Revista Livro Zero numero 1 - Forum do Campo Lacaniano SP

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na incerteza em razão de ser dividido pelo efeito da linguagem. Cito Lacan: Pelo efeito de fala, o sujeito se realiza sempre no Outro, mas ele aí já não persegue mais que uma metade de si mesmo. Ele só achará seu desejo sempre mais dividido, pulverizado, na destacável metonímia da fala. O efeito de linguagem está o tempo todo misturado com o fato [...] de que o sujeito só é sujeito por ser assujeitamento ao campo do Outro [...]. (LACAN, 1964a, p.178)

De acordo com Lacan, tudo o que Freud assinala das pulsões parciais mostra o movimento circular do impulso, que sai através da “borda erógena” para a ela retornar como sendo seu alvo, depois de ter feito o contorno do objeto a. É por aí que o sujeito tem que atingir aquilo que é a dimensão do Outro. O sujeito nasce no que, no campo do Outro, surge o significante. Sendo o sujeito determinado pela linguagem e pela fala, ele começa no lugar do Outro, no que é lá que surge o primeiro significante. A relação ao Outro é justamente a relação do sujeito vivo com aquilo que ele perde por ter que passar pelo ciclo sexual. Assim, nos deparamos com a afinidade essencial de toda pulsão com a zona da morte. Temos, portanto duas faces da pulsão: ela presentifica a sexualidade no inconsciente e, representa, em sua essência, a morte. A essência do inconsciente, por sua pulsação, “é de marcar esse tempo pelo qual, por nascer com o significante, o sujeito nasce dividido. O sujeito é esse surgimento que, justo antes, como sujeito, não era nada, mas que, apenas aparecido, se coagula em significante” (LACAN, 1964a, p.188). Da conjunção do sujeito no campo da pulsão com o sujeito tal como ele se evoca no campo do Outro, depende que haja um suporte para a representação da totalidade da pulsão sexual. “É somente aí que a relação dos sexos é representada no nível do inconsciente.” (LACAN, 1964a, p.188). As zonas erógenas estão ligadas à abertura e fechamento da hiância do inconsciente. Convém assinalar, no entanto, que em 1972, no seminário Mais, ainda, Lacan faz novas articulações, nas quais o significante é conceituado para além do simbólico. É no emprego que se faz da letra na matemática, é pelo que foi descoberto pela lógica, que se pode escutar o significante. O discurso analítico introduz um adjetivo substantivado, a besteira, no que ela é uma dimensão do significante; substantivizar é supor uma substância. A função própria do significante situa-se no nível da substância gozante, sendo tanto causa de gozo, quanto seu limite.

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