RESENHANDO // o jovem Arturo remói o vaticínio de Romeo e o
Elsa
Morante
faz
de
Arturo
seu
pequeno
coração aperta quando lhe surgem pensamentos de
édipo, colocando-o na fronteira do que sente
sua mãe, morta durante o parto. Dela, o menino
pela madrasta, cujas impressões ao longo do livro
guarda um amor profundo e delicado, talvez a
vão vicejando. Afinal, embora sejam personagens
única figura a cativar a criança e, ao mesmo
maduras, ainda são teens, o menino está com
tempo, acalentar seu solitário coração.
quatorze e Nunziata com dezesseis. Arturo, ao
Nos primeiros anos da infância, Arturo foi
ver a mão aos beijos com o filho se contorce de
criado por seu babá Silvestro, um homem rústico
ciúme, une os sentimentos de falta e saudade
e nada maternal. Ele guiou o menino em sua
de sua amada mãe e, ao mesmo tempo, o desejo
fase inicial da infância e, com exceção das
de ser beijado. A ilha se torna uma metáfora
passagens aleatórias do pai pela Ilha, Arturo
de si mesmo, Arturo se vê encastelado por suas
cresceu sozinho, criou-se como um selvagem se
próprias angústias.
inspirando em Wilhelm (as maneiras de falar,
“Não
sabia
que
era
possível
beijar-se
se portar, pensar), sonhando em se tornar uma
tanto neste mundo: e pensar que eu nunca tinha
grande figura, como os reis do Oriente, como lia
dado nem recebido beijos! Olhava aqueles dois
nos livros deixados por um estudante que, há
que se beijavam como se olharia, de um barco
anos, hospedou-se na Casa del Guaglione.
solitário
Na companhia da cadela Immacolatella, Arturo
escreve
no
mar,
Morante.
uma
E,
terra
de
inalcançável”,
repente,
esse
beijo
não se sente tão só, entretanto, isolado do resto
move Arturo rumo ao seu primeiro amor, enquanto
da ilha, ele não vê com bons olhos os procidanos,
Wilhelm, cujo retrato do Amalfitano lhe enche de
execra-os
sozinho
devaneios, engalfinha-se com Stella, prisioneiro
por anos. Ao longo da história, o garoto vai
de Prócida, primeira personagem realmente capaz
aprendendo com a ausência, vai amadurecendo e o
de possuir a dedicação do loiro.
como
o
pai,
mantendo-se
tempo passa nessa lânguida solidão, entrecortada
O
escritor um
brio
Calvino especial,
conferiu
à
por pequenas aventuras, das quais, Elsa Morante
Elsa
carrega singelos momentos de pai e filho à beira-
a narrativa de Morante como despertadora de
-mar, como quando o relógio de Wilhelm sai do
simpatia e admiração pelo gênero humano. A Ilha
pulso e Arturo, com espírito errante, põe-se a
de Arturo, já em 1957, foi bem recebido pela
nadar entre as pedras da praia, liquidando todo
crítica italiana, torando-se um clássico romance
medo em nome de grandes sonhos e da presença de
de formação, ainda hoje lembrado no país.
seu pai.
Morante
Ítalo
classificando
Morante, que começou a carreira na literatura
Chamado de mourinho pelo loiro Wilhelm, o
ainda menina, publicando histórias em suplementos
menino deseja partir com o pai de Prócida rumo
literários direcionados ao público infantil, nos
ao desconhecido que tanto o atrai. Logo ele,
grandes jornais, também desenhava e chegou até
impetuoso infante, acaba se deparando com outro
atuar. Casou-se com o escritor Alberto Moravia,
desconhecido, tão íntimo e próximo
com quem viveu tórrida paixão e grandes crises,
que será
sua madrasta, a católica Nunziata, que enche
sempre
seu quarto de imagens de as madonas que devota,
Itália, naqueles anos como Pasolini, Visconti,
prostrando-se ao simulacro da família cuja mãe
Siciliano e Natalia Ginzburg. Morante, autora
Violante tanto sonhou para a garota. Aos poucos,
de quatorze livros, além do Strega, recebeu o
essa figura feminina que adentra o templo do
prêmio Médicis estrangeiro, um ano antes de
Amalfitano parece vencer a maldição e, não muito
morrer.
depois, Arturo ganha um irmãozinho.
ladeada
por
personagens
especiais
da