Observatório de Emprego – Diplomados em Psicologia (2ª Edição) Relatório
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Universidade do Porto
OBSERVATÓRIO DE EMPREGO 2006 2ª Edição
Inquérito aos Diplomados em Psicologia 2002-2004
Dr. Alexandre Campos Serviço de Assessoria à Integração Profissional
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ÍNDICE I. INTRODUÇÃO Enquadramento Algumas reflexões Objectivos
II. CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA População Taxa de inquirição e distribuição da amostra Distribuição por género Distribuição por meio de inquirição Distribuição etária Zona de residência Família / escolaridade dos pais
III. PERCURSO FORMATIVO / ACADÉMICO Escolha da Licenciatura em Psicologia da Universidade do Porto Participação Cívica ou Académica durante a Licenciatura Avaliação da licenciatura Frequência de formação extra-curricular durante a licenciatura Frequência de formação após a licenciatura
IV. ESTÁGIO CURRICULAR Sectores de actividade dos locais de estágio Remuneração no estágio Criação de postos de trabalho nos locais de estágio
V. PERCURSOS DE INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO Contactos com o mercado de trabalho durante a licenciatura Transição universidade - mundo do trabalho: Actividades não remuneradas Acesso ao 1º emprego Trajectória profissional Estratégias e factores de acesso ao emprego Mobilidade no mercado de trabalho
VI. SITUAÇÃO PROFISSIONAL ACTUAL Situação actual de emprego Entidades Empregadoras x Entidades de Estágio Satisfação com o emprego
VII. O MERCADO DE TRABALHO PARA OS PSICÓLOGOS Avaliação global do mercado de trabalho Identidade profissional
VIII. CONSIDERAÇÕES FINAIS Inserção no mercado Mobilidade, precariedade e pluriemprego Situação contratual - carga horária - remunerações Percursos profissionais e mercado: componentes subjectivas
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I INTRODUÇÃO
:: Enquadramento
Num
cenário
de
crescente
complexidade
do
mercado
de
trabalho
e
dos
fenómenos
de
empregabilidade para os diplomados do ensino superior, os Observatórios de Emprego assumem um papel preponderante, ao tentar conhecer, com objectividade, as realidades de inserção profissional dos diplomados, bem como a complexificação dos seus percursos profissionais. De facto, a iniciativa do OE tem vindo a ser seguida por diversas unidades orgânicas da Universidade do Porto bem como por outras Universidades no país, dada a sua relevância para os processos de avaliação externa desenvolvidos pelas faculdades, bem como para o empowerment crítico das instituições de ensino superior no âmbito da sua missão e da sua própria estratégia de futuro. Este projecto, actualmente com duas edições cumpridas, incidiu na componente de inquirição aos diplomados,
estabelecendo-se
como
uma
estrutura
“residente”
de
observação
das
dinâmicas
Universidade Æ Mundo do Trabalho dos licenciados em Psicologia e em Ciências da Educação pela FPCEUP. Está, contudo, previsto, o desenvolvimento a médio prazo de uma segunda componente de estudo, neste caso dedicado à inquirição aos empregadores efectivos dos diplomados da FPCEUP. Convém, também, referir que o OE – Inquérito aos Diplomados se subdividiu em duas valências de estudo dedicadas aos diplomados de ambas as licenciaturas da FPCEUP, destinando-se o presente relatório a apresentar e integrar os principais resultados obtidos nesta 2ª edição do OE no que à licenciatura em Psicologia diz respeito. Deve ser realçado, contudo, que o presente estudo pouco mais ambicionou do que tentar identificar processos e momentos de transição para a população em análise. Contudo, e uma vez que os fenómenos de transição profissional não se prestam a explicações lineares fica, em certa medida, por explicar o que origina efectivamente as diferenças observadas entre os sujeitos.
:: Algumas reflexões O aumento do número de diplomados com dificuldades de inserção profissional tem conduzido ao questionamento da adequação da escola à realidade presente e a uma certa crise de sentido em relação ao seu futuro. Não obstante, o investimento no projecto educativo pessoal continua a ser a opção para um grande número de jovens que investe na aquisição de diplomas superiores. Apesar do aumento do número de licenciados em Portugal e da relativa desvalorização que se tem vindo a fazer sentir sobre os diplomas, acabar uma licenciatura é ainda uma meta de muitos jovens. Entre a diversidade dos desejos e das formas de estar, existe sem dúvida a noção de que a maioria estuda para mais tarde poder aceder ao “emprego
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dos seus sonhos”, a um trabalho intelectual ou simplesmente uma função bem remunerada e socialmente prestigiante. Se o período universitário é, quase sempre, vivido como um período de maturação pessoal e intelectual, ele também constitui uma fase transitória que se espera que prepare para “a vida”, ou seja, para aquilo que virá depois da Faculdade e que está mais ou menos planeado nos desejos formulados pelos sujeitos. O facto é que os processos de transição profissional apelam, cada vez menos, à imagem de um processo linear, unidireccional, no sentido da escola para o trabalho, para dar lugar a imagens caracterizadas pela instabilidade dos trajectos e pela incerteza do futuro. E esta realidade, interligada ao cenário de rápida mutação do mercado de trabalho, e à diversidade dos cargos e funções desempenhados, suscita uma urgente avaliação da evolução dos perfis e competências requeridas aos profissionais. Efectivamente,
a
escassa
informação
existente
sobre
os
percursos
sócio-profissionais
dos
diplomados, especialmente no que diz respeito à sua absorção pelo sistema de emprego e às necessidades dos empregadores - deixam sem resposta questões com forte impacto nas trajectórias, papéis e estatutos profissionais destes sujeitos, depositando nas mãos da Universidade responsabilidades tanto claras como prementes.
:: Objectivos
Genericamente, o Observatório de Emprego – Inquérito aos Diplomados visa caracterizar e esclarecer as condições de passagem do sistema educativo para a vida activa dos diplomados, interpretando os seus itinerários formativos e laborais. Procura, também, interpretar os percursos percorridos em função das trajectórias individuais e analisar as percepções e atitudes destes sujeitos perante o mercado de trabalho e a sistema educativo.
Eis os seus principais objectivos:
• Qualificar as características sócio-demográficas da população de diplomados em Psicologia pela FPCEUP
• Caracterizar os percursos formativos dos diplomados e conhecer as determinantes a operarem neste âmbito
• Conhecer e interpretar o percurso académico dos diplomados com especial enfoque para os últimos anos do curso e a experiência de estágio curricular, relacionando este último com a transição para a vida activa.
• Identificar as determinantes que interferem nos percursos profissionais destes diplomados e compreender a sua relação com a formação académica.
• Acompanhar a integração dos diplomados na vida activa e compreender os mecanismos de mobilidade profissional, tentando-se reconstituir os seus percursos de inserção no mercado de trabalho.
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• Identificar os papéis e estatutos profissionais destes diplomados no mercado de trabalho, com vista à caracterização do exercício profissional da Psicologia nas suas diversas vertentes e nos mais variados contextos.
• Conhecer as reais necessidades do mercado de trabalho, analisando-as através do confronto com as competências e saberes disponibilizados pela FPCEUP.
• Recolher elementos que permitam potenciar as competências específicas de inserção no mercado de trabalho dos finalistas e diplomados da FPCEUP.
• Analisar a dimensão subjectiva dos processos de transição profissional, avaliando variáveis como a satisfação profissional dos diplomados empregados e as atitudes dos diplomados face ao mercado de trabalho.
Espera-se, assim, que a informação obtida no âmbito destes objectivos de estudo permita dar resposta a diversas questões objectivas com elevada importância operacional para a FPCEUP, entre as quais se pode destacar as seguintes: a. Ordem de escolha da licenciatura em Psicologia pela FPCEUP e caracterização do universo de licenciaturas “satélite” b. Caracterização dos motivos subjacentes à escolha da licenciatura c. Avaliação (multi-factorial) da licenciatura d. Grau de frequência de formação durante e após a licenciatura, tipo e áreas de formação e entidades formadoras e. Motivos subjacentes à frequência de formação f. Situação face ao trabalho durante a licenciatura g. Taxa de actividades não remuneradas (voluntariado) intra e pós licenciatura h. Taxa de criação de postos de trabalho nas entidades de estágio curricular i. Tempo decorrido entre a conclusão da licenciatura e o início da procura de trabalho/emprego j. Tempo decorrido entre a conclusão da licenciatura e o acesso a uma primeira oportunidade de trabalho/emprego k. Tempo decorrido entre a conclusão da licenciatura e o ingresso numa situação profissional e laboral estável e/ou gratificante l. Distribuição dos sectores de actividade / entidades que acolhem os licenciados em Psicologia pela FPCEUP (situação de estágio e situação de emprego) m. Situações contratuais e condições de exercício da actividade n. Níveis salariais praticados nas situações de 1º emprego e emprego actual o. Grau de mobilidade profissional (precariedade e transitoriedade de emprego) p. Grau de acumulação de postos de trabalho (pluriemprego) e motivos para tal q. Motivos subjacentes às mudanças de emprego ou situações de desemprego dos licenciados r. Tempos de permanência nas actividades s. Carga horária das actividades t. Grau de satisfação dos licenciados relativamente ao seu percurso profissional e à sua situação profissional/laboral actual u. Principais dificuldades associadas à procura do 1º emprego v. Meios utilizados no acesso às oportunidades de emprego e avaliação da sua eficácia w. Factores mais e menos importantes para a obtenção das várias oportunidades de emprego
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x. Grau de relação entre as funções e cargos exercidos pelos licenciados e a formação obtida na licenciatura y. Identificação dos principais problemas do mercado de trabalho dos psicólogos, na óptica dos inquiridos
II CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA :: População A 2ª edição do Observatório de Emprego dos Diplomados pela FPCEUP incidiu na população de antigos estudantes que terminou a sua licenciatura nos anos lectivos 2001/2002, 2002/2003 e 2003/2004. Pretendeu-se, desta forma, e tendo em conta o momento de realização do estudo - ano 2006 - inquirir licenciados com um tempo de vida profissional / pós-curso de 4 a 2 anos. Houve também a preocupação em dar continuidade à população abrangida pela primeira edição do Observatório de Emprego (diplomados entre os anos 1996/97 e 2001/2002). Por último, convém justificar a inclusão dos licenciados em 2001/2002 nos dois estudos, a qual se deveu ao facto dos mesmos terem evidenciado um período reduzido de contacto com o mercado de trabalho (menos que 12 meses) no momento de inquirição da 1ª edição do OE (realizada no ano de 2003).
:: Taxa de inquirição e distribuição da amostra Sendo a população abrangida composta por um total de 306 sujeitos, foi possível alcançar uma taxa de inquirição de aproximadamente 48%, num total de 146 sujeitos. De uma forma geral, é possível salientar que os sujeitos inquiridos se distribuem de uma forma desigual pelos diferentes anos de conclusão de licenciatura, verificando-se também diferenças significativas no que se refere à área de pré-especialização frequentada, das cinco previstas no plano curricular da licenciatura em Psicologia pela FPCE-UP. Fig. 1 – Distribuição dos sujeitos por ano de conclusão da licenciatura
Distribuição por Ano de Conclusão da Licenciatura 140 120
N.º Inquiridos (%) População (total)
108
103
95 100 80 60
57,4% 43,2%
41,7%
40 20 0 2001/02
2002/03
2003/04
n= 41
n=43
n=62
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Tal como é possível observar, existe uma maior representatividade na amostra por parte dos sujeitos licenciados em 2003/2004 (57,4% da população), podendo o número superior de respostas neste ano dever-se ao facto de, para estes sujeitos, o processo de transição profissional ser um acontecimento ainda em curso ao qual os sujeitos atribuem bastante importância, enquanto que para um diplomado de 2001/02 ou 2002/03 (enquadrado no mundo do trabalho há 4 e 3 anos respectivamente) este poderá já não ser um evento relevante e estar até pouco presente. Ao mesmo tempo, também a ligação e proximidade à Faculdade tendem a diluir-se com o passar do tempo, sendo estes factores extremamente importantes na eficácia da mobilização dos sujeitos no sentido do preenchimento do inquérito. Por último, a fiabilidade dos contactos dos diplomados (através dos quais se efectua a divulgação da iniciativa do OE) e a qual tende a decrescer com o passar do tempo, resultado da alterações de domicílio e outras formas de contacto. No que se refere à área de pré-especialização escolhida pelos sujeitos, e como se pode constatar, a área de pré-especialização em Consulta Psicológica de Jovens e Adultos (área 4) é a que obtém o maior número de sujeitos (37,7% da amostra), ao passo que a área de Psicologia do Trabalho e das Empresas (área 5) é a área com menor expressão (11% da amostra). Trata-se, contudo, de uma distribuição que vai de encontro às características da população, já que nos últimos anos se tem verificado um maior número de estudantes inscritos na área 4, por oposição ao cenário da área 5. Mais interessante é observar que são as áreas 1 e 4 aquelas que estão proporcionalmente mais representadas na amostra, por oposição às áreas 3 e 5, dados estes que, apesar de não serem particularmente significativos, deverão ser levados em consideração quando da interpretação dos resultados do estudo e sua generalização aos “diplomados em Psicologia pela FPCEUP”, já que as várias áreas de pré-especialização estão associadas a diferentes contextos de trabalho e campos interventivos. Fig. 2 – Distribuição dos sujeitos por área de pré-especialização (inquiridos x população)
Distribuição por Área de Pré-Especialização da Licenciatura Psicologia do Desenv. e Educação da Criança (Área 1)
16,4 14,4
Inquiridos (%) População (%)
17,8 18,3
Psicologia do Comportamento Desviante (Área 2)
17,1 19,3
Psicologia e Saúde (Área 3)
37,7 Consulta Psicológica de Jovens e Adultos (Área 4)
35 11
Psicologia do Trabalho e das Empresas (Área 5)
13,1
0
5
10
15
20
25
30
35
40
:: Distribuição por género
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Tendo o curso de Psicologia uma implementação relativamente recente na sociedade portuguesa, não existem estudos que clarifiquem e caracterizem estes estudantes em particular. De uma forma geral, existe a noção de que este é um curso cuja população tende a ser maioritariamente feminina, e para a qual a formação em psicologia é encarada como uma formação de base com vista à futura integração no mercado. Efectivamente, esta noção de sobre-representatividade do género feminino foi corroborada pela distribuição assimétrica verificada nesta população no que ao género diz respeito: 89,2% do género feminino e 10,8% do género masculino. De facto, deve ser realçado que se está a trabalhar com uma amostra maioritariamente feminina, dado que, dos 146 inquiridos, apenas 12 são homens (8,2% dos sujeitos), sendo esta uma distribuição que aparenta seguir a tendência da população normal. Estes dados, para além de seguirem o padrão esperado para este grupo especifico, devem ainda ser interpretados dentro da tendência verificada na sociedade portuguesa no sentido do aumento da representação feminina no ensino superior. A organização social e os processos de socialização operados dentro das várias instituições e grupos de uma dada formação social tendem a associar determinados papéis a um género, o que, se durante muito tempo influenciou decisivamente as estratégias e aspirações dos actores, hoje denota a tendência vincada para o esbatimento nas diferenças associadas a ambos os sexos. Reflexo desta mudança de papéis, e resultado de um conjunto abrangente de factores, nos quais o desenvolvimento das sociedades industriais assume um papel preponderante, o aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho é inquestionável, embora, muitas vezes, seja ainda marcado por situações de discriminação mais ou menos implícitas que se traduzem fundamentalmente em dificuldades de acesso a carreiras específicas, ou rendimentos inferiores quando comparados com a população masculina, entre outros. De qualquer modo, o facto de apenas 12 sujeitos pertencerem ao sexo masculino impossibilita algumas análises comparativas nesta matéria.
:: Distribuição por meio de inquirição À semelhança do que aconteceu na 1ª edição do OE, foi adoptado um desenho de investigação transversal retrospectivo, pretendendo-se reconstituir, a posteriori, o percurso de vida dos sujeitos, utilizando como método o inquérito, nas modalidades “via postal” e formulário web (internet). Como pode ser constatado, embora de forma pouco significativa, a inquirição através de webform mostrou ser uma opção mais “interessante” para os sujeitos, conseguindo-se inquirir 54,8% dos sujeitos através deste método. É interessante também observar que foram os licenciados que terminaram o curso mais recentemente quem mais utilizou este método de inquirição, o que indicia, à partida, uma crescente adesão a este como resultado de superiores hábitos e competências de utilização da internet. De facto, trata-se de um estratégia que se tem revelado altamente eficaz em termos de procedimentos, tempos e custos, devendo, por isso, ser uma aposta clara em inquirições futuras.
Fig. 3 – Distribuição dos sujeitos por meio de inquirição
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Distribuição por Meio de Inquirição 40
2001/02
%
2002/03 2003/04
26
30 14,4
20
14,4
15,1
13,7
16,4
10 0 Via webform (54,8% )
Via postal (45,2%)
:: Distribuição etária Curiosamente, a idade dos inquiridos oscila entre os 24 e os 63 anos, sendo a idade média (N=137) de 26,79 anos (DP=4,44). Apesar desta aparente dispersão da população, cerca de 60% dos sujeitos encontram-se abaixo dos 27 anos e 85% abaixo dos 29, o que coloca a maior parte dos sujeitos no intervalo 24-28 anos. Fig. 4 – Distribuição etária da população
Distribuição da População por Idade 40
38
38
N.º Sujeitos 30
29
20
10 10
10
9 4
4 1
1
1
1
31
46
53
63
0
24
25
26
27
28
29
30
Idade
Sem resposta
Esta diversidade de idades parece demonstrar que os diplomados não constituem um grupo tão homogéneo como seria de esperar, uma vez que a amplitude verificada só pode ser compreendida quando se admite que o projecto universitário tende a assumir uma importância diversificada perante os actores enquadrando-se dentro de momentos da vida diferentes. Nesta população, em particular, e tendo em conta o facto de se tratar de diplomados com uma vida profissional pós-curso de 2 a 4 anos, verifica-se que 12 sujeitos parecem ter entrado para o curso em alturas de vida desfasadas do tradicionalmente esperado, isto é, a frequência da licenciatura deu-se para estes diplomados em idades superiores à média da população.
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Esta constatação traduz trajectos de vida diferentes que implicam diferenças potenciais nas atitudes e ambições face ao curso, de tal modo que, nos casos extremos como, por exemplo, o de um sujeito que se diploma perto dos 60 anos, não é possível falar em transição ao trabalho dado que este já percorreu um longo percurso no mercado e as ambições relacionadas com a conclusão da licenciatura parecem estar mais relacionadas com outras dimensões que não o acesso a um posto de emprego. Uma das tendências observadas nas sociedades contemporâneas tem sido o aumento do período de vida correspondente à “juventude”, um fenómeno que deriva, pelo menos em parte, do aumento geral dos percursos escolares percorridos pelos sujeitos e que tende a dilatar o número de anos em que os sujeitos se encontram numa situação de dependência perante o agregado familiar. O fim da licenciatura e os processos de transição ao trabalho tendem, assim, a ser identificados com um período de emancipação económica, no qual os sujeitos, através de avanços e retrocessos, se direccionam para a autonomização financeira e tendem a aprofundar e desenvolver projectos pessoais e afectivos relacionados com a constituição de um projecto familiar. Nesta perspectiva, quanto mais longos forem os trajectos educativos e os processos de transição profissional maior será o período de moratória observado, no qual os sujeitos se esforçam por obter a independência económica, sendo natural um retardamento na concretização e investimento de outros projectos que não o profissional.
:: Zona de residência A análise da zona de residência revela que o distrito do Porto é o principal em termos de proveniência dos estudantes de Psicologia da FPCEUP, sendo que 58,2% dos sujeitos da amostra já aqui residia antes de ingressar no curso. Não são de menosprezar, contudo, distritos como Aveiro, Braga e Viana do Castelo, dos quais provêm cerca de 20% dos indivíduos da amostra. No que diz respeito à implementação profissional (área de residência actual, na vida profissional), observa-se uma distribuição bastante idêntica àquela observada para as localidades de origem, muito embora o distrito do Porto tenha conseguido fixar um número apreciável de licenciados inicialmente deslocados enquanto estudantes. Destaque-se, ainda, o distrito de Lisboa, no qual se empregaram 2,1% dos sujeitos sem ser, contudo, um distrito de proveniência de discentes. Estes dados revelam que, por um lado, a maioria dos sujeitos procura manter a proximidade face ao local de residência do agregado familiar tanto para a frequência da licenciatura como na procura de emprego, denunciando uma fraca mobilidade geográfica. Ainda assim, devem ser interpretados, por um lado, face ao fenómeno de concentração da população portuguesa no litoral com especial incidência no Porto e Lisboa, e por outro, face aos mecanismos de acesso ao emprego nos quais as redes sociais desempenham um papel importante para esta população.
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Fig. 5 – Distribuição dos sujeitos por área geográfica de residência
Distribuição por área geográfica de residência 70 60
58,2 61 Antes de ingressar na FPCEUP Na actualidade
50 40
% 30 20 11 8,9
10
4,82,7
4,8 3,4
3,41,4
11,6 7,5 2,72,1
2,7 2,7
0 2,1
Funchal
Vila Real
Lisboa
0 Porto
Aveiro
Braga
Viana do Bragança Castelo
Sem resposta
:: Família / escolaridade dos pais No que se refere à família, é possível realçar que a análise dos níveis de escolaridade dos pais dos inquiridos revelou uma dicotomização, concentrando-se num pólo 26% dos pais (e para ambos os géneros) apenas com frequência do 1º ciclo do ensino básico (constituindo-se este nível de ensino como o mais representativo nas famílias da amostra) e no outro pólo os pais com diploma superior (24% das mães e 21,2% dos pais). Outra dicotomização observada compreende dois extremos: os sujeitos que têm no máximo o terceiro ciclo do ensino básico, agregando para ambos os géneros mais de 50% dos indivíduos; e aqueles com graus académicos elevados estando ao nível do ensino secundário ou superior (perto de 40% dos indivíduos). Deve realçar-se ainda que a proporção dos sujeitos com um título académico ao nível do ensino superior é particularmente elevada, ultrapassando em muito a média verificada a nível nacional. Ao observarmos os dados apresentados tendo em conta a distribuição em função do género, curiosamente constata-se que são os membros femininos que apresentam uma maior proporção de diplomas do ensino superior, ao passo que esta situação se inverte drasticamente na qualificação de nível III (Ensino Secundário). De facto, parece correcto afirmar que estes dois níveis de qualificação são instâncias fortemente diferenciadoras da escolaridade dos pais em função do seu género. Ao contrário, a frequência do 1º ciclo do ensino básico está, objectivamente, distribuída de forma igualitária pelos dois géneros.
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Fig. 6 – Escolaridade dos pais
Escolaridade dos Pais (%) 24
En sino Supe rior
21,2 11,6
Ensin o Se cundá rio
19,2 17,8
3º Ciclo d o En si no Básico / 9º an o / antigo 5 º a no
15,1 10,3 9,6
2 º C iclo do Ensin o Bá sico / 6º ano - ensin o p repara tó ri o ou antigo 2 º a no
26 26
1º Ciclo d o En sino Básico / an tiga 4ª classe Sa be ler/ou escrever
0
Mãe
0,7
Pai
10,3 8,2
Sem resposta 0
10
20
30
Uma das possíveis explicações face a esta distribuição dos títulos escolares no agregado de origem dos sujeitos está relacionada, por um lado, com o facto de, para uma parte significativa dos sujeitos, a conclusão da licenciatura se traduzir num processo de ascensão social intergeracional baseada na aquisição de títulos académicos, o que permite compreender a razão pela qual mais de 50% dos pais dos sujeitos possuem um fraco capital escolar. Por outro lado, os níveis bastante superiores à média de sujeitos com títulos escolares ao nível superior podem ser compreendidos quando se accionam os mecanismos de interpretação relacionados com a reprodução social. Desta forma, estamos em presença de um conjunto de diplomados onde são notórios os efeitos de democratização do ensino, o que permitiu a uma proporção significativa dos sujeitos alicerçar o seu trajecto social no investimento na aquisição de títulos académicos como forma de obter acesso a maiores volumes de capital social e económico.
III PERCURSO FORMATIVO / ACADÉMICO
:: Escolha da Licenciatura em Psicologia da Universidade do Porto Com base nos dados obtidos é seguro afirmar que a maioria dos licenciados inquiridos (81,5%) colocou a licenciatura em Psicologia da Universidade do Porto em primeira opção quando do seu processo de candidatura ao ensino superior público. Constata-se também que, nos casos em que tal não se verificou, é a licenciatura em Medicina aquela que surge de forma notoriamente mais representativa, a par de um conjunto alargado de outras licenciaturas com reduzida expressão nos resultados.
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Fig. 7 – Escolha do curso de psicologia em 1ª opção / cursos de 1ª opção Outro curso de 1ª opção Escol ha em 1ª o pção 81,5% 18,5%
Sim
Não
Freq.
Medicina Farmácia Comunicação Social Jornalismo Ciências da Nutrição Filosofia Bioquímica Ciências Farmacêuticas Geografia Medicina Veterinária
10 2 1 1 1 1 1 1 1 1
Sem resposta Não aplicável
6 120
A par da ordem de escolha do curso de Psicologia, foi também solicitado aos sujeitos que indicassem a importância de diversos factores para essa escolha. Como pode ser observado no gráfico seguinte, no que diz respeito aos motivos subjacentes à escolha da licenciatura em Psicologia, surgem de forma preponderante o interesse pela área científica / técnica da Psicologia, bem como a associação desta licenciatura à concretização do projecto profissional dos sujeitos, com valores médios, respectivamente, de 6,61 e 6,18 (escala de Likert de 1-Nada importante a 7-Muito importante).
Fig. 8 – Motivos subjacentes à escolha da licenciatura em Psicologia
Motivos de escolha da licenciatura em Psicologia Porque o curso / área me interessava Para a realização do meu projecto profissional Para progredir na minha carreira profissional Porque gosto de estudar Por enriquecimento cultural Para facilitar a obtenção de um emprego Por ser próximo da área de residência Porque ser-se psicólogo é uma profissão prestigiant e Por sugestão de amigos ou familiares Pela facilidade do curso Porque o acesso ao curso era fácil Outro motivo
1
2
3
4
5
6
7
:: Participação Cívica ou Académica durante a Licenciatura O envolvimento dos sujeitos em grupos de participação cívica e académica propicia o alargamento das redes sociais e permite aos sujeitos ensaiar um conjunto diversificado de papéis sociais
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relacionados com outras esferas. Além disso, podem ser encarados como uma oportunidade de desenvolver competências sociais. No caso desta população, é possível constatar que 39% dos sujeitos participou em associação(ões) cívica(s) ou académica(s) durante o período em que frequentava a FPCE-UP.
Fig. 9 – Participação Cívica ou Académica durante a Licenciatura
Participação Cívica ou Académica 61%
39%
Sim
Não
Uma análise da participação cívica e académica pelos diversos anos de inquirição revela alguns dados interessantes, sendo notória uma maior participação por parte dos diplomados no último ano lectivo em estudo (50% dos inquiridos).
Fig. 10 – Participação Cívica ou Académica durante a Licenciatura por Ano de Conclusão da Licenciatura
Sim
Não
Count % within Ano de Conclusão da Licenciatura Count % within Ano de Conclusão da Licenciatura
Amostra (count total)
2001/02
2002/03
2003/04
13
13
31
31,7%
30,2%
50,0%
28
30
31
68,3%
69,8%
50,0%
41
43
62
Por outro lado, deve ser realçado que estas participações estão maioritariamente relacionadas com grupos académicos (dentro da U.P.) como o envolvimento na Praxe, na Tuna da Faculdade, grupo de Teatro, Orfeão ou Grupo Coral, na Comissão de Ano/Curso, e na própria Associação de Estudantes, estando, portanto, fundamentalmente voltadas para o meio universitário em si e não para a sociedade em geral. Verifica-se, contudo, e de uma forma bastante dispersa, excepções a esta regra, nos casos em que os sujeitos se envolveram em actividades de índole artístico e cultural (Grupo de Teatro / Expressão Corporal, Academia de Música, Academias de Danças de Salão, Associação Cultural e Desportiva, etc.) ou social (actividades de voluntariado em organismos e âmbitos diversos), bem como na militância em juventudes partidárias, ou na participação em grupos de carácter religioso, entre outros (ver figura em baixo). De qualquer forma, pelas características das actividades em causa deve ser realçado que estas parecem surgir como resultado de sociabilidades, relacionadas essencialmente com o curso, parecendo que assumem, no caso dos grupos culturais, um papel de consolidação e ampliação das relações sociais, numa perspectiva de lazer e de tempos livres. Simultaneamente, emergem também componentes de desenvolvimento pessoal, extensão cultural e de acção social voluntária.
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Fig. 11 – Grupos de Participação Cívica ou Académica durante a Licenciatura Em grupos na Universidade do Porto (N=57) Praxe Orfeão / Tuna / Grupo Coral / Grupo de Teatro na UP Comissão de Ano / Curso Associação de Estudantes / Órgãos de Gestão Representante de alunos no Conselho Pedagogico Jornal da Universidade do Porto Grupo teatro - ICBAS Grupo de Voluntariado de ajuda a familias carenciadas Grupo de Teatro da Faculdade de Ciências Conselho Pedagógico
Freq 25 22 19 11 1 1 1 1 1 1
Em grupos fora da Universidade do Porto Grupo de Teatro / Expressão corporal Voluntariado em associações e entidades específicas Grupo de jovens (paroquial) Várias acções de voluntariado, sem pertença a um grupo específico Academia de Música / actividades de música Academias de Danças de Salão Associação Cultural e Desportiva Coro Escuteiros Federação Académica do Porto Grupos de discussão Grupo de patinagem para crianças de meios desfavorecidos Grupos desportivos e sócio-recreativos Igreja Católica - Catequese Juventude Partidária Liga Portuguesa dos Direitos dos Animais
Freq 5 5 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
:: Avaliação da licenciatura O quadro em baixo apresenta a avaliação dos sujeitos face a diversos aspectos da licenciatura, sendo o seu objectivo principal conhecer a posição dos diplomados em relação a várias dimensões tidas em conta, e assumindo-se que, pelo percurso já percorrido pelos diplomados, estes terão já algumas condições de identificar os conhecimentos técnicos exigidos pelo mercado / necessários para a prática profissional e, portanto, avaliar a importância do que lhes foi transmitido durante o curso. Novamente recorreu-se a uma escala de likert de 7 pontos (1 - Muito fraca a 7 - Muito boa). Fig. 12 – Avaliação da formação adquirida na Licenciatura
Avaliação da formação adquirida na Licenciatura quanto a: 7 6
5,68
5,41
n = 145 5,26
5,13
5 4,04 4 3 2 1 Desenvolvimento e enriquecimento pessoais
Conhecimentos técnicos e metodológicos
Competências relacionais
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Competências profissionais
Adequação às exigências do mercado de emprego
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De um modo geral, a avaliação feita pelos diplomados pode ser considerada como globalmente positiva, sendo o “desenvolvimento e enriquecimento pessoais” o aspecto avaliado de forma mais positiva pelos diplomados (média=5,68; DP=1,1). Não obstante a generalidade dos itens ter recebido uma boa avaliação, destaca-se um item para o qual esta situação demonstra alguma tendência de inversão, e o qual diz respeito à apreciação da “adequação da licenciatura às exigências do mercado de trabalho”, onde os sujeitos tenderam a fixar-se num ponto intermédio (média=4,04; DP=1,49). Numa tentativa de refinar esta análise, constatou-se que a área de pré-especialização frequentada é um factor ao qual está associada alguma variabilidade dos resultados, influenciando aparentemente a percepção dos sujeitos face aos vários aspectos da licenciatura em análise.
:: Frequência de formação extra-curricular durante a licenciatura Ainda que de forma menos expressiva do aquela observada para a “Participação Cívica ou Académica”, também no investimento em formação para além da licenciatura uma minoria de sujeitos indicou ter efectuado formação extra-curricular (42,5% para n=146) sendo que em 74,2% destes casos esta formação foi adquirida de uma forma complementar à licenciatura uma vez que estava relacionada com as matérias ou áreas do curso. Esta aposta em formação complementar relacionada com a área da formação de base parece revelar um investimento consciente em capital escolar incorporado à margem da licenciatura como forma de obter factores de distinção no mercado de trabalho.
:: Frequência de formação após a licenciatura Ao contrário do observado para a frequência de formação extra-curricular durante a licenciatura, constatou-se uma aposta nítida por parte dos licenciados em formações pós-licenciatura, com 70% dos sujeitos da amostra tendo frequentado e/ou encontrando-se a frequentar formação específica. Mediante a análise do gráfico apresentado de seguida destaca-se uma aposta mais generalizada em formação contínua (37,7% dos sujeitos), quando comparada com a formação pós-graduada, evidência esta que poderá ser explicada pelo facto de se tratar de uma oferta mais diversificada e com menos custos e investimento temporal para os sujeitos. Observa-se igualmente um investimento decrescente no número de pessoas a frequentar formação pós-graduada em função do aumento do grau / nível de qualificação da mesma. Pode-se também afirmar que a oferta formativa da Universidade do Porto é atractiva junto destes licenciados ao nível da formação pós-graduada (particularmente no que diz respeito a Pós-Graduações e Doutoramentos), tendo em conta o facto das pós-graduações e doutoramentos frequentados provirem em maior número da UP, quando comparados com a oferta nacional das muitas instituições de ensino superior.
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Fig.13 – Frequência da formação pós-licenciatura: Tipo e Local
Frequência de formação por Tipo e Local 30 25
%
27,7
Na UP Fora da UP
37,7%
20 19,9%
15 10
17,1% 14,4%
11,6
8,9%
8,7
8,2
11,3
9,3
5,9
5,7
5,8
3
5 0 Pós-Graduação
Mestrado
Doutoramento
Outra 1
Outra 2
Visando conhecer um pouco os vários domínios de estudo que foram alvo de interesse dos sujeitos do estudo, são apresentadas de seguida as diferentes áreas temáticas, distribuídas por tipo de formação. Uma análise rápida permite constatar que o investimento em Mestrados e Doutoramentos está fortemente associado à especialização académica / profissional no campo da Psicologia, verificando-se o mesmo (embora com um número reduzido de excepções) nas Pós-Graduações. Um cenário distinto é observado no caso da Formação Contínua, a qual, pelas suas características intrínsecas (formações curtas, específicas e altamente diversificadas) está um pouco mais associada à obtenção de qualificações profissionais específicas (Formação Pedagógica de Formadores para atribuição do CAP), ao desenvolvimento de competências de cariz mais transversal (informática, expressão corporal, empreendedorismo, liderança e gestão de conflitos, entre outros) e de saberes e competências em áreas análogas com potencial de empregabilidade (medicina chinesa, marketing e gestão comercial, etc.). Não obstante, também na formação contínua se verifica uma forte aposta no domínio profissional da psicologia, procurando os licenciados aprofundar competências em domínios do seu interesse profissional. Fig.14 – Áreas de estudo da formação pós-licenciatura Pós-Graduação (n=30)
Mestrado (n=18) Freq
Processos psicoterapêuticos nos sistemas familiares Psicoterapia / Consulta Psicológica Juventude: contextos e intervenções Consulta de Crianças e Adolescentes Gestão de Recursos Humanos Intervenção Social - Vertente Criminologia Neuropsicologia Supervisão de Estudos de Casos Avaliação Psicológica Ciências médico-legais Dança Movimento Terapia Direito do Trabalho Iniciação de Formação Rorschach Medicina legal Políticas educativas Psicologia da Saúde Terapia familiar
4 4 3 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Freq Psicologia da Saúde Psicologia Organizacional Psicologia Escolar Saúde Pública Psicologia do Trabalho e das Organizações Psicologia do Idoso Psicologia da Justiça Psicologia Clínica Neuropsicologia Cognitiva Mudança e Desenvolvimento em Psicoterapia Intervenção Psicológica com Crianças e Adolescentes Educação Pré-Escolar Ciências cognitivas Avaliação Psicológica
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3 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
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Doutoramento (n=11) Saúde Psicologia Psicologia Política e Cidadania Psicologia - Neurociências cognitivas Psicologia da Linguagem e Neuropsicologia
Freq 2 2 1 1
Freq 1 1 1 1
Multiculturalidade, Diversidade, Imigração Educação e Desenvolvimento Humano Dinâmicas desenvolvimentais do estudante universitário Desenvolvimento e Educação da Criança - Literacia Familiar
Outra formação (n=76) Freq Formação Pedagógica de Formadores Terapia Familiar / Sistémica Gestão de Recursos Humanos Narrativas e Psicologia Educação e Formação de Adultos / RVCC Gestão da Formação Informática Intervenção Comunitária Intervenção Psicológica - Supervisão Clínica Mediação Familiar Psicodrama Psicologia Clínica Supervisão Clínica Terapia de Casal Toxicodependência / alcoolismo Abuso sexual e maus-tratos infantis Análise qualitativa de dados através do NUD IST Animador de UNIVA Avaliação Clínica de Crianças e Adolescentes (Family Relations Test) Avaliação e Intervenção na Dislexia Consulta Psicológica Desenvolvimento Infantil Dinâmica/expressão corporal
9 7 5 3 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1
Freq Empreendedorismo Formação de Agentes de Desenvolvimento Comunitário Gerontologia Higiene e Segurança no Trabalho Igualdade de oportunidades Intervenção em VIH / SIDA Intervenção no Abuso sexual Intervenção Psicológica em Oncologia Liderança e Gestão de Conflitos Logopedia Marketing e Gestão Comercial Mediação de conflitos - AMC Medicina chinesa Musicoterapia / Dançoterapia Psicopedagogia Psicossomática Recrutamento e Selecção Segurança e Higiene do Trabalho Sexualidade Terapia Sexual Tráfico de mulheres e exploração sexual Violência familiar contra as crianças
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Com o intuito de saber a importância subjacente de vários factores para as escolhas formativas dos diplomados e, desta forma compreender um pouco melhor as suas opções e investimentos, foi solicitado aos sujeitos que avaliassem, segundo uma escala de 1 a 7 (Nada relevante a Muito relevante) a relevância de um conjunto de motivos considerados pertinentes neste âmbito. Como se pode constatar, a "aquisição de novos conhecimentos e competências / reforço das mesmas" e o "desenvolvimento de argumentos destinados a permitir / facilitar o acesso a emprego" são os motivos considerados mais importantes por parte dos diplomados, resultados estes que reforçam as reflexões apresentadas nos últimos parágrafos. De facto, a grande adesão desta população a pequenas formações direccionadas a temáticas especificas parece revelar simultaneamente a necessidade de reforçar os conhecimentos adquiridos como forma de diferenciação no mercado de trabalho e uma necessidade de investir em áreas diferentes como forma de aumentar o seu potencial de empregabilidade.
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Fig.15 – Motivos para adquirir formação pós-licenciatura
Motivos para adquirir forma ção pós-licenciatura Adqu irir no vos conhe cimen to s e comp etênci as Reforçar ou a ctua lizar comp etência s e co nheci mentos na su a á rea de formaçã o Obter melh ores cond içõe s de e ntrada n o me rcado d e tra balh o Prog redi r n a carrei ra Obter certifica ção para e xercíci o profissi ona l Fazer formação e specífica exig ida p ela en ti dad e patrona l Aufe rir uma bo lsa de formaçã o Outro motiv o
Média
1
2
3
4
5
6
7
No que concerne à frequência de cursos de mestrado e doutoramento com bolsa de investigação, esta é, regra geral, a estratégia utilizada por parte dos diplomados com interesse em prosseguir uma carreira de investigação. A formação pós-graduada é, também, e por vezes, encarada como uma “forma de estar empregado” enquanto se "investe" na carreira académica e docente, tratando-se de uma espécie de “emprego de espera", enquanto o diplomado faz o seu percurso de articulação entre variáveis como um eventual projecto profissional idealizado no contexto docente e/ou da investigação, a desvinculação da realidade universitária onde esteve inserido durante 5 anos e a trajectória de aproximação ao mundo do trabalho, ou ainda a exploração de alternativas de emprego simultânea à sua situação de aluno pósgraduado, entre outros cenários.
IV ESTÁGIO CURRICULAR O contexto de estágio constitui um momento temporal delimitado no decorrer do curso e cujo objectivo passa por proporcionar o contacto directo do estudante com as práticas ligadas às áreas de formação da licenciatura em psicologia. A sua pretensão é, fundamentalmente, favorecer, através do contacto com profissionais em exercício, a passagem supervisionada à prática profissional e a integração dos sujeitos no seu futuro meio profissional. Numa abordagem mais centrada no actor é possível realçar que se trata de um momento onde se equacionam, simultaneamente, questões curriculares e académicas e questões relacionadas com a entrada no mercado de trabalho. Para além disto, é um período de ensaio de papéis relacionados com a profissão e com a constituição de uma identidade social fundada na profissão. Naturalmente, é um período onde as capacidades e fragilidades técnicas e sociais tendem a ser diariamente confrontadas no exercício das actividades de estágio.
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Dado que o estágio visa a colocação em prática de saberes específicos, a escolha da instituição de estágio é um momento particularmente importante, dependendo naturalmente da área de préespecialização escolhida.
:: Sectores de actividade dos locais de estágio Numa perspectiva de síntese, e apesar de se verificar alguma heterogeneidade nos sectores de actividade onde os vários locais de estágio se inserem, pode-se identificar alguns sectores nos quais um maior número de finalistas realizou os seus estágios curriculares. Assim. Destacam-se os Hospitais Gerais, Institutos de Saúde e Centros de Saúde, os Estabelecimentos de Ensino (Secundário e Básico), as Autarquias e as Instituições Particulares de Solidariedade Social / Centros Sociais. Fig.16 – Entidades de estágio (sector de intervenção) Frequências
%
Adm. Pública: Hospitais e Institutos de Saúde
20
13,8
Ensino Secundário e Básico Público
19
13,1
Adm. Pública: Centros de Saúde
14
9,7
Adm. Pública: Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia
11
7,6
Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) / Centros Sociais
11
7,6
Projectos de Intervenção Local / Comunitária
9
6,2
Universidade e Politécnico Público (Serviços e/ou Projectos)
8
5,5
Entidades Públicas ligadas à Reclusão
7
4,8
Empresas - Sector Serviços
5
3,4
Associações / Fundações para o Desenvolvimento / Apoio
5
3,4
Ensino Secundário e Básico Privado
4
2,8
Entidades Públicas e Privadas de apoio ao Toxicodependente
4
2,8
Empresas - Sectores Indústria e Transformação
4
2,8
Adm Pública: Segurança Social
4
2,8
Universidade e Politécnico Privado (Serviços e/ou Projectos)
3
2,1
Agências e Comissões de Desenvolvimento / ONG´s
3
2,1
Entidades Públicas e Privadas de apoio ao Cidadão portador de Deficiência
3
2,1
Centros de Formação Profissional
2
1,4
Creches e Jardins de Infância
1
0,7
Adm. Pública: Centros de Emprego / IEFP
1
0,7
Empresas - Gabs Psicologia / Apoio Psicopedagógico
1
0,7
Sem resposta
6
4,1
:: Remuneração no estágio Do total da amostra (N=146), apenas 2,7% dos sujeitos efectuou um estágio remunerado, tendose verificado uma situação semelhante em relação aos apoios financeiros concedidos aos estagiários para fazerem face a despesas como a alimentação ou subsídio de transporte, onde apenas 6,8% declaram ter recebido algum apoio. O facto da maior parte dos estágios não terem sido remunerados está relacionado com vários factores, entre os quais é possível realçar o facto de esta ser uma componente curricular obrigatória do curso, sendo encarado pelas instituições que os disponibilizam como uma
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oportunidade para o sujeito se desenvolver e não tanto como uma oportunidade para desenvolver trabalho com mais-valias para a entidade. Ainda assim, esta situação merece algumas considerações, particularmente quando equacionada com as relações que estabelece que as oportunidades de emprego disponibilizadas no mercado. A grande questão que se coloca está relacionada com a manutenção de um “exército de reserva” que se renova anualmente e está disponível para desempenhar funções na área da psicologia de forma totalmente gratuita (vulgarmente designado de “mercado de estágios”). As interferências causadas por este factor podem degradar as condições de criação de postos de trabalho e mesmo de negociação das condições de exercício do trabalho no mercado, dado que, por exemplo, nesta população é notória a tendência para a manutenção de locais de estágio pelos quais passaram diplomados de quase todos os anos. Se assumirmos que os estagiários desempenham um papel de suprimento das necessidades internas em diversos tipos de instituições, isto equivale a dizer que estão a bloquear as condições para o desenvolvimento de carreiras estruturadas em determinados campos de actuação da psicologia.
:: Criação de postos de trabalho nos locais de estágio Outra constatação que vem contribuir para o debate iniciado no ponto anterior está relacionada com o facto de apenas 17 dos 146 sujeitos terem encontrado uma oportunidade de trabalho na instituição onde desenvolveram o estágio, correspondendo a uma reduzida parcela de 11,6% do total dos inquiridos. Fig.17 – Integração profissional no contexto de estágio por sector de actividade Postos de trabalho criados
Nº de estágios realizados
%
Empresas - Gabinetes de Psicologia / Apoio psicopedagógico
1
1
100,0%
Entidades Públicas e Privadas de apoio ao Cidadão portador de Deficiência
2
3
66,7%
Empresas - Sector Serviços
2
5
40,0%
Universidade e Politécnico Público (Serviços e/ou Projectos)
3
8
37,5%
Agências e Comissões de Desenvolvimento / ONG´s
1
3
33,3%
Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) / Centros Sociais
3
11
27,3%
Empresas - Sectores Indústria e Transformação
1
4
25,0%
Projectos de Intervenção Local / Comunitária
1
9
11,1%
Adm. Pública: Hospitais e Institutos de Saúde
2
20
10,0%
Adm. Pública: Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia
1
11
9,1%
Apesar da análise do tipo de instituições onde estas oportunidades de emprego surgiram evidenciar uma grande heterogeneidade / dispersão em termos de sectores de mercado, foi sobretudo no sector universitário público (N=3) e nas instituições particulares de solidariedade social (N=3) onde se criaram mais postos, seguidas de perto por instituições enquadradas no sector público da saúde, empresas, e entidades de apoio ao cidadão portador de deficiência. Todavia, estes dados são indissociáveis do volume de estágios efectivamente realizados por sector, particularmente porque também se observa uma grande heterogeneidade
nesta
matéria.
Assim,
ao
relacionar-se
estas
duas
variáveis
verifica-se
que,
percentualmente, foram outros tipos de instituições quem mais propiciou a criação de postos de trabalho na sequência do estágio, com destaque para os Gabinetes de Psicologia / Apoio Psicopedagógico e as Entidades Públicas e Privadas de apoio ao Cidadão portador de Deficiência.
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Saliente-se, contudo, que os valores obtidos não permitem apontar tendências do mercado em matéria de criação de postos de trabalho na sequência de estágios, por sector. Concretamente no que diz respeito às oportunidade de trabalho efectivamente estabelecidas em local de estágio, observou-se uma integração relativamente rápida, com mais de um terço dos licenciados a iniciar funções imediatamente após a conclusão do estágio. Por último, é de referir que apenas 9 (53%) dos 17 estagiários em questão mantinham este posto de trabalho no momento de inquirição deste estudo. Fig.18 – Tempo de acesso ao posto de trabalho no local de estágio
Quanto tempo após o estágio? 50
%
37,5
40 30 18,8
20
18,8
12,5
12,5
10 0 Mais de 1 ano
De 6 a 12 meses
De 3 a 6 meses
De 1 a 3 meses
Imediatamente
V PERCURSOS DE INSERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO
:: Contactos com o mercado de trabalho durante a licenciatura Constatou-se que uma parte significativa de sujeitos (41,8%; N=61) teve contactos com o mercado de trabalho antes do fim da licenciatura. Destes apenas uma pequena parte trabalhou a tempo inteiro durante todo curso (3,3%), tendo os “trabalhos pontuais” sido a situação mais frequente (45%), seguida pelo “trabalho a tempo parcial por períodos intermitentes” (30%). Uma vez que estas duas categorias englobam cerca de 75% da totalidade de respostas, pode-se afirmar que o cenário de experiências laborais durante a licenciatura se caracteriza, globalmente, por uma aposta em trabalho pontual e a tempo parcial.
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Fig.19 – Situação face ao trabalho durante a licenciatura
Situação face ao trabalho durante a licenciatura
50
45
%
40
30 30 20
16,7
10
5
3,3
0 Efectuei trabalhos Trabalhei a tempo Trabalhei a tempo Trabalhei a tempo Trabalhei a tempo pontuais parcial por períodos parcial durante todo inteiro por períodos inteiro durante todo intermitentes o curso intermitentes o curso
Tal como é possível constatar na figura seguinte, na maioria dos casos em que os estudantes desenvolveram actividades laborais durante o curso estas não tiveram nenhuma relação com a licenciatura ou com contextos relacionados com a psicologia. Este facto leva a crer que, na maioria, estes empregos foram soluções de recurso para suprir necessidades económicas e desejos de independência face à família, podendo, ainda, ser considerados como reflexo de uma valorização dos estudantes do factor experiência profissional como elemento que pode permitir um acesso mais rápido e bem sucedido ao emprego regular na área da formação de base. Fig.20 – Relação entre o trabalho intra-curso e a licenciatura e
A área em que trabalhou estava relacionada com a licenciatura?
37,7%
56,8%
Sim Não Não aplicável
4,8% 0,7%
Sem resposta
A grande predominância dos contactos esporádicos com o mercado de trabalho parece vir reforçar esta ideia, parecendo que estes empregos ocupam um papel secundário, sendo valorizados principalmente pelo acesso a uma remuneração pecuniária. Pelo contrário, os estudantes que desenvolveram uma profissão regular durante todo o curso ou em períodos intermitentes, onde os tempos de emprego e os tempos de desemprego se vão alternando, constituem uma categoria específica - os trabalhadores-estudantes, para os quais muitas vezes a entrada no mercado de trabalho ocorreu ainda antes de entrarem no curso de psicologia. Neste sentido, a distribuição do investimento perante o trabalho e a licenciatura é bastante diferente do caso anterior, dado que estes sujeitos são confrontados com outras responsabilidades ao nível económico, e estando a opção
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em frequentar um curso de nível universitário relacionada com a procura de um diploma académico que lhes possibilite uma progressão profissional ou uma mudança para outra profissão. Em qualquer dos casos, o envolvimento em actividades laborais durante a licenciatura permite aos sujeitos criar ou ampliar uma rede social que pode ter um papel importante no momento de transição, além de que coloca os sujeitos numa categoria específica - os chamados “estudantes ou recém-licenciados com experiência profissional”. Assim, estamos perante dois aspectos distintos: o ser-se potencialmente elegível porque se é conhecido e já se manteve uma relação de trabalho, ainda que na maior parte das vezes precária e frugal (o que ganha mais importância quanto maior for a concorrência no mercado de trabalho pelo acesso a um posto); e o existir uma noção de que alguma experiência de emprego tende a dotar os sujeitos de competências técnicas e sociais que muitas vezes não se aprendem no sistema de ensino, dado estarem alicerçadas em mecanismos de socialização profissional.
:: Transição universidade - mundo do trabalho: Actividades não remuneradas A abordagem aqui efectuada aos vários momentos do processo de transição profissional foi efectuada, sobretudo, através da análise das relações salariais. De um modo sintético, podem considerarse como relações salariais tudo o que revela o exercício do trabalho: organização do trabalho, qualificações, tempos, ritmos e conteúdo do trabalho, as condições de acesso ao trabalho e ao emprego (determinação do contrato, a sua forma, a sua duração, estatuto de emprego, movimentos de entrada, de saída e de promoção) e a reprodução da força de trabalho (salário, formação). Neste âmbito, e enquanto tentativa de estabelecer alguma continuidade às reflexões relacionadas com os contactos com o mercado de trabalho durante a licenciatura, mostrou-se particularmente importante tentar conhecer um pouco a realidade da “actividade profissional não remunerada” que está fortemente ligada aos processos de abordagem ao mercado de trabalho por parte dos recém-diplomados. Efectivamente, uma percentagem apreciável de recém-licenciados (cerca de um terço dos inquiridos) exerceu algum tipo de actividade profissional não remunerada depois de ter terminado o curso, das quais 23,4% ocorreram nos respectivos locais de estágio. Pode-se ainda destacar que a aposta em actividades não remuneradas é, em certa medida, uma estratégia de empregabilidade com alguma eficácia, uma vez que 34% destas actividades resultaram na criação de um posto de trabalho remunerado. Numa tentativa de compreender os motivos subjacentes ao envolvimento em actividades não remuneradas foi solicitado aos sujeitos que avaliassem, segundo uma escala de Likert (1 - Nada importante a 7 - Muito importante) um conjunto de factores considerados representativos nesta matéria. De facto, como pode ser observado na figura seguinte, destaca-se a preocupação com o desenvolvimento de experiência profissional e a “interacção” com o mercado de trabalho, bem como o desenvolvimento de competências de teor mais prático, dimensões nas quais muitos dos recém-diplomados apresentam um deficit mas as quais são valorizadas pelo mercado de trabalho (como poderá ser constatado mais à frente,
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no que diz respeito às “principais dificuldades sentidas na procura do 1º emprego enquanto licenciado/a em Psicologia” e aos “factores mais valorizados pelos empregadores”). Fig.21 – Importância dos vários motivos para ter exercido actividades profissionais não remuneradas
Importância dosestar vários motivos "Forma de ganhar experiência e não "parado/a
para ter exercido actividades profissionais não remuneradas
6,47 6,41 5,96
Oportunidade de trabalhar numa área de interesse pessoal
5,2 5,02
Estratégia para a obtenção de emprego
5,4
3,76
Outro motivo
1
2
3
4
N = 47
5
6
7
:: Transição universidade - mundo do trabalho: Acesso ao 1º emprego Em termos de “acesso ao emprego" deve ser realçado que, quando se fala em “primeiro emprego”, se considera, essencialmente, a primeira actividade profissional executada pelos sujeitos após a licenciatura, o que está bastante longe de ser uma análise ao primeiro “emprego regular”. De facto, foi solicitado aos sujeitos que considerassem como emprego “todo e qualquer exercício profissional remunerado realizado”, pelo que é necessário usar de algumas cautelas na interpretação dos dados, uma vez que o primeiro emprego, neste sentido, coincide com o primeiro contacto com o mercado após a licenciatura, mesmo que este se tenha restringido a uma semana ou não tenha o valor de emprego na própria interpretação dos sujeitos. Deste modo, o acesso ao primeiro emprego ocorreu para a maioria dos diplomados (44,1%), num espaço de tempo de 1 a 6 meses (ver figura), o que representa um processo de inserção no mercado de trabalho moderadamente rápido. Deve-se, ainda assim, notar que, para 10,5% dos sujeitos, a escolha da opção “Ainda não consegui emprego” abriga tanto situações de procura de 1º emprego absoluto como situações de emprego fora do mercado da psicologia, que poderão ou não ser a continuidade de postos de trabalho mantidos já durante a licenciatura. Tal como é possível detectar no gráfico seguinte, coexistem ainda dois grupos de sujeitos: um caracterizado pela inserção extremamente rápida (18,9%) e outro por uma inserção mais lenta (26,6%) embora não de longa duração.
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Fig.22 – Tempo de obtenção do 1º emprego enquanto licenciado/a em Psicologia Tempo de obtenção do 1º emprego enquanto licenciado/a em Psicologia 50
44,1
N = 143
40 30 20
20,3
18,9
10,5 6,3
10 0 Menos de um mês Entre 1 a 6 meses Entre 6 meses e 1 ano
Mais de 1 ano
Ainda não consegui emprego
No entanto, estes dados deverão ser confrontados com o discurso dos actores, dado que, embora numa lógica de avaliação objectiva dos percursos se possa encontrar uma realidade coincidente com a aquela obtida pela análise dos inquéritos, numa lógica de avaliação subjectiva alicerçada nas suas próprias atitudes, os diplomados tendem a não considerar estes “contactos” como empregos, mas como oportunidades para “fazer algo” no mercado de trabalho. Neste sentido, o operacionalização do conceito de “1º emprego” e a abordagem ao conhecimento da realidade deverão ser alvo de particular atenção em edições futuras do OE. Simultaneamente, deverão os dados obtidos no presente estudo analisados e interpretados com particular cautela. A análise da situação contratual mais comum no primeiro emprego revela a existência de uma tendência pronunciada para situações contratuais precárias, onde podemos destacar os “trabalhadores independentes” (que constituem 46,6% da população), seguida pelos “estágios profissionais” para 19,2% dos sujeitos. Assim, é possível referir que 68,6% da população encontrou uma posição de instabilidade ou mesmo de transitoriedade (no caso dos estágios profissionais, bolseiros e ajustes verbais), o que leva a crer que, embora a transição para o primeiro emprego seja relativamente rápida, esta tende, no entanto, a ser bastante precária. A reforçar esta ideia estão os valores dos sujeitos com contrato sem termo, que ascendem apenas a 5,5% da população ou mesmo os contratos com termo certo que representam apenas 12,3% dos sujeitos. Fig.23 – Situação contratual no 1º emprego enquanto licenciado em Psicologia Situação contratual - 1º emprego enqu anto licen ciado/a em Psicol ogia Tra ba lh ad or Ind ep en de nte ( reci bo s ver de s)
46 ,6
E stág io Pr ofiss ion al
1 9,2 12,3
C on trato a Termo Ce rto (d ura ção de fini da ) C on tr ato se m Term o (n os qu ad ro s)
5,5
C on trato a Termo In ce rto (du raç ão n ão de fini da )
2,1
A jus te Verb al
2,1
Bo lse iro
0,7
Outra S itua ção
0 ,7
N ão a pl icá vel
N = 146
1 0,3 0
10
Dr. Alexandre Campos Serviço de Assessoria à Integração Profissional
20
30
40
50
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Observatório de Emprego – Diplomados em Psicologia (2ª Edição) Relatório
Assim, a análise do vínculo contratual consubstanciada com a análise dos tempos de acesso ao primeiro emprego parecem apontar para um cenário segundo o qual a transição ao trabalho dos diplomados em psicologia tende a ser relativamente rápida, embora tenda a ser marcada por vínculos contratuais precários. Curiosamente, 47,9% dos sujeitos (N=146) apresentou uma carga horária no primeiro emprego entre as 31 e as 40 horas, um horário tradicionalmente próprio de relações salariais estáveis, o que parece indicar que grande parte dos sujeitos que esteve vinculado à entidade como trabalhador independente esteve, na realidade, numa situação de “assalariamento oculto”. Dos restantes diplomados, 20% trabalhou menos de 20 horas por mês, 6,8% de 20 a 30 horas e 6,8% declararam trabalhar mais do que 40 horas. Por último, e ainda que de forma pouco expressiva, também a carga horária “variável” foi alvo de escolha de alguns licenciados, num total de 8 sujeitos (5,5%). Fig.24 – Vencimento mensal ilíquido no 1º emprego
Vencimento m ensal líquido no 1º empr ego
40
35,6
N = 146
31,5 30
20 11
10,3
10
6,8 3,4 0,7
0,7
0 Até 3 50
De 3 51 a 7 50
D e 75 1 a 12 50
D e 125 1 a 1 75 0
Ma is de 1 75 0
Va riáve l
N ão a pli cáve l
Sem re spo sta
A maioria dos sujeitos (67,1%) apresentou um rendimento mensal distribuído entre os 351 e os 1250 euros, sendo que apenas 4,1% auferiram mais do que 1250 euros mensais líquidos, ao mesmo tempo que uma parcela significativa (11% dos diplomados) teve um volume de rendimento abaixo dos 350 euros. Mediante a análise destes dados constata-se a existência de uma grande heterogeneidade salarial, tendo em conta a amplitude de valores das duas categorias mais representativas, bem como uma quantidade expressiva de sujeitos (42,5%) com rendimentos inferiores aos 750 euros mensais, valores estes que poderão ser considerados abaixo do esperado para o primeiro emprego neste tipo de população. Por último, destaque-se o facto de 6,8% declararem auferir rendimentos variáveis, o que indica normalmente situações de grande incerteza e instabilidade económica.
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Fig.25 – Situação contratual x Vencimento mensal líquido (Crosstabulation)
Até 350
De 351 a 750
De 751 a 1250
De 1251 a 1750
Mais de 1750
Variável
Total
Trabalhador Independente (recibos verdes)
14
24
17
3
1
9
68
Contrato a Termo Certo (duração definida)
0
5
12
1
0
0
18
Contrato a Termo Incerto (duração não definida)
0
1
2
0
0
0
3
Contrato sem Termo (nos quadros)
1
1
5
0
0
0
7
Estágio Profissional
0
12
15
1
0
0
28
Bolseiro
0
1
0
0
0
0
1
Ajuste Verbal
1
1
0
0
0
1
3
Outra Situação
0
1
0
0
0
0
1
Total
16
46
51
5
1
10
129
Mediante uma análise da distribuição dos sujeitos em função da situação contratual e vencimento mensal ilíquido, facilmente se observa que o trabalho em situação de trabalhador independente está bastante associado a rendimentos mais baixos (38 sujeitos com vencimentos abaixo dos 750 euros), ao passo que os empregos em situação de trabalho por conta de outrem se enquadram, maioritariamente na categoria de vencimentos mais representativa (“De 751 a 1250 euros”), caracterizada por rendimentos mais elevados. Por último, também se parece confirmar a ligação entre o “trabalho por conta própria (“recibos verdes”) e a existência de vencimentos vaiáveis ao longo dos meses, uma evidência que, de resto, caracteriza esta forma contratual e demonstra a sua instabilidade. Ainda assim, e de acordo a escala de satisfação com o 1º emprego fornecida (1 - Nada satisfeito a 7 - Muito satisfeito), o valor médio de avaliações situa-se em 4,92 (DP=1,7), o que indica uma satisfação moderadamente alta. Tendo em conta o desenho do presente estudo é, contudo, impossível saber quais factores são levados em consideração pelos sujeitos na resposta a esta questão, bem como em que medida os mesmos assumem diferentes pesos na atribuição da satisfação. Fig.26 – Nível de satisfação com o 1º emprego
Nível de satisfação com o 1º emprego 4,92
1
2
3
4
5
6
7
Por último, e efeito da flexibilidade crescente do mercado de trabalho ou das características próprias dos chamados “primeiros empregos”, é ainda possível referir que a mobilidade no mercado de trabalho do primeiro emprego para a actividade actual apresenta valores bastante elevados. Assim, do total de diplomados que conseguiu obter um emprego enquanto licenciado em Psicologia (87,7% dos sujs., N=128) apenas 37% manteve o emprego obtido inicialmente, tendo a grande maioria mudado de emprego.
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:: Transição universidade - mundo do trabalho: Trajectória profissional Em virtude da elevada dificuldade em tipificar as várias trajectórias de inserção dos diplomados uma realidade caracterizada por uma grande diversidade / heterogeneidade de cenários - foi apresentado um leque bem delimitado de “tipologias” possíveis, perante os quais os inquiridos deveriam efectuar a escolha que melhor descrevesse a sua trajectória profissional após a conclusão da licenciatura em Psicologia. Neste sentido, este item vem colmatar algumas lacunas evidenciadas na anterior edição do Observatório de Emprego, cujo inquérito não permitia conhecer trajectórias consideradas mais atípicas / menos frequentes mas de importância inquestionável para a compreensão da realidade profissional dos diplomados. Entre outras conclusões, destaca-se o facto de a maior parte dos licenciados (78%) nunca ter tido qualquer emprego até à conclusão da licenciatura, tenho a generalidade dos mesmos obtido o seu primeiro emprego na qualidade de licenciado em Psicologia (72%). A estes sujeitos adicionam-se aqueles que, apesar de terem tido um ou mais empregos antes do final do curso, ingressaram posteriormente num posto de trabalho em virtude da sua licenciatura em Psicologia, contribuindo para um conjunto expressivo de licenciados (79% dos inquiridos) que tiveram acesso a pelo menos um emprego enquanto licenciados em Psicologia. Fig.27 – Distribuição dos cenários da trajectória profissional
Obtive o meu primeiro emprego apenas após a conclusão da licenciatura enquanto licenciado em Psicologia Tinha um emprego antes da conclusão da licenciatura mas mudei de emprego após ter terminado o curso, sendo este emprego enquanto licenciado em Psicologia
72%
Obtive o meu primeiro emprego apenas após a conclusão da licenciatura mas não enquanto licenciado em Psicologia Tinha um emprego anterior à conclusão da licenciatura mas mudei de emprego após ter terminado o curso, embora este emprego não seja enquanto licenciado em Psicologia 6% 3%
3%
7% 3%
6%
Tinha um emprego anterior à conclusão da licenciatura o qual mantive após ter terminado o curso Nunca tive qualquer emprego
Outra situação
Para além da tentativa de compreender a distribuição dos diplomados pelas diferentes “tipologias” representativas das suas trajectórias de inserção profissional, também se tentou conhecer as dificuldades sentidas por aqueles no processo de procura / acesso ao seu 1º emprego enquanto licenciado/a em Psicologia. Pare o efeito foi incluída no questionário uma questão aberta, a qual fazia apelo à experiência pessoal de cada diplomado em termos de percurso pós-licenciatura. Tratando-se esta de uma questão aberta, foi necessário proceder a uma análise de conteúdo das muitas respostas obtidas, tendo sido possível identificar um conjunto de itens que permitem sistematizar de forma bastante completa o universo de obstáculos com os quais os licenciados afirmam ter-se deparado na sua inserção no mercado de trabalho.
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Fig.28 – Principais dificuldades sentidas na procura do 1º emprego enquanto licenciado/a em Psicologia
Principais dificuldades sentidas na procura do 1º emprego enquanto licenciado/a em Psicologia Pouca oferta de emprego / falta de oportunidades Experiência profissional insuficiente Elevada procura (mercado saturado / excesso de licenciados) Predomínio do voluntariado e de estágios não remunerados / precariedade contratual Funcionamento do mercado ("cunhas" e redes informais) Desvalorização / vulgarização da profissão de Psicólogo; indefinição do lugar da Psicologia em Portugal Falta de abertura / necessidade das instituições Mau desempenho das entidades de apoio competentes (IEFP, FPCEUP) Competências profissionais desenvolvidas no curso não adaptadas ao mercado Más remunerações Pobre regulamentação do acesso à profissão de psicólogo e às suas respectivas funções / competição com outros profissionais Falta de reconhecimento do curso pelo mercado Falta de competências de procura activa de emprego Conjuntura social, económica e laboral adversa Selecção de mercado pouco exigente em termos de competências Funções não adequadas à minha formação e expectativas Ausência de carreiras Desorganização da classe profissional Escassa formação complementar Dúvidas quanto ao meu projecto de carreira Poucas ofertas fora dos centros urbanos Desmotivação Inexistência de fiscalização e controlo dos concursos públicos e outras formas de acesso ao mercado
Freq
54 32 29 19 12 9 9 8 7 6 6 5 5 4 3 3 2 2 2 2 1 1 1
Neste âmbito, é possível identificar claramente os temas que, de forma, mais recorrente, os sujeitos referiram como principais dificuldades sentidas na procura do 1º emprego enquanto licenciado em Psicologia. O número insuficiente de ofertas e oportunidades de emprego, em articulação com o número excessivo de licenciados a movimentarem-se no mercado, parece ser o principal factor de dificuldade. Destaca-se também o deficit de experiência profissional exigido pelos empregadores - uma variável várias vezes abordada neste relatório, bem como a generalização do “voluntariado” e dos “estágios não remunerados”, enquanto estratégias utilizadas pelo mercado de trabalho que dificultam o estabelecimento de relações laborais formais e remuneradas.
:: Transição universidade - mundo do trabalho: Estratégias e factores de acesso ao emprego Neste ponto tentou-se saber qual o grau de utilização, por parte dos diplomados, dos vários meios ao seu dispor na procura de oportunidades de emprego, bem como a eficácia atribuída aos mesmos no acesso efectivo aos empregos. Com base numa das escalas fornecidas aos sujeitos (1 – Não utilizei a 7 – Utilizei muito), observa-se um maior grau de utilização de meios como a "apresentação de candidaturas espontâneas" (M=5,7), a "resposta a anúncios de emprego" (M=5,33), ou ainda a "inscrição no Centro de Emprego (IEFP)" (M=4,6), resultados que nos conduzem a um cenário de maior investimento em estratégias de carácter "formal / institucional". Não obstante, os diplomados também apostam com frequência em estratégias que apelam às suas redes sociais, recorrendo nomeadamente aos seus "contactos profissionais" (M=4,57) e
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"conhecimentos pessoais" (M=4,38). Por sua vez, constatam-se valores mais baixos de utilização no que diz respeito à "Faculdade (Serviços e Docentes)" e às "Relações no âmbito do estágio curricular"). Mediante a escala de utilização "1 – Nada eficaz a 7 – Muito eficaz", e de forma análoga aos resultados
descritos
no
parágrafo
anterior,
destacaram-se
como
mais
eficazes
as
estratégias
"conhecimentos pessoais" (M=5,56) e "contactos profissionais" (M=5,38) Curiosamente, os meios mais desvalorizados na sua eficácia para "obter" emprego foram os "concursos públicos" (M=2,34) e a "inscrição no Centro de Emprego" (M=2,33), uma posição que evidencia alguma descrença face à capacidade de promoção de (oportunidades de) emprego por parte dos organismos públicos. Fig.29 – Confronto entre meios de acesso ao emprego utilizados e eficácia reconhecida
Confronto entre os meios de acesso ao emprego utilizados e a eficácia reconhecida 3, 73
C andi datura s e spontân eas (envi o de CV, prop osta s, etc.)
5,7
3,63
Respo sta a an únci os (jorn ais e/ou sites de e mprego )
5,33
2,33
Inscri ção no Ce ntro de Empreg o (IEFP)
4,66
Contactos Profissi onai s
4,57
C onh ecimen to s Pe sso ais (ami gos / fami liare s)
5,56
4,38 2,34
Co ncursos pú bli co s
4,02
Fa culda de (Servi ços e /o u Docen te s)
3,38
Rel ações / co ntactos no âmbi to d o Estág io Cu rricula r
3,21
3,95
3,67
Eficácia Utilização
2,27 2,03
Ou tro
1
2
5,38
3
4
5
6
7
Uma breve análise a estes dados permite-nos verificar uma grande discrepância de resultados entre as duas dimensões. Efectivamente, o confronto entre os meios mais utilizados e os meios considerados como mais eficazes pelos diplomados revela bem a importância atribuída pelos sujeitos às redes sociais como forma de aceder ao chamado "mercado oculto" e, deste modo, obter emprego, embora denotem também a consciência de que a sua activação só é possível mediante o recurso a um capital social de que nem todos dispõem. Por outro lado, o concorrer no mercado com os outros diplomados através de mecanismos "formais" (candidaturas, concursos, respostas a anúncios e entidades de apoio ao emprego), apesar de se tratar de estratégias de acesso mais fácil e imediatista, são também mais reactivas e, face à maior concorrência, menos eficazes. Uma outra análise efectuada prende-se com os factores considerados pelos diplomados como mais valorizados pelos empregadores no acesso a um posto de trabalho no sistema de emprego. A análise do gráfico seguinte permite identificar as "Competências Profissionais" como o factor preponderante em
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termos de importância no acesso efectivo aos empregos. Detecta-se, também, um grande protagonismo de factores como a "experiência profissional", as "competências interpessoais", o "grau de formação" e as "características pessoais". Desta análise conclui-se que, na opinião dos diplomados, os factores associados ao "capital intrínseco" do indivíduo (as suas competências, experiência e características pessoais) são aqueles considerados como tendo um papel determinante na obtenção de emprego, por oposição a factores do âmbito mais "académico", entre os quais encontramos a “Classificação do Curso”, a “Área de PréEspecialização” , ou mesmo as “Experiências extra-curriculares”. Fig.30 – Avaliação dos factores de acesso ao emprego ("Importância")
Avaliação dos factores de acesso ao emprego ("Importância") Competências Profissionais
6,12
Experiência Profissional
5,91
Competências Interpessoais
5,88
Grau de formação
5,88
Características Pessoais
5,78
Local e Experiências de Estágio
5,23 4,83
Área de Pré-Especialização
4,42
Experiências Extra-Curriculares
%
4,04
Classificação Final do C urso 1
2
3
4
5
6
7
:: Transição universidade - mundo do trabalho: Mobilidade no mercado de trabalho Numa tentativa de compreender a mobilidade no mercado de trabalho para estes diplomados, foi solicitado que indicassem o número total de empregos nos quais exerceram actividade desde a conclusão da licenciatura. Como é possível observar no seguinte gráfico, a maioria dos 125 sujeitos que responderam a esta questão oscilou entre 1 e 3 empregos (86,4%), sendo a opção "2 empregos" a mais representativa, na medida em que engloba cerca de um terço dos sujeitos (34,4%). Ao mesmo tempo, 13,6% dos sujeitos esteve inserido em 4 ou mais postos de trabalho. Mediante uma análise da distribuição do nº de empregos em função do ano de conclusão do curso observa-se uma certa tendência para um aumento do número de experiências profissionais em função do maior tempo de vida profissional, tendência esta mais notória para os licenciados no ano 2001/2002.
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Fig.31 – Nº de empregos desde a conclusão da licenciatura x ano lectivo de conclusão
Nº empregos desde a conclusão da licenciatura por ano lectivo de conclusão (n=125)
50 25,6%
34,4%
40
2001/2002 2002/2003
26,4%
2003/2004
30
% 20 8,0%
10
2,4%
0,8%
0,0\%
1,6%
0,8%
5
6
7
8
9
0 1
2
3
4
N.º empregos
É interessante, contudo, verificar que cerca de 57,5% dos sujeitos (N=125) afirma não manter o mesmo (primeiro) emprego obtido após a conclusão da licenciatura, o que demonstra que os dados apresentados no gráfico anterior ilustram tanto situações de empregos sequenciais como situações de vários postos de trabalho em simultâneo. Adicionalmente, foi observado que a generalidade dos postos de trabalho foram vistos como relacionados com a formação de base dos sujeitos (r=0,922), não se verificando o mesmo quando se relacionou o número de empregos desde o final do curso com o número de empregos a tempo inteiro (r=0,105). De facto, neste último ponto, mais de 56,6% dos sujeitos teve apenas um emprego em regime de "full-time", e 15,6% nunca trabalhou a tempo inteiro. Fig.32 – Nº empregos desde a conclusão da licenciatura x Nº empregos a tempo inteiro x Nº empregos relacionados com a formação de base
Nº empregos desde a conclusão da licenciatura * Nº empregos a tempo inteiro * Nº empregos relacionados com a formação de base (n=125)
60 56,6
50
Nº empregos desde que terminou a licenciatura
40
34,4
% 30 20
36,6
28,5
26,4
Nº empregos a tempo inteiro Nº empregos relacionados com a formação de base
25,6 22
19,7 15,6 7,4
10
2,4
8
6,5 0,8
2,4
0,8
1,6
0,8
1,6
0,8
0,8
0,8
0 0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
N.º empregos
Pearson Correlation Quantos empregos desde que terminou a licenciatura?
Destes quantos a tempo inteiro?
Destes quantos estavam/estão relacionados com formação de base?
,105
,922
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Inesperadamente, nos casos em que ocorreu mudança de emprego (63% dos sujeitos), os motivos que mais levaram os sujeitos a mudar de emprego foram: (a) a mudança tendo em vista um projecto mais interessante (M=5,12), (b) melhores perspectivas de carreira (M=4,81) e (c) melhores condições de trabalho (M=4,63). Ao contrário do que se esperava, pareceu que muitas da itinerâncias no mercado de trabalho estavam pouca relacionadas com despedimentos, a cessação de contratos de trabalho ou de estágio, mas fundamentalmente com a procura de melhores perspectivas de carreira e condições laborais (tanto no plano contratual como no que diz respeito ao teor / conteúdo funcional da função). De resto, e como se poderá ver mais à frente neste relatório, a pouca expressão do "despedimento" nestes resultados estará, decerto, bastante relacionada com o facto da maior parte das situações contratuais se enquadrar na opção "Profissional Independente" ("Prestação de Serviços"). Fig.33 – Importância dos motivos associados à mudança de emprego
Importância dos motivos associados à mudança de emprego 5,12
Projecto de trabalho mais interessante
4,81
Melhores perspectivas de carreira
4,63
Melhores condições de trabalho Melhor situação contratual/ jurídica
4,08
Melhor remuneração
4,05 4
Fim de contrato/ estágio
3,64
Função e /ou instituição mais prestigiante
3,16
Melhores relações de trabalho com as chefias e/ou colegas
2,49
Maior proximidade da residência
1,57
Despedimento (pela entidade empregadora)
3,6
Outro motivo
1
2
3
4
5
6
7
O objectivo destas itinerâncias parece, então, ter um rumo bem definido nos planos e objectivos formulados pelos diplomados e, embora muitas vezes se vá a reboque das oportunidades, o facto é são a estabilidade profissional e o gosto pelo trabalho desenvolvido, associados à remuneração, os factores que parecem guiar os percursos.
VI SITUAÇÃO PROFISSIONAL ACTUAL A secção respeitante à “Situação Profissional Actual” incide, especificamente, apenas nos sujeitos que declaram já ter obtido pelo menos um emprego na qualidade de licenciado em Psicologia, num total de 128 indivíduos (aprox. 88% da amostra). Neste sentido, os dados a apresentar não representarão a realidade da totalidade da amostra já que os 18 sujeitos restantes foram instruídos no inquérito a não responder às questões constantes desta secção. Com esta medida, tentou-se criar condições para
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caracterizar a realidade específica de emprego actual dos profissionais a exercerem efectivamente funções enquanto psicólogos/licenciados em Psicologia. Não obstante, e como foi já apresentado anteriormente, não é de negligenciar a parcela de sujeitos que nunca conseguiu obter um emprego na qualidade de licenciado em Psicologia, e a qual, em conjunto com outros dados deste estudo, constitui um indicador relevante do funcionamento do mercado de trabalho, não só quanto à incapacidade do mesmo em integrar a totalidade destes licenciados em funções articuladas com os seus perfis técnicos e científicos específicos, mas também quanto ao carácter multifacetado e não-linear que caracteriza os percursos de inserção profissional dos diplomados do ensino superior, de uma forma geral.
:: Situação actual de emprego No momento de inquirição uma parcela considerável dos diplomados encontrava-se empregado (78%). Convém, contudo, mencionar que este valor compreende apenas sujeitos que, em determinada altura do seu percurso profissional, tiveram pelo menos um emprego enquanto licenciado em Psicologia. Neste sentido, e uma vez que 88% dos sujeitos declara já ter tido pelo menos um emprego enquanto licenciado em Psicologia, conclui-se que 10% dos mesmos não está actualmente empregado. Por último, constata-se que apenas 12% dos sujeitos nunca exerceu funções profissionais enquanto licenciado. No que diz respeito aos sujeitos em situação de desemprego / à procura do primeiro emprego à data de inquirição, cerca de 67% dos mesmos estava nessa situação há menos de 6 meses, 20% há um período de 6 meses a 1 ano, e 13% numa situação de desemprego de longa duração. Fig.34 – Situação actual de emprego
Situação actual de emprego
N = 128 Sujeitos actualmente desempregados mas que já tiveram um emprego enquanto licenciado em Psicologia
78%
Sujeitos actualmente empregados e que já tiveram um emprego enquanto licenciado em Psicologia 10%
12%
Sujeitos que nunc a tiveram um emprego na qualidade de lic enciado em Psicologia
Dos diplomados que se encontravam a trabalhar (sujeitos que tiveram pelo menos um emprego enquanto licenciado em Psicologia), cerca de metade (48%) mantinha apenas uma actividade profissional enquanto que 25% tinha duas actividades, 4% três actividades e apenas 1% tinha quatro actividades laborais.
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Fig.35 – Nº actual de empregos
nº actual de empregos 48%
25%
1 emprego
N = 113 2 empregos
3 empregos
4 empregos
4% 1% Não aplicável
22%
A análise do vínculo contratual mantido com a entidade empregadora continua a revelar um predomínio de formas contratuais precárias, embora seja notório o aumento dos contratos a termo certo e contratos sem termo. Estes dados, só por si, não permitem tirar grandes conclusões dado que, apesar de ser visível uma estabilização nas relações contratuais, o volume de sujeitos em situações contratuais precárias não permite traçar uma tendência inequívoca. Fig. 36 – Situação contratual nos empregos actuais
Situação Contratual 40
30
Actividade principal
29,5 24
Actividade secundária 21,9
% 20 11,6 10
6,8 0
3,4
1,4
0
0
2,1
0
0 Recibos verdes Contrato Termo (T.Independ) Certo
Contrato sem Termo
Bolseiro
Estágio Profissional
Contrato Termo Incerto
Dos sujeitos que mantinham mais do que uma actividade laboral à altura da inquirição é possível realçar que, nestes casos, as relações contratuais são plenamente dominadas pela prestação de serviços como trabalhador independente, tal como se pode observar no gráfico anterior Este predomínio do trabalho independente deve ser encarado como um reflexo da flexibilização do mercado de trabalho em Portugal, estando intimamente associado a um processo de externalização do trabalho operado pelas empresas. De facto, muitas das áreas em que estes profissionais se movimentam, apesar de necessitarem de profissionais experientes e especializados em saberes específicos, tendem a recorrer sobretudo à contratação externa, na qual a figura do trabalho independente assume uma posição preponderante, como forma de reduzir os custos salariais e potenciar a adequação entre o volume de trabalho e o volume e qualificação da mão-de-obra.
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A relação entre o conteúdo da função e os conhecimentos de base (licenciatura em Psicologia) continua a ser elevada para ambas as actividades principal e secundária, tendo-se obtido, respectivamente, valores médios de 5,52 (DP=1,63) e 5,53 (DP=1,81) pontos para esta variável (escala de Likert: 1 - Nada relacionado a 7 - Muito relacionado).
Através da análise do tempo de permanência na actividade principal é possível verificar que uma percentagem significativa se encontra há mais de 18 meses neste emprego (43,2%), enquanto apenas 10,6% exerce funções há menos de seis meses. Se considerarmos que 21,2% dos diplomados se encontra a trabalhar no âmbito da sua actividade principal há mais de 2 anos, parece ser possível verificar uma certa tendência para a estabilização numa actividade. Face à maior distribuição dos sujeitos pelas várias categorias, já não se poderá concluir o mesmo para a actividade secundária, o qual é, de resto, caracterizada, de uma forma global, por um carácter mais transitório e complementar à actividade principal. Fig. 37 – Tempo de permanência na actividade
Tempo de permanência na actividade 30 Actividade principal 22
Actividade secundária
21,2
20 13,4
% 10,6
10
7,7 4,2
8, 6 6,2
5,6
5,2 3,4
2,8
0 Menos de 6 meses
6 a 12 meses
12 a 18 meses
18 a 24 meses
Mais de 24 meses
Sem resposta
A análise do tempo de prestação de serviços, em conjunto com a carga horária dos postos de trabalho (uma média de 32,4 horas semanais para a actividade principal, e 9,4 horas para a actividade secundária) parece indiciar, como já foi dito, uma tendência no sentido da estabilização e da execução de uma carga horária em regime de "full-time". Contudo, observam-se valores elevados nos valores da carga horária dos sujeitos no que ao desvio-padrão diz respeito (DP=10,2 para a actividade principal, e DP=8,5 para a actividade secundária) o que vem reforçar a existência de situações caracterizadas pela complexidade, isto é, a tendência para horários bastante variáveis e/ou posições extremadas no que concerne ao número de horas de trabalho, originadas por contactos intermitentes com as entidades. Não pode, por último, deixar de ser referido o facto de se verificar uma carga horária média de 42 horas semanais para os sujeitos com acumulação de duas actividades, um valor que se aproxima da carga horária convencionada para o sector privado (40h) e a qual representa um volume de esforço temporal comum.
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Deve ser ainda realçado que a análise da situação contratual (predominantemente em situação de "profissional independente"), consubstanciada pela análise do volume de horas efectuado, revela situações de "assalariamento oculto" (já referidas neste documento no que diz respeito ao 1º emprego), situações onde “falsos trabalhadores independentes” executam funções tal como um assalariado normal tendo, no entanto, menos segurança e menos direitos laborais, o que, pela análise das remunerações auferidas pelos sujeitos, não se traduz num aumento do vencimento, verificando-se, pelo contrário, um desfasamento negativo face ao esperado para este tipo de população, um factor agravado também pelo volume de sujeitos com vencimentos variáveis (9,1%). Também a análise salarial revela algumas melhorias face ao primeiro emprego dado que mais de metade dos sujeitos que responderam a esta questão (75%) tem um vencimento no intervalo "751 a 1250 eur", ao mesmo tempo que apenas 0,9% declara auferir menos que 350 euros. Saliente-se, contudo, que a quantidade de sujeitos com um vencimento "variável" também é superior (9,1%), o que vem reforçar as reflexões apresentadas no parágrafo anterior. Fig.38 – Rendimentos mensais totais líquidos
Rendim entos m ensais totais (valor líquido) 60 56,4
n=110 (75%)
50 40
% 30
23,6
20 10
10
9,1
De 1251 a 1750 €
Variável
0,9
0 Até 350 €
De 351 a 750 €
De 751 a 1250 €
De facto, e na perspectiva dos actores, a oportunidade de desenvolver mais do que um trabalho é motivada por diversos factores, parecendo ocupar uma posição preponderante uma lógica economicista de aumento de ganhos através do aumento do volume de trabalho. Ao mesmo tempo, a disponibilidade temporal dos sujeitos parece também ser um factor importante, a par do interesse pela profissão e pelo desenvolvimento de competências e da "experiência" profissional. Destaque-se também sobretudo nos casos em que o vínculo contratual na actividade principal é precário – que a manutenção de várias actividades tende também a ser encarada como uma forma de garantir alguma estabilidade remuneratória, face à possibilidade de cessação de um ou mais postos de trabalho. Por outro lado, em muitos casos é sobretudo com as actividades complementares que os diplomados se identificam, sendo a actividade principal valorizada na medida em que os ganhos tendem a ser superiores e mais constantes, tratando-se de uma forma de “manter a vez”, esperando que o mercado evolua e se criem condições que permitam a obtenção de vínculos contratuais estáveis e rendimentos compatíveis com o esperado. Por fim, a oportunidade de desenvolver funções em áreas distintas de exercício profissional tende, também, a ser
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valorizada na medida em que permite obter experiência profissional diversificada, o que é visto pelos diplomados como uma forma de aumentar o seu potencial de empregabilidade. Fig. 39 – Motivos para ter mais do que um emprego no presente
Motivos para ter mais do que um emprego actualmente Rendimentos insuficientes Actividades a tempo parcial / disponibilidade temporal Desenvolver experiência e competências Ausência de contrato de trabalho / precariedade contratual Gosto pelo exercício profissional Diversificação das actividades exercidas Procura de melhores perspectivas de carreira Acumulação de cargos na mesma entidade Enriquecimento do curriculum / desenvolver experiência
Freq
21 14 7 6 4 2 1 1 1
Entidades Empregadoras x Entidades de Estágio De forma a conhecer o tipo de instituição e o contexto de intervenção onde estes profissionais operam elaborou-se uma categorização-tipo das organizações procurando facilitar a visualização dos dados. Ao mesmo tempo, optou-se por confrontar as entidades empregadoras (nas actividade principal e secundária actuais, bem como no primeiro emprego) com as entidades de estágio (ver gráfico seguinte) de modo a identificar dinâmicas de mobilidade sectorial que possam indiciar constrangimentos no desenvolvimento dos sectores pela fraca concentração de profissionais ou, pelo contrário, tendência para o desenvolvimento de um determinado contexto de intervenção pela aglomeração de sujeitos. Numa primeira análise às entidades empregadoras é possível realçar a concentração de sujeitos no sector relacionado com o Ensino Superior Público, nas IPSS´s / Centros Sociais, nos Gabinetes de Psicologia, nas Empresas – Sector de Serviços, e ainda nas Associações / Fundações para o Desenvolvimento. Ao olhar para estes dados de uma forma mais atenta, observa-se, contudo, alguma assimetria na relação entre o "primeiro emprego" e o(s) "emprego(s) actual(ais)". Se o Ensino Superior Público e as IPSS´s parecem manter-se em posições elevadas para ambas as situações, o mesmo já não se verifica para as Empresas – Sector Serviços e para os Gabinetes de Psicologia, nos quais se verificou uma apreciável extinção de postos de trabalho. Uma tendência contrária parece manifestar-se no caso das Associações / Fundações para o Desenvolvimento e da Santa Casa da Misericórdia. Esta última, apesar de se tratar de uma instituição e não de um sector de intervenção, justificou um estatuto próprio face ao número de licenciados que parece empregar. No que diz respeito às entidades empregadoras que configuram postos de trabalho em situação de actividade secundária destacam-se os Gabinetes de Psicologia, seguidos das Empresas de Formação, das IPSS´s, das Universidades Públicas e dos Hospitais e Centros da Saúde. Ao observar criticamente estes dados pode-se especular que o desenvolvimento de actividades complementares parece dar-se, então, em áreas onde a contratação é determinada por ciclos de aumento ou retracção da procura de um determinado serviço que sofrem variações constantes, como é o caso dos
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gabinetes de psicologia, onde o trabalho depende fundamentalmente do volume de clientes, e das empresas ou agências de formação onde a execução de cursos determina as necessidades de formadores especializados. Por outro lado, é possível detectar uma segunda determinante para a contratação dado que se tratam de entidades que tendem a recorrer a mecanismos de financiamento públicos, através do estabelecimento de protocolos com a Segurança Social no caso dos gabinetes ou através de candidaturas a fundos comunitários no caso das empresas de formação, fazendo depender desse financiamento um volume considerável de trabalho. As dinâmicas do sector público (Universidades Públicas e dos Hospitais e Centros da Saúde) serão, certamente, diferentes: a manutenção dos licenciados num posto de trabalho secundário, muitas vezes insuficientemente remunerado, na expectativa de uma eventual contratação, ou ainda o envolvimento em projectos e bolsas de investigação, através dos quais o sector do Ensino Superior tem conseguido incorporar - apesar dos vínculos contratuais débeis - muitos diplomados. Ao nível dos segmentos de mercado onde estes profissionais operam é possível referir que as áreas que parecem demonstrar maior permeabilidade a estes profissionais estão relacionadas com serviços públicos (estabelecimentos de ensino superior e, em certa medida, Autarquias), com empresas de diversos sectores como os Serviços, Formação, Recursos Humanos, com Gabinetes de Psicologia e Apoio Psicopedagógico, ou com formas de assistência social, como são os casos das IPSS´s e das Associações de Desenvolvimento.
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Fig. 40 – Entidades de Estágio Vs Entidades Empregadoras (Sector de intervenção)
Distribuição das entidades por sector (%) P ro jecto s de Intervenção Lo cal / Co munitária
%
A sso ciaçõ es / Fundaçõ es para o Desenvo lvimento / A po io
A gências e Co missõ es de Desenvo lvimento / ONG´s
Santa Casa da M isericó rdia Instituiçõ es P rivadas de So lidariedade So cial (IP SS) / Centro s So ciais Entidades P úblicas ligadas à Reclusão
Entidades P úblicas e P rivadas de apo io ao To xico dependente Entidades P úblicas e P rivadas de apo io ao Cidadão po rtado r de Deficiência Empresas - Secto res Indústria e Transfo rmação Empresas - Secto r Serviço s
Empresas - Fo rmação
Empresas - R&S, Recurso s Humano s e Co nsultado ria
Empresas - Gabs P sico lo gia / A po io P sico pedagó gico
Clínicas M édico -Terapêuticas privadas
A dm P ública: Instituto s P úblico s
A dm P ública: Segurança So cial
A dm. P ública: Ho spitais e Instituto s de Saúde
A dm. P ública: Centro s de Saúde A dm. P ública: Câmaras M unicipais e Juntas de Freguesia
Entidade de estágio A dm. P ública: Centro s de Emprego / IEFP
Primeiro emprego enquanto licenciado em Psicologia
Creches e Jardins de Infância
Centro s de Fo rmação P ro fissio nal
Emprego actual (actividade principal)
Esco las P ro fissio nais
Emprego actual (actividade secundária)
Ensino Secundário e B ásico P rivado
Ensino Secundário e B ásico P úblico
Universidade e P o litécnico P rivado (Serviço s e/o u P ro jecto s)
Universidade e P o litécnico P úblico (Serviço s e/o u P ro jecto s)
0
2
4
6
8
10
12
14
Já os segmentos mais fechados parecem estar relacionados com a Saúde, a Toxicodependência, a Segurança Social ou o Ensino Secundário e Básico, entre outros (onde a falta de carreiras e as dificuldades
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financeiras
das
instituições
são
apontadas
como
os
principais
factores
pelos
sujeitos
para
o
estrangulamento das entradas). Podem também destacar-se sectores como as Creches e Jardins de Infância, ou ainda os Projectos de Intervenção Local / Comunitária. A análise dos dados apresentados no gráfico anterior revela também pormenores de relevo no que diz respeito à distribuição dos vários sectores onde se realizam estágios curriculares da licenciatura em Psicologia. Assim, observa-se que os sectores da Administração Pública da "Saúde" (Hospitais, Institutos de Saúde e Centros de Saúde), das "Autarquias" (Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia) e do "Ensino" (Básico e Secundário"), bem como os "Projectos de Intervenção Local / Comunitária" são alguns dos sectores de estágio mais frequentes, demonstrando serem, contudo, e de forma inequívoca, sectores com um baixo índice de empregabilidade para os Psicólogos. Curiosamente, encontram-se alguns sectores onde a tendência parece ser oposta, nomeadamente o sector Universitário Público, as Associações / Fundações para o Desenvolvimento, as IPSS / Centros Sociais e as empresas – Sector de Serviços. Em jeito de reflexão, é possível observar dinâmicas próprias em alguns sectores do mercado, algumas orientadas para um emprego mais estável e prolongado no tempo, outras associadas ao trabalho mais precário, e outras ainda mais vocacionadas para o emprego de inserção, etc. Neste sentido, reforçase a importância de investigar com maior profundidade estes fenómenos, em virtude da sua importância no sentido de compreender o modo de operar e as regras intrínsecas do mercado de trabalho e, mais concretamente, dos seus diferentes sectores.
Satisfação com o emprego Por último, foi solicitado aos diplomados que indicassem o seu grau de satisfação relativamente ao seu emprego principal, utilizando-se para o efeito uma escala de 7 pontos (1 – Nada Satisfeito a 7 – Muito Satisfeito). De uma forma geral, pode-se considerar que as avaliações são relativamente elevadas para a generalidade das opções, obtendo graus de satisfação superiores questões como a "autonomia e iniciativa" dos postos de trabalho, as "relações de trabalho", o "conteúdo do trabalho desenvolvido" e a sua "correspondência com as qualificações em psicologia", entre muitos outros. Por sua vez, e como tem vindo a ser evidente ao longo deste documento, destacam aspectos como a "Remuneração", "Possibilidade de Promoção / Progressão na Carreira" e "Situação Contratual" como os principais motivos de menor satisfação dos sujeitos, permitindo esta análise reforçar a identificação daqueles que são os principais factores de descontentamento e de fragilidade no exercício profissional destes diplomados.
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Fig. 41 – Grau de satisfação quanto ao emprego principal
Grau de satisfação quanto ao emprego principal Autonomia, iniciativa,...
5,68
Relações de trabalho
5,64
Corresp. entre o trabalho desenvolvido e as suas qualificações
5,36
Conteúdo do trabalho desenvolvido/ tarefas
5,34
Responsabilidade
5,32
Corresp. entre níveis de exigência e prazos na realização do trabalho
5,2
Utilização dos conhecimentos adquiridos
5,14
Período de descanso por semana
5,1
Condições físicas de trabalho (espaço, conforto, etc.)
4,97
Duração semanal de trabalho
4,87
Recursos humanos disponíveis
4,81
Recursos materiais disponíveis
4,73
Estatuto social
4,65
Carga de trabalho
4,64
Remuneração
4,14
Possibilidade de promoção e/ou progressão na carreira
3,78
Situação contratual
3,74
1
2
3
4
5
6
7
VII O MERCADO DE TRABALHO PARA OS PSICÓLOGOS
Avaliação global do mercado de trabalho Com o intuito de traçar uma panorâmica das posições dos diplomados relativamente ao seu mercado de trabalho foram apresentados um conjunto de tópicos considerados pertinentes nesta matéria, os quais deveriam ser avaliados usando-se, para o efeito, uma escala de discordância / concordância de 7 pontos (1 – Discordo totalmente a 7 – Concordo totalmente). Mediante a observação do seguinte gráfico novamente se destaca a dificuldade no acesso a emprego como uma factor alvo de principal descontentamento (M=1,82). Emerge também uma posição crítica relativamente aos empregadores, aos quais é atribuída, em certa medida, um desconhecimento dos campos de actuação dos psicólogos (M=2,99), reforçando estes dados a importância de haver um trabalho de maior clarificação das representações das entidades, ao mesmo tempo que se caminhe no sentido de regular o exercício da profissão de forma inequívoca, definindo-se perfis de competências
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claros, específicos e próprios destes profissionais. Curiosamente, os diplomados não parecem considerar que a profissão "psicólogo" detenha um elevado grau de prestígio no mercado, um factor que poderá contribuir para uma posição de maior debilidade na abordagem às instituições empregadoras e, certamente, para a debilidade contratual e remuneratória que os diplomados acusam de forma recorrente. No que concerne aos itens relacionados com a Universidade e o Curso também aqui os diplomados se mostram particularmente críticos, acusando um considerável desfasamento entre a Universidade e o Mundo do Trabalho (M=5,36), bem como a associação do curso de Psicologia a piores perspectivas de carreira do que aconteceria com outros cursos (M=5,30). Resta enfatizar a posição inequívoca dos licenciados no sentido do reconhecimento de uma ausência de associações profissionais que representem e defendam os direitos profissionais dos Psicólogos, uma realidade que, de resto, está bem identificada no nosso país. Fig. 42 – Avaliação global do mercado de trabalho para os psicólogos
Avaliação global do mercado de trabalho Faltam associações profissionais que representem os Psicólogos
6,34
Sinto que existe um desfasamento entre a Universidade e o Mercado de Trabalho
5,36
Se tivesse optado por outro curso superior teria melhores perspectivas de carreira
5,3
A minha entrada no mercado de trabalho ficou abaixo das expectativas que tinha durante o curso
4,49
Gostava de utilizar mais no meu emprego os conhecimentos que obtive durante a licenciatura
4,35 3,7
Identifico-me muito com os outros Psicólogos A profissão “psicólogo” tem um elevado grau de prestígio no mercado de trabalho.
3,37
Os empregadores sabem quais são as áreas de actuação de um licenciado em Psicologia
2,99
Os licenciados em Psicologia têm facilidade em arranjar emprego
1,82
1
2
3
4
5
6
7
VIII CONSIDERAÇÕES FINAIS De forma a conhecer um pouco as tendências evolutivas da realidade sobre a qual o Observatório de Emprego dos Diplomados em Psicologia pela FPCEUP incide, foi efectuada uma abordagem comparativa dos dados obtidos nas duas edições do OE (2003 – lics. 1996/97 a 2001/02; 2006 - lics. 2001/02 a 2003/04). Esta abordagem permitiu observar alguns fenómenos interessantes, tanto no sentido da constância como da mudança, contribuindo para uma compreensão diacrónica e mais enriquecida da empregabilidade
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dos licenciados em Psicologia e permitindo sistematizar algumas das conclusões mais importantes do presente estudo. Inserção no mercado Numa perspectiva marcada pela dimensão objectiva dos processos de transição profissional dos Diplomados em Psicologia, é possível observar uma tendência para estes serem marcados por uma aparente rapidez da inserção no mercado. Constata-se, não obstante, um aumento do tempo de obtenção do 1º emprego enquanto licenciado em Psicologia entre as 1ª e 2ª edições do Observatório de Emprego (“Menos de 1 mês” Æ “Entre 1 a 6 meses”). Neste âmbito, ‘plataformas’ como as experiências de estágio curricular ou os contactos com o mercado de trabalho antes do fim da licenciatura servem uma importante função de promoção da inserção profissional, não só pelo capital de relações que propiciam mas também pela sua capacidade em gerar factores de diferenciação dos profissionais em termos de competências e experiências. Não obstante, constata-se uma tendência para a diminuição da percentagem de contactos prévios com o mercado (durante o curso) bem como com a fraca ligação entre os contextos de estágio e a contratação efectiva de técnicos. De facto, mantém-se uma reduzida taxa de criação de postos de trabalho nos locais de estágio (1ª Ed: 12.9% Æ 2ª Ed: 12.3%), acrescida de uma diminuição da percentagem de estágios remunerados.
“ (...) pouca oferta, dado que, pela existência de muitos estágios curriculares não remunerados, muitas entidades empregadoras optam pela acumulação de estagiários que passam, posteriormente, a acumular funções após o término do estágio sem qualquer contrato ou remuneração” “Pouco à vontade com as entrevistas profissionais; rede de contactos profissionais reduzida e pouco estruturada; poucas oportunidades de emprego; muita competição e nº elevado de pessoas com qualificações semelhantes às minhas”
Ainda no quadro da ‘rapidez da inserção no mercado’ referida, destaca-se uma certa tendência de mudança, entre as duas edições do OE, no que diz respeito à situação de emprego dos diplomados no momento de inquirição, observando-se um cenário de diminuição do emprego relacionado com a licenciatura em Psicologia, em conjunto com um aumento da taxa de desemprego. De facto, a par de um decréscimo da taxa de sujeitos empregados no momento de inquirição e que experienciaram pelo menos um emprego enquanto licenciados em Psicologia (88.2% Æ 78.1%), constata-se também um aumento do nº de desempregados no momento de inquirição (2.4% Æ 10.3%) e do nº de sujeitos que nunca teve um emprego na qualidade de licenciado em Psicologia (9.4% Æ 11.6%).
“Julgo que actualmente é mais preocupante a situação do mercado de trabalho, do que há 4 anos atrás: - além de existirem mais licenciados em Psicologia por imensas Universidades Públicas e Privadas, sem formações semelhantes (uma com estágio outras não; umas com pré-especialização outras divididas à partida (Psicologia disto e daquilo)) - continuamos sem concursos públicos para psicólogos (escolas/centros de saúde/hospitais, e os que há são os
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concursos "por cunha") - e deixaram de haver/reduziram os financiamentos para projectos de intervenção comunitária (Instituto da Droga e da Toxicodependência, Segurança Social...).”
O peso das principais dificuldades sentidas na procura do 1º emprego enquanto licenciado/a em Psicologia parece apresentar uma tendência no sentido da estabilidade. Contudo, reforça-se mais recentemente a importância de algumas destas dificuldades, com destaque para a “reduzida oferta de emprego e falta de oportunidades”, a “elevada procura de emprego” (i.e. um mercado saturado, caracterizado pelo excesso de licenciados), e ainda o “predomínio do voluntariado e de estágios não remunerados e a precariedade contratual”, mecanismos conjunturais vistos como promotores de uma incremento da dificuldade de acesso ao emprego e de uma dinâmica de mercado adversa. Destaque-se também uma leitura do mercado de trabalho – aparentemente partilhada pelos diplomados - muito associada a um reduzido virtuosismo e transparência, sendo frequentemente adoptado um discurso negativo e extremamente crítico relativamente àquele que é designado de “mercado de cunhas”. Este discurso é, certamente, um sintoma do confronto dos sujeitos com os mecanismos de recrutamento que caracterizam o mercado (na sua dinâmica mais ampla, inserida numa determinada moldura cultural e organizacional). Contudo, será também sintomático da dificuldade dos recémdiplomados em aceder ao “mercado oculto”, altamente dependente da diversificação e eficácia das suas redes sociais e profissionais e o qual é responsável pela inserção e mobilidade profissional da maioria dos diplomados.
“Verifica-se um nº elevado de licenciados em psicologia para as vagas disponíveis no país. Ao mesmo tempo tenho reduzidos "conhecimentos pessoais" (amigos / familiares) em postos de trabalho para psicólogos.” “Para além da pouca abertura do mercado de trabalho a esta licenciatura e da indefinição do estatuto / papel do psicólogo ao nível laboral, não existe qualquer fiscalização / controlo nos concursos públicos e demais formas de acesso ao mercado de trabalho” “Pouca divulgação e transparência nos processos, bem como um controlo absoluto da instituições no preenchimento de vagas.”
Mobilidade, precariedade e pluriemprego Denunciaram-se, também, níveis bastante elevados de mobilidade no mercado de trabalho causados, sobretudo, pela tentativa de obter uma situação mais estável, na qual os ganhos económicos, a par do interesse pelas funções e pela utilização dos conhecimentos adquiridos, ganham uma importância considerável. Neste quadro de ‘mudança de emprego’ observa-se, assim, uma constância na hierarquia da importância dada aos vários motivos associados a essa mudança: factores como a procura de um projecto de trabalho mais interessante, a procura de melhores remunerações, de melhores perspectivas de carreira e melhores situações contratuais continuam a ser os factores, no global, vistos como mais importantes. Também o ‘pluriemprego’ (mais do que um posto de trabalho no momento de inquirição) é justificado por motivos bem definidos, surgindo os factores “rendimentos insuficientes” e “desenvolvimento de experiência e competências” com peso idêntico em ambas as edições e, com maior protagonismo nos últimos dados recolhidos, a existência de “actividades a tempo parcial / disponibilidade temporal”.
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Pode-se, então, afirmar que as entidades empregadoras geram a mobilidade através da manutenção da precariedade, o que advém principalmente da adopção de um sistema de externalização (trabalho externo ou ‘independente’) numa lógica de flexibilização crescente das relações laborais. Como reflexo, encontra-se uma estrutura ocupacional que tende a ser caracterizada por situações de pluriactividade devido à necessidade de fazer face à precariedade e, curiosamente, como esquema de recurso utilizado, simultaneamente, para garantir o aumento do potencial de empregabilidade através do aumento da experiência e, por outro lado, como forma de trabalhar em áreas consideradas como mais interessantes, onde a obtenção de vínculos e remunerações estáveis não oferece condições para uma dedicação exclusiva. Inscrito nesta lógica de aumento do ‘aumento do potencial de empregabilidade’, bem como de desenvolvimento de redes relacionais, aquisição de experiência profissional e acesso a contextos de trabalho vistos como interessantes surge também o fenómeno do trabalho não remunerado, cuja taxa de exercício se mantém idêntica nas duas edições do OE, com valores significativos (34,7% Æ 32,6%).
“ (...) a crise económica; a estagnação do mercado; a tentativa de exploração do trabalho de recém-licenciados (mão de obra especializada muito barata - ou através de estágios não remunerados ou através de atribuição de categorias profissionais diferentes daquela que realmente desenvolvemos e para a qual fomos contratados (...)” “O mercado de trabalho é demasiado reduzido para a quantidade de licenciados em psicologia que existem. As entidades empregadores aproveitam-se dos licenciados que estão dispostos a trabalhar voluntariamente e não integram trabalhadores remunerados.”
De facto, e na linha das últimas reflexões, o acesso ao emprego é visto como estando fortemente associado a mecanismos específicos, destacando-se em ambos os estudos factores de acesso como as ‘competências e experiência profissional’, as ‘características pessoais’ e as ‘competências interpessoais’, bem como meios de acesso vistos como mais eficazes como são os casos dos ‘conhecimentos pessoais‘, os ‘contactos profissionais’ e os contactos associados à própria Faculdade de origem.
Situação contratual ↔ carga horária ↔ remunerações Em matéria de situação contratual observa-se, em ambas as edições do OE, um protagonismo acentuado da situação “trabalhador independente” (em torno de 50% dos sujeitos), tanto no 1º emprego como na actividade principal actual, seguida dos “estágios profissionais” (Programa do Instituto do Emprego e da Formação Profissional) para o caso do 1º emprego. Os vínculos contratuais mantidos com as entidades empregadoras no momento da inquirição pareceram sofrer, contudo, algumas alterações. Se a actividade secundária, quando existente, é caracterizada quase exclusivamente pela “prestação de serviços”, já a actividade principal está distribuída por várias situações contratuais. Neste caso, apesar de se constatar que os “recibos verdes” ocupam uma posição de liderança, os “contratos a termo certo” e “contratos sem termo” têm também algum protagonismo, verificando-se, entre as duas edições do OE, um aumento dos primeiros (15.9% Æ 21.9%) e um decréscimo dos segundos (18.8% Æ 11.6%).
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Pode-se realçar, neste sentido, e de uma forma geral, que a distribuição das situações contratuais, consubstanciada pela análise do volume de horas efectuadas (30h a 40h na actividade principal e 9h para a actividade secundária) revela situações de “assalariamento oculto”, situações onde “falsos trabalhadores independentes” executam funções tal como um assalariado normal (trabalhador dependente) onde, ao cumprimento de horários de trabalho e à subordinação técnica e operacional, estão associados menor segurança e menos direitos laborais. Por último, e no que a rendimentos diz respeito, apesar da categoria central “De 751€ a 1250€” ser ocupada, em ambas as edições do OE, por aproximadamente 57% dos sujeitos, observa-se uma categoria inferior de rendimentos (“De 351€ a 750€”) com um número crescente de sujeitos (10,4% Æ 23,6%), indiciando uma redução gradual dos vencimentos e, considerando a manutenção da carga horária, uma diminuição do valor hora da remuneração destes profissionais. Tratase, assim, de um cenário que constitui um desfasamento negativo face ao esperado para este tipo de população, cenário este agravado pelo volume de sujeitos com vencimentos variáveis. Percursos profissionais e mercado: componentes subjectivas Numa dimensão mais próxima dos actores, é possível salientar que os processos de transição ao trabalho são perspectivados pelos sujeitos como uma sucessão de estados marcados por turbulência, flexibilidade, um “ziguezaguear” constante ao sabor das oportunidades que é vivido com uma sensação de incerteza e precariedade incessante que tende a atormentar os actores e a defraudar os seus planos e projecções para o futuro, fazendo com que a trajectória percorrida se afaste da imaginada. “Comecei com um estágio profissional, 3 meses após terminar a licenciatura. As dificuldades maiores começaram após esses estágio: não continuei na Instituição. Dei formação através de um Acto isolado, e 2 meses depois participei num projecto privado o qual apenas sobreviveu sensivelmente 3 meses, sendo que nunca descontei para a Segurança Social. Embora não o considere em termos de experiência profissional, continuo, em termos legais, como licenciada à procura do primeiro emprego, 2 anos depois da conclusão da licenciatura. Tendo isto em conta, posso classificar as dificuldades actuais da procura de emprego como muitas: a falta de oportunidades, a saturação do mercado, a indefinição do lugar da Psicologia no nosso país (na saúde, educação...), a falta de apoios...” A estabilidade tende, assim, a ganhar um peso bastante forte na definição das representações face ao trabalho, que se distanciam crescentemente da representação tradicional de carreira para se submeterem a uma lógica de “percurso” à procura de factores estruturantes, visível no descontentamento e insatisfação quanto ao emprego em matéria “laboral”, em questões como a “situação contratual”, “remunerações” e “possibilidades de progressão na carreira”. Por outro lado, se é notória a tendência para conceber os trajectos percorridos como mais ou menos frustrados face às expectativas iniciais - parecendo o confronto com as condições do mercado, na perspectiva dos diplomados, dar uma mensagem clara de que “o mercado parece não absorver os ideais” contidos nas aspirações estudantis – esta tendência desloca-se mais para a esfera referida no parágrafo anterior, observando-se índices de satisfação moderadamente elevados em componentes relacionadas com o conteúdo do trabalho de uma forma mais ampla (tarefas, relações, autonomia, responsabilidade, etc.).
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“De facto o que sinto são condições totalmente adversas. Em termos de empregabilidade, em termos da importância que as pessoas atribuem à profissão de Psicólogo, da credibilidade que dão à mesma e do lugar que ela desempenha na nossa sociedade; também relativamente aos próprios psicólogos e às suas práticas profissionais e à inexistência de entidades que nos esclareçam, apoiem e unam. Enfim, adversidades, muitas inseguranças relativamente a projectos/percursos
profissionais
(e
consequentemente
de
vida),
alguma
deriva
e
questionamentos diários - é assim que caracterizo a minha situação actual.”
A avaliação global do “mercado de trabalho da Psicologia” por parte dos actores permite, de resto, traçar uma panorâmica que ajuda a caracterizar o que foi atrás apresentado. Assim, o descontentamento é expresso, de forma inequívoca, em questões como a dificuldade no acesso a emprego, o desconhecimento dos campos de actuação dos psicólogos por parte dos empregadores, ou ainda o grau de prestígio da profissão “psicólogo no mercado actual, factores que debilitam, em última análise, e em conjunto com o panorama conjuntural, a empregabilidade destes profissionais. A estes adiciona-se também a “velha” problemática da regulação e regulamentação do exercício profissional e a “defesa de classe”, para a qual a pobre representatividade das instituições e a dinâmica associativa deficitária em muito contribuem.
“(...) considero que, em geral, a população, empregadores e entidades têm ainda uma ideia muito errada sobre o/a psicólogo/a e esta área profissional. Existe muito a ideia de que o psicólogo existe para "reforçar" o que de errado existe nas entidades e pessoas que as constituem. Julgo que seria benéfico para esta actividade a existência de uma Ordem de Psicólogos.” “A principal dificuldade prende-se com a escassez de oferta, face à elevadíssima procura. Ainda, o facto de existirem milhares de psicólogos e da actividade "psicólogo" não estar bem definida dificulta a empregabilidade.”
É pertinente, por último, realçar que a diversidade das funções e papéis exercidos e o movimento de precariedade acentuado que se tem verificado no mercado têm apelado à criação de uma identidade profissional para os outros centrada na formação adquirida, isto é, os sujeitos tendem a identificar-se como Psicólogos, um fenómeno que pode ser interpretado como uma forma de projectar uma imagem com vista ao fortalecimento do grupo como um todo e da própria posição dos sujeitos nas instituições. Por outro lado, verifica-se um questionamento da identidade profissional no interior do grupo, sendo tanto mais acentuado quanto maiores forem as descoincidências entre os percursos imaginados e os percorridos, um fenómeno expresso em itens como o (elevado) "desfasamento entre Universidade e Mundo do Trabalho" ou a relação entre "a entrada no mercado de trabalho e as expectativas durante o curso".
Dr. Alexandre Campos Serviço de Assessoria à Integração Profissional
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