai acontecer com outros. Há muita gente a tocar cavaquinho, mas a maioria não toca com a técnica do rasgado, portanto, isto são passos a dar. Até coisas menos importantes são significativas de um sinal grande. Por exemplo, o cavaquinho entrou no Guiness dois anos consecutivos e a última vez com 1000 cavaquinhos a tocar ao mesmo tempo. Mesmo de forma amadora, as pessoas do país inteiro reuniram-se para tocar. Isso é fantástico. E não deixa de ser curioso que o tocador de timple (parente das Ilhas

Canárias do cavaquinho), Althay Páez, esteja a preparar um disco inteiro com composições tuas. Não se trata apenas de músicos internacionais a interessaremse pelo cavaquinho, há músicos internacionais a interessarem-se pelo teu repertório. Como é que vês isto? Nem te sei dizer. Acho isto fantástico. Esta dinâmica que tem que ver instrumentos, com a música instrumental que, como se sabe, é uma minoria no mundo. Desde o início da Associação, tenho reparado que o timple também tem muito pouca documentação. Eles estão num processo idêntico ao nosso. Mas a verdade é que há músicos fantásticos a tocar. Como o Germán López... Por exemplo. E um outro que infelizmente morreu [José António Ramos]. De qualquer forma, 2018 será um ano muito importante para o timple e para a música das Canárias, uma vez que a WOMEX [maior feira de músicas do mundo] irá realizar-se em Las Palmas e terá como tema de fundo a música da Macaronésia [Canárias, Madeira, Açores, Cabo Verde]. Será uma oportunidade única para o timple e para o cavaquinho casarem e mostrarem esta união ao mundo, não achas? Seria fantástico. Andamos a pensar nisso e não devemos perder essa oportunidade. Há um outro aspecto curioso quando se fala de música: os portugueses (e provavelmente os espanhóis) têm tendência a esquecer-se que não faz sentido dissociarmos a Espanha ou Portugal da Península Ibérica. Para mim, faz todo o sentido quando acontece uma ligação musical entre um espanhol e um português. Luís Rei [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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REPORTAGEM

Luísa Sobral com Pedro Mestre e Rancho de Cantadores da Aldeia Nova de São Bento “A Rosa”, música popular com arranjo de Luísa Sobral, encerrou a Gala.

Gala Reconhecer: Aplaudir e incentivar quem muda o mundo à sua volta

“Seja a mudança que quer ver no mundo”, M. Ghandi

A

“Reconhecer - Gala de Reconhecimento Social”, iniciativa da Fundação Inatel, volta a destacar associações, projetos e pessoas que têm desenvolvido atividades na área

social. No dia 21 de novembro subiram ao palco do Teatro da Trindade associações, projetos inovadores, agentes de mudança, homens e mulheres que, mesmo de nariz vermelho, são levados muito a sério. A tradição e o património imaterial foram

Aldeia dos Sonhos Rio de Mel, Coimbra, é a “Aldeia dos Sonhos 2017”.

a banda sonora de uma tarde de aplausos, onde o presidente da Fundação Inatel, Francisco Madelino, mais uma vez foi interventivo: “Na área social, num mundo ainda desigual, temos que ser capazes de dar mais segurança aos cidadãos; em sociedades cada vez mais envelhecidas, sermos capazes de demonstrar os projetos e dar a conhecer os agentes sociais (pessoas e associações) que vão tendo ideias para que o mundo seja cada vez melhor.”

Maria João Costa / Beatriz Maduro (Fotos)

Pedro Mestre e o Rancho Cantadores de Aldeia Nova da São Bento A Viola Campaniça de Pedro Mestre acompanha, desde 2007, os Cantadores da Aldeia Nova de São Bento, grupo que nasceu em 1986 numa tertúlia de amigos.

Conversa Amiga A linha de atendimento telefónico “Conversa Amiga” é um projeto de combate à solidão. Andreia Condesso foi a voluntária homenageada.

Prémio CCD (Centros Culturais e Desportivos) Casa do Povo de Lavre – Projeto de Évora dedicado à sustentabilidade da Secção Social; D’Orfeu – Projeto opÁ! – Orquestra Percussiva de Águeda; H2O – Associação de Jovens de Arrouquelas – Projeto Be active, Be creative.

Mealheiro Solidário Entrega de apoio a António Gil Garrido.

Programa de Apoio ao Associativismo A Fundação Inatel apoia 343 Centros de Cultura e Desporto.

CCD Centenário Orfeão de Gondomar, que completou 100 anos, como associação.

Prémio Mérito INATEL Operação Nariz Vermelho – 15 anos a assegurar um programa de intervenção dentro dos serviços pediátricos dos hospitais portugueses.

Banda Plástica de Barcelos Nasceram a 10 de junho de 1976 e são cópias vivas dos músicos de barro de Barcelos.

Ajudar Uma iniciativa que “dá a mão” a nível individual, coletivo e no voluntariado. José Händel de Oliveira, antigo funcionário da Inatel, em Braga; Plataforma PAJE - Apoio a Jovens (Ex) acolhidos; Associação Nuvem Vitória.



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Opinião

DR

Turismo Inatel: um compromisso com a Sustentabilidade e o Desenvolvimento Este ano de 2017 coloca-nos desafios a diversos níveis, mas no caso do turismo será especial pois a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou 4 de dezembro do ano passado a resolução que proclamou 2017 como Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento desafiando-nos para um repto interessante e exigente para o nosso País e para o Mundo Por José Manuel Alho*

A

resolução aprovada reconhece “a importância do turismo internacional e, em particular, da denominação de um ano internacional do turismo sustentável para o desenvolvimento, para promover uma melhor compreensão entre os povos em toda parte, conduzir a uma maior consciência da riqueza do património das várias civilizações tomará e contribuirá para uma melhor apreciação dos valores inerentes das diversas culturas contribuindo para o fortalecimento da paz no mundo”. O Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento surge alinhado com a adoção pela comunidade internacional da nova Agenda 2030 e os objetivos de desenvolvimento sustentável. A OMT – Organização Mundial de Turismo é o organismo coordenador das iniciativas a desenvolver um pouco por todo o planeta envolvendo os governos, as organizações nacionais e internacionais e os diversos atores do turismo e da sustentabilidade. É essa a razão que nos mobiliza para a realização de diversas iniciativas em torno deste eixo turismo-sustentabilidade-desenvolvimento-pessoas. As dinâmicas da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (RIO+20), que se realizou em 2012 no Rio de Janeiro foram determinantes para esta deliberação da ONU ao ser aí reconhecido que “o turismo se bem concebido e gerido pode contribuir para as três dimensões do desenvolvimento sustentável e gerar oportunidades de negócio”. O Ano Internacional do Turismo Sus-

tentável para o Desenvolvimento surge em boa oportunidade com a adoção pela comunidade internacional da nova Agenda 2030 e dos objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), aprovados pela Assembleia Geral das Nações em setembro de 2015, “em particular com o objetivo 8: promover o crescimento económico, inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho decente para todos; o objetivo 12: consumo e produção sustentável, o objetivo 14: reter e utilizar de forma sustentável os oceanos, os mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável, e o objetivo 15 proteger a vida terrestre” entre outros. O Turismo é o segmento de atividade económica que mais tem crescido nos últimos anos, observando-se uma oferta crescente por todo o País, afirmando-se como instrumento potenciador do desenvolvimento territorial, quer urbano quer rural. Esta dinâmica turística beneficia das nossas condições naturais, dos nossos valores culturais, da tranquilidade e segurança, do nosso posicionamento geográfico e da capacidade empreendedora dos nossos agentes económicos. O turismo é um instrumento de promoção de desenvolvimento das regiões e das suas comunidades, servindo a sua valorização económica e sociocultural, se for devidamente acautelada, e afirmar a conciliação de interesses entre essas atividades e a capacidade recetora dos destinos numa estratégia que assente na sustentabilidade. A Secretária de Estado do Turismo, através do seu despacho normativo n.º 16/2016, de 30 de dezembro, lançou a Li-

nha de Apoio à Valorização Turística do Interior que vem criar oportunidades para essa concretização, lançando um louvável repto à capacidade e imaginação dos diversos atores do desenvolvimento e desse modo contribuir para a coesão territorial. Os novos produtos turísticos ligados à natureza e ao mundo rural não são necessariamente uma ameaça potencial, mas podem ser uma oportunidade para a conservação da natureza e para o desenvolvimento local sustentável das áreas naturais desde que sejam acauteladas um conjunto de regras tal como o turismo centrado nos territórios urbanos. É no entanto fundamental acautelar as capacidades de carga dos destinos turísticos e a boa relação entre os turistas e os residentes. Esta atividade não pode ser encarada como uma “panaceia” para a resolução dos problemas do desenvolvimento, da economia ou do emprego e não deve ser sinónimo de destruição e depleção das mais-valias naturais e culturais existentes: não se deve matar a galinha dos ovos de ouro! É este o grande desafio do Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento! E este desafio não pode passar indiferente à Fundação Inatel que tem no turismo e domínios conexos como o social, o desporto e a cultura para todos a sua missão na sociedade Portuguesa, com um passado de 82 anos que nos tornam ainda mais responsáveis em agarrar os caminhos do futuro! *Vogal do Conselho de Administração da Fundação Inatel


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Viajando com livros

PRESÉPIOS, UM REENCONTRO DE PORTUGAL COM AS RAÍZES

Q Portugal, nos seus múltiplos territórios geográficos e humanos, do Minho ao Algarve, de Trás-os-Montes ao Alentejo, das ilhas da Madeira, às ilhas dos Açores e através dos países da diáspora e da lusofonia reencontrase, nesta quadra festiva do ano, na profusão extraordinária dos Presépios, em tudo o que os caracteriza no essencial e em tudo o que os distingue, em cada lugar, por mais remoto e mais obscuro que seja Por António Valdemar

uando se fala ou se escreve acerca de Presépios, em matéria de arte erudita, não só é habitual mas, também, obrigatório referir Machado de Castro, cujas obras de escultura se multiplicaram em conventos, igrejas, palácios e outros espaços públicos. Machado de Castro (1731-1822) nasceu em Coimbra onde começou a aprender a arte com o pai, um dos santeiros mais conceituados da cidade e da região. Veio depois para Lisboa trabalhar com Nicolau Pinto e, a seguir, com José de Almeida, o grande escultor formado em Roma e que foi – no depoimento de Cirilo Wokmar Machado – o primeiro artista português, do século XVIII, que «soube esculpir em pedra». Permaneceu Machado de Castro em Mafra, entre 1756 e 1770, na equipa de Giusti que D. João V incumbiu para instalar a capela de São João Batista, na igreja de São Roque, em Lisboa e para superintender na construção da basílica, do convento e do palácio de Mafra. Durante 14 anos, Machado de Castro, sem nunca sair de Portugal, tomou contacto com a riqueza e a diversidade da cultura artística da Europa que continuava a irradiar nos grandes centros urbanos da Itália. Um dos convívios mais assíduos que estabeleceu em Mafra foi com Francisco Vieira de Matos, o famoso pintor Vieira Lusitano, que se formou em Roma e ganhou o Concurso Clementino, que abria as portas das principais cortes da Europa. Encontrava-se Machado de Castro na plenitude da maturidade profissional ao radicar-se, em 1770, em Lisboa. Realizou obras de vulto para a Basílica da Estrela, o Palácio da Ajuda, as quintas reais de Belém e de Caxias e o Palácio do Marquês de Pombal em Oeiras. Refletem os mais notáveis paradigmas da construção clássica e neoclássica. Nenhum outro artista português igualou Machado de Castro, no seu tempo. Interveio no plano de reconstrução de Lisboa, após o terramoto de 1755. Recebeu um convite da Casa do Risco das Obras Públicas para fazer a maquete de uma estátua de homenagem a D. José. O escultor italiano Andrea Imbom, natural de Malta, era o outro concorrente. Um ano depois, apresentado o primeiro estudo, foi entregue a Machado de Castro a concretização da estátua equestre. Em junho de 1775 decorreu a inauguração com um cerimonial de aparato inédito. A estátua e o conjunto em que se enquadra têm a amplitude, a

imponência e os efeitos decorativos dos melhores mestres europeus. Ficou no centro da Praça do Comércio e passou a ser um dos mais emblemáticos monumentos do mundo. Todavia, a par desta estatuária opulenta, com a ambição evidente do colossal, Machado de Castro também inventou e executou Presépios. Constituem a outra componente da sua trajetória profissional. Sem a pompa orgulhosa e a sumptuosidade altiva que marcam os outros trabalhos da sua produção escultórica, os Presépios de Machado de Castro transmitem a movimentação e a espontaneidade lírica e satírica que também surpreendemos no teatro de Gil Vicente, a expressão viva da realidade social voltada para o quotidiano. Recriou figuras típicas como, por exemplo, o rapaz que toca caixa de rufo, o homem de gaita-de-foles, a matança do porco e o peregrino ajoelhado que oferece um carneiro, entre a representação de numerosos costumes, usos e tradições genuinamente portugueses. Há Presépios, incontestavelmente, da autoria de Machado de Castro; outros têm algumas peças dele e a colaboração da sua oficina; outros de artistas e artífices que foram seus discípulos e continuadores; e, ainda, outros, podemos dizer muitos e muitos outros são imitações – melhores ou piores – e objeto de especulação e de fraude de colecionadores, de antiquários e de leiloeiros. Aliás, continua a ser muito frequente atribuir a Machado de Castro a autoria de inúmeros Presépios ou de pequenos grupos escultóricos alusivos ao ciclo da Natividade mas que, efetivamente, não lhe pertencem. Até agora não se conseguiu unanimidade de critério acerca do número dos Presépios da exclusiva autoria de Machado de Castro. Diogo de Macedo, no estudo biográfico e crítico sobre Machado de Castro e em livros e artigos acerca de Presépios, inventariou dez presépios comprovadamente de Machado de Castro. Também apurou que, apenas, está assinado o Presépio da Sé de Lisboa. Nele se regista a data em que foi concluído. E também ali se pode ler em caracteres visíveis e em latim: Joach Machado de Castro inven et fecit 1766. Estes e outros pormenores, a respeito da vida e da obra de Machado de Castro, foram igualmente examinados nos estudos de Henrique Ferreira Lima, Garcês Teixeira, Luciano Ribeiro, Luís Chaves e, mais recentemente, Sérgio Andrade para

citarmos alguns dos investigadores que se detiveram na atividade do escultor, na produção da sua oficina e no contributo dos seus colaboradores. A partir da inscrição da assinatura de Machado de Castro no Presépio da Sé de Lisboa, verifica-se que pertence a Machado de Castro a conceção e a execução integral de um Presépio e, em relação aos demais que lhe são atribuídos, limitou-se quase sempre a algumas peças por ele criadas mas, fundamentalmente, a trabalhos realizados por artistas que faziam parte da sua oficina. Machado de Castro, através da sua correspondência, não escondeu que, em diferentes oportunidades, como sucedeu na própria estátua equestre de D. José, contou com o auxílio direto de vários colaboradores. Tempo de Natal, tempo de Ano Novo... Nos Presépios que revelam o génio criador de Machado de Castro destacam-se as figuras alegóricas de barro policromado, que reconstituem a imagem do menino, na lendária estalagem de Belém, nascido e acarinhado entre o pai e a mãe; a presença dos animais que Francisco de Assis decidiu colocar no centro da narrativa bíblica, ao instituir, em 1223, o primeiro Presépio ao vivo; a alegria dos que se reúnem, afetuosamente, para comemorar a festa; a viagem esperada dos magos e o simbolismo das ofertas que trazem; a ilusão das estrelas, tão longínquas e tão próximas, para reacender, entre cinzas e lágrimas, os possíveis sinais de esperança. O Presépio – nas muitas versões eruditas e populares que se deparam através dos séculos e em todas as partes do mundo – convoca a imaginação para o reino do maravilhoso, para o imaginário das convenções de uma paisagem ideal e do lugar ameno; e para os rituais litúrgicos e gastronómicos da consoada, que promovem a reunião da família, quantas e quantas vezes dispersa no resto do ano. Mas o Presépio também conduz a outras interrogações íntimas, ao aprofundarmos o grande debate em torno da veracidade das questões teológicas; e a ausência da aplicação concreta das promessas sociais e políticas. Para a urgência da paz nos países mergulhados nos trágicos cenários de guerra. Para insistir na reposição de um mundo diferente, de um mundo mais humano, sem os abismos que separam os ricos dos pobres, e que a própria mensagem do Natal, desde sempre, anunciou ao reclamar para todos o direito à justiça e a partilha da solidariedade.


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A Casa na árvore De como o célebre caso do pinheiro de S. Bento nos levou à Paulónia Por Susana Neves

A distracção da «arara formidável»

G

abriel Pereira, natural de Évora, antigo conservador e director da Biblioteca Nacional, descreve no livro Versos Eborenses do Século XVIII, publicado em 1894, o motivo pelo qual um pinheiro manso multissecular, que crescia altaneiro no interior da cerca do Convento de S. Bento de Cástris, teve direito a declarações panegíricas, poemas, odes e notícia obituária nos jornais. Socorrendo-se de um documento do século XVIII, Gabriel Pereira, conta como esta árvore, com «dezoito séculos de duração», veio um dia fazer ninho, a bela, misteriosa e mítica ave Fénix. Grandes apreciadores de aves migratórias, os eborenses viram com muito agrado a presença e labor da ave «enorme, vermelha, pescoço dourado, e rabo roxo», mencionada pelos historiadores e naturalistas da Antiguidade Clássica. No entanto, chegado o Inverno, a Fénix desapareceu e houve quem trepasse ao topo do pinheiro manso para averiguar o que se passava. Não havia ovos, nem crias, nem uma só pluma deixara esta «arara formidável», mas para grande surpresa de todos, o ninho

era feito de paus de madeiras exóticas e perfumadas: «cedro, canela, cravo, sândalo, e outras espécies odoríferas que a ave fora buscar à Arábia e à Índia». Depois da queda do pinheiro manso gigante, na noite de 2 para 3 de Janeiro de 1739, foi o seu tronco, que derrubou o muro do convento, transformado em «cepo para a cozinha» das freiras cistercienses. A partir de então, as tortas e os pastéis de carne, confeccionados pelas religiosas, absorvendo os aromas dos paus exóticos do ninho da Fénix, ficaram tão «saborosos e cheirosos», que não careciam de nenhum «adubo». Visivelmente maravilhado com esta história, o erudito Gabriel Pereira, não explica, no entanto, o motivo do desaparecimento da Fénix. Sendo ela a ave mítica de que falavam Heródoto e Plínio, teria necessariamente ardido com o calor provocado pelos paus com que fizera o ninho, renascendo de seguida para voltar ao Egipto e daí para a Etiópia, num ciclo contínuo de renascimento e morte. Contudo, se a Fénix fosse de origem chinesa, só por distracção faria o ninho em cima de um pinheiro manso, e o seu

Fénix e Paulónia, estampa de Nishimura Shigenobu, início do século XVIII. Museu Fine Arts, Boston Em baixo À esquerda, os frutos e os castiçais de flores de uma Paulónia, Jardim Botânico de Lisboa À direita, as folhas da Paulónia, Jardim Botânico de Lisboa

desaparecimento resultaria da percepção do erro e da procura da espécie arbórea correcta para nidificar. Segundo a mitologia japonesa, a Fénix só pode nidificar em cima de uma Kiri [Paulownia tomentosa (Thunberg) Steudel], considerada actualmente a «árvore do futuro», «salvadora do planeta» não só pela poderosa capacidade de absorção de dióxido de carbono e resistência aos incêndios como pelas muitas qualidades que a seguir se descrevem. Natural da China, plantada e venerada no Japão (o desenho estilizado das suas folhas e flores é usado como emblema do gabinete do Primeiro-Ministro), a Kiri ou Paulónia, à semelhança da ave mítica da qual é indissociável, é capaz de renascer, porque rebenta de touça depois de cortada ao nível do chão. Apresenta ainda outras virtudes: as folhas muito grandes, podendo alcançar sessenta centímetros, fornecem uma sombra generosa e servem de forragem para os animais; o tronco direito fornece tábuas de madeira leve e simultaneamente resistente; sobrevive numa ampla latitude térmica; algumas espécies, sobretudo as híbridas, podem crescer seis metros no primeiro ano, até alcançarem cerca de vinte metros. A estas virtudes acresce, antes de todas elas, a subtil beleza das suas flores perfumadas, caducas, de um lilás muito claro, que lembram muito a dos jacarandás, embora numa das primeiras descrições europeias, feita pelo naturalista alemão Engelbert Kaempfer, no início do século XVIII, tenham sido comparadas às flores da dedaleira. Plantada massivamente na China, e cada vez mais vista como uma espécie florestal substituta do eucalipto, a Paulónia (o nome foi cunhado pelo médico e naturalista Philip Franz Siebold em homenagem a Anna Pavlova, filha do czar da Rússia, Paulo I) provém de um passado Imperial e musical. É a «Árvore-da-Imperatriz» ou a «Árvore-da-Princesa». Quando no Japão nascia uma menina plantava-se uma Paulónia, quando casava cortava-se a árvore para fazer um baú onde se guardariam os quimonos. Na China, aproveitando a qualidade de ressonância da madeira, fazia-se uma caixa para marcar ritmicamente a marcha do Sol. Se plantarmos paulónias em Portugal regressará a Fénix ao nosso país? Segundo a mitologia chinesa, a Fénix só aparece quando a governação é justa. [A autora escreve de acordo com a antiga ortografia]


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MEMÓRIAS DE JÚLIO ISIDRO

BREVE HISTÓRIA DE UM MENINO PRODÍGIO

T

em mesmo que ser breve porque uma vida e tanta música, não cabem numa página de jornal. Diz que nasceu ‘prá’ música, não tem papas na língua e é o mais querido dinossauro do meio musical português. Viu a luz do dia no Ribatejo e já afirmou que “Se o Elton John tivesse nascido na Chamusca, não teria tido tanto êxito como eu!” E é capaz de ter razão, porque José Cid é como todos nós, o homem e a sua circunstância. Imaginem “A portuguesa bonita” com palavras de Shakespeare, num título, género “Lovely british girl” cantada pelo sir Elton ou mesmo “Like the monkey I love bananes” pelo sir Paul McCartney? Eram libras em caixa, concertos no Royal Albert Hall e discos de platina com fartura. Mas o Cid é daqui, gosta de ser português, é monárquico e tem uma obra que já está na nossa história. Para o grande público, tudo começou com a ”Lenda d’El rei D. Sebastião” de um tal recém-nascido Quarteto 1111. Foi um estouro com honras de passagem única e excepcional num mítico programa do Rádio Clube Português, o Em Órbita que só passava música anglo-americana. Depois Cid insistiu nos ambientes histó-

ricos e levou a “Balada para Dona Inês” ao Festival da Canção de 1968. Ficou a Inês posta em sossego porque o júri das capitais de distrito não deixou sua Alteza sair para o estrangeiro. O José Cid esteve para ser advogado quando foi para Coimbra estudar, mas a música incompatibilizou-se com a toga. Tocou no conjunto Orfeão e teve até o Trio los Dos com, esse sim, ilustre causídico, Daniel Proença de Carvalho. Foi quase professor de Educação Física com curso no INEF mas os ensaios até altas horas na garagem do Michel em Alapraia/Estoril eram muito mais interessantes do que fazer o pino. Foi nesse período que assisti a muitos ensaios da banda que se chamava 1111 pela simples razão de que era esse o número de telefone lá da casa! O quarteto deu depois lugar aos Green Windows que acompanhei a Londres em 1974 quando foram gravar ”A rosa que te dei” e “O dia em que o rei fez anos”. Que aventura vivida nos estúdios onde tinham gravado os Moody Blues e outras estrelas da música que, por sorte deles, não tinham nascido na Chamusca! Em 1980 canta um ”Grande, grande amor” e vence o Festival da canção. Dizer addio, adieu, auf wiedersehen, goodbye, não era com ele. Definir musicalmente a obra de José Cid

é coisa para teóricos comentadores que não sou. Isto porque não sei como meter no mesmo saco, os “Vinte anos” que venderam mais de 100.000 discos e o álbum de rock progressivo “10.000 anos depois entre Vénus e Marte”. Este trabalho estava tão à frente no seu tempo, que só recentemente foi descoberto lá fora, sendo considerado um dos cem melhores álbuns de sempre pela revista Billboard. E o Zé é do rock, da pop, das baladas ou do fado? Num caso ele já respondeu: “Se o Rui Veloso é o pai do rock, eu sou a mãe!” Não têm conta os programas meus onde José Cid actuou e falou, mas há um que para nós foi marcante. Em 2005, os inimigos dos sucessos dos

outros, andavam a tentar enterrar vivo o Cid. Convidei-o para uma rubrica de 15 minutos, o “Cantinho dos Artistas”, onde eu também estava mais ou menos mal enterrado, no Portugal no Coração. Em conversa e mãos no teclado, passámos em revista alguns dos seus maiores sucessos e a rubrica durou meia hora! O público que mesmo que o tentem adormecer, está sempre de olho atento e neste caso de ouvido, gostou e percebeu que o José Cid só estava reformado nos silêncios de alguns. Passados dias o celebrado autor de “Uma cabana junto à praia” e mais centenas de êxitos, enchia duas noites a abarrotar, o Maxime em Lisboa. Esta a breve história de um menino-prodígio que continua a dar concertos de duas horas como se tivesse os tais “Vinte anos”. Já se percebeu que sou admirador e amigo do José Cid, mas a amizade não me leva a exagerar das suas qualidades. Ele é mesmo um dos criadores mais importantes da música portuguesa neste último meio século. É sincero e não tem falta de chá. Lembram-se do anúncio do Lipton feito por ele? “Olá malta. Tudo bem? Tá-se?!” [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]


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Entrevista

Francisco Madelino “O Teatro da Trindade Inatel é a joia...”

Q

ual a razão da Fundação ter um Teatro como o da Trindade Inatel? Uma é a razão histórica. A Fundação herdou todo o património da antiga FNAT (Federação Nacional para a Alegria do Trabalho) e grande parte da sua missão, como a de defender a cultura popular, promover o acesso à cultura de todos e outras formas de lazer, como o desporto do turismo. A sua inserção na política pública passou a ser diferente do Estado Novo, mas a sua missão mantevese em grande parte. A Constituição de 1976 dedicou um artigo a legitimar essas funções, só que no quadro dos valores democráticos. O Teatro da Trindade é um instrumento ao serviço da missão da Inatel: apoiar a cultura portuguesa e o usufruto da cultura por todos, sobretudo aqueles que têm menos acesso a ela. E o Teatro tem exercido essa função? Tem. É um dos teatros, dizem os agentes culturais nacionais, mais bonitos e com melhores condições e acolhedores. Por aqui passaram grandes textos, grandes encenações e a maior parte dos atores portugueses. Este ano editamos um livro sobre estes 150 anos, e lá se pode confirmar o que se disse atrás. Adicionalmente, editamos um outro sobre Ribeirinho, um grande ator e por muitos considerado o primeiro encenador português como o termo é utilizado na época atual. Foi no Trindade que Ribeirinho teve os seus mais altos momentos no Teatro. Ao longo destes 150 anos, mas sobretudo dos últimos 55 anos na posse da Fundação, o Teatro tem sido visto como uma casa de acolhimento da cultura portuguesa e com um carisma popular. Tem sofrido as vicissitudes das administrações e sobretudo dos impactes das crises sociais e financeiros do País, como a última com o Memorando, mas tem sido sempre marcante. Para além disso, os Sindicatos, representados na administração da Fundação, também sentem no Trindade Inatel essa especificidade e carinho próprios. Como vê o presidente e esta administração o papel do Teatro da Trindade Inatel? O Teatro deve ser dirigido, na sua programação, por quem é respeitado e reconhecido no meio teatral e cultural. Acordado o orçamento e duas ou três ideias nas suas linhas estratégicas genéricas, deve ser dada independência a que o dirige artisticamente. No projeto. Na programação. Na sua dinamização. Diogo Infante, dispensa apresentações, foi a pessoa escolhida. O que a administração lhe pediu é que ajude a Fundação a ter um Teatro no centro da vida e cultural de Lisboa

Beatriz maduro

“É um dos teatros, dizem os agentes culturais nacionais, mais bonitos e com melhores condições e acolhedores. Por aqui passaram grandes textos, grandes encenações e a maior parte dos atores portugueses” “O Teatro deve ser dirigido, na sua programação, por quem é respeitado e reconhecido no meio teatral e cultural”

e do País, com uma programação assente em peças de carreira que atraia o público português ao Teatro. E que supletivamente, em complemento, este desafio seja compatível com um espaço onde as áreas de missão da Fundação possam ter um espaço reservado de intervenção, sobretudo em projetos que associem a cultura tradicional a dinâmicas inovadoras. O resto cabe ao Diogo Infante. Pela sua competência e arte, e independência. A nós, somente ajudarmos a quem sabe, dentro dos nossos limites. Substituiu Inês de Medeiros, pelas razões conhecidas. Também ela uma pessoa do meio. Ao longo de 2016, a anterior diretora já tinha iniciado esta regeneração do Trindade Inatel, após anos duros do Memorando que Portugal teve de aplicar, com implicações sobre as disponibilidades da Fundação e a afetação ao Teatro da Trindade Inatel. Pelo que se percebe a programação não será apenas o Teatro, certo? O essencial e a âncora estarão aí obviamente, embora isso caiba ao diretor artístico. Há projetos musicais, como o

Ciclo Mundos, já uma marca conhecida, que também por lá passarão e outros projetos e momentos institucionais, mas o conteúdo e marca do projeto cabe e será apresentado pelo diretor artístico no momento próprio. Como têm sido as Comemorações dos 150 anos? Têm decorrido bem. Com impacte social e mediático. Desde a peça “Nós Trabalhadores”, que praticamente iniciámos o ano, comemorando os 100 anos do Ministério do Trabalho, e refletindo sobre a evolução social do último século, um trabalho de Vicente Alves do Ó, um regresso às produções próprias, passando pela peça “Quem tem medo de Virginia Woolf ”, com o Diogo Infante e a Alexandra Lencastre, ou as peças “O Apartamento”, com Maria João Abreu, e a “Avenida Q”, um êxito, até a “Todo o Mundo é um Palco”, de Beatriz Batarda e Marco Martins, são exemplos do que tem passado pelo Trindade. Também podíamos ainda acrescentar os eventos musicais, com a Sociedade Portuguesa de Autores, dedicados a Zeca Afonso e Ary dos Santos. Nas suas conferências

passaram por lá vultos enormes da cultura e sociedade portuguesas e de outros países. Foi bem preenchido. E para o futuro? Continua a aposta no Teatro? A Fundação considera esta infraestrutura essencial para dar relevo e palco à sua missão. Seja de dar usufruto da cultura a todos. Seja de dar palco aos agentes culturais de Portugal. Seja de ser um espaço marcante, na zona histórica de Lisboa, na produção culturais e nos debates sociais. O Teatro da Trindade Inatel é a joia das inúmeras infraestruturas que temos espalhadas pelo País. Os trabalhadores portugueses vêem na Fundação Inatel e neste Teatro, como no Estádio Primeiro de Maio, espaços marcantes da sua História e da vida social portuguesa. Apostar no Teatro é apostar nos valores da Fundação. Ele e Ela são indissociáveis. O Teatro sem atores nem público seria um Teatro morto. A Fundação sabe que tem este dever para com o País, torná-lo vivo, e com a sua História de mais de oitenta anos.


fotorreportagem

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Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na cerimónia dos 150 anos do Teatro da Trindade Inatel.

Descerrar da placa comemorativa dos 150 anos do Teatro da Trindade com conselho de administração da Fundação Inatel, Presidente da República, ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, e direção do Trindade.

Comemorações dos 150 anos do Teatro da Trindade Inatel José Carlos Barros, professor, cenógrafo, criador de marionetes e contador de histórias. Foi diretor do Teatro da Trindade e diretor técnico.

A “joia” da Fundação Inatel celebra 150 anos de espetáculo e festejou, no dia 30 de novembro, com todos aqueles que fazem dela a “mais bela sala de teatro de Lisboa”. O Teatro da Trindade Inatel recebeu os mais ilustres convidados da vida política, cultural e social portuguesa num fim de tarde dedicado à exposição de José Carlos Barros, apresentação dos livros de Paula Magalhães e Ana Sofia Patrão, e ainda a peça “Todo Mundo é um Palco”. Maria João Costa / Beatriz Maduro (Fotos)

Exposição sobre público anónimo no Teatro da Trindade, de Apresentação dos livros Teatro da Trindade – 150 anos, de José Carlos Barros. Paula Gomes Magalhães, e Francisco Ribeiro – Ribeirinho, de Ana Sofia Patrão.

Com o elenco da peça comemorativa dos 150 anos do Teatro da Trindade “Todo o Mundo é um Palco”, de Beatriz Batarda e Marco Martins.

Jorge Louraça escreveu e encenou a peça “À Espera de Beckett ou Quaquaqua”, uma homenagem a Ribeirinho nos 150 anos do Trindade, onde cresceu como ator e encenador.

Diogo Infante e Alexandra Lencastre, cumplicidade e amizade. Estiveram juntos no palco do Trindade com “Quem tem medo de Virginia Woolf”.


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desporto

VETERANOS INATEL REGRESSAM À UNIVERSIDADE A II Supertaça de Lisboa leva a jogo os vencedores dos Campeonatos Universitários de Lisboa contra os vencedores dos Campeonatos de Lisboa da Inatel

“J

untar os veteranos com os novatos”, começou por dizer Gonçalo Rosmaninho, presidente da Associação Desportiva do Ensino Superior de Lisboa (ADESL), e foi o que aconteceu no dia 5 de novembro no encontro da II Supertaça Lisboa. Um dia onde o desporto levou a competição a outro nível, o nível da partilha, onde se mostrou que qualquer idade é a ideal para a prática desportiva. A Supertaça de Lisboa é organizada pela ADESL e a Fundação Inatel num evento que junta em várias provas os vencedores dos Campeonatos Universitários de Lisboa 2016/2017 contra os vencedores dos Campeonatos de Lisboa da Inatel 2016/2017. Esta Supertaça já conta com duas edições e este ano realizou-se no Estádio Universitário de Lisboa.

Entre Andebol, Basquetebol, Futebol, Futsal, Voleibol e Ténis de Mesa a Fundação Inatel destacou-se com Paulo Martins, representante do CCD Clube Ferroviário de Portugal e com a equipa masculina de basquetebol, Basket A. C./ Sabor Mineiro, a taça foi para eles. Para Paulo Martins foi uma ótima final: “Jogar contra o João Oliveira é sempre um jogo muito competitivo.” João Oliveira é um nome sonante do Ténis de Mesa em Portugal. Federado em1963, a jogar com a Inatel há 41 anos, com carreira internacional e que aos 68 anos continua a jogar e a treinar, como a coordenar o departamento de formação da Federação Portuguesa de ténis de mesa desde 2014. Diz que “podemos jogar ténis de mesa até morrer”, e é esse o lema da sua vida. Jogar com os mais novos é, para Paulo Martins, “sempre com o maior respeito e

fairplay, este é um jogo de dupla felicidade, é amigável, não há esse tipo de complexo de se sentirem intimidados”. No basquetebol as reações dos jogadores foram de contentamento após uma vitória de 57 para 44 contra a Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico. “Não foi uma vitória fácil visto que esta equipa não tem uma rotina de treino, com pessoal mais velho (dos 20 aos 55 anos) e jogamos contra uma equipa de mais novos mas prevaleceu a nossa experiencia”. CPT Bairro S. João, no futebol, ASS. Miraflores Clube, no basquetebol feminino, G. D. Banco de Portugal, no voleibol feminino, C.V.O. (Clube de Voleibol de Oeiras) e Grupo D. Barcarena, em futsal, Associação de Andebol de Almada, deram luta e mostraram a garra do desporto mais direcionado para os trabalhadores. São estas iniciativas que quebram bar-

reiras e que aproxima a Fundação Inatel de um público que se identifica cada vez mais com os valores e com a missão da Inatel. E sim, o desporto é para todos, é multigeracional. Fundada em 2004 é a instituição responsável pela organização dos Campeonatos Universitários de Lisboa (CUL), passando por uma de dimensão regional, estendendo-se até uma de âmbito nacional. Atualmente a ADESL integra nas suas atividades todos os estudantes do ensino superior da área metropolitana de Lisboa abrangendo um universo de cerca de 90 estabelecimentos de ensino superior e mais de 140.000 estudantes. Na supertaça estiveram presentes as equipas AEISCTE (Associação de Estudantes do ISCTE-IUL), Univ. Nova SBESU, (Nova School of Business and Economics Student’s Union), AEFMH (Associação dos Estudantes da Faculdade de Mo-


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Fotos: Beatriz Maduro

Resultados Andebol

Associação de Andebol de Almada – 14 AEISCTE (Associação de Estudantes do ISCTE-IUL) – 18

Futsal

Grupo D. Barcarena – 0 AEISEL (Associação de Estudantes do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa) – 0 G.P.: 1 -2

Futebol 11

tricidade Humana), AEIST (Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico) e AEISEL (Associação de Estudantes do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa). No futebol, Nova SBESU, a equipa vencedora em grandes penalidades depois de um empate a duas bolas contra o Bairro de São João, não escondeu que ficaram surpreendidos pela vitória, e foi até ao fim na procura da vitória. No futsal também foram as grandes penalidades que resolveram o jogo depois de um empate a zero entre as duas equipas, o Grupo Desportivo de Barcarena e a AEISEL. Mas foi nesta equipa masculina de Barcarena que sobressaiu a Carina Alexandra, massagista e a única mulher fisioterapeuta na Liga Inatel de Futsal: “Nós, grupos da Fundação Inatel, temos outro espírito de equipa que os chamados grandes não o têm de certeza.”

Carina está com o clube há dois anos, é assistente dentária e sente-se parte da equipa, e eles já não a imaginam sem ela. No voleibol, feminino e masculino, foi por uma “unha negra” que as equipas da Liga Inatel não levaram o troféu para casa, e no basquetebol feminino a equipa de Miraflores, um clube com 28 anos de história, com a equipa de basquetebol na Inatel há 2 anos, e vice-campeã, não escondeu que precisam de treinar como a equipa vencedora, a AEFMH que venceu por 40 pontos contra 36. O andebol abriu o evento e a Associação de Andebol de Almada, há seis anos com a Inatel, ainda durante o aquecimento mostravam-se motivados: “Somos apologistas de agregar diferentes idades, mesmo na nossa equipa isso acontece, dos 27 aos 50 anos, e isso motiva-nos.” Num jogo onde a AEISCTE-IUL venceu por 18

contra 14 golos, a equipa Inatel de Almada continuou com a mesma boa disposição e foram reflexo de um evento que, pelo segundo ano consecutivo, com cerca de 500 pessoas, uniu duas gerações com a mesma paixão, o desporto. Para Gonçalo Rosmaninho, presidente da ADESL, “este evento é uma mais-valia no que diz respeito à ligação institucional com a Fundação Inatel e desenvolvimento cognitivo dos atletas proporcionando uma experiência única, pondo em prova atletas que ainda estão a começar a preparar o seu percurso competitivo frente a atletas que já se encontram com o seu percurso reconhecido no meio desportivo”. Na Supertaça não há perdedores, ficam todos a ganhar, mas há sempre quem leve o troféu para casa, e quem leve a vontade de regressar no ano seguinte.

Maria João Costa

CPT Bairro S. João – 2 Univ. Nova SBE SU (Nova School of Business and Economics Student’s Union – 2 G.P.: 3-4

Voleibol feminino

G. D. Banco de Portugal – 2 AEIST (Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico) – 3

Voleibol Masculino

C.V.O. (Clube de Voleibol de Oeiras) – 2 AEIST (Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico) – 3

Basquetebol Masculino

Basket A.C./Sabor Mineiro – 57 AEIST (Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico) – 44

Basquetebol feminino

ASS. Miraflores Clube – 36 AEFMH (Associação dos Estudantes da Faculdade de Motricidade Humana) – 40


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A

valência

luz mediterrânica conquista-nos à chegada. Valência, antiga capital de um grandioso reino mouro, tomada por El Cid no século XI, e definitivamente conquistada pelos cristãos no século XIII, foi ao longo de séculos povoada por diversas culturas. Ao percorrer as ruas da cidade descobrimos que a par de muitos edifícios medievais e renascentistas, Palácio do Marquês de Dos Aguas, Lonja de La Seda, Catedral, Torres de Quart, Torres de Serranos, entre outros, também a moderna “Cidade das Artes e Ciências”, projetada pelo arquiteto Santiago Calatrava, merece ser vista; o Museu do Arroz, Museu Taurino, ou Museu Fallero são outras escolhas para ir ao encontro das tradições. A paisagem envolvente é verdejante. O clima quente desta região do Levante e os solos férteis são favoráveis à profusão de laranjeiras. Mais a sul, os arrozais desenham uma atmosfera oriental no território que produz o ingrediente principal da especialidade valenciana, a paella. As opções são diversas para degustar este prato, desde os mais recentes restaurantes no Mercado Central, aos históricos como El Racó de la Paella, aos que se situam à beira-mar, caso de La Pepica, na praia da Malvarosa.

Música e flores A oferenda de ramos de flores constitui um dos acontecimentos mais coloridos das festividades. Durante dois dias, 17 e 18 de março, centenas de grupos de “falleros e falleras” desfilam com trajes regionais, acompanhados por bandas de música, em direção à Plaza de la Virgen para prestar homenagem à santa padroeira de Valência. Defronte à Basílica encontra-se uma enorme reprodução da Virgem dos Desamparados, onde são colocadas milhares de flores, idênticas às que compõem o seu manto, em toda a área circundante, invadindo toda a praça. Os desfiles, habitualmente, iniciam-se a partir das quatro da tarde, prolongando-se pela noite dentro. Durante este período as ruas do centro da cidade são amplamente iluminadas e ornamentadas, destacando-se o bairro de Ruzafa, sobretudo, ao cair da noite.

Noites de fogo e folia Tudo a postos para as “Fallas”. Os valencianos celebram a chegada da primavera, a devoção a São José e à Virgem dos Desamparados. Sente-se a alegria de um povo que sabe que “onde há música não pode haver coisa má” (Cervantes). Anunciam-se longas horas festivas

Queima de “ninots” Consideradas Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela Unesco, em 2016, as “Fallas” remontam aos séculos XIII e XIV, segundo a versão mais popular, iniciadas pelo grémio de carpinteiros, que queimavam aparas de madeira em fogueiras denominadas “fallas”, para celebrar o dia do santo padroeiro. Outros autores indicam uma origem mais antiga, defendendo que era um ritual de tradição pagã para anunciar o início da primavera. O centro de Valência enche-se de centenas de “ninots” compostos por enormes estruturas (algumas podem ultrapassar trinta metros de altura), com maior ou menor sofisticação, que caricaturam políticos, personalidades e acontecimentos relevantes da atualidade. Na madrugada do dia 18, no Paseo de la Alameda, realizam-se os famosos espetáculos pirotécnicos que animam a tradicional “Nit del Foc”. A noite da queima, 19 de março, é o ponto alto da festa valenciana, quando diversos “ninots” são consumidos pelas chamas.

A paixão de El Greco Toledo eleva-se num monte dominando a vista sobre o rio Tejo, onde mesquitas, sinagogas, igrejas, conventos, palácios, torres, e ruínas romanas compõem uma

paisagem arquitetural fascinante. Conhecida como a “cidade das três culturas”, devido à secular convivência entre cristãos, árabes e judeus, integra a lista das atuais cidades Património da Humanidade. A histórica localidade toledana cativou Domenikos Theotokopoulos, celebrizado pelo nome de El Greco. Foi aqui que o artista cretense passou grande parte da sua

Espetaculares Fallas de Valência

16 a 21 de março 2018 Viagem de autocarro (Madrid, Valência, Toledo) Viagem de avião (Lisboa, Alicante, Valência) Informações: Tel. 211155779 | turismo@inatel.pt | www.inatel.pt

vida, entre o final do século XVI e início do século seguinte, executando diversas obras-primas, hoje patentes na casa que lhe é dedicada, o Museu de El Greco. Na Igreja de São Tomé podemos ver a sua notável obra, considerada uma referência da pintura maneirista, “O Enterro do Conde de Orgaz” (1588), executada 250 anos após a morte do conde.


TL Nov-DEZ 2017 17

Na mesa com

Diogo Noronha

“O Nuno Correia

bacalhau e o polvo são, por excelência, dois dos símbolos gastronómicos do Natal em Portugal. Poderia escolher qualquer um deles para esta rubrica, até porque ambos estão muito bem representados na carta do novo restaurante Pesca, no Príncipe Real, onde os produtos do mar e as questões da sustentabilidade são reis. A escolha recaiu sobre o polvo, devido às memórias de infância e a uma forte ligação emocional à minha avó materna, uma mulher com uma paixão enorme pela gastronomia portuguesa e que acabaria por me inspirar. Na carta do Pesca o polvo aparece assado, mas a minha sugestão aqui recai sobre o arroz de polvo, acompanhado por feijão filé e cebolete, um casamento perfeito entre o mar e a montanha.”

Arroz de Polvo com feijão filé e cebolete Ingredientes (4 pessoas) 2 kg de polvo congelado (congelar primeiro se for fresco); 1 alho francês; 2 cebolas; 1 cenoura; 2 dentes de alho;1 ramo de salsa; 1 ramo de tomilho; 240 g de arroz carolino; Curcuma; 200 g feijão filé; Pimenta preta em grão; Coentros em grão.

Preparação

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Comece por cozer o polvo. Aromatizar com o alho francês, cebola, cenoura, um dente de alho, ramo de salsa, tomilho, pimenta preta em grão, coentros em grão. Deixe cozer em fervura em lume brando durante 45 minutos. A meio da

Alessandra Miranda

cozedura ratificar o tempero. Escorrer o polvo e reservar o caldo para o arroz. Para o arroz. Refogar 1 cebola pequena, 1 dente alho em azeite, com uma pitada de curcuma. Deixar caramelizar a cebola, sem deixar queimar. Juntar o arroz carolino e deixar que os grãos comecem a ficar translúcidos. Adicionar o caldo da cozedura para que o arroz vá absorvendo lentamente até quase na totalidade. Ir juntando o caldo concha a concha. A meio da cozedura verificar o sal. Deixar o arroz al dente. Cortar em pedaços e envolver no arroz. Para ligar o arroz no final, juntar um fio de azeite virgem extra. Saltear o polvo inteiro num pouco de azeite. Lavar o feijão filé, cortar em pedaços pequenos e envolver no arroz quente. Saltear os ceboletes em azeite, com uma pitada de sal, até ficarem dourados. Colocar o arroz no prato e decorar com salsa picada, os ceboletes e uns tentáculos de polvo.


18 TL NOV-DEZ 2017

INATEL DEVOLVE PORTUGAL AOS EMIGRANTES

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ela 21.ª vez a Fundação Inatel oferece a oportunidade a emigrantes portugueses de regressarem ao país através do programa Portugal no Coração. “Gostaria de voltar, viver e terminar os meus anos aqui”, dona Lurdes não esconde a emoção cada vez que fala de Portugal. Ouviu na rádio, na Argentina, que era possível visitar o país que a viu nascer e não perdeu tempo em inscrever-se na embaixada portuguesa: “Quando me chamaram não conseguia reagir, estava noutro mundo e quando vim vivi mesmo noutro mundo.” A dona Dolores é uma das muitas portuguesas, e portugueses, que tiveram de abandonar o país por motivos familiares e/ou económicos muito cedo e nunca mais voltaram. A Fundação Inatel torna possível, há 21 anos, com a Direção Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas e a TAP Air Portugal, que esses cidadãos, 15 emigrantes portugueses com 50 ou mais anos, a viver fora da Europa, e que não tenham visitado Portugal há menos de 20 anos, regressem. O senhor Armando, de riso fácil, despreocupado e avô babado, já não vinha a Portugal há 54 anos, partiu de Nelas para Argentina para fugir à tropa mas acredita que é lá, no país que o acolheu que deve continuar por ter construído a sua família. Família essa que aumentou durante a estadia em Portugal, Armando foi avô pela primeira vez e já conheceu o neto a partir do “Whatsapp”. Surpreendido com a educação dos portugueses e o “respeito na rua pelos autocarros”, pelos sinais de trânsito e peões, Armando ficava boquiaberto a cada passo e ainda não queria acreditar na sorte que tivera: “há 2 anos ou 4 disse que quando me reformasse a primeira coisa que fazia era inscrever-me na Embaixada. Assim fiz e vim logo no primeiro ano.” A dona Ilda deixa muitas mulheres invejosas, com quase 80 anos parece que ainda tem 60. Veio do Rio de Janeiro onde vive há 60 anos, ir para o Brasil “foi uma ilusão, o meu marido estava lá – casaram por ‘procuração’ – ele mandou-me ir e eu fui”. Da Beira-Alta, Ilda foi perdendo o contacto com os familiares, e é

com os olhos em água que lamenta não ter vindo mais vezes e há mais tempo a Portugal. Da viagem com a Inatel, esta bonita senhora de 80 anos, diz que vai embora “mal-habituada” e que esteve num “paraíso”; “Aqui fazemos parte de uma família, tudo gente boa. Conhecemo-nos aqui mas foi tudo muito bom é pena ser pouco tempo, mas o pouco tempo que foi valeu a pena.” Uma família da qual o Carlos já faz parte há dois anos, e que a Ana Paula não dispensa. Sem o Carlos não seria possível levar Portugal no Coração de norte a sul do país durante 12 dias, ele é mais do que o motorista, é companheiro, é o especialista das redes sociais, fotógrafo, amigo e confidente, “dizem que não têm capacidade para voltar, que não têm meios financeiros, e fico a pensar que quando achamos que não temos nada até temos qualquer coisa.” É inevitável não criarem laços, e nem Carlos fica indiferente na hora de dizerem adeus. “Quando eles vão embora ficamos com um aperto no coração.” A Ana Paula ama o que faz, acompanha o programa Portugal no Coração há 16 anos e quando diz “este é o último ano”, voltamos a encontrá-la no ano seguinte. “Este foi um grupo em que desde o primeiro dia pensava que já se conheciam. Formaram logo uma família. Sempre muito pontuais, muito divertidos, muito malandrecos, muito frescos, e excecionais pela forma como me receberam, a mim e ao meu colega. Adorei, mais uma vez, fazer Portugal no Coração.” “Este é o projeto dos afetos, onde nós sentimos que a nossa ação consegue transformar completamente a vida dando velocidade às pessoas”, palavras de José Manuel Alho, membro do conselho de administração da Inatel, que olha para esta iniciativa como “um dever, uma obrigação moral” da Fundação. José Manuel Alho realça ainda o contacto que estas pessoas têm com a Inatel: “é um programa equilibrado, tem a vantagem de ter na rede das unidades hoteleiras da Fundação bases de suporte logísticos que permitem organizar as tais rotas”. Portugal e a Inatel no coração de quem, 50 anos depois, regressa a um lugar que sempre foi deles. M.J.C.

CENTRO QUALIFICA INATEL NO PORTO

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programa Qualifica é vocacionado para a qualificação e melhoria dos níveis de educação de adultos. Até 2020, o governo pretende abranger cerca de 600 mil pessoas, e instalar cerca de 300 centros Qualifica, ainda este ano, em todo o continente. A Fundação Inatel é um desses centros e já está de portas abertas. A inauguração aconteceu no passado dia 12 de outubro e contou com a presença do secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita, que destacou o investimento e crescimento do Qualifica: “Há cada vez mais entidades portuguesas a fazer um investimento, neste caso uma grande instituição como é a Fundação Inatel, e as expectativas são que este centro seja importante na rede Qualifica”. Localizado nas instalações da Fundação Inatel, no Porto, Rua do Bonjardim, o atual centro Qualifica conta com mais de 15 formações a decorrer – línguas e literatura, informática, artes plásticas, música, desporto – agora com o certificado de formação. “Isto é a modernização da intervenção da Inatel, adequar esta formação aos atuais desafios lançados pelo governo e pela Europa, de ter processos de certificação, processos de formativos integrados e abri-los à sociedade civil”, declarou o presidente da fundação, Francisco Madelino, que realçou a importância de criar sinergias com outras entidades para que a formação seja a melhor para quem procura a Inatel, acrescentando: “Fizemos vários protocolos no sentido de alargar esta intervenção e de formalizar aquilo que já é feito há muitos anos de forma informal, modernizando e aumentando o papel da Fundação Inatel.”

Prémio Fundação Inatel no Doclisboa

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artírio”, de Vicent Carelli, venceu o Prémio Fundação Inatel para Melhor Filme de Temática associada a Práticas e Tradições Culturais e ao Património Imaterial da Humanidade. Pela primeira vez no Doclisboa, após 15 anos, a atribuição do Prémio Inatel foi uma das novidades na edição de 2017, que contou com 44 filmes. A diretora do festival, Cíntia Gil, destacando a criação do Prémio Inatel, explicou que “a Fundação Inatel já era parceira do festival e a Apordoc – Associação pelo Documentário, tornou-se este ano Centro Unesco” fortalecendo-se assim a aproximação pelo património e tradição. O presidente da Fundação Inatel, Francisco Madelino, por seu turno, declarou que “a nossa lógica aqui é a mesma lógica da nossa presença no Festival Músicas do Mundo de Sines, estar onde há criatividade, intergeração, renovação e onde há cultura popular portuguesa”. “Milla”, de Valérie Massadian, uma coprodução franco-portuguesa, venceu o Grande Prémio Cidade de Lisboa para Melhor Filme da Competição Internacional do festival Doclisboa, e foi ainda atribuída uma Menção Honrosa a “Medronho todos os dias”, de Sílvia Coelho e Paulo Raposo, em estreia mundial no festival, também a concorrer ao Prémio Fundação Inatel.

Aprendizagem ao Longo da Vida

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genda 2030: um objetivo, um debate, uma nova oportunidade para fazer melhor A Fundação Inatel iniciou um ciclo de conferências que tem como base a Agenda 2030 da ONU, com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos em 2015. Esta agenda é fruto do trabalho conjunto de governos e cidadãos de todo o mundo que pretende criar um novo modelo global para acabar com a pobreza, promover a prosperidade e o bem-estar de todos, proteger o meio ambiente e combater as alterações climáticas. No passado dia 20 de novembro, no ISCTE, em Lisboa, o tema “Educação com Qualidade”, (4.º Objetivo) foi o mote para um debate no âmbito da Semana Aprendizagem ao Longo da Vida, uma iniciativa da associação Direito de Aprender. Um dos objetivos principais da 3.ª edição da Semana ALV (20 a 24 de novembro) é a atividade local, “incentivar pessoas e associações a promover sessões para que as pessoas mais velhas aprendam”; “Estamos a falar da intervenção de CCD que promovem nas aldeias sessões de aprendizagem. Valorizamos muito as aprendizagens informais na medida em que estas aproximam as pessoas e incentivam a curiosidade”, uma valorização com a qual a Inatel se identifica. No painel dedicado ao tema Aprendizagem ao Longo da Vida – Agenda 2030, José Alho, vogal do conselho de administração da Fundação Inatel, realçou a ação da Inatel com a aprendizagem, desde as atividades propostas na Ocupação dos Tempos Livres, a forte ligação com os CCD nas redes de aprendizagem não formal, a Academia que aposta cada vez mais qualificação e certificação, as viagens com especialista, bem como o diálogo intercultural entre turistas e comunidades em viagens organizadas pela Inatel. David Rodrigues (presidente da Pró-Inclusão), presente no mesmo painel, lançou vários alertas: “Quando deixamos de aprender temos um problema. Aprender é criar pontes entre o que sabíamos e o que vamos saber.” A importância da motivação, de criar prazer e emoção ao longo da aprendizagem; a obrigatoriedade de deixar o “Profecentrismo”, o professor no centro da aprendizagem, e fazer do conhecimento a figura central, bem como a necessidade de saber adaptar a aprendizagem a cada um. “Somos únicos e irrepetíveis. O processo de aprendizagem tem que perceber que a nossa genética e cultura são diferentes. A aprendizagem é universal, tem é que ser adaptada.” Alexandre Quintanilha, durante a sessão de abertura, realçava também a importância da motivação, de incutir a curiosidade, e o alerta foi para quem vive submerso na sociedade dos “Data”, lembrando Einstein, “Informação não é conhecimento”. A sessão de encerramento da conferência teve como orador Francisco Madelino, presidente da Fundação Inatel que defendeu a qualificação, a certificação da formação, e enalteceu o trabalho da instituição ao longo das últimas décadas na formação informal a partir da ocupação dos tempos livres dos mais velhos. M.J.C.



20 TL NOV-DEZ 2017

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Musicando Por Luís rei

Coluna DO provedor

Yasmine Hamdan: a beleza e as imperfeições femininas

Manuel Camacho

arisiense de nacionalidade libanesa, cantora e compositora árabe e francófona com pose de actriz. Yasmine Hamdan vive entre o universo da música e o da 7.ª arte. Casada com o cineasta palestiniano Elia Suleiman já actuou em Portugal por diversas ocasiões, quer em festivais de cinema (Lisbon & Estoril Film Fest), quer em festivais de pop/rock alternativo (Primavera Sound do Porto). Em Outubro passou pelo Teatro da Trindade Inatel em mais um espectáculo muito especial do “Ciclo Mundos” em que apresentou as canções do álbum “Al Jamilat”. Disco ousado de uma dream pop e uma folk pastoral em língua árabe repleta de ambientes e ruídos electrónicos, oníricos e minimalistas que preenchem as canções que contam as histórias e os muitos mundos das diversas personagens femininas, imperfeitamente belas. É muito diferente actuar num festival de cinema em comparação com um concerto de num festival de art rock ou mais ligado às músicas de raiz? Pode ser a mesma coisa. O que muda é o contexto. A minha música é a mesma. Um festival de cinema tem uma assistência muito própria, num contexto singular. O ambiente de concerto tem habitualmente um público mais variado. Alguns dos meus amigos que vão assistir a este concerto [do Ciclo Mundos] são do universo do cinema. A música que compõe e toca é muito cinemática. Quando está a compor, é importante ter imagens como ponto de referência? É interessante o que pergunta. A música e a imagem são muito próximas para mim. Não é algo que possa separar. A imaginação está sempre ligada a algo mais emocional e intelectual. Gosto muito de imagens porque quando componho, gosto de sentir que estou a viajar, a visitar lugares ou tempos distintos. Quando fazemos as misturas finais de um disco podemos levar essa dimensão imagética ao extremo. Muita da música que adora é proveniente da idade de ouro do cinema egípcio dos anos 40, mas a maioria da sua produção é muito actual, muito contemporânea. Uma canção é revestida com várias camadas que podem ser de electrónica, noise, etc. Como é que balança entre estes universos tão distintos? Oiço de tudo. Passa-se o mesmo na arte, na pintura abstracta. Um artista experimenta vários estilos, tenta encontrar o melhor estilo e a melhor linguagem como melhor se adapta ao seu trabalho. Penso que não há nenhuma contradição entre estes mundos. Oiço muita música de diferentes sítios. A música árabe que oiço é tão antiga que o ruído dos discos é também ele interessante. O som não é limpo, possui vários sabores. Por vezes salgado, por vezes doce, por vezes ácido. Oferece-me uma série de impressões. Mas claro que não vivo nos anos 30 ou 40. Não venho de uma só cultura. As minhas origens são multiculturais e a música permite-me conciliar de uma certa forma com esses diferentes mundos. Mesmo dentro do universo árabe, a música libanesa é muito diferente da egípcia e da iemenita...

A única coisa que é semelhante é a língua. Os dialectos e a cultura mudam. O Iémen é mais africano e mais também asiático. Se for para o Sudão ouve modos chineses e aí, se olhar para a história, percebe como é que a música circulou ao longo dos séculos. É algo que nunca permaneceu num só sítio, sempre foi transmitida. No norte do Egipto, sente uma vibração rítmica muito forte. Na Síria a cultura Sufi. Se for ao Iraque ou especialmente ao Kuwait escuta ritmos muito adornados. Há algo de muito interessante em tudo isso que me oferece inúmeras imagens. O groove no Kuwait lembra-me um camelo a andar. Cada país tem o seu swing. Os países latinos têm uma forma muito peculiar de swingar. As misturas entre a cultura ocidental e o universo árabe são muito fortes no Líbano. Temos um enorme espólio de canções pop arábico dos anos 80, 90. Cada país tem as suas particularidades. Como viajante e como emigrante que vive fora do Líbano, como é que se mantém a ligação a essas raízes? Viver fora do Líbano permite-lhe escrever canções sem filtros? Preservar a sua rebeldia? Bom, ganhei um certo distanciamento, tornei-me forasteira. Posso dizer não a certas regras. Tenho mais liberdade. Na altura em que comecei a tocar no Líbano, não havia muitas infraestruturas, não havia muitos locais para tocar, para conhecer outros músicos e produtores, etc. Queria desenvolver-me como artista, ser livre, trabalhar a um outro nível. Precisava de outros desafios, de um mundo maior. Como foi gravar a canção “Hal” no filme “Só Os Amantes Sobrevivem” de Jim Jarmusch? É muito diferente cantá-la na rodagem de um filme ou num concerto? É a mesma coisa. Desde cedo que faço música para filmes, para teatro. Mas nem sempre. O Jarmusch disse-me que tinha uma ideia para mim para o seu próximo filme. Mais tarde mandou-me o guião e eu escrevi a canção para a cena, gravei-a e depois rodámo-la. No filme, a personagem Eve tinha a certeza de que a Yasmine iria ser famosa. Esta profecia concretizou-se? O meu foco é fazer a minha música, partilhá-la, viver grandes experiências e conhecer gente interessante. Viver de uma forma que seja possível desenvolver a minha arte, actuar em locais com bom ambiente, que me permitam progredir enquanto artista. O segundo disco a solo que editou recentemente, “Al Jamilat” (The Beautiful Ones) é um tributo à mulher? Desde as mais frágeis às mais fortes e às mais artísticas? Não dedico a ninguém em especial. Tenho uma série de personagens familiares, todas muito complexas, que se contradizem a todo o momento. É dessa forma que gosto de as criar. É um tipo de arte explorar a sua beleza e ternura

e o mundo que as rodeia. Há sempre uma mistura de sentimentos nessas personagens, estão felizes mas também irritadas, estão apaixonadas e em sofrimento. É esse tipo de personagens que gosto de desenvolver: a beleza e as suas imperfeições. É quase como desenvolver personagens para um guião de um filme… Sim, mas é diferente. Há um sentido para fazer as coisas. Adoro cantar e a música, de um certo modo, salvou-me. Permite ligar-me às pessoas, à beleza, permanecer no mundo em que escolhi viver. Sou de uma geração pós-guerra. Tenho sentimentos contraditórios acerca do mundo em que vivemos, acerca da humanidade em geral. Penso que a arte, os livros, a filosofia e tudo isso salvaram-me. Deram-me meios e poder, de uma certa forma. Neste álbum, também incluí muitas das conversas que gravei com taxistas no Líbano. Quando lá vou não conduzo. Gosto de falar com eles sobre o estado do país, a actualidade social e política. Muitos dos taxistas são de gerações mais velhas. Para mim é um mistério o porquê de termos tido 15 anos de guerra civil, de estarmos sempre metidos nos mesmos problemas, de termos sempre os mesmos líderes. Aqueles que fizeram a guerra. Há muitos tópicos de conversa. Este disco foi muito inspirado por pensamentos mundanos dos taxistas. Claro que conheci alguns taxistas loucos mas também divertidos. Apanhei um que esteve sempre a cantar durante toda uma viagem que durou quarenta minutos, do primeiro ao último minuto. Uma forma peculiar de um cantar muito alto das montanhas. Infelizmente, no Líbano, não há muita vida social, não existem muitos espaços públicos de partilha. Para mim, um táxi no Líbano é esse espaço público, esse café que não existe. Um local onde se pode ler um jornal sem qualquer tipo de filtro… Sim. Muita gente fala com eles. Eles recolhem muita informação. Como amante da música da idade de ouro do cinema egípcio que é, como comenta a admiração que Amália Rodrigues tinha por Umm Kulthum? Estabelece algum paralelismo entre as obras de ambas as cantoras? Houve a Umm, mas também muitas outras vozes. Adoro-a. Era uma mulher muito poderosa. Toda a gente a conhecia porque ela gostava de monopolizar toda a cena, mas também era extraordinária. Há algo na música egípcia que me recorda a saudade. Não sei como explicar, é um sentimento, uma emoção. Quando oiço uma voz como a da Amália sinto toda essa emoção transcendental, que vive por si. Quando a oiço toca-me no coração. Não precisa perceber as palavras… Nunca me importo com as palavras. As palavras podem ser a mente, mas a emoção e a sensualidade são o corpo. Oiço o Leonard Cohen mas as letras são tristes. Oiço a Nina Simone e uma palavra cantada por ela consegue pôr-me a chorar. Não precisa mostrar músculo, técnica, ser muito performativa. Basta cantar de forma simples, com amor e sinceridade. Penso que as grandes e afortunadas cantoras e artistas têm todos estes atributos. Luís Rei [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

provedor.inatel@inatel.pt

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brigado povo português, por essas fé e esperança inabaláveis que faz de todos nós aquilo que somos e de que tanto nos orgulhamos. É esta a frase que mais me ocorre, após os dramáticos momentos vividos pelo centro e norte do país, provocados pelos incêndios de junho e outubro passados. À tristeza da terra queimada, opôs-se a solidariedade da outra metade do país... Ao sentimento de perda, sobrepôs-se uma vontade incontida de recomeçar do zero ou de pouco mais... Com o luto da partida dos entes queridos, nasceu uma vontade incondicional de ajudar os que sobreviveram... Do tudo perdido, ganhou-se a força para o renascer e viraramse “mundos e fundos” para que isso fosse possível... Tudo isto porque somos assim! Sempre conseguimos renascer das “cinzas” como na vitória de Aljubarrota, na revolução de 1640, na reconstrução de Lisboa após o terramoto de 1755 e mais recentemente na conquista da liberdade do 25 de Abril. Se por um lado temos alguns aspetos mais sombrios como o “nosso” Velho do Restelo, como o facto de, por vezes, acharmos que os outros são sempre melhores do que nós... ou até aquele sentimento nostálgico e ao mesmo tempo doce e doloroso que se sublimou na beleza do “Fado”... Temos por outro lado uma forma única de ser solidários, hospitaleiros, alegres e disponíveis como poucos... Por tudo isto sei que muito em breve, tal como a Fénix renasceu das cinzas, o nosso Portugal estará aí renascido e lindo como sempre, coberto por todas as cores do arco-íris. Votos de um Natal em paz para todos e um melhor 2018.


TL Nov-DEZ 2017 21

“A Tira as Janeiras” – Encontro de Cantadores realiza-se dia 21 de janeiro, pelas 14h30, no Centro Municipal de Cultura de Castro Daire, com a participação de 13 grupos culturais CCD Inatel, do distrito de Viseu. A iniciativa, organizada pela Fundação Inatel Viseu, Casa do Povo de Cabril e Câmara Municipal de Castro Daire, visa fomentar as práticas tradicionais próprias dum tempo e quadra festiva cujo espírito renovado promove a solidariedade e a inclusão social das suas gentes.

VER

OUVIR

Para todos os gostos

Roger Waters

Há muitos, muitos meses que não chegavam filmes tão raros e bons. Que mais se pode pedir? Cinema Peregrinação, de João Botelho | Portugal, 2017. Com: Jani Zhao, Catarina Wallenstein, João Guilherme Gouveia. •Apesar da escassez de meios e com recursos financeiros bastante limitados, Botelho filma uma modesta mas limpa e sugestiva adaptação possível de uma das maiores obras da literatura portuguesa – a das aventuras épicas de Fernão Mendes Pinto durante a era de ouro dos Descobrimentos. Filme apropriado também aos jovens em idade escolar. O Espírito da Festa, de Olivier Nakache, Eric Toledano | França, 2017 Com: Gilles Lellouche, Suzanne Clément, Jean-Paul Rouve. •Uma hilariante comédia que tem como pano de fundo a festividade de um casamento e a equipa de uma empresa de catering apostada em cumprir com o seu melhor. Dizem as ‘más-línguas’ que se trata de uma ‘réplica’ da França actual. 120 Batimentos por Minuto, de Robin Campillo | França, 2017 Com: Nahuel Pérez Biscayart, Arnaud Valois, Adèle Haenel. •Crónica política sobre a luta de uma associação anti-sida – a Act Up-Paris – que durante a década 90 se notabilizou pelo combate activo contra a inércia dos poderes públicos, a indústria farmacêutica e a indiferença quase geral. Corpo e Alma, de Ildikó Enyedi | Hungria, 2017. Com: Alexandra Borbély, Géza Morcsányi, Réka Tenki. •Porventura uma das mais surpreendentes e tocantes histórias de amor vistas no cinema dos últimos anos: num matadouro de Budapeste, dois empregados – um homem e uma mulher – apaixonam-se e partilham sonhos e esperanças. Aclamado pela crítica internacional. Premiado no Festival de Berlim – Urso de Ouro, Prémio FIPRESCI, Prémio do Júri Ecuménico. Lucky, de John Carroll Lynch | EUA, 2017 Com: Harry Dean Stanton, David Lynch, Ron Livingston.

•O derradeiro filme do actor norteamericano Dean Stanton (recentemente falecido), na pele de um idoso de 90 anos, solitário e obstinado, em busca espiritual. Roda Gigante, de Woody Allen | EUA, 2017 Com: Kate Winslet, Juno Temple, Justin Timberlake. •Uma comédia melodramática repleta de intriga e paixão, ambientada na Coney Island dos anos 50 com uma estonteante Winslet ‘à cabeça’ a despedaçar corações. A fotografia de Vittorio Storaro (“Novecento”, “Apocalypse Now”…) revela-se, como sempre, soberba. Star Wars: Os Últimos Jedi, de Rian Johnson | EUA, 2017. Com: Oscar Isaac, Benicio del Toro, Carrie Fisher, Mark Hamil. •A lendária “saga” de culto, criada em 1977 por George Lucas, que uniu gerações de cinéfilos de todo o mundo prossegue (desde 2012) sob a batuta dos estúdios Disney. No novo episódio, ‘Rey’ alia-se a ‘Luke Skywalker” e à princesa ‘Leia’ para desvendarem mistérios e segredos do passado. D’après une histoire vraie, de Roman Polanski | França, 2017. Com: Eva Green, Emmanuelle Seigner, Damien Bonnard. •Os limites entre realidade e ficção num thriller psicológico de grande vigor atmosférico, baseado num “best-seller” de Delphine de Vigan. Magníficas são as interpretações de Seigner e Green. Uma mulher fantástica, de Sebastián Lelio | Chile, 2017. Com: Daniela Vega, Francisco Reyes, Luis Gnecco. •De transexualidade, solidão e humilhação feminina trata este drama, ousado e duro, realizado por um dos mais pujantes cineastas da américa-latina. Portentosa interpretação da actriz ‘transgénero’, Daniela Veja. Vencedor de “Urso de Prata” (para melhor argumento) no Festival de Berlim. Papel de Natal, de José Miguel Ribeiro | Portugal, 2014. Animação. Cinema monumental/ sessão infantil, 24 dezembro, às 11h30. •Do autor de “A suspeita”, – a célebre curta de “culto” de animação galardoada com 26 prémios internacionais – uma história de amizade, coragem e sensibilização em defesa da... floresta. Em complemento: ‘Passeio de domingo”, curta do mesmo autor.

Joaquim Diabinho [O autor escreve de acordo com a antiga ortografia]

Meta para o Ano Novo? Um ano cheio de bons concertos

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om 2017 a terminar e a antevisão de um excelente panorama musical para 2018, aconselhamos os leitores a marcar já na agenda! Os primeiros destaques terão lugar em Lisboa na maior sala de espetáculos do país – o Altice Arena, localizado no Parque das Nações. Para quem gosta de uma estética rock, logo a 6 de janeiro o trio britânico Alt-j regressa a Portugal para mais um concerto. O trio já conhecido do público português é caracterizado por um rock alternativo e irá apresentar o seu mais recente trabalho “Relaxer”. A 31 de janeiro é a vez de Steven Wilson, produtor e músico associado ao rock progressivo e conhecido pelo público através do grupo Porcupine Tree (de quem foi fundador, guitarrista, cantor e compositor). Estará em Lisboa para apresentar “To The Bone”. Ainda no tema rock progressivo, teremos a 20 e 21 de maio Roger Waters. Este grande ícone, músico, cantor e compositor inglês é um dos fundadores da banda Pink Floyd, na qual atuou como baixista e vocalista. Waters escolhe o início da nova digressão em Lisboa do seu já longo trabalho a solo. Os segundos destaques terão lugar nos Coliseus – Lisboa e Porto. Para quem gosta de musicais o mote terá lugar no Coliseu de Lisboa a 13 de janeiro – Welcome to Broadway, pela Broadway Symphony Orchestra. Este espetáculo revisitará musicais conhecidos do público como Mamma Mia, West Side Story, entre outros. Outra proposta

interessante, desta feita para os cinéfilos, a La Cinema Symphony Orchestra apresenta o espetáculo dos Grandes Êxitos da Música do Cinema. A viagem passará pelas emblemáticas bandas sonoras de Hollywood, como por exemplo: A Guerra das Estrelas, Piratas das Caraíbas, entre outras. Este espetáculo passará pelo Coliseu do Porto no dia 18 e a 19 no Coliseu de Lisboa. Localizado na Praça do Império em Lisboa, o Centro Cultural de Belém, acolhe uma programação dedicada aos amantes do género artístico teatral que combina a música instrumental e o canto. A Orquestra Metropolitana apresentará, a 19 e 21 de janeiro, a Flauta Mágica. Composta por Wolfgang Amadeus Mozart e libreto do seu amigo Schikaneder, a Flauta Mágica é uma das últimas obras do compositor com fortes elementos da filosofia mística maçónica, que tanto Mozart como Schikaneder subscreviam – conceitos de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução Francesa e a filosofia do iluminismo é retratada nesta belíssima obra carregada de simbologia. A 13 de fevereiro haverá uma transmissão em diferido da Royal Opera House, uma esperada produção de David McVicar da ópera do compositor Giuseppe Verdi com libreto de Francesco Maria Piave, Rigolleto. A obra foi apresentada pela primeira vez no Teatro La Fenice, de Veneza, em 11 de março de 1851 e foi inspirada na peça “Le roi s’amuse”, de Victor Hugo. Aqui ficam as primeiras sugestões, com a certeza de um 2018 cheio de bons concertos! Susana Cruz


22 TL NOV-DEZ 2017

Os contos do zambujal

PELA BOCA MORRE O PEIXE

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oi dos primeiros a entrar no avião que não tardaria a voar para Paris. Consultou o bilhete, procurou o lugar que lhe competia, agradou-lhe situar-se lá no fundo, perto dos lavabos. Mas fez uma careta de contrariedade ao verificar que na sequência de três assentos teria de acomodar-se no do meio. Preferia sentar-se à janela e ver as nuvens. Quem olha as nuvens não tem que ver ninguém. O lugar ao lado do corredor também oferecia vantagens. Poderia levantar-se para estender as pernas sem pedir licença. Incómodo era mesmo o lugar do meio. Colocou o saco na bagageira e sentou-se, à espera de quem viria para a sua esquerda e para a sua direita. Primeiro foi o da esquerda: um senhor volumoso de ombros e abdómen, obstruía a passagem. Os lugares dos aviões e a distância entre os bancos são cada vez mais apertados. O passageiro ou passageira do lado da janela ainda não dava sinais de vida. Teve a esperança de pertencer a algum ou alguma desistente da última hora, a maioria dos passageiros estavam já sentados e prontos para a descolagem. Foi então que ela surgiu num outro extremo do corredor com uma maleta a tiracolo, os olhos a percorrer a numeração dos lugares à procura do que lhe pertencia. E logo havia de ser aquele. O senhor gordo deu um passinho para o corredor, abrindo passagem, Carlos Lúcio pôs-se em pé, a encolher-se no seu lugar do meio. Mesmo encolhido não evitou que ela se roçasse no seu corpo e estremeceu. Era uma mulher invulgarmente bela. Fechou os olhos e jurou a ele próprio que não diria uma palavra relacionada com o azul dos seus olhos, a boca perfeita de lábios e dentes, o busto generoso, e ainda menos com o soberbo par de pernas que ela revelara quando a curta saia subiu um palmo ao esticar-se para depositar a maleta na bagageira. Já não se pode proferir um elogio, pensou, sem que nos acusem de assédio. Tinha experiência. Quando disse a Ana Nivelina a banalidade mentirosa de que todos os dias ela estava mais sexy que na véspera, ela andou a gabar-se de ter sido vítima de assédio. E a própria Silinha Dulce, a quem segredara a inocência de que o andar dela era excitante, foi badalar que ele, Carlos Lúcio, tivera a desfaçatez de a assediar. E mais, e mais. Sobravam-lhe casos em que um cumprimento honesto, admirativo, sem outro intuito que não o de verbalizar, inocentemente, era confundido com a desvergonha de um assédio. Nada diria à companheira de viagem, embora, observando-a de perfil e de pernas cruzadas, sentisse um impulso difícil de dominar.

Ela parecia alheada nos seus pensamentos. Na verdade, pensava ser um pouco estranho que o viajante ao lado não tivesse já tentado meter conversa. Era o costume. Tinha consciência de que a sua beleza despertava paixões e entusiasmos. As abordagens, subtis ou descaradas, sucediam-se. Desviou o olhar das nuvens e espreitou, curiosa, o vizinho do banco ao lado. Um rapaz interessante, concluiu. Nesse momento, os olhos encontraram-se e a custo Carlos Lúcio sufocou a declaração de que ela era a mais linda das lindas. E ela não disse que, a seu gosto, a ele só lhe faltava falar. Sem assédio. De súbito, ela mostrou-se aflita remexendo no interior da malinha de mão. - Algum problema? – Ousou Carlos perguntar. - Esquisito – disse ela. – Iria jurar que guardei na mala o apontamento com o nome e a localização do hotel. - Vai aparecer – animou ele medindo as palavras. - Onde? Já dei volta aos papéis. E agora? Agora não sei. É só a segunda vez que venho a Paris, na primeira fiquei em casa da irmã do namorado estúpido que tinha nessa altura. E longe da cidade. Nem aos Campos Elísios fui quanto mais a Montmartre que tanto queria conhecer. Mas de que estou eu a falar? O problema é imediato é desconhecer onde vou dormir. - Calma – recomendou Carlos, intimamente satisfeito pelo incidente que proporcionara a conversa. – Se me permite a sugestão, eu instalo-me num pequeno hotel de que sou cliente há anos. Bem localizado, perto de Montmartre, impecável de higiene e de atendimento. Reservei, como é hábito, o quarto 314. Suponho que terá

outros vagos. - E se não tiver? Ele fechou-se num silêncio intimidado, por fim disse apenas: - Tudo tem solução. Mas antes do mais, desculpe, gostaria de saber o seu nome. - Rute Aida. E o seu? - Carlos Lúcio. E o hotel tem o sugestivo nome de Spirituel. Não considere atrevimento, muito menos assédio, se lhe disser que é mulher mais deslumbrante que conheço e ficaria encantado por ser seu cicerone em Paris. Já amanhã. Esta noite mesmo. - Enfim – disse Rute, divertida. – Esperemos que exista um quarto livre no hotel Spirituel. Baixando a cabeça e a voz, ele gaguejou: - Certo, certo, temos 314. É grande, cama larga. Rute alargou-se no riso enquanto encostou a cabeça no ombro de Carlos. Comentou: - Já tardava. - O quê? - O assédio. Você é um querido e demorou a confessar que me desejava desde que cheguei ao avião. Verdade? Vencido, envergonhado, ele reconheceu: - Verdade. Retiro o que disse acerca do quarto 314. O riso dela veio agora acompanhado por uma carícia na face de Carlos. Segredou: - Porquê? Quer obrigar-me a assediá-lo?

Aconteceu há dois anos. De regresso a Portugal, casaram-se, têm sido muito felizes e continuamente se aliciam com amor.

Mário Zambujal


TL maIO-JUN 2017 23

Passatempos Palavras cruzadas POR josé lattas 1

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HORIZONTAIS: 1-Teceras. 2-Lantânio (s.q.); Bichanos; Relação entre o diâmetro de uma circunferência e o seu perímetro. 3-Lado de onde sopra o vento; Forneci; Bismuto (s.q.). 4-Protactínio (s.q.); Emita; Palavra que, no dialecto provençal, significa sim. 5-Grito de dor; Tareia. 6-Branqueiam; Adicionar. 7-Fosso (inv.); Cobalto (s.q.). 8-Selénio (s.q.); Observa; Césio (s.q.). 9-Milha marítima; Rio, que banha a cidade de Mirandela; Nota musical. 10-Madrasta; Folha da videira; Nota musical. 11-Encimada.

VERTICAIS: 1-Alumínio (s.q.); Escalos; Manganés (s.q.). 2-Fila; Interjeição. 3-Altar. 4-Roentgénio (s.q.); Gritava; Polónio (s.q.). 5-Acostumada; Galgar. 6-Artigos; Pele. 7-Mascados; Defeito. 8-Arsénio (s.q.); Chama; Coligação dirigida por Francisco Sá Carneiro. 9-Gosto. 10-Devoto; Preposição. 11-Zomba; Fisionomias; Irídio (s.q.).

Soluções: 1-A; URDIRAS; R. 2-LA; GATOS; PI. 3-LO; DEI; BI. 4-PA; MANDE; OC. 5-I; AI; SOVA; A. 6-CORAM; SOMAR. 7-A; AVOC; CO; A. 8-SE; ANOTA; CS. 9-NO; TUA; DO. 10-MA; PARRA; MI. 11-N; COROADA; R.

Sudoku POR Jorge Barata dos Santos Problema n.0 6 Prencha a grelha com os algarismos de 1 a 9 sem que nenhum deles se repita em cada linha, coluna ou quadrado.

Soluções:



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