Forum Democratico nº 93-94

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b r a s i l e Marisa Oliveira

T oTrca nas fno rdm aon d o ev i m das

Da esquerda para a direita, Simone, Gilvan, Regina Célia, Murilo e Regina Lúcia

FD - O que é o ITV? Fale um pouco sobre o Grupo Educart. SC - O ITV nasceu do ideal de quatro músicos de utilizar a arte para educar, capacitar, transformar a realidade de crianças e jovens, oriundos de famílias de baixa renda e de portadores de necessidades especiais. Os músicos sonhadores somos eu, que sou pianista e arte-educadora, Gilvan Melo, regente, cantor e arte-educador, Regina Lúcia Colucci, pianista e musico-terapeuta e Regina Célia Oliveira Colucci, pedagoga. Em 1987, havíamos fundado o Grupo Educart, com a perspectiva de utilizar a arte para a educação e para outros segmentos. A dinâmica desse trabalho levou à difusão de iniciativas comunitárias em arte, educação e terapias, o que, por sua vez, levou o Educart a criar o Instituto Tocando em Você para desenvolver projetos de capacitação de crianças, jovens e adultos. Na definição clássica, o ITV tem como missão tornar a arte, a educação e determinadas terapias acessíveis a esse grupo de indivíduos. 200 crianças e jovens carentes da Grande Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, são atendidas pelo projeto, que tem atuação reconhecida pela UNESCO. FD – Mas o que motivou a criação do ITV? SC - Em 1988, o Grupo Educart criou o Espaço Cultural Tocando em você para ser uma escola de Arte, com música, dança, teatro e artes plásticas, um centro de Terapias Integradas à Arte (musicoterapia, arteterapia, teatroterapia, dançaterapia, psicopedagogia, fonoaudiologia, entre outras modalidades) e uma Produtora Cultural. A partir 824

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Músicos sonhadores que há dez anos vem transformando para melhor a realidade de jovens e crianças de algumas comunidades do Rio de Janeiro. Assim como em “A Flauta Mágica,” de Mozart, seguimos a melodia e nos deparamos com o Instituto Tocando em Você – ITV. Conversamos com Simone Colucci, pianista e arteeducadora, vice-presidente, diretora artística e coordenadora dos projetos sociais do ITV. E é possível destacar que, em termos de abrir espaço para a inserção social, a sociedade carioca se encontra em processo de construção, e que o que de fato discrimina e separa não é o indivíduo em sua atitude. É o desnível em educação – alfabetização funcional, aprovação automática nas escolas, baixo investimento por parte do governo em educação de uma forma geral. No alto das comunidades há muitos mundos diferentes desses que se conhece aqui no asfalto, muita gente excluída de várias maneiras, diz Simone. Algumas delas, dizemos nós, já começam a mudar essa realidade, seguindo a flauta mágica do ITV.

daí, o que serviu de motivação foi a vontade de democratizar essas experiências, torná-las acessíveis para aqueles que não dispõem de poder econômico, sem discriminação de credo, cor, origem de nascimento e endereço residencial. FD - Crianças, jovens, portadores de necessidades especiais, como o público interessado chega ao ITV? Ao procurar o ITV, o que o público interessado está buscando? SC - As famílias são encaminhadas pelas Escolas Municipais, Unidades da Secretaria de Assistência Social (CREAS), associações de moradores, chegam por indicação dos assistidos e, também, pela difusão do trabalho através dos diferentes meios de comunicação. A procura pelo ITV é diversificada. Atende tanto a jovens artistas que buscam desenvolver seus projetos de apresentação, exposição, produção de produtos culturais através do Programa de Empreendedo-

rismo, como, também, atende as famílias. Mães buscam alternativas para ocuparem seus filhos com atividades complementares às oferecidas pelas escolas. Procuram ainda atendimentos terapêuticos capazes de fazer face às dificuldades comportamentais e emocionais e de aprendizagem. Já os adultos procuram o ITV para as oficinas de Língua Portuguesa/Redação, Multimídia, entre outras. Jovens com necessidades especiais buscam capacitação profissional para inserção no mercado de trabalho. FD - Na prática, a contrapartida exigida pelo ITV tem resultados concretos, isto é, desperta de fato nas famílias e nos jovens a consciência da importância da educação? Após 10 anos, que resultados o ITV pode comemorar, em termos de objetivos sociais? SC - Bem, é maravilhoso poder acompanhar o processo de transformação não só de indivíduos, mas de famílias inteiras. Ver chegar um menino, enviado pelo CREAS, já expulso da escola, por apresentar alterações comportamentais, e vê-lo tornar-se afetivo, com ação integrada em música, dança, pedagogia e terapias. Para construção desse processo, estabelecemos um pacto com a família e com a criança ou jovem. O que quer? Do que gosta? Aonde quer chegar? Vamos construir o futu-

Crianças e jovens do ITV Maio/Junho 10


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