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“Little Girls on a Bicycle”, Ernest Zacharevic (Georgetown, Malásia)

[BIKE POP]

Na Volta do Caminho O regresso da Primavera trouxe, mais uma

uma reversão desta tendência nos primeiros

(dados da PRP, de 2014) que 4 em cada 10

as estradas e para os trilhos deste país. Ci-

em Portugal continua a ser uma variável mais

dos depois de “cair” o vermelho? Ou que a

vez, um elevado número de praticantes para

clistas ávidos de recuperarem os quilómetros perdidos para os meses de inverno, seja para

retomar a boa forma física ou para melhorar a performance, seja para experimentar ir para o

local de trabalho com os cabelos ao vento, ou simplesmente desfrutar do prazer de pedalar,

sozinho ou em grupo. Vê-se claramente mais gente a pedalar, muitas vezes com visível inex-

meses de 2015 (pois o custo do combustível

determinante no número de sinistros do que quaisquer campanhas de sensibilização) –,

o que é particularmente preocupante é a constatação que os peões continuam a ser

as principais vítimas desta autêntica “guerra” que se trava nas ruas e estradas. O recente

ver muitas bicicletas de pneu “cardado”, o que

“Não é aceitável que as ruas das nossas cidades (onde ocorre a maior parte das colisões e atropelamentos mortais) continuem a ser o palco de um espetáculo diário de “bullying” rodoviário”

norama existente há dois anos atrás. Passado

atropelamento de um grupo de peregrinos

última versão do Código da Estrada - menos

nacional pela dimensão da tragédia, mas

periência, que será ultrapassada natural e rapidamente, como por quem aprende a andar.

Verifica-se também que, cada vez mais,

praticantes “desportivos” e “recreativos”

optam pela deslocação em bicicleta para o

local de prática de BTT, dispensando a utilização do automóvel em distâncias relativamente curtas. Em particular nas manhãs de fim de semana, nas ruas e estradas que ficam

nas imediações de zonas de prática de BTT (como Monsanto ou a Arrábida), é frequente

representa uma mudança em relação ao paum ano e meio sobre a entrada em vigor da “desfavorável” à bicicleta - verifica-se uma

clara melhoria da perceção da legitimidade

da bicicleta enquanto veículo utilizador de “pleno direito” da rodovia, e este é um exemplo da atitude geralmente positiva de que os

velocípedes atualmente beneficiam, com algumas lamentáveis (e previsíveis) exceções.

Enquanto se aguarda o Relatório Anual da

que se deslocava para Fátima foi notícia

centenas de outras tragédias não chegam infelizmente ao conhecimento público da

mesma maneira, apesar de o total de mortes

causadas por automobilistas ser atualmente superior ao que se verificou entre os militares

tar que o estacionamento em cima do passeio esteja tão banalizado, chegando a níveis

incríveis de desfaçatez? (em relação a esta última questão, quem quiser ver exemplos

verdadeiramente épicos, consulte www.parvoaestacionar.com ou www.passeiolivre.org)

Todos os que caminham e pedalam sen-

tem na pele a necessidade de uma mudança comportamental, que imponha o respeito pelo

próximo e uma civilidade básica, à qual deverá ser dado o devido respaldo pelas entida-

des competentes. E, para tal, não é preciso construir ciclovias ou enfeiar as nossas cida-

des com mais pilaretes. Basta fazer cumprir as leis, e não fechar os olhos a um conflito tão

desigual, que continua a vitimar diariamente

inocentes, sem consternação nacional exceto quando tal assume dimensões de chacina. E

chega de brandir argumentos enviesados e irrefletidos. Porque a direitos iguais não correspondem deveres iguais. Caso contrário, seria

exigido a qualquer automobilista de ligeiros a

mesma bateria de testes de condução que ao condutor de um veículo pesado, incluindo a revalidação da licença a cada cinco anos...

Para que seja possível que cada vez mais

absolutamente fundamental subir o nível mínimo

a ser o palco de um espetáculo diário de

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a Av. República ou Av. Boavista? Como acei-

Não é aceitável que as ruas das nossas

do Ultramar!

uma redução do número total de vítimas

de podermos estar satisfeitos - nota-se já

tes de velocidade, em artérias centrais como

pessoas possam circular a pé ou em bicicleta

cidades (onde ocorre a maior parte das co-

mortais em 2014 face ao ano anterior. Longe

maior parte dos carros circule acima dos limi-

portugueses nos primeiros anos da guerra

ANSR em relação à sinistralidade rodoviária,

já se sabe, de forma provisória, que houve

automóveis não parem no semáforo 3 segun-

lisões e atropelamentos mortais) continuem “bullying” rodoviário, onde impera a lei do mais forte sobre os mais fracos. Como admitir

sem terem de correr riscos desnecessários, é de exigência. Perante quem não cumpre a lei,

mas também perante quem não faz cumprir a lei. Vivemos ou não num estado de direito?

Sandro D. Araujo [lisboa@bikepop.pt]

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